• Nenhum resultado encontrado

A presente tese é uma simples contribuição para o debate da guerra justa no Brasil. Para isso assumiu a proposta de John Rawls do Direito dos Povos e a avaliou a parti dos já consolidados princípios da guerra justa. A ordem da argumentação foi uma pouco heterodoxa e formada mesmo na experiência de debater o presente assunto. Isso porque impera, mesmo entre aqueles que defendem a emancipação sociais e a crítica a suspeita realista que vem desde Tucídides: é impossível tratar da guerra do ponto de vista moral. Por isso, de tão exaurido de ter que expor as possibilidades cognitivas e morais preliminares para sustentar a possibilidade de se debater é que, acredito, unir Strawson a Walzer é um caminho viável.

Não são necessárias grandes investigações metafísicas. As pessoas sofrem e expressam seu sofrimento em juízos acerca dos comportamentos morais que esperam que outros possuam. Os afetos são difusos e até mesmo podem parecer injustos, mas, ao longo da experiência humana, eles podem ser refinados e consolidados em princípios. Essa é a tese de fundo de Walzer em Guerras Justas e Injustas (2003). Tal tese não é diferente da perspectiva traçadas por Rawls. Metodologicamente, Walzer e Rawls estão distantes. Interpretativismo Moral e Construtivismo Moral não são análogos. Rawls não tem uma explicação sobre as origens da moralidade, ele tem um método acerca de como julgar nossos juízos morais mais profundos. O equilíbrio reflexivo balanceia nossas intuições morais mais profundas. Rawls tem a razão como centro da moralidade, mas já é uma razão destranscendentalizada que retoma as experiências morais cotidianas. Logo, não violaria a argumentação tentar unificar Strwason, Walzer e Rawls. Se ainda assim não fosse possível, acredito que uma tese deve tentar inovar, ainda que pareça fracassada ao final de seu empreendimento.

Nesse intento, a discussão metaética acima se desdobrou na questão de ética normativa. Que regras regulariam a justiça entre os Estados? A miríade de propostas é insana. Ficamos modestamente com a de Rawls. Modestamente entre aspas. A perspectiva de Rawls é atrativa porque é política e não metafísica. Não precisa ter grandes investigações ontológicas. Seu pragmatismo, a meu ver, é imanente. Dadas as condições do aqui e agora, o que podemos fazer? O que podemos esperar do justo numa modernidade cindida pelas cosmovisões abrangentes de mundo? A Sociedade dos Povos é uma reposta que prima pela tolerância e inclusão. Não é paroquial e pretende por meio do

aprendizado moral estabelecer uma convivência pacífica, justa e livre entre povos liberais e decentes.

A guerra então se torna um instrumento sim da política, mas da política que preza pelas liberdades e pelo aprendizado moral obtido no âmbito interno e levado ao âmbito das relações internacionais. Clausewitz está certo, a guerra é a continuidade da política. Mas, ao contrário da realidade do século XIX, no Direito dos Povos a guerra é a continuidade da política em defesa do aprendizado moral obtido pelos povos liberais e decentes. A guerra não precisa ser demonizada, ela é um mal, mas, no direito dos povos ela é um lesser evil a violência a serviço da liberdade.

REFERÊNCIAS

AMSTUTZ, Mark R. International ethics: Concepts, Theories, and Cases in Global Politics. UK: Rowman & Littlefield Publishers 2013. BEITZ, Charles R. Rawls's Law of Peoples. Ethics, Vol. 110, No. 4 (July 2000), p. 669-696, The University of Chicago Press, disponível em http://www.jstor.org/stable/10.1086/233369, acesso em 12/10/2011. ______________.. Political Theory and International Relations. Princeton University Press, 2004.

BEITZ, Charles R.; COHEN, Marshall ed. War and Moral Responsibility. A Philosophy & Public Affairs Reader. Princeton University Press, 2014.

BENBAJI, Yitzhak; SUSSMANN, Naomi. Reading Walzer. Routledge, 2014.

BROOKS, Thom ed. The Global Justice Reader. Blackwell Publishing, 2014.

CHATTERJEE, Deen K. ed. The ethics of preventive war. Cambridge: Cambridge University Press, 2013.

______________; SCHEID, Don E. Ethics and Foreign Intervention. Cambridge, 2006.

CONTE, Jamir. GELAIN, Itamar Luís org. Ensaios sobre a filosofia de Strawson: com a tradução de Liberdade e ressentimento & Moralidade social e ideal individual. Florianópólis: Ed. da UFSC, 2015.

CLAUSEWITZ, Carl Von. Da Guerra. São Paulo: Martins Fontes, 1996.

COHEN, Marshall; NAGEL, Thomas; SCANLON, Thomas ed. International Ethics. A Philosophy & Public Affairs Reader. Princeton University Press, 1984.

DONNELLY, Jack. Twentieth-Century Realism. In: NARDIN, Terry; MAPEL, David. R. Traditions of International Ethics. Nova York: Cambridge University Press, 1992, p. 85-111.

ELSHTAIN, Jean Bethke. Prevention, preemption, and other conundrums. In: CHATTERJEE, Deen. (Ed.) The Ethics of Preventive War. Cambridge: Cambridge University Press, 2013.

ELLIS, Anthony. Ethics and international relations. Manchester University Press, 1986.

FORDE, Steven. Classical Realism. In: NARDIN, Terry; MAPEL, David. R. Traditions of International Ethics. Nova York: Cambridge University Press, 1992, p. 62-84.

FREEMAN, Samuel. Rawls. London: Routledge, 2007.

______________.ed. The Cambridge Companion to Rawls. Cambridge University Press, 2003.

FROWE, Helen. The Ethics of Wr and Peace: an introduction. Routledge, 2007.

GALLIE, W. B. Philosophers of Peace and War: Kant, Clausewitz, Marx, Engels and Tolstoi. New York: Cambridge University Press, 2008.

HABERMAS, Jürgen. Consciência Moral e Agir Comunicativo. Trad. Guido Antônio de Almeida. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2005. HINSCH, Wilfried; STPANIANS, Markus. Human Rights as Moral Claim Rights. In: MARTIN, Rex; REIDY, David. Rawls’s Law of Peples: a Realistic Utopia? Blackwell Publishing, 2007.

HOBBES, Thomas. Do Cidadão. Tradução, apresentação e notas Renato Janine Ribeiro. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

HOWARD, Michael. Clausewitz: a very short introduction. New York: Oxford University Press, 2002.

HURKA, Thomas. Liability and Just Cause, in Ethics and International Affairs, 21, no 2, 2007, p. 199-218.

______________. Proportionality in the Morality of War, in Philosophy and Public Affairs, 33, no 1, 2005, p. 34-66.

JÜNGER, Ernst. Tempestades de Aço. COSAC NAIFY, 2013.

MARTIN, Rex; REIDY, David. Rawls’s Law of Peoples: a Realistic Utopia? Blackwell Publishing, 2006.

MARTÍNEZ, José María Garrán. La Doctrina de la "Guerra Justa" en el pensamento de John Rawls. Madrid: Dykinson. 2013.

MCMAHAN, Jeff. Killing in War. Oxford, 2009.

_____________. Intervention and Collective Self-Determination. In.: Ethics & Intetrnational Affairs, 10, 1996.

_____________. Just Cause for War. In.: Ethics and International Affair, 19, no 13, 2005, p. 1-21.

_____________. The Just Distribution of Harm Between Combatants and Noncombatants. In: Philosophy and Public Affairs, 38, no 4, 2010, p. 324-379.

_____________. On the Moral Equality of Combatants. IN: Journal of Political Philosophy, 14, no 2, 2006, p. 377-393.

_____________. War and Peace. in Peter Singer, ed. A Companion to Ethics. Oxford and New York: Basil Blackwell, 1991, p. 384-395. MOELLENDORF, Darrel. Cosmopolitan Justice. Westview Press, 2002.

MOSELEY, Alexander. A philosophy of war. Algora Publishing, 2002. NAGEL, Thomas. War and Massacre, in Philosophy and Public Affairs 1, no 2, 1972, p. 123-144.

NARDIN, Terry ed. Traditions of International Ethics. Cabridge University Press, 1995.

NOBRE, Marcos org. Curso Livre de Teoria Crítica. Campinas/SP: Papirus, 2008.

NOBRE, Marcos; REPA, Luiz org. Habermas e a Reconstrução: Sobre a categoria central da Teoria Crítica Habermasiana. Papirus Editora, 2012.

PEARS, David. Strawson on Freedom and Resentment. In.: The Philosophy of Peter Strawson. Ed. HAHN, Lewis Edwin. Chicago: 1998, p. 245-262.

OREND, Brian. The Morality of War. 2nd Ed. Ed. by Robert M. Martin, 2013.

POGGE, Thomas. Realizing Rawls. London and Ithaca: Cornell University Press, 1989.

_______________. Review. Rawls on international Justice. Philosophical Quarterly, Vol. 51, No. 203 (Apr., 2001), pp. 246-253, Blackwell Publishing for The Philosophical Quarterly. Disponível em http://www.jstor.org/stable/2660572, acesso em08/10/2011 14:10 ______________. An Egalitarian Law of Peoples. Blackwell Publishing: Philosophy & Public Affairs, Vol. 23, No. 3 (Summer, 1994), p. 195-224. Disponível em www.jstor.org/stable/2265183, acesso em 23/08/2011 às 13:03.

______________. John Rawls: His life and theory of justice. Trad. Michelle Kosch. Oxford University Press, 2007.

RAWLS, John. O Direito dos Povos. Tradução de Luis Carlos Borges com revisão técnica de Sérgio Sérvulo da Cunha. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

_____________. O Liberalismo Político. Trad. Dinah de Abreu Azevedo. São Paulo: Editora Ática, 2000.

_____________. Uma Teoria da Justiça. Nova tradução baseada na edição americana revista pelo autor de Jussara Simões. Revisão Técnica de Álvaro de Vita. São Paulo: Martins Fontes, 2008.

REIDY, David A. Political Authority and Human Rights. In: MARTIN, Rex; REIDY, David. Rawls’s Law of Peples: a Realistic Utopia? Blackwell Publishing, 2007.

REICHBERG, Gregory M. ed. The Ethics of War: classic and contemporary readings. Blackwell Publishing, 2013.

RODIN, David. War & Self-Defense. Oxford, 2010.

SCHULTE, Paul. Morality and War. Oxford Handbooks Online.2012. SHUE, Henry; RODIN, David ed. Preemption: Military Action and Moral Justification. Oxford Press, 2007.

SORABJI, Richard; RODIN, David ed. The Ethics of War: Shared Problems in Different Traditions. Ashgate. 2007.

STEINHOFF, Uwe. Debate: Jeff McMahan on the Moral Inequality of Combatants, IN: Journal of Political Philosophy 16, no 2, 2008, p. 220- 226.

STEMPLOWSKA, Sophia, SWIFT, Adam. Rawls on Ideal and non- Ideal Theory. In: MANDLE, John, REIDY, David. A Companion To Rawls. London: Blackwell, 2014, p. 112-127.

STRAWSON, P. F. Freedom and Resentment. In: ______. Freedom and Resentment. USA: Methuen, 1974.

TESÓN, Fernando. Some Observations on John Ralws's The Law of Peoples. In American Society of International Law, vol. 88, p. 18-22. WALZER, Michael. Guerras justas e injustas: uma argumentação moral com exemplos históricos. Trad. Waldéa Barcellos. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

WALZER, Michael. The Rules of War, in Just and Unjust Wars. New York Basic Books, 1977.

Documentos relacionados