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Em síntese, os estereótipos se constituem em informações que são compartilhadas socialmente a respeito dos indivíduos e grupos, de modo que são formados a partir de uma inferência sobre determinado atributo do sujeito que lhe é estabelecido uma categoria particular. Os estereótipos são produtos das interações cognitivas dos indivíduos com o mundo social, do sujeito individual numa realidade interindividual.

Dos aspectos cognitivos, entende-se que a percepção social, a cognição social, os esquemas, as crenças e a categorização são constitutivos da compreensão sobre o processo de estereotipia. Pois estes carregam informações adquiridas ao longo do desenvolvimento psicossocial do sujeito. De modo que, ao estar a realidade do meio social ordenada, em uma futura situação em que exija do observador uma compreensão da realidade, o juízo que será empregado tomará como base toda a experiência cognitiva do sujeito, ou em outras palavras, todo o conhecimento prévio já arquivado. E consequentemente, as “imagens da cabeça”,

definição apresentada por Lippman (1922) para os estereótipos, guiarão as ações comportamentais do indivíduo, quer elas sejam de caráter individual ou coletivo.

Os estereótipos possuem suas origens em causas individuais e sociais que mantem uma dinâmica de retroalimentação para a manutenção destes por várias necessidades dos indivíduos e dos grupos. Eles se originam e se perpetuam dentro da sociedade a partir do processo de socialização, surgem de ideologias que mantenham uma dinâmica hierárquica entre os grupos, e assim possam servir como justificativas para o ordenamento social.

Geralmente, eles retratam um julgamento particularizado dos sujeitos e grupos a partir de vários atravessamentos individuais e sociais, que perpassam desde funções egóicas até mesmo explicações da realidade e causalidade do mundo social. Conforme afirmou Brown

(2010) em qualquer contexto em que as categorias sociais sejam psicologicamente disponíveis, os estereótipos estarão em cena.

A complexidade dos estímulos do mundo social faz que os estereótipos sejam facilmente ativados por uma função adaptativa de economia cognitiva do sujeito. Podendo ela se constituir numa das causas organicista deste fenômeno que propiciaria a sua ativação; partindo do ponto da premissa que eles ajudam no processamento da realidade percebida, podendo até mesmo ser ativados de forma automática.

O processo de estereotipia se constitui muitas vezes num equívoco cognitivo, que leva o indivíduo a adotar uma série de comportamentos que evidenciam uma realidade discriminatória e preconceituosa baseada em crenças sociais que são compartilhadas dentro de uma sociedade, e a elas são atreladas uma série de valores na dinâmica estabelecida para as relações intergrupais. Contudo, a ação deles não se limita aos aspectos da realidade social. Os estereótipos interferem na percepção da imagem que o indivíduo terá de si próprio; e criará nele, uma imagem que poderá vir a ser confirmada ou não.

Motivados pelos aspectos limitadores que os estereótipos podem perpetrar sobre os indivíduos e os grupos diversos estudos analisam os mais variados contextos em que as aplicações e consequências dos estereótipos influenciam a realidade social do sujeito, alterando sua motivação, perspectiva, identidade, percepção, autoconceito e até mesmo no seu desempenho, nos mais variados aspectos: intelectual, moral e físico. Contudo, estes aspectos serão aprofundados no próximo capítulo onde abordaremos como se processa a limitação do indivíduo em determinado contexto social, ou como a condição de ameaça em que possa vir a ser confirmada uma estereotipia favorece a mantém a percepção estereotipada a respeito de si e de seu grupo.

CAPITULO II

2 A AMEAÇA DOS ESTEREÓTIPOS.

A interferência dos estereótipos na vida social e individual do sujeito é indiscutível (Brown 2010; Picho & Brown 2011). A partir da vasta literatura sobre a temática pode-se sintetizar que os estudos buscam aferir o grau da interferência dos estereótipos na vida dos sujeitos, as consequências e as causas deles a nível individual e social. Sobremodo, porque os estereótipos possuem ação eficaz sobre as expectativas e julgamentos sociais. (ver capítulo I).

A face cognitiva dos estereótipos faz entendê-lo como um resultado de uma realidade percebida que é associada a esquemas e, consequentemente, resulta em inferências com relação ao indivíduo ou grupo alvo (Krüger, 2004; Tajfel, 1981; Techio, 2011), de modo a favorecer uma distorção da realidade (Moya, 1999). Contudo, se, os estereótipos em si já possuem esta ação potencializada de distorção da realidade, num contexto em que haja a possibilidade futura da confirmação de um estereótipo negativo, qual seria a amplitude e impacto desta ameaça para o sujeito?

A ameaça dos estereótipos é uma teoria que compreende as formas e dimensões do impacto dos estereótipos na cognição do sujeito ameaçado. Esta teoria pode ser definida a partir da compreensão de que ela se processa em um contexto psicossocial que surge a partir de estereótipos negativos compartilhados a respeito de um grupo; ao qual o sujeito membro, perceba que na execução de uma determinada tarefa, cujo estereótipo negativo tenha significância para realização dela, se desenhe uma possibilidade dele confirmar o estereótipo a respeito de seu grupo e, consequentemente, confirmar como característica individual a estereotipia negativa de seu grupo. De modo que diante da percepção desta realidade situacional, a teoria pontua que o sujeito terá seu desempenho na tarefa comprometido e o resultado diminuído (Steele & Aronson, 1995).

Em outras palavras, a teoria postula que o desempenho na realização de uma determinada tarefa num cenário social será significativamente diminuído no indivíduo que

pertença a determinado grupo em que os estereótipos negativos tenham relação com a execução da tarefa e, quando eles forem submetidos a situação ameaçadora em que suponham que o seu rendimento será analisado por crenças estereotipadas a respeito de seu grupo (Wout, Shih, Jackson & Sellers, 2009; Silva & Pereira, 2009; Steele, 1997). Dito de outra maneira, a ameaça do estereótipo é um fenômeno psicológico que rebaixa o desempenho dos indivíduos quando há possibilidade de confirmação de estereótipos negativos a respeito de seu grupo estejam por ser confirmadas em razão da realidade que lhe é apresentada (Picho & Brow, 2011; Murphy & Taylor, 2012; Lewis & Sekaquaptewa, 2016). Enfim, este conceito circunscreve a instabilidade e preocupação que surge no indivíduo na hora de confirmar um estereótipo negativo a respeito do seu grupo de pertencimento.

Imagine que um jovem X, considerado pelos seus professores como um aluno de desempenho escolar excelente, disciplinado, aplicado e, durante toda a sua vida acadêmica tenha frequentado uma escola da rede pública de ensino de sua cidade. Entretanto, os estereótipos negativos compartilhados a respeito dos alunos que frequentavam a mesma escola que “X” eram de alunos despreparados, semialfabetizados, pouco inteligentes. Certo dia, o jovem “X” e outros alunos se preparam para realizar uma prova idealizada pela

secretaria de educação de sua cidade. Momentos antes da aplicação da prova, o jovem “X” fica sabendo por meio do aplicador que todos os outros alunos que estavam presentes na sala eram provenientes da rede particular de ensino de sua cidade, cujos estereótipos não possuíam nenhuma relação com o desempenho acadêmico; o aplicador faz uma breve apresentação de cada aluno, informando de qual unidade de ensino cada participante pertencia. E ainda acrescenta a informação de que a prova objetiva uma avaliação do nível de inteligência dos candidatos.

Ciente das estereotipias a respeito da escola a qual ele pertencia, quais efeitos que a informação sobre o objetivo da tarefa poderia eliciar no jovem “X”? De certo, os estereótipos

tornam-se indispensáveis ao indivíduo. Visto que eles ajudam na compreensão do mundo social, e constroem a realidade cognitiva do sujeito (Brown, 2010). Entretanto, ao analisar o papel dos estereótipos nas relações intergrupais, surge o questionamento quanto as consequências dos estereótipos na vida dos indivíduos e grupos: Como os estereótipos podem interferir diretamente no mundo social? Ou mesmo, quais os grupos estão sujeitos a experimentar a ameaça? E serão estas indagações que nortearão a busca pela clareza sobre o conceito e os aspectos constitutivos da ameaça do estereótipo. E os assuntos abordados trarão maiores informações de como se processa a dinâmica de afetação cognitiva no indivíduo a ponto de prejudicá-lo socialmente.