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CONCLUSÃO

No documento Venture Capital (páginas 90-93)

Os quatro primeiros capítulos deste trabalho serviram para que pudessem ser introduzidos alguns termos e conceitos desta atividade, possibilitando uma apresentação de características mais particulares na relação entre os gestores e os investidores de fundos de VC. Em fazer isso, aproveitamos a oportunidade para comparar a realidade de algumas destas características entre a prática internacional e uma amostra de fundos nacionais sob a instrução CVM 209. Esta comparações foram realizadas nos capítulos 5 e 6 deste trabalho e, embora algumas conclusões tenham sido descritas no decorrer do raciocínio desenvolvido nas mesmas, guardamos tais conclusões para esta parte final, pois, deste modo, é possível fazer a análise tendo uma visão do todo.

Recorrentemente foi possível perceber que, embora alguns fatores nesta atividade tenham como base algum benchmark de mercado, a predominância se encontra na determinação das características dos fundos pelas forças de oferta e demanda da indústria. E, por esta ser uma atividade com perfil de risco muito elevado dada sua natureza, há uma grande quantidade de instrumentos práticos que visam mitigar os riscos oriundos da assimetria de informações.

Pelas informações apresentadas, foi possível perceber certo alinhamento dos fundos da amostra nacional com a prática internacional. Usando como parâmetros as questões de prazo de duração dos fundos, possibilidade de prorrogação deste prazo e duração do período de investimento, é possível perceber que, de um modo geral, a questão temporal da estrutura dos fundos é semelhante, havendo apenas diferença quanto ao prazo de duração dos fundos e de duração do período de investimento. O fato dos fundos da amostra nacional apresentarem, de forma predominante, tais prazos de duração menores do que os da prática internacional nos leva a questionar se isto ocorre por um possível ciclo de negócios mais curto da economia brasileira, embora as diferenças façam com que a duração dos períodos de desinvestimento sejam semelhantes , ou, possivelmente, pela necessidade de executar os investimentos num prazo mais curto para que se possa produzir retornos mais rápidos, o que poderia nos levar a crer que a economia nacional proporciona maior facilidade para a originação de investimentos.

Quanto às questões de política de investimento, no que concerne a possibilidade de reinvestimento, alocação de recursos na formação de um portfólio flutuante e

possibilidades de co-investimento, também foi constatada certa semelhança, mas com exceções significativas. Tais exceções são referentes às possibilidades de investimento. A amostra nacional apresentou uma maior possibilidade de co-investimento tanto pelos gestores, como pelos investidores. Levando em consideração que as restrições em relação ao tamanho permitido do co-investimento são relacionadas à combinação da necessidade de capital das empresas-alvo com a incapacidade dos fundos em proverem todos os recursos necessários, poderíamos inferir que o tamanho dos fundos nacionais está abaixo do que seria suportado pela demanda por investimentos de VC. Outra questão é o fato de que, dentre os fundos da amostra nacional, os investidores são contemplados com a possibilidade de co-investimento num percentual maior do que os gestores, podendo, isto, demonstrar um desequilíbrio existente entre os poderes de barganha das partes.

As questões sobre o alinhamento do gestor com o retorno do fundo apresentaram, em parte, uma grande semelhança. Os mecanismos utilizados para aumentar o alinhamento do gestor são praticamente os mesmos, no entanto, apesar de se encontrarem na mesma faixa de investimento em seus próprios fundos, a diferença de 0,45% entre as médias dos gestores nacionais e internacionais pode ser um indicativo de certa desconfiança dos investidores sobre o alinhamento dos gestores nacionais, fazendo com que eles tenham que investir mais em seus próprios fundos. Uma questão que apresentou semelhança entre as amostras foi o tratamento dado aos custos incorridos pelos fundos em sua estruturação e operação. Já a questão do percentual da taxa de administração mostrou indícios da ação das forças de oferta e demanda da indústria.

Enquanto os fundos da amostra internacional apresentaram uma taxa de administração de 2,5% ao ano, os fundos da amostra nacional apresentaram um valor de 2,0%.

Somando a isto a questão da variação do percentual de dita taxa, é possível inferir a realização de negociação entre as partes, onde os gestores nacionais, restritos a um mercado muito menor do que os investidores internacionais em relação à quantidade de recursos disponíveis para captação, demonstram aceitar um percentual de taxa de administração menor, negociando, em troca, a atualização por indexador de inflação da base de cálculo da mesma. Também podemos perceber, pela diferença na motivação para que haja variação na taxa de administração, que a indústria no âmbito internacional já incorporou o conceito cíclico da atividade, onde as taxas de administração variam de acordo com a existência de outro fundo sob a gestão de uma mesma firma gestora, enquanto que a prática nacional, provavelmente por ser comparativamente muito

recente, ainda não aparenta ter assimilado tal característica. No entanto, um ponto positivo é a semelhança na base de cálculo utilizada para a determinação da taxa de administração.

O percentual da taxa de performance utilizado nos fundos da amostra nacional apresentou um acompanhamento com o benchmark da indústria de 20%. No entanto, a forma como a taxa de performance é calculada, a base sobre a qual incide e o momento em que o gestor pode começar a receber sua taxa de performance demonstram certa incredulidade dos investidores na capacidade dos gestores em obter os retornos esperados, especialmente se levada em consideração a existência de hurdle em 100%

dos fundos da amostra nacional.

A discrepância principal entre as práticas internacionais e as dos fundos da amostra nacional foi em relação às questões de governança dos fundos. O excesso de controle exercido pelos investidores fica claro ao percebermos o percentual dos fundos que possibilitam, por exemplo, a destituição desmotivada do gestor, podendo este se defender apenas através da exigência de aprovação disto por elevado número de votos em quorum pleno, e a manutenção do poder de decisão em assembléia sobre quase qualquer assunto relativo ao fundo. Corroborando isto, a participação dos investidores nos comitês de investimento demonstra a necessidade que os investidores acreditam ter em, além de supervisionar, interferir nas decisões e estruturação dos investimentos. Isto é fruto da escassez de oferta de capital para investimento nestes fundos, implicando no pouco poder de barganha dos gestores. Assim, fica claro o estágio nascente da indústria nacional, pois é incoerente a participação dos investidores nos comitês de investimento, além de estarem se expondo a ter responsabilidade ilimitada sobre os investimentos dos fundos.

Em suma, as informações levantadas e as comparações feitas serviram para apontar que os instrumentos utilizados, pelos fundos da amostra nacional, para o tratamento de potenciais riscos da atividade de investimento nestes fundos são, em geral, semelhantes aos da prática internacional, estando fortemente sujeitos as forças de oferta e demanda da indústria. No entanto, há diferenças cruciais quanto ao poder de barganha dos atores, fazendo com que os gestores se sujeitam a práticas, em relação ao exercício de supervisão e interferência dos investidores sobre as atividades dos fundos, que possivelmente levarão ao alcance de retornos sub-ótimos pelos fundos.

No documento Venture Capital (páginas 90-93)