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CONCLUSÕES

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5. CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS

5.1. CONCLUSÕES

Este trabalho teve por objetivo geral: analisar as relações racionais integrativas dos elementos conceituais que estruturam o BSC no sistema de medição do desempenho estratégico do Governo de Pernambuco.

Dessa forma, quando se analisou como os elementos conceituais que estruturam o BSC são utilizados no sistema de medição do desempenho da estratégia governamental relativamente à orientação do modelo original foram alcançadas as seguintes conclusões:

Visto como uma mudança na postura quanto à forma de gerenciar a consecução das políticas públicas, o Modelo de Gestão Todos por Pernambuco, implantado em 2008 e instrumentalizado por um sistema de medição que tem por referência metodológica o Balanced

Scorecard, preservou seu conceito estrutural por três períodos de gestão governamental

subsequentes, refletindo, assim, um processo de aquisição de maturidade desse modelo a partir da experimentação prolongada com a sua prática, o que sugere o aperfeiçoamento de seus elementos metodológicos.

Nesse modelo, que tem a gestão para resultados como um ícone retórico, a metodologia do BSC é expressamente referenciada pelo Governo de Pernambuco, no patamar mais alto de instrumentalização de seu planejamento governamental, tornando-se claramente institucionalizada na estruturação das políticas públicas estaduais, legitimada no processo legislativo para a aprovação do plano de governo e amplamente difundida sob o conteúdo de lei estadual.

O sentido da utilização do BSC como referência metodológica, dado pelo Governo de Pernambuco, notavelmente se coaduna com os ideais vislumbrados por Kaplan e Norton (1997) quanto a viabilização de processos gerenciais que são críticos para concretização da estratégia, quais sejam: (1) esclarecer e traduzir a visão e a estratégia; (2) comunicar e associar objetivos e medidas estratégicas; (3) planejar, estabelecer metas e alinhar iniciativas estratégicas; e (4) melhorar o feedback e o aprendizado estratégico.

Para além desse sentido, sob a dimensão retórica, o aspecto simbólico envolvido no Modelo de Gestão Todos por Pernambuco é explorado pelo Governo, atribuindo-lhe um sentido de autopromoção através do discurso de uma gestão moderna, de natureza técnica e de alto desempenho, em que o mapa da estratégia do Governo se apresenta como um relevante instrumento para viabilização desse intuito.

Não só o aspecto comunicativo do mapa da estratégia é explorado pelo Governo, mas também o aspecto simbólico, em que, além de instrumento gerencial que representa o raciocínio estratégico do Governo, ele pode ser sugerido como um potencial símbolo utilizado para promoção partidária.

Além do mapa da estratégia, outros elementos característicos do BSC: perspectivas, objetivos estratégicos, relações de causalidade com vetores de desempenho e medidas de resultado, fazem parte da estrutura estratégica do Governo de Pernambuco, embora, em alguns casos tenham sido observadas algumas distinções funcionais na utilização desses elementos em comparação ao modelo original do BSC.

Destaca-se, sob as distinções observadas, o conceito de ‘áreas-chave de ação governamental’, que representam as dimensões sociais assumidas como prioridades em cada ciclo de gestão governamental, para as quais se estabelecem objetivos estratégicos distintos, agrupados através da utilização do conceito de ‘eixos estratégicos estruturantes’ que estabelece o conjunto das perspectivas estratégicas do Governo; e que, relativamente às ‘dimensões de negócios’ classificadoras das tradicionais perspectivas do BSC, exprime maior flexibilidade nos elementos que estruturam o raciocínio da estratégia, mais especificamente, quanto ao conteúdo e à quantidade dessas perspectivas.

Sob a abordagem de Ansari et al., (2010) acerca dos ajustes para adequação de práticas de gestão difundidas, a metodologia referenciada foi aplicada através dos elementos conceituais que formam a racionalidade de sua estrutura: mapa estratégico, perspectivas, objetivos estratégicos, relações de causa e efeito com vetores de desempenho e medidas de resultado. A adoção desses elementos não revelou inteira fidelidade com os conceitos originais, de forma mais evidente sobre as perspectivas e relações de causa e efeito; entretanto, a extensão dessa adoção contempla toda a estratégia governamental constituída do conjunto das políticas públicas estaduais.

Em outra linha de investigação, quando se analisou como os elementos conceituais que estruturam o BSC são relacionados, no sistema de medição de desempenho, aos elementos

conceituais que estruturam a estratégia governamental, foram alcançadas as seguintes conclusões:

Por mais que haja a adequação conceitual do BSC para aplicá-lo na gestão estratégica do Governo, existe, obrigatoriamente no contexto brasileiro, o desafio de integrá-lo à dimensão conceitual dos elementos tradicionalmente utilizados no planejamento de políticas públicas; e, para isso, um grande facilitador para superar esse desafio, da integração entre essas distintas dimensões conceituais, revela-se pelo reconhecimento das características de hierarquia e causalidade idealizadas nas essências das relações entre seus respectivos elementos.

Definições de elementos que representam desdobramentos dos objetivos estratégicos do Governo, sob a dimensão conceitual do BSC, foram identificadas como necessárias para a sua integração à estrutura do planejamento estratégico do governo, em que esse desdobramento representa uma customização do modelo de gestão utilizado pelo Governo, que, além de proporcionar maior nível de detalhamento para a mensuração e monitoramento do desempenho estratégico, viabiliza a integração com a estrutura programática das políticas públicas.

As relações integrativas entre a dimensão conceitual do BSC e a dimensão conceitual que envolve a estrutura programática das políticas públicas é caracterizada sob o conteúdo do planejamento governamental, que se apresenta sob o desdobramento de perspectivas em objetivos estratégicos, programas, ações e atividades, nessa ordem; assumindo, cada um desses elementos, níveis sequenciados de consolidação de ações estratégicas coordenadas e direcionadas a um resultado desejado, em que a racionalidade construtiva dessa estrutura, observada entre esses níveis, baseia-se em relações de causalidade.

Em um processo de priorização, em função da relevância estratégica, sobre os componentes do planejamento que se encontram no nível de atividades, resulta-se um elemento estratégico denominado de ‘Meta Prioritária’, que se constitui no objeto básico do monitoramento estratégico governamental, representando o maior nível de desdobramento da estratégia sob monitoramento por indicadores do modelo de gestão do Governo, constituindo- se nos processos de implementação de políticas públicas.

Percebe-se que, de fato, existe uma necessária transformação da ideia original em que alguns elementos são deixados de fora e outros adicionados, em um processo articulado sob o conceito de compatibilidade, como definido por Katz (1999), em que os elementos do BSC, são incorporados aos elementos de uma estrutura receptora pré-existente, aqui constituída pela estrutura programática utilizada pelo Governo.

Nesse processo de adaptação, a integração da gestão da tecnologia da informação com o BSC contribuiu para que o BSC se transformasse em uma poderosa ferramenta para resumir, coletar e exibir dados relacionados ao desempenho, fornecendo instantaneamente acesso a relatórios, análises e alertas sobre a consecução da estratégia, ratificando as observações de Coe e Letza (2014) e Van der Zee e de Jong (1999), quanto aos potenciais benefícios dessa integração.

Por fim, quando se analisou como os elementos conceituais que estruturam o BSC são relacionados, no sistema de medição de desempenho, aos elementos conceituais das dimensões do desempenho da consecução da estratégia governamental, foram alcançadas as conclusões seguintes:

A gestão voltada para resultados, ícone retórico do Modelo de Gestão Todos por Pernambuco, que traz sob sua amplitude conceitual a noção de mensuração do desempenho, é colocada como uma proposta antagônica à uma realidade anterior que contrastava com o anseio por resultados de alto desempenho estratégico das políticas públicas estaduais.

Nesse modelo de gestão, sob o desempenho governamental, as dimensões de processos, de resultados e de impactos da ação governamental são identificadas e, quando mensuradas, exprimem a qualidade do produto das políticas públicas, sendo, para essa mensuração, utilizadas medidas de desempenho que se apresentam como indicadores utilizados em cada uma dessas dimensões, coadunando-se à metodologia do BSC quanto à articulação de vetores e medidas de resultado; e fornecendo subsídio para o feedback da estratégia governamental, em um modelo de realimentação contínua, com intensa utilização de indicadores sociais de fontes secundárias.

Sobre as relações integrativas entre as dimensões de desempenho e os elementos que estruturam a estratégia governamental, principal foco desta análise, observou-se que os indicadores de resultados acompanham maior parte dos elementos estratégicos: objetivos, programas e ações; evidenciando uma maior ênfase dessa construção sobre essa dimensão de desempenho, o que, de fato, caracteriza a gestão do Governo como um modelo de gestão por resultados. Ações e atividades são acompanhadas por indicadores de processo; e os indicadores de impacto acompanham o desempenho de perspectivas e objetivos.

A lógica insumo-produto que configura as dimensões do desempenho foram preservadas com a adoção do BSC, entretanto, o Governo assume com essa adoção uma mudança de postura na forma de gerenciar as políticas públicas, onde, em contraste com a

importância de longa data do cumprimento das regras, enfatiza o gerenciamento por resultados, confirmando o BSC como uma ferramenta adequada aos preceitos da nova gestão pública, como vislumbrado por Hood (1995) e Bryson et al., (2014), e também como uma ferramenta para apoiar a agenda de mudança, como uma das razões que Malmi (2001) aponta para que uma organização adote o BSC.

Verificou-se, também, que a dimensão de processo/transformação da ação governamental assume maior relevância, para a gestão do Governo, no contexto da crise econômica, mas essa relevância não é suficiente para se afirmar uma sobreposição dessa dimensão em relação à dimensão de resultados do desempenho estratégico, mantendo-se as relações integrativas entre as dimensões de desempenho e os elementos que estruturam a estratégia governamental em períodos prolongados de crise econômica, com priorizações segundo critérios relativos à essencialidade do produto governamental.

Dessa forma, o BSC é colocado como uma ferramenta capaz de contribuir para a modernização do modelo racional de gestão de políticas públicas, apresentando-se como um mecanismo administrativo e burocrático para efetivamente direcionar as ações de campo, como vislumbrado por Everett (2003), demonstrando-se como um potencial para conexão desse modelo com a realidade complexa do ambiente, assim como Sabatier (2010) sugere ser uma necessidade para a gestão pública.

Esses resultados mostram, portanto, que a utilização do BSC como referência metodológica para o sistema de medição de desempenho governamental mostra-se adequada no contexto da gestão de políticas públicas, com potencial de subsidiar o alcance da melhoria ou manutenção do desempenho das ações governamentais.

Isso faz do BSC, uma referência conceitual genérica que pode ser adaptada às necessidades de cada usuário, através da integração racional de seus elementos conceituais, corroborando os apontamentos de Cooper et al. (2011), que apontam o potencial para adaptação e customização como a principal razão para o seu sucesso e popularidade.

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