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Os resultados deste estudo apontam para a possibilidade de construir novas políticas e, também, de transformar a prática dos trabalhadores em saúde mental baseado na perspectiva das pessoas com transtorno mental, sendo o movimento recovery uma interessante estratégia para ajudar avançar a Reforma Psiquiátrica no Brasil. O desafio apresenta-se a partir do momento em que nos comprometemos com a construção de serviços direcionados ao recovery e ressaltamos a necessidade que há em enfatizar o trabalho das equipes de Saúde Mental no que diz respeito à inserção dos usuários da Saúde Mental em atividades em grupo como parte do tratamento. Este recurso tem demonstrado ser uma importante ferramenta terapêutica, que, ao ser oferecida ao usuário, permite transformar a relação do usuário com a doença, indo muito além do diagnóstico.

COSTA (2017) afirma que há países como Inglaterra, Escócia, Suécia, Dinamarca, Noruega, Austrália, Nova Zelândia, Canadá, Itália, entre outros, que têm adotado políticas e estratégias orientadas pelo recovery. De fato, a Organização Mundial de Saúde (OMS), em seu plano de ação em Saúde Mental 2013 – 2020 (World Health Organization 2013) propõe recovery como um de seus objetivos gerais, e recorre ao recovery ao longo de todo o documento. Nesse sentido, ressaltamos outro achado da nossa pesquisa: o fato de o usuário da Saúde Mental ter seu caso referenciado para a Atenção Básica também mostrou ser um fator decisivo para o bom andamento do processo de recovery. Portanto, ressaltamos a necessidade das equipes dos CAPS trabalharem no contexto da rede de cada cidade, nesta direção. Finalmente destacamos a

questão da interdisciplinaridade e das alternativas à medicação. Como observamos nos resultados, receber outras ofertas terapêuticas além da medicação, e passar por atendimento com profissional não médico mostraram ser ferramentas terapêuticas amplamente utilizadas pelas equipes. Segundo MEZZINA (2014), o trabalho em equipe interdisciplinar se materializa por meio da formulação coletiva de projetos terapêuticos, da coordenação entre as várias figuras profissionais, de abordagens interdisciplinares, assim como do investimento na formação contínua em serviço e de ações compartilhadas pela equipe, da circulação da informação dentro dos serviços e integração de trabalho não profissional. Finalmente diremos que haveria, desta forma, a necessidade de destacar o trabalho verdadeiramente interdisciplinar das equipes dos CAPS estudados, assim como a necessidade de se orientar, mais ainda, o trabalho destas equipes para um olhar do usuário, para além de seu diagnóstico e com maior compromisso com o processo de recovery dos sujeitos.

Para continuar com nossa discussão, apresentamos agora pontos fortes e pontos fracos desta pesquisa, assim como novas hipóteses.

A modo de pontos fortes desta pesquisa, podemos dizer que na Saúde Mental há, praticamente, ausência de indicadores de resultado e essa pesquisa tem a pretensão de contribuir com a construção de alguns indicadores de resultado para que futuros estudos possam ser realizados.

Também podemos dizer que, diante da escassez de material de consulta na área de recovery observada ao longo da pesquisa, este trabalho vem a contribuir para a ampliação do campo de conhecimento na área, podendo ser, assim, fonte bibliográfica de novos estudos.

Quanto aos objetivos traçados inicialmente foram alcançados com o decorrer da pesquisa, o qual é esperado do ponto de vista da metodologia de pesquisa científica. Foi estimada a prevalência de usuários que apresentavam problemas relacionados às atividades de trabalho, lazer e religião antes do ingresso nos Centros de Atenção Psicossocial. Foi estimada também a prevalência de início ou retomada das atividades de trabalho, lazer e religião entre os usuários que haviam relatado problemas nessas dimensões, antes do ingresso nos Centros de Atenção Psicossocial, assim como foram identificados os fatores associados à retomada das atividades de trabalho, lazer e religião entre os usuários que haviam relatado problemas nessas dimensões, antes do ingresso nos Centros de Atenção Psicossocial.

Quanto aos limites ou pontos fracos desta pesquisa podemos dizer que não era nossa pretensão fazer uma descrição minuciosa dos itinerários terapêuticos dos usuários da SM, seja na Atenção Primária quanto nos demais níveis de Atenção. Além disto, o fato de ter sido aplicado um questionário fechado aos usuários dos serviços de SM no contexto da pesquisa ampliada, limitou a variedade de informações a serem coletadas. Talvez, um questionário com perguntas semiabertas poderia ter nos oferecido uma diferente qualidade de respostas. Não foi feita diferenciação entre retorno ao trabalho e retorno ao emprego, nem em relação ao trabalho formal ou informal. Em ambos os casos há diferenças conceituais que não foram aprofundadas, pois não era o escopo deste trabalho.

NOVAS HIPÓTESES

Também, podemos trazer aqui novas hipóteses que se desprendem deste percurso de pesquisa em relação ao tema central deste trabalho. Observando a Síntese dos Resultados assim como os fatores associados a cada desfecho, algumas “novas” hipóteses podem ser levantadas nesse sentido, tais como: -Quanto às práticas nos Serviços de SM, quanto maior for a circulação de informações sobre diagnóstico e sobre o uso da medicação, mais propensos serão os usuários a retomarem as atividades de trabalho, lazer e religião.

- Serviços de SM que ofereçam outras ofertas terapêuticas além da medicação como atividades coletivas (grupos terapêuticos) e que, por sua vez, possam trabalhar articulados com a rede de SM existente na cidade, estarão favorecendo o aparecimento de condições para o recovery.

-Quanto maior articulação houver entre a Atenção Primária e a Especializada, maiores serão as chances de criar condições para recovery em usuários dos serviços de SM.

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