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Embora tenha sido a ideia inicial deste trabalho de tratar todos os indivíduos de forma igualitária ao chamar de “transferidor líquido” e “consumidor líquido”, esta não é a realidade do país, atualmente. Apesar da diminuição de horas de TDRN ao passar do tempo, com a vinda da tecnologia e com mais mulheres em ambiente de trabalho, a maioria das horas de trabalho doméstico não remunerado são uma realidade das mulheres, chegando até quatro horas diárias. Porém, os afazeres domésticos sempre foram vistos como uma inatividade econômica. Com o aumento de mulheres na população economicamente ativa, quanto mais passam-se os anos, mais elas têm jornadas de trabalho, seja ele remunerado ou formalmente. Porém, muitas vezes procuram emprego com carga horária reduzida para conseguirem conciliar com o trabalho doméstico. Por outro lado, a equidade salarial, de inserção no mercado e de direitos entre homens e mulheres ainda não está presente no Brasil, como mostra a divisão sexual do trabalho. Além disso, a transferência também é distribuída de forma desigual, partindo do ponto que as cinco horas diárias produzidas por ambos os sexos teriam que ser consumidas igualmente, mas não são. Devido a tudo isso, remunerar as mulheres que praticam esta atividade é baseado pelo fato de que seu trabalho é tão importante quanto de seu marido, que trabalha remunerado. Ou seja, a proteção da mulher é feita de acordo com suas necessidades trabalhistas também.

As análises foram feitas de acordo com a fonte de dados base: a PNAD de

2013 com a correção de Jesus et al. (2018). Um delas foi a apresentação das horas diárias de produção, consumo e transferência de homens e mulheres, por nível de instrução. O mesmo foi feito, desta vez, anualmente e somente para as mulheres, para produção de acordo com a renda per capita e o nível de instrução delas. Além disso, o modelo de regressão logística foi estimado com o objetivo de conhecer a razão de chance de ser transferidora líquida (TL) ou consumidora líquida (CL) de acordo com variáveis socioeconômicas.

Os resultados mais pertinentes foram que mulheres realizam quase 4 horas diariamente de trabalho doméstico, enquanto os homens não atingem ao menos 1

hora diária. O que mais chama atenção é que, para os homens, o nível de instrução não é um fator que influencia as horas de produção, ao contrário das mulheres. Em resumo, pode-se concluir que homens e mulheres consomem da mesma forma, porém não produzem do mesmo modo, pois a diferença na produção é maior. Foi visto também que o mínimo de horas que uma mulher média trabalho neste meio por ano é de 620,85 aos 15 anos de idade, para homens são 219,81 horas. Observando somente as mulheres, há uma grande diferença entre os decis em que, o máximo de horas de produção ocorre aos 24 anos das mulheres de decil 1 que trabalharam 2.151 horas anuais, enquanto as mulheres de decil 10 produziram 4 vezes menos que mulheres com renda baixa. Além disso, a possibilidade de contar este tempo de transferência na previdência social brasileira, resultou em 3,8 anos de contribuição para uma mulher média.

O estudo é de suma importância para a elaboração de futuras reformas da previdência brasileira, principalmente quando se trata de direitos igualitários para ambos os sexos dentro do mercado de trabalho, como tempo de contribuição previdenciária, além de rever a desigualdade salarial de mulheres que, em sua maioria, têm dupla jornada de trabalho. Entre a população feminina também há uma diferença de realidades, por exemplo, ao se tratar de escolaridade e renda per capita, como foram citados neste trabalho. Para as menos privilegiadas, o estudo pode ajudar em programas de assistência como capacitação e creches, e assim, poderem ter uma independência financeira e uma qualidade de vida melhor.

Uma limitação encontrada no trabalho foi a própria PNAD de não inclusão de casais homoafetivos, o que introduz uma outra: o aumento de igualdade de gênero em relação às horas de trabalho doméstico, em comparação aos anos anteriores. A ideia inicial de ser chamar somente de “transferidores líquidos” e “consumidores líquidos” ainda não pode ser uma realidade, enquanto a transferência for desigual.

Os próximos passos de um trabalho como este é argumentar mais sobre os outros nichos que não foram explorados nesta pesquisa, como a questão racial, as regiões urbanas e rurais (ao se tratar de mulheres que trabalham no campo, principalmente, existe uma carência grande de assistência social relacionada ao trabalho). Além disso, outro ponto é o cálculo de benefício pelo tempo de trabalho

doméstico não remunerado para os transferidores líquidos, ou seja, quanto vale o TDNR.

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