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SOBRE O DIREITO DE ACESSO DO INDIVÍDUO À JUSTIÇA INTERNACIONAL NO ÂMBITO DOS SISTEMAS REGIONAIS

XXI. Valencia: Tirant lo blanch, 1998, p 209.

5. CONCLUSÕES COMPARATIVAS

Quanto à experiência europeia, desde criação do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, em 1959, até 2015, foram mais de 18.500 decisões proferidas, sendo quase a metade delas dirigidas a quatro Estados membros, quais sejam: Turquia, Itália, Rússia, Romênia e Polônia.258 A história do Tribunal é marcada por

258 UNITÉ DES RELATIONS PUBLIQUES. COUR EUROPÉENNE DES DROITS DE L`HOMME.

um avanço e sucesso inegáveis. Tal fato é confirmado pelo caminho percorrido desde a ideia de René Cassin de incorporar um recurso na Declaração Universal dos Direitos Humanos, criando-se o Conselho da Europa em 1949, até o que é hoje um direito obrigatório de recurso individual a um Tribunal independente.259

Hodiernamente, o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem tem um caráter único e pode ser demandada por mais de 800 milhões de cidadãos, sob a jurisdição de 47 Estados membros.260 Sudre261 já afirmava em 1989, que a Convenção Europeia fornecia o modelo mais avançado de proteção jurisdicional dos direitos humanos, ligando a ordem pública europeia dos direitos humanos a um juiz europeu com competência obrigatória. Este sucesso foi ocorrendo progressivamente, através de mudanças instauradas para melhorar o funcionamento do sistema.

No que se refere ao sistema interamericano, Trindade262 sustenta que a Corte Interamericana necessita dar mais um passo em frente no sentido da evolução do locus standi in judicio ao jus standi dos indivíduos perante a Corte, de modo que o artigo 61, n.º 1 da Convenção passaria a ter o seguinte teor: "Os Estados Partes, a Comissão e as supostas vítimas têm o direito de submeter um caso à decisão do Tribunal”. Para o autor, em pleno século XXI, já restam superadas as razões históricas que levaram a negação do locus standi das vítimas, tendo a própria prática já revelado as insuficiências e distorções do mecanismo paternalista de intermediação da Comissão entre o indivíduo e a Corte, justificado em outra época e embasado na soberania estatal.

Na verdade, no que concerne à experiência interamericana, o acesso do indivíduo à Corte Interamericana de Direitos Humanos segue a mesma evolução da Corte Europeia, mas a passos mais lentos. Trindade263 destaca que, observa-se desenvolvimento similar ao do sistema europeu dos anos oitenta, com a reforma do interna corporis dos dois órgãos de fiscalização da Convenção Americana de

259 EISSEN, Marc-André. El Tribunal

Europeo de Derechos Humanos. Madrid: Editorial Civitas,

1985, p. 14.

260 LAMBERT ABDELGAWAD, Elisabeth. La saisine de la Cour Europeenne des Droits de l'homme.

In: La saisine des juridictions internationales. Dir. Hélène Ruiz Fabri et jean-Marc Sorel. Paris:

Editions A. Pedone, 2006, p. 211.

261 SUDRE, Frédéric. Droit international et européen des droits de l'homme. 4 ed. Paris: Presses Universitaires de France, 1989, p. 341.

262

TRINDADE. (et. al.). Op Cit., 2003. p. 92.

263

Direitos Humanos. Assim, Trindade reforça que o reconhecimento do locus standi in judicio das supostas vítimas, ou seus familiares e representantes legais, em todas as fases do processo perante a Corte por intermédio do Regulamento de 2000 da Corte, configura-se como um avanço, mas não necessariamente a etapa final de aperfeiçoamento do Sistema Interamericano, de modo que, o direito de petição só vai atingir a sua plenitude quando puder ser exercido diretamente pelos peticionários perante a Corte Interamericana de Direitos Humanos.

Portanto, a Corte Interamericana de Direitos Humanos ultrapassou a fase na qual a Comissão Interamericana detinha a função de defesa dos interesses individuais, com o domínio integral sobre o ingresso da causa e os cuidados com sua instrução, tendo estacionado, entretanto, no reconhecimento do locus standi in judicio à parte individual. Este aspecto é criticado também por Robles264, para quem a Comissão pode decidir o caso de uma maneira e a discordar com sua resolução, devendo, portanto, ter todo o direito de submeter o caso à Corte, porque ela é destinatário da proteção internacional proporcionada pelo sistema interamericano.

Ainda em favor da representação direta das vítimas ante a Corte, Trindade sustenta que esse fato convém não só às supostas vítimas, mas a todos: “aos Estados demandados, na medida em que contribui a afastar definitivamente as tentações de politização e a consolidar a jurisdicionalização do mecanismo de proteção, à Corte, para ter melhor instruído o processo, e à Comissão, para pôr fim à ambiguidade de seu papel, atendo-se à sua função própria de guardiã da aplicação correta e justa da Convenção (e não mais com a função adicional de ´intermediário´entre os indivíduos e a Corte)”.265 Assim, propugna pela superação da concepção paternalista e anacrônica da intermediação da Comissão Interamericana de Direitos Humanos entre os indivíduos peticionários e a Corte, de maneira a conceder a estes últimos acesso direto à Corte.

Muitas questões têm impactado na efetividade da Corte Africana. Anteriormente, uma questão que era apontada consistia no fato de que os autores em potencial de petições individuais apresentavam dificuldades de conhecer os Estados Partes do Protocolo que tinham feito a declaração opcional prevista no

264

ROBLES. Op Cit., 2003. p. 160.

artigo 5º, n.º 3 e 34, n.º 6 do Protocolo. Apenas no ano de 2013, esta lista foi publicada, informando aos indivíduos e as organizações não governamentais a respeito dos Estados Membros que haviam feito a aludida declaração.266

Reflete diretamente na efetividade da Corte também o fato de só 26 dos 54 Estados da União Africana terem ratificado o Protocolo e apenas sete países terem feito a declaração reconhecendo a jurisdição da Corte em relação à possibilidade de demandas individuais.

Outro fator que pode ser apontado é o fato da Corte Africana não ser permanente, já que só se reúne quatro vezes por ano, cada sessão por quinze dias e só o juiz presidente trabalha em tempo integral, os outros dez só trabalham a tempo parcial.

Uma questão que também refletirá diretamente no sistema de proteção africano, mormente, na Corte Africana, é a criação da Corte de Justiça da União Africana, por intermédio de um Protocolo Adicional, adotado em 11 de Julho de 2003, em Maputo, Moçambique, por força das previsões orgânicas do Ato Constitutivo da União Africana (artigo 18) que ainda não entrou em vigor.

De acordo com o sítio eletrônico da União Africana, apenas 16 Estados da União Africana ratificaram e depositaram o instrumento legal respectivo.267O artigo 13º impõe uma maioria de dois terços de ratificações dos 54 Estados Partes da União Africana como condição para entrada em vigor do instrumento jurídico.

Em relação ao acesso do indivíduo a Corte de Justiça da União Africana, o referido Protocolo não faz menção expressa. O artigo 18, do aludido Protocolo dispõe:

266 AFRICAN COURT ON HUMAN AND PEOPLES‟ RIGHTS. LIST OF COUNTRIES WHICH HAVE

SIGNED, RATIFIED/ACCEDED TO THE PROTOCOL TO THE AFRICAN CHARTER ON HUMAN