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A substituição da eletrotermia não foi estudada em profundidade no Brasil e representa uma oportunidade real para a redução do consumo de energia elétrica e também do uso mais racional dos gases combustíveis. A utilização destes gases combustíveis em processos mais elaborados, com maior eficiência térmica, pode ser a grande oportunidade de se ampliar a participação dos dois gases no setor industrial.

Os consumidores serão os atores principais para o sucesso de qualquer substituição tecnológica. Os fatores econômico-financeiros são fundamentais na substituição da eletrotermia, pois, se não houver uma redução nos custos operacionais para viabilizar os investimentos necessários à mudança, a mesma não ocorrerá. As garantias do fornecimento e do preço praticado no longo prazo são fatores decisivos para a aceitação da mudança por parte dos empresários. A presença das concessionárias de GN e as distribuidoras de GLP são fundamentais, pois, só elas têm o peso na negociação para transmitir esta tranqüilidade.

A metodologia de avaliação da viabilidade proposta para análise da qualidade de energia abordou um importante aspecto na substituição da eletrotermia, sendo que o impacto na qualidade de energia pode ser significativo nos custos de capital, a ponto de uma mudança não ser mais viável economicamente. É uma metodologia simples, mas mostra-se eficiente na análise deste impacto para o caso resistivo. Se os cálculos não atingem o patamar sugerido e/ou valor de FP limite estabelecido, então é certo que a mudança não necessita acrescentar os equipamentos necessários para as correções no seu custo de capital.

O uso crescente de equipamentos que geram distorções harmônicas irá demandar uma legislação brasileira a respeito. Legislação esta que este trabalho levantou ser inexistente. Este é um ponto importante de preocupação do autor, pois, a proposta de substituir a eletrotermia de cargas resistivas irá ocasionar problemas com fator de potência e harmônicas, pelo fato de reduzir uma parte da corrente fundamental.

Existem políticas e programas de fomento à eficiência energética, porém, os objetivos, em sua maioria, não contemplam a sinergia entre os mesmos. O PROCEL, administrado pela Eletrobrás, tem o foco de atuação em eficiência da energia elétrica. O CONPET, administrado pela Petrobrás, tem o foco de atuação em eficiência dos combustíveis fósseis. A Lei 9991/2000 deixa a escolha dos projetos para utilizarem os recursos financeiros específicos a cargo das concessionárias de energia elétrica, que direcionam os projetos, de modo a atender seus próprios interesses, ou seja, a redução de inadimplência, a fidelização de clientes, etc. Mostra-se inócua ou pouco eficaz na substituição da eletrotermia, pois não existe o desafio da mudança de energético nos projetos contemplados. A Lei 10.295/ 2001 deve ampliar sua abrangência com a inclusão de um número maior de produtos) e as melhorias a serem feitas nestes devem ser implementadas mais rapidamente.

Como destinação das verbas de pesquisa e projetos de eficiência da Lei 9991/2000 e das verbas de concessionárias de gás canalizado, somado às receitas da ANP e ANEEL para pesquisa, as mesmas deveriam ser unificadas e geridas por um único órgão do governo, como por exemplo: a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), que é responsável pelo planejamento energético do país. Este órgão deveria fomentar o uso racional de todos os combustíveis e, principalmente, a substituição da eletrotermia por gases combustíveis, no intuito de direcionar a energia elétrica para fins mais nobres de uso final do que o utilizado para o aquecimento.

O único instrumento que contempla esta sinergia entre energéticos é o PROESCO, fato fundamental para promover a mudança tecnológica. Apesar dos esforços da equipe do BNDES e da Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia (ABESCO), o PROESCO é pouco conhecido. Os gerentes e funcionários das agências dos bancos que atuam como agentes financeiros intermediários do PROESCO (que são fundamentais para a maioria dos projetos) o desconhecem, o que dificulta o financiamento para as ESCOs ou usuários de energia que querem fazer projetos de redução de consumo e substituição de energético.

Com relação ao GLP, as leis criadas no passado, quando o Brasil vivia uma realidade de abundância de energia elétrica e importação de petróleo de mais de 50% para garantir sua demanda, devem ser mudadas o quanto antes. Não existe sentido manter em vigor portarias que restringem o uso do GLP na indústria, como o seu uso em caldeiras; ou mesmo a restrição do GLP em saunas ou piscinas. Desta forma, a Portaria DNC nº 4, de 7/2/1.992 deve ser cancelada, ou ter seu texto adaptado para a realidade futura do Brasil. O GLP terá sua vez no segmento industrial, quer seja pela iniciativa de algumas distribuidoras, quer por necessidade futura do país, pois o Brasil irá atingir sua auto-suficiência nos próximos anos e a situação irá mudar para

um excesso de oferta. A estrutura tributária do GLP também deve ser revista, para não penalizar o setor industrial.

Em relação ao gás natural, este é um energético nobre e assim deve ser seu uso. É um energético que irá ocupar um importante papel na matriz brasileira, quer porque temos reservas significativas, quer porque nossos vizinhos também o possuem; além de ser um energético que pode fazer a transição de uma cultura voltada ao uso do petróleo e energia elétrica, para outra cultura voltada aos combustíveis alternativos - como as células de combustível.

O estudo detalhado dos processos produtivos das indústrias, com a identificação do uso da eletrotermia, ou outro energético fóssil para aquecimento, é um fator importante para se obter sucesso na substituição tecnológica, e pode auxiliar a expansão do GN e GLP no mercado industrial. Esta ampliação também pode significar a redução do uso da energia elétrica, ou ainda, a redução do uso de termoelétricas e propiciar o uso mais racional da energia elétrica.

Com relação à metodologia proposta para a parte de verificação da qualidade de energia, esta é simples e mostra-se eficiente na análise dos impactos do fator de potência e harmônicas, que ficarão presentes na rede após a substituição da eletrotermia. Se os cálculos não atingem o patamar sugerido e/ou valor de FP limite estabelecido, então é mais do que certo que a mudança não necessita acrescentar filtros e/ou capacitores no seu custo de capital.

A mudança tecnológica, ou acréscimo da tecnologia de combustão nem sempre compensa. Vários fatores influenciam nos cálculos, como a quantidade total de gás a ser consumido pela empresa, o poder de negociação com as concessionárias (utilizados os valores tetos; entretanto, no mercado industrial, descontos são praticados no gás e na energia elétrica). Outro ponto de extrema relevância na viabilidade da mudança tecnológica é em qual tipo de tarifa elétrica e classe de consumo de GN a indústria se encontra, além do local físico; pois, existem diferenças tarifárias consideráveis quando se trata de concessionárias diferentes para uma mesma banda tarifária. De qualquer modo, a mudança tecnológica só é viável se apresentar uma redução significativa nos custos mensais, fato que só é possível quando temos indústrias na tarifa B3 e A4. Políticas governamentais que envolvam também as tarifas serão fundamentais na substituição tecnológica.

A abordagem técnica enfatizando a situação atual versus a modernização elétrica versus a mudança tecnológica para o GN/GLP, permite uma melhor relação de custo benefício para o empresário, aumentando suas possibilidades de escolha.

Pela experiência destes casos de campo, constata-se que as empresas estão muito reticentes em mudar de tecnologia, principalmente para o GN, devido às dificuldades

momentâneas de fornecimento e a tendência de aumento dos preços. O empresário busca o mesmo que se busca em um carro, ou seja, o “flex fuel”, ou traduzindo para este caso, o “flex energetic”.