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O presente trabalho de investigação procurou contribuir para o estudo das orações adverbiais em Português Europeu, nomeadamente as estruturas concessivas e condicionais, e ver em que medida os sujeitos “respondem” ao emprego do modo conjuntivo nessas estruturas, comparando o desempenho linguístico de sujeitos em final de cada ciclo do ensino básico (4º, 6º e 9º anos), em função dos resultados dos adultos (grupo de controlo).

A aquisição da linguagem é um processo muito complexo que ainda divide muitos autores: uns afirmam que a linguagem é adquirida através da imitação dos adultos, pelo reforço e pela interacção com o ambiente; outros referem que o ser humano já nasce com uma predisposição inata para começar a falar, percorrendo várias etapas até as regras gramaticais da língua materna estarem estabilizadas.

Este trabalho vai, assim, ao encontro desta última teoria, demonstrando que a criança percorre um longo trajecto até adquirir todas as regras gramaticais da sua língua, quer a nível da compreensão, quer no que respeita à produção. É aqui que o sistema formal de ensino desempenha um papel fundamental.

Procede-se então à apresentação das principais conclusões decorrentes da descrição e análise dos dados dos sujeitos-alvo (4º, 6º e 9º ano).

(i) O desempenho linguístico dos sujeitos evolui ao longo da escolaridade obrigatória, sendo que a taxa de sucesso relativamente às tarefas propostas nesta dissertação é percentualmente mais baixa nos discentes de nível de escolaridade inferior (4º ano). Quanto aos sujeitos de 9º ano demonstrou-se que o seu desempenho se assemelha aos resultados do grupo de controlo, o que significa que as estruturas complexas aqui estudadas se encontram (quase) estabilizadas.

(ii) O modo conjuntivo coloca alguns problemas nos sujeitos, nomeadamente nas faixas etárias mais baixas, em que optam, por vezes, pelo uso do modo indicativo em detrimento do conjuntivo. Ainda que com menos frequência usam, em alguns casos, o infinitivo. Os

resultados obtidos demonstram que a progressão escolar influencia o desempenho linguístico dos sujeitos, sendo que os de 9º ano apresentam uma maior estabilização na aquisição destas estruturas.

(iii) Em relação à posição das adverbiais na frase, não há dados conclusivos, uma vez que os resultados dos sujeitos foram heterogéneos, ainda que não sejam muito distantes. Deste modo os sujeitos de 4º ano, ao contrário do que se esperava, registaram, maioritariamente, preferência pela oração subordinada à esquerda da subordinante, à semelhança do que se verificou nos resultados dos sujeitos do 9º ano. Em contrapartida, os sujeitos de 6º e os adultos optaram por colocar a oração adverbial à direita da subordinante, isto é, em posição final. No entanto, como foi mencionado, em termos percentuais, os resultados não diferem muito.

(iv) Ainda que os sujeitos, na generalidade, tenham classificado mais facilmente as orações concessivas do que as condicionais, verificou-se que, aquando da correcção dos enunciados considerados não aceitáveis e do completamento das orações adverbiais com as formas verbais correctas, o desempenho dos sujeitos face às orações concessivas foi inferior ao das condicionais.

(v) A partir dos resultados obtidos pelos sujeitos nos exercícios de juízo de gramaticalidade, bem como no de completamento de espaços, conclui-se que existem dificuldades na selecção do tempo e modo verbais na subordinada adverbial. Como já foi referido anteriormente, os sujeitos, sobretudo os de escolaridade mais baixa, tendem a usar o modo indicativo em vez do conjuntivo modificando, por vezes, as orações subordinantes de modo a contornar a situação ou construir do outro tipo de estruturas que não as adverbiais.

Porém, o desempenho linguístico vai melhorando em função da progressão escolar, no sentido em que os sujeitos pertencentes a um nível de escolaridade superior apresentam uma melhor performance na construção destas estruturas complexas, aproximando-se mais da gramática-adulta.

(vi) Relativamente aos dados espontâneos, pode concluir-se que não são muito frequentes as estruturas complexas, nomeadamente as de subordinação adverbial concessiva e condicional. De acordo com os resultados obtidos, verifica-se uma maior predominância de estruturas de coordenação, principalmente as copulativas e as adversativas, bem como de subordinação adverbial temporal, causal e final. Quanto às concessivas e condicionais estas só surgem a partir do 6º ano.

Pelo exposto anteriormente, podemos concluir que o sistema formal de ensino pode potenciar o desenvolvimento das construções mais complexas, uma vez que para a aquisição dessas estruturas é necessário um trabalho prévio no que concerne à aprendizagem de determinadas regras gramaticais, sobretudo no que diz respeito aos tempos e modos verbais. No caso específico das orações adverbiais, mais concretamente das concessivas e das condicionais, o modo conjuntivo.

É evidente que este não é um estudo conclusivo, uma vez que a amostra não é representativa de todo o caso português. Como investigação futura seria interessante explorar mais aprofundadamente outros subtipos de adverbiais, nomeadamente as temporais, uma vez que são as mais disponíveis no discurso das crianças/jovens e, por outro lado, admitem a utilização do modo indicativo e conjuntivo, consoante o tempo da acção. Não menos importante seria a selecção dos sujeitos do grupo de controlo, tentando englobar várias habilitações literárias, a fim de verificar se os resultados são, particularmente, fruto do sistema de ensino ou apenas da evolução dos indivíduos enquanto seres humanos.

De acordo com as sugestões do júri, seria igualmente interessante, numa investigação futura, apresentar os resultados dos testes por conector e também por valor semântico, a fim de verificar em que tipo de conectores e de estruturas haverá maior incidência de incorrecções e se haverá ligação com a aquisição de capital lexical por parte dos sujeitos, confrontando os resultados ao longo dos níveis de escolaridade. Por outro lado, poder-se-ia fazer a distinção entre estruturas concessivas e condicionais concessivas e ainda entre os valores semânticos das concessivas, das concessivas condicionais e das condicionais. Outra variável a ter em conta num futuro trabalho de investigação seria a aplicação de um teste de produção escrita espontânea com outro género de texto, nomeadamente o ensaio, o

texto argumentativo. Desta forma, poder-se-ia analisar se as estruturas abordadas neste estudo (concessivas e condicionais) ocorrem de forma distinta em função do tipo textual.

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