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Este percurso académico e profissional foi pautado por uma evolução do meu desempenho como futura EESMO. Este desenvolvimento de competências teve como base a aprendizagem e a reflexão. O investimento na reflexão sobre a prática é uma das melhores formas de dar visibilidade à enfermagem e relevo às competências do enfermeiro. O trabalho de investigação em enfermagem e a divulgação dos resultados obtidos, leva ao desenvolvimento da profissão e à importância da prática baseada na evidência. A elaboração deste relatório foi uma experiência extremamente gratificante na medida em que me permitiu refletir sobre todo o meu percurso e desempenho para a aquisição de competências como futura EESMO.

A unidade curricular Estágio de Natureza Profissional com Relatório proporcionou o desenvolvimento de competências no cuidar em enfermagem especializada em saúde materna e obstétrica a grávidas com patologia, parturientes, puérperas, recém-nascidos, mulheres em processo de abortamento e mulheres com patologia ginecológica. Tive oportunidade de experienciar momentos muito compensadoras e algumas menos gratificantes, mas aprendi com todos, e estes mereceram a minha reflexão à luz da evidência científica, de forma a promover o desenvolvimento das minhas competências profissionais.

Esta unidade curricular possibilitou o desenvolvimento da capacidade de articulação e reflexão sobre as experiências da prática na prestação de cuidados, aperfeiçoando-me enquanto pessoa e profissional, tornando-me mais competente para a prestação de cuidados de enfermagem mais complexos e especializados.

Considero que os objetivos a que me propus no início deste percurso foram atingidos com sucesso, verificando uma evolução gradual, tão importante por exercer funções no Serviço de Obstetrícia, onde devo aplicar na prática os conhecimentos adquiridos e o desenvolvimento constante de competências no cuidar especializado em saúde materna e obstétrica. Assim, o percurso de aprendizagem é pois, longo, exigente e não terminará certamente com o términus do mestrado, pois os EESMO estão autorizados e legitimados a exercerem a sua atividade de forma autónoma (OE, 2015) sendo necessário que estes profissionais estejam seguros na sua área de atuação com capacidade de se firmar junto de outros profissionais de saúde e da comunidade em geral.

74 Este percurso de aprendizagem permitiu-me também desenvolver um outro grupo de domínios que se prossupõem do EESMO, ou seja, as competências comuns do enfermeiro especialista, pois conduziu ao desenvolvimento de competências que envolvem dimensões como a educação dos clientes e dos pares, a orientação, o aconselhamento e a liderança, capacitando-me também para a investigação, que certamente vai contribuir para melhorar a minha prática de cuidados e consequentemente a prática da enfermagem no meu contexto profissional, principalmente no que concerne à formação contínua.

Foi desenvolvido um estudo sobre a influência da episiotomia na sexualidade da mulher após o parto, baseado na metodologia de investigação, o que constituiu uma experiência muito enriquecedora para pôr em prática cuidados na área da integridade perineal e sexualidade à luz da evidência científica, transmitindo esta informação à restante equipa de Obstetrícia e mulheres a quem prestei cuidados.

Este trabalho não se prende em encontrar soluções para uma problemática tão complexa e ainda tão presente, mas antes contribuir para o reconhecimento da importância da mesma. A investigação exploratória e descritiva-correlacional, enquanto atividade estratégica desta pesquisa, constituiu um verdadeiro desafio, marcado por algumas dificuldades relacionadas com o tratamento estatístico dos dados. Os resultados deste estudo vêm desmistificar a interferência da episiotomia no funcionamento sexual feminino, não se verificando diferenças significativas entre as mulheres com e sem episiotomia nos diferentes domínios da escala de função sexual feminina. Mesmo em relação à dispareunia, enunciada em diversos estudos prévios, observa-se que, ao longo do primeiro ano de pós-parto, não existem diferenças entre períneo com episiotomia/episiorrafia e períneo intacto.

Apesar das conclusões observadas neste estudo, não se pode deixar de referir as limitações do mesmo, nomeadamente no que diz respeito à dimensão da amostra, ao facto de ser um estudo retrospetivo com perceções vivenciadas nos últimos cinco anos relativamente ao primeiro ano após o parto, à tipologia de parto e ao facto de não se ter enunciado na resposta ‘laceração’ os diferentes graus, o que pode interferir nas respostas sobre os domínios da função sexual feminina. Outro ponto importante ainda dentro da limitação temporal trata-se do facto do instrumento ser aplicado durante a primeira semana após o último/presente parto, podendo igualmente influenciar os resultados, através do reporte feito pelas mulheres relativamente ao que sentem ou percecionam no momento da realização do questionário.

Ressalto ainda que o período de transição para a parentalidade envolve muitas alterações físicas, psicológicas, emocionais e sociais, não isoladas neste estudo, podendo influenciar

75 negativa e positivamente na sexualidade feminina, como apresentado em alguns estudos em que enumeram a interferência da amamentação e consecução do papel maternal como influenciadores da função sexual.

O facto do tipo de amostragem ser de conveniência, condiciona a representatividade da mesma, o que impossibilita a generalização dos resultados para esta população. Este estudo contribuiu para fornecer informação sobre a sexualidade feminina após o parto, uma vez que após um ano deste acontecimento tão importante na vida da mulher e casal, observa-se que independentemente do tipo de parto e na presença ou não de episiotomia, não se observam diferenças estatisticamente significativas na função sexual feminina. Esta informação, bem como os resultados da revisão da literatura (Apêndice B), poderão ser disponibilizadas à grávida/puérpera/família em contexto de cuidados de saúde primários, em contexto de bloco de partos e durante o internamento em puerpério.

Como recomendações/sugestões para futuras pesquisas, seria importante replicar o presente estudo para uma amostra de maiores dimensões, no espaço temporal com menos de três meses de pós-parto, tal como sugerido pelo autor da Escala FSFI, podendo aplicar posteriormente o estudo com a mesma amostra, após um ano de pós-parto, comparando e inferindo se a longo prazo a sexualidade da mulher/ casal é ou não afetada pela presença de episiotomia/ episiorrafia.

Embora os resultados obtidos no estudo apontem que ao final do primeiro ano após o parto, a episiotomia não apresenta influência na função sexual feminina, a revisão da literatura demonstra uma premente necessidade de serem implementadas práticas mais eficazes, baseadas em evidências científicas, tendo em vista a redução do traumatismo perineal durante o parto e, consequentemente, a promoção da saúde e do bem-estar das mulheres/ casais, bem como a realização de mais estudos nesta área, procurando dados mais objetivos sobre as repercussões deste procedimento a curto e a longo prazo.

Talvez, seja igualmente importante investigar a interferência da amamentação na função sexual feminina, visto diversos estudos indicarem esta ligação, no sentido, de educar em saúde os casais sobre a vivência da sexualidade após o parto de forma mais plena e prazerosa.

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