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Conclusão e limitações da investigação

No documento Indícios de valor partilhado em Portugal (páginas 86-97)

Literatura académica recente adverte para o conceito de valor partilhado como forma de enquadrar as iniciativas de responsabilidade social e ambiental das empresas. A referida expressão advém da visualização das fragilidades sociais e ambientais como oportunidades de desenvolvimento do negócio. Esta perspetiva defende que as iniciativas de responsabilidade social devem estar amplamente relacionadas com o próprio negócio da empresa e, para além de conferirem uma mais-valia social e/ou ambiental, devem ser fruto de criação de valor económico na esfera da própria empresa. A presente dissertação contribuiu para a compreensão do conceito de valor partilhado e suas implicações, bem como, a identificação e descrição de iniciativas de criação de valor partilhado por empresas portuguesas.

Tratou-se de um estudo exploratório e descritivo com recurso a uma amostra por conveniência, baseado nas diferentes ferramentas de reporte de informação sobre as politicas de sustentabilidade das empresas. No sentido de sistematizar a informação recolhida, foi criada uma grelha de análise, na qual foi possível identificar algumas tendências relativas às práticas de reporte da informação sobre sustentabilidade, à importância atribuída às partes interessadas que envolvem o negócio, ao tipo de iniciativas de responsabilidade social e ambiental desenvolvidas nas empresas e à associação das mesmas com a estratégia da empresa publicitada. O presente estudo culminou na identificação e descrição de iniciativas de responsabilidade social cujos moldes de implementação aparentam enquadrar-se no conceito de valor partilhado idealizado por Porter e Kramer (2011).

Na sequência da análise efetuada pode-se concluir que as empresas que constituem a amostra parecem ter consciência das vantagens da responsabilidade social, nomeadamente ao nível da melhoria da imagem e reputação, traduzida na forma cuidada como reportam as suas políticas de sustentabilidade, alinhada com as tendências mais modernas da comunidade empresarial mundial.

A esmagadora maioria das empresas analisadas monitoriza a sua atividade em termos de impato ambiental, mas apenas as empresas verdadeiramente dependentes de recursos

75 naturais ou as grandes consumidoras de energia, parecem desenvolver uma politica de gestão verde (Siegel,2009).

No que diz respeito às iniciativas sociais direcionadas à comunidade, normalmente, não estão alinhadas com a estratégia da empresa, embora se verificam alguns exemplos que contrariam esta tendência. Constataram-se algumas semelhanças nas iniciativas voltadas para os recursos humanos, parte interessada mais invocada ao longo da análise documental, indiciando quase que uma obrigação tácita no desenvolvimento de determinadas ações.

Em muitas empresas é evidente a relação das iniciativas desenvolvidas com o próprio negócio, muitas vezes é sugerido, até através da linguagem utilizada, a relação entre as políticas de responsabilidade social e a estratégia da empresa. Este alinhamento manifestou-se mais frequente quando estão em causa iniciativas direcionadas para os recursos humanos, embora também existam alguns casos no que diz respeito a iniciativas ambientais e direcionadas para comunidade. A maioria destas iniciativas envolve apenas a partilha de valor já adquirido, não constituindo portanto exemplo de criação de valor partilhado. Da análise efetuada foram identificados apenas 17 casos, nos quais são evidentes indícios de valor partilhado, ou seja, a iniciativa é aparentemente analisada como um investimento que trará, com certeza, benefício para determinada parte interessada, bem como, retorno financeiro futuro para a empresa. Um pressuposto associado à criação de valor partilhado é a promoção de vantagem competitiva para a empresa promotora, sendo tal circunstância especialmente evidente na redefinição de novos produtos e na implementação de melhorias na cadeia de valor É interessante verificar que empresas do mesmo ramo de atividade, e portanto concorrentes, desenvolvem iniciativas de criação de valor partilhado semelhantes, quer ao nível de redefinição de novos produtos, quer na introdução de melhorias na cadeia de valor. Tal indicia a luta pela obtenção de vantagem competitiva.

Nos casos de construção de clusters, destaca-se o fato de os projetos de internacionalização das diferentes empresas abrangerem necessidades socias do país de destino, cuja resolução é suscetível de promover uma mais-valia no próprio processo de internacionalização.

76 Mesmo nos exemplos de criação valor partilhado identificados é importante referir que estes só constituem verdadeiros casos de criação de valor partilhado, mediante determinadas circunstâncias, designadamente, quando se verifica a criação de valor global, isto é a criação de um ganho para os beneficiários das iniciativas, como também para as empresas que as promovem.

5.2 – Implicações para a gestão

A presente dissertação procura alertar os gestores para as potencialidades de uma politica de responsabilidade social estruturada e alinhada com a própria estratégia da empresa. A revisão da literatura permite enquadrar concetualmente a criação de valor partilhado, objeto da presente análise, demonstrando as vantagens que a persecução deste tipo de iniciativas pode promover para a empresa.

A análise da informação publicada pelas empresas associadas ao BCSD – Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável, permitiu demonstrar as práticas presumivelmente, mais inovadores, das políticas de sustentabilidade e respetivas formas de reporte, em Portugal. Perante a exemplificação dos casos de valor partilhado identificados, é feito um apelo à criatividade dos gestores para identificar fragilidades sociais e ambientais na envolvente do seu negócio, cuja resolução possa constituir uma verdadeira oportunidade para a criação de valor para a sociedade e, simultaneamente, para a própria empresa.

5.3 - Limitações do estudo e sugestões para investigações futuras

O facto de este estudo incidir sobre um número restrito de empresas do tecido empresarial português, inviabilizará a possibilidade de generalização das conclusões. Limitar a amostra a um grupo tão restrito e especifico do tecido empresarial português obviamente, impede a caraterização das empresas que promovem iniciativas de criação de valor partilhado em Portugal, podendo haver outras empresas que promovam este tipo de iniciativas mas, pelo fato de não estarem associadas ao BCSD, não foram objeto desta análise.

Uma vez que a metodologia utilizada se baseia numa amostra por conveniência, e posterior análise dos casos nos quais se identificam indícios de valor partilhado, não é possível a generalização das conclusões delineadas.

77 O fato de toda a análise se basear em relatórios e /ou informação produzida unilateralmente pelas empresas em questão (apenas fontes secundárias de recolha de dados), tem algumas fragilidades, uma vez que a publicação desta informação tem como intuito influenciar a imagem percecionada das partes interessadas relativamente à empresa em questão.

Contudo, a identificação de casos de valor partilhado conferida pela presente dissertação poderá ser mote para investigações futuras, nomeadamente, através de estudo de casos.

A metodologia de estudo de casos parece ser indicada, na medida em que permitirá o estudo de factos, no sentido de se compreender melhor a decisão dos gestores em investir na criação de valor partilhado: o porquê desta decisão, como é que esta decisão é implementada e com que resultado. O estudo de casos tem uma índole descritiva e simultaneamente interpretativa da realidade.

O estudo de caso é a metodologia indicada (Yin, 1994): quando se pretende responder às questões “Como” e “Porquê” de determinado fenómeno; quando existe pouco controlo do investigador relativamente ao evento em questão e quando se trata de um fenómeno contemporâneo dentro de um contexto real, pelo que pode ser uma boa sugestão para continuar a investigação sobre a temática do valor partilhado.

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