• Nenhum resultado encontrado

5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

5.1 CONCLUSÕES

O comércio internacional esta presente em grande parte da história da humanidade, mas a sua importância econômica, social e política tornou-se crescente nos últimos séculos, inspirando tanto estudiosos, em suas análises econômicas modernas, quanto empresários, na ampliação dos mercados consumidores fora da sua área de influência. O avanço industrial, dos transportes, a globalização, o surgimento das corporações multinacionais e o outsourcing, tiveram grande impacto no incremento deste comércio internacional que, nos últimos vinte anos, conforme Coutinho e Sarti (2003), assistiu a um intenso processo de aceleração das inovações tecnológicas, de exacerbação da concentração empresarial e de mudança nos paradigmas de governança dos sistemas industriais.

A internacionalização das empresas produtoras, que pressupõe um processo de aprendizagem, começou no Brasil com décadas de atraso em relação à companhias multinacionais dos países desenvolvidos, visto a escolha feita pelos governos, entre 1950 e 1990, de promover uma política de substituição de importações, inibindo a comercialização internacional através de proteções tarifárias e não tarifárias à indústria. Por muitos anos incentivou-se, prioritariamente, a importação de tecnologias e a atração de capitais estrangeiros, até que, a partir da década de 90, frente às transformações que ocorriam no cenário mundial, o país decidiu se abrir, acreditando que somente alcançaria maior desenvolvimento econômico se ampliasse sua participação no comércio mundial, assinando o tratado do Mercosul e os acordos da nova Organização Mundial do Comércio (OMC).

Esta abertura econômica, portanto, que para muitos estudiosos foi promovida de maneira precipitada, sem dar tempo aos setores internos se prepararem adequadamente, inseriu, definitivamente, as companhias nacionais no mundo globalizado e trouxe inegáveis

benefícios para a estabilização do país e para os consumidores, por meio do acesso a uma maior variedade de produtos a preços mais baixos e competitivos. O governo federal, por sua vez, se no início do processo pouco pareceu se importar em dar condições de competitividade às companhias brasileiras e em estimular as exportações, logo após a desvalorização e mais acentuadamente nos últimos anos, tornou prioritária a expansão do comércio exterior do país e a busca por superávits, visando a diminuição da sua vulnerabilidade externa, através da entrada de divisas, mas também o aumento da produção, do emprego e da riqueza nacional.

Como observado por Kraus (2000), as escolhas estratégicas referentes à internacionalização das empresas brasileiras não se resumem àquelas com ou sem investimento direto no exterior, incluindo também o caminho seguido pela maioria delas, mediante um processo incremental de exportações, no qual envolvem-se gradativamente com operações internacionais e ampliam seu comprometimento conforme avançam nos estágios preconizados pelo modelo. Assim, mesmo que os recentes superávits comerciais possam ser explicados pelo crescimento das principais economias do planeta e pelo significativo aumento da demanda da China por commodities, (contribuindo para expressiva elevação de seus preços no mercado internacional), visto que o Brasil ainda exporta, principalmente, produtos primários, de pouco valor agregado, estas firmas também contribuíram muito para o recente salto nas exportações do país.

Em 2006, pela primeira vez na sua história, o Brasil enviou mais recursos para investimentos no exterior do que os recebeu, o que demonstra a força de alguns setores da economia ao internacionalizarem-se, almejando sobreviver em um mundo globalizado, aproveitando o maior acesso a crédito externo a juros baixos e a valorização do real, que reduz os custos em dólar, para comprar ativos e entrar em mercados mais atraentes. Isto acaba por inverter a lógica econômica de que as nações emergentes devem ser importadoras de capitais, porque têm necessidades de inversões que superam em muito a sua capacidade de geração de divisas e de produtividade, incongruência esta que, no caso do Brasil, explica-se pela pouca atratividade do país, que possui juros altos e expectativa de baixo crescimento, entre outros fatores adversos, compensando buscar maior rentabilidade em outros mercados.

De qualquer forma, a crescente internacionalização de organizações brasileiras pode ser atribuída aos próprios efeitos da globalização, que favorecem grupos nacionais que se encontram suficientemente capitalizados e possuem competência para se tornar players globais e que buscam, naturalmente, diversificar seus investimentos no exterior. Se antes as empresas do Brasil mais agressivas na internacionalização eram as que atuavam em setores em que existia concentração de mercado e produtos básicos, agora outras, que vendem

produtos mais elaborados, também procuram bons negócios em outros países e tentam consolidar sua presença além do mercado doméstico.

O setor de fundição, particularmente, mesmo diante das vicissitudes conjunturais e estruturais da economia brasileira, tem obtido crescente sucesso no seu processo de internacionalização e expansão das exportações, pois, além de contar com uma importante vantagem comparativa relacionada à abundância de recursos naturais, também investiu em tecnologia e produtividade, tornando-se mais competitivo. O processo de transferência da produção de peças manufaturadas por fundições cativas, das montadoras para fundições independentes, somado ao ótimo ambiente econômico mundial, tem garantido o seu bom desempenho no comércio exterior, apesar da valorização cambial.

Não obstante conviverem com vicissitudes típicas da economia nacional, já exaustivamente mencionadas neste trabalho, e que prejudicam sobremaneira a sua inserção e continuidade na atividade exportadora, as fundições brasileiras tem recebido algum apoio do governo federal, no sentido de alavancar as suas exportações e conquistar novos mercados, melhorando a performance deste setor que contribui significativamente para que a balança comercial do país atinja resultados positivos. Este incentivo governamental vem ao encontro da necessidade de investimentos para melhorar a posição do Brasil no cenário mundial de exportações de fundidos, coincidindo com o momento em que as indústrias automobilísticas americana e européias buscam alternativas para reduzir custos e poder competir com os asiáticos e, por conta disto, o país pode constituir-se numa atraente plataforma exportadora.

Diante do exposto, fica claro a necessidade de aprofundarem-se os conhecimentos sobre este importante segmento da indústria brasileira frente aos novos movimentos da economia global. Assim, o case da Tupy S.A. possibilitou perfeitamente a compreensão do processo de internacionalização de uma empresa do setor, servindo, inclusive, para se perceber sob uma nova perspectiva o significado da atividade exportadora, entendido agora como a capacidade de uma empresa em evoluir neste processo através do seu crescente comprometimento com as operações internacionais.

Feito o enquadramento da Tupy no modelo de internacionalização de empresas elaborado por Kraus (2000), descobriu-se que a organização avançou, no espaço de tempo de quatro décadas, por todos os estágios descritos no processo, não retrocedendo, ao contrário de muitas outras firmas brasileiras, o que demonstra a obstinação de seus gestores em enfrentar as inúmeras adversidades encontradas no comércio internacional e, ao final, lograr êxito. Empreendedores como Albano Schmidt e seu filho, Dieter, foram fundamentais e pareceu-nos fator condicionante do sucesso desta empreitada, ao conduzirem seu negócio rumo ao exterior

mesmo em tempos de economia protegida e de poucos estímulos à exportação, vislumbrando a possibilidade de não se limitar ao mercado nacional e resignar-se à simples acomodação, mas sim encarar o desafio de tornar sua empresa competitiva internacionalmente.

De fato, o modelo do professor Kraus proporcionou o entendimento do processo de internacionalização da Tupy S.A., ao se comprovar que ele é, sobretudo, um processo de aprendizagem, que acontece de forma incremental, com a companhia, gradativamente, ampliando seu comprometimento com o mercado externo, até que a atividade exportadora se torne a estratégia maior do negócio. Estratégia essa que, ao provocar mudanças na organização, no sentido de buscar novas oportunidades e lidar com as constantes ameaças do ambiente, é entendida como um fator indispensável no processo evolutivo de internacionalização de empresas.

Caberiam apenas duas ressalvas ao modelo, a primeira por não considerar que uma companhia pode iniciar suas exportações quando já é de grande porte e possui um setor de vendas bem estruturado e com profissionais com experiência em comércio internacional, que decidem atuar desde o princípio sem o auxílio de agentes, este, aliás, um traço típico da cultura germânica em que a firma encontra-se inserida, de independência e um pouco de desconfiança com terceiros. Obviamente esta limitação do modelo é plenamente atenuada por tratar-se a Tupy de uma empresa tão antiga, fundada em 1938, em um contexto tão diverso do atual e, quanto a segunda ressalva, ela se refere ao modelo não citar fatores econômicos do país como desencadeadores de mudanças de estratégia e estágios de comprometimento, o que parece-nos justificar parcialmente o salto mais recente dos investimentos externos brasileiros.

Isto posto, salienta-se que a organização não vivenciou o chamado “ponto de ruptura” descrito por Kraus, por não ter se utilizado de intermediários e, com exceção de um breve período, praticamente sempre ter exportado com marca própria, de maneira que a Tupy nunca demonstrou passividade que a levasse a romper com a “armadilha da internacionalização”, na verdade, a empresa, quando decidiu exportar, implementou um plano de comprometimento com o comércio exterior que não aceitava retrocessos. Assim, entende- se que a companhia não passou pelo estágio de exportadora passiva, ou seja, deu um salto do estágio de exportadora irregular direto para o estágio de exportadora pré-ativa, apesar desta constatação contrariar, em parte, o autor do modelo, que entende como reduzidas as chances de uma firma saltar etapas.

Quanto ao grau de internacionalização da empresa, relembrando Sullivan (1996), verificou-se que é elevado, pois, mesmo que não quantificando o agregado de alguns itens por ele utilizados para mensurá-la, constatou-se que o total de vendas externas da Tupy já supera

o total de vendas para o mercado interno, os lucros obtidos internacionalmente também são mais significativos que os alcançados no Brasil e existe uma grande intensidade de investimentos em P&D, como demonstra o pioneirismo da organização na tecnologia do ferro vermicular. Além disso, é reconhecida a experiência internacional de sua alta gerência e sua orientação para o exterior, existe uma grande dispersão física das operações internacionais da companhia, com escritórios de vendas nos principais mercados do globo e a maior proporção de subsidiárias no exterior do que no próprio país.

A intensidade da promoção comercial da Tupy não é tão expressiva quando comparada a empresas de outros ramos industriais, porque seus clientes, na maioria, são montadoras ou, em menor parte, lojas de material de construção, representações comerciais, indústrias, governo, etc., que não exigem grandes ações específicas, não obstante a empresa destacar-se em feiras, tanto nacionais quanto internacionais, e na investigação do mercado externo. Por fim, os recursos no exterior ainda são pouco significativos, resumindo-se aos escritórios de vendas, e considera-se remota a possibilidade da companhia vir a efetuar investimentos no exterior, no sentido de criar uma subsidiária de produção, apesar das especulações no passado sobre aquisições em Portugal e na China, que não se concretizaram, em especial, devido a frágil situação financeira da firma, entre outros fatores.

A principal conclusão deste estudo, tendo em vista o objetivo geral do mesmo, é a de que foi possível compreender como ocorreu o processo de internacionalização da Tupy S.A., no período compreendido entre a sua fundação até o ano de 2005, com o essencial auxílio proporcionado pelo modelo de Kraus (2000) e das ferramentas estatísticas utilizadas para o entendimento mais preciso do período pós-abertura comercial. É relevante constatar a determinação demonstrada pela empresa na superação dos diferentes estágios do seu processo de internacionalização, fruto da obstinação de Dieter Schmidt, que soube antever oportunidades, promoveu esforços para aumentar as exportações da companhia e, posteriormente, depois da segurança obtida com o sucesso deste movimento, partiu para investimentos em subsidiárias no exterior.

Mesmo vencidas todas as etapas descritas no modelo, pode-se afirmar que o processo de internacionalização da Tupy ganhou um novo direcionamento estratégico com a profissionalização da gestão da empresa, em 1991 e, principalmente, após a passagem do comando da organização, da família Schmidt para os novos controladores, em 1995. Com o seu controle acionário entregue a um pool de fundos de pensão e bancos, passou a concentrar todos os seus esforços em ampliar as suas exportações e consolidar-se no mercado externo como competidora global no segmento automotivo, adquirindo a fundição de Mauá e, em

paralelo, modernizando e expandindo o parque fabril de Joinville, dobrando, em pouco tempo, sua capacidade produtiva e despontando entre as cinco maiores fundições do mundo.

Para fazer frente ao excessivo endividamento da companhia e almejar reais perspectivas de lucro, os novos controladores tinham bem claro que não poderiam limitar-se às vendas internas e acomodar-se ao montante de comércio exterior daquele contexto, a solução peremptoriamente seria conquistar novos mercados no exterior e expandir fortemente as exportações. Os resultados deste novo direcionamento estratégico são facilmente mensuráveis, o volume físico de exportações sobre o total do volume produzido pela firma passou de 38% em 1995 para 55% em 2005, um respeitável salto, tão eloqüente que evidenciou, inclusive, uma crescente dependência do setor de fundição no país do desempenho da Tupy S.A., o que se configurou outra descoberta deste trabalho.

Apresentam-se, a seguir, as recomendações feitas pelo autor, dirigidas a empresas produtoras, profissionais e autoridades que coordenam a política pública de comércio exterior, acadêmicos e estudiosos da área dos negócios internacionais, com o intuito de aprimorar e aprofundar os conhecimentos deste campo de estudo.

Documentos relacionados