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O presente trabalho procurou aprofundar o estudo sobre os impacto na política de financiamento e estrutura de capitais das empresas participadas decorrente da presença de um investidor de private equity nas suas estruturas acionistas, tendo sido analisado o momento da entrada do investidor de private equity e reação à atual crise financeira.

A partir de uma amostra de 153 transações ocorridas entre 2001 e 2011, na qual se exclui investimentos efetuados por instituições governamentais, verificou-se que, apesar do seu crescimento observado na última década, sobretudo entre 2003 e 2007, esta atividade ainda é caracterizada pela sua reduzida dimensão e baixa competitividade, dado que apenas cinco empresas private equity dominam cerca de metade da indústria de capital de risco em Portugal.

Os resultados obtidos demonstram um crescimento significativo das empresas nos três anos subsequentes à transação, medido pelo valor contabilístico dos ativos, passivos e dívida financeira. A evidência obtida é consistente com estudos anteriores, tais como Boucly et al. (2011) e Chung (2011) que afirmam que as empresas targets tendem a aumentar a sua dimensão com a transação.

Neste estudo, analisou-se a evolução de cinco rácios que permitiram avaliar os impactos dos investimentos private equity ao nível da autonomia financeira e alavancagem das empresas targets, assim como na composição dos capitais alheios, na maturidade dos seus passivos e na evolução do risco financeiro dessas empresas.

Os resultados obtidos na análise do primeiro evento (entrada do investidor de private

equity nas estruturas acionistas das empresas) permitem concluir que a atividade private equity proporciona a diminuição da autonomia financeira das empresas target nos anos

posteriores à transação, sobretudo em períodos marcados pela escassez de capitais e em empresas com reduzido endividamento antes da entrada do investidor de PE.

Além disso, concluiu-se que o aumento do endividamento da estrutura de capitais é explicado não só pelo aumento da utilização da dívida financeira, como também pelo aumento de outros passivos não financeiros, como por exemplo, dívidas a fornecedores

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e suprimentos. Ou seja, por um lado, estes resultados realçam o efeito positivo que a entrada de um investidor de private equity na estrutura acionista de uma empresa proporciona no aumento da credibilidade e capacidade negocial junto de instituições bancárias e fornecedores dessas empresas e, por outro lado, evidenciam que os investidores de PE tem assumido posições típicas de capital alheio com o objetivo de diminuir o risco dos seus investimentos.

De igual forma, apurou-se que o impacto da entrada de um investidor de PE na capacidade de endividamento é superior para as empresas que apresentam dificuldades iniciais na obtenção de recursos para financiar as suas atividades, o que reforça as influências positivas na capacidade de endividamento e credibilidade das empresas proporcionadas pela atividade de private equity.

Observou-se também que o private equity procura nos anos posteriores ao investimento, transversalmente aos respetivos setores de atividade, aumentar a maturidade dos passivos das participadas, permitindo a redução do risco de liquidez inerente. Sendo este ajustamento superior nos investimentos realizados em períodos marcados por dificuldades financeiras.

Por último, os resultados revelam que os investimentos private equity não provocam um impacto significativo no risco financeiro das empresas.

Relativamente aos resultados obtidos pela comparação da estrutura de financiamento das empresas target entre o período pré-crise financeira com o atual período de crise financeira (segundo evento), é possível observar que as empresas detidas por investidores de private equity conseguiram manter ou mesmo aumentar o peso dos capitais alheios nas suas estruturas de capitais, contrariamente ao observado na generalidade das empresas, confirmando o efeito positivo da presença de investidores de private equity como acionistas sobre a alavancagem das empresas, sobretudo em períodos marcados pela escassez de capitais.

Por outro lado, observou-se um ajustamento no aumento das maturidades dos passivos das empresas detidas por private equity ao longo da atual crise financeira, embora se tenha observado que este ajustamento foi transversal a todo o setor de atividade.

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Finalmente, os resultados sugerem que a presença de um private equity no capital das empresas não influenciou significativamente a evolução do risco financeiro das empresas ao longo da atual crise financeira.

Como futuras áreas de estudo acerca deste tema sugere-se a análise dos impactos da entrada de um investidor de private equity no capital das empresas ao nível do

corporate governance e políticas de investimentos dessas empresas. Esta análise é ainda

mais relevante ao admitir que, de acordo com um estudo publicado pela EVCA em 2009, a criação de valor por parte de investimentos private equity não deverá decorrer do aproveitamento de alavancagem financeira, dadas as restrições ao crédito provocadas pela recente crise financeira que abalam a maior parte das economias e instituições bancárias europeias, mas deverá surgir a partir de reestruturações ou investimentos em empresas já alavancadas, sobretudo através de injeções de capital, atuando maioritariamente ao nível da corporate governance, performance operacional e política de investimentos.

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Apêndice

Base de dados Capital IQ

Capital IQ é uma base de dados comercializada e gerida pela Standards&Poors’s desde 1999. Tal como Mendes (2011) notou no seu trabalho, o facto de ser uma base de dados recente pode originar algumas distorções na recolha de dados mais antigos, principalmente em mercados fora dos EUA, como é o caso do português. Por outro lado, dado que esta base de dados encontra-se em contínuo processo de atualização, provavelmente algumas transações recentes poderão ainda não constar desta. No entanto, tendo em atenção estas potenciais distorções, é de acreditar que a base de dados recolhida cobre a maior parte das transações ocorridas em Portugal e é a melhor representação da indústria private equity em Portugal.

Base de dados SABI

A base de dados SABI é comercializada e gerida pela Bureau Van Dijk e contém informação contabilística e outras informações para mais de 20.000 empresas portuguesas para um período de 10 anos (2002 a 2011).

Desde logo, a primeira distorção desta base de dados surge com o facto de não cobrir a totalidade do mercado empresarial português, pelo que algumas empresas identificadas na base de dados Capital IQ não constavam da base de dados SABI. A segunda distorção está relacionada com o período de tempo coberto pela base de dados SABI, dado que limita o caso de estudo a transações ocorridas apenas posteriormente a 2003 (de acordo com a metodologia adotada no caso da análise do primeiro evento). Por último, uma terceira distorção ocorre devido ao facto de não possuir informação contabilística disponível para todos os anos em análise em algumas entidades.

Dadas as limitações da base de dados SABI, reduziu-se substancialmente a amostra inicial, passando de um total de 153 operações identificadas para apenas 84 transações que compõe a amostra final de transações em estudo.

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