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CAPÍTULO V CONSIDERAÇÕES FINAIS

5.2. Conclusões

Este estudo realizado com três coordenadores de um museu itenerante que desempenhavam várias funções, entre elas de formadores e recrutamento, e com 32 mediadores desse museu, procurou responder às seguintes questões de investigação:

– Em que medida a formação que é dada aos mediadores é sentida como sendo adequada para que estes possam comunicar eficazmente ciências a uma diversidade de públicos, tanto na perspectiva dos mediadores, como na de seus coordenadores?

– Em que medida o recrutamento dos mediadores atende à necessidade de comunicar ciências a uma diversidade de públicos?

As conclusões do estudo serão apresentadas tendo em conta estas questões. Assim, no que se refere à primeira questão de investigação – “Em que medida a formação que é dada aos mediadores é sentida como sendo adequada para que estes possam comunicar eficazmente ciências a uma diversidade de públicos, tanto na perspectiva dos mediadores, como na de seus coordenadores?” – parece ser possível concluir que para os coordenadores, os quais também se encontram envolvidos na formação de mediadores, a formação que é dada (a qual ocorre essencialmente num curso de formação inicial de mediadores) é relevante, mas insuficiente. Trata-se de uma formação relevante porque permite ao mediador tomar contato com alguns princípios da comunicação mediador- visitante(s) que se pretende estabelecer, em especial na componente teórica do curso, e desenvolver alguns dos saberes da mediação, em especial na componente oficinas. Esta última componente foi valorizada pelos coordenadores, que mencionam a importância das oficinas para ajudar os mediadores

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a mobilizarem alguns saberes da mediação, abordados na parte teórica da formação, tais como: o modelo de comunicação assente num modelo dialógico; o saber do contexto, uma vez que a comunicação é balizada pelas missões do museu itinerante; o saber do diálogo, desempenhando as atitudes e a linguagem um papel chave na intervenção do mediador. Por outro lado, os coordenadores identificaram algumas dificuldades na atuação dos mediadores com o “público” que o curso de formação não consegue resolver, tais como um saber de “conteúdo” deficitário, um enraizamento do modelo de déficit na atuação dos mediadores e o ajustamento rápido do discurso a públicos diversificados. Os coordenadores defendem que o contexto da prática é essencial para o desenvolvimento dos profissionais, quando a equipe (cordenadores e pares) se encontra envolvida neste processo. Contudo, embora existam algumas atuações pontuais (ex.: o coordenador conversa com o mediador sobre algo da sua atuação, ou quando o mediador menos experiente diáloga com o mediador mais experiente), estas não são planejadas e podem em alguns casos ser contraproducentes (ex.: quando um mediador menos experiente se apropria de práticas menos adequadas de mediadores experientes). A não ocorrência de uma formação continuada, assente num modelo reflexivo como hoje se defende, encontra vários obstáculos para a sua implementação no museu itinerante. De fato, as equipes do museu itinerante não são fixas e cada mediador pode participar esporadicamente no projeto. Como resultado, torna-se difícil experienciar novas formas de mediação em atuações seguintes. A esta dificuldade acresce o fato de nos museus itinerantes ser mais difícil identificar os “públicos” alvo que visitam o espaço. Tal implicaria um estudo prévio de públicos que parece não existir. Para além disso, as tarefas que cada um tem que desenvolver durante cada estadia em cada localidade são inúmeras, não deixando tempo para uma reflexão sobre e na ação e, muito menos, para uma partilha e discussão dessas reflexões. Quanto à opinião dos mediadores sobre a formação recebida o estudo indica que, em termos globais, estes consideram que a formação recebida deu um contributo positivo para atuarem com uma diversidade de públicos, com exceção para a interação com visitantes com necessidades educativas especiais. Em relação aos saberes da mediação, embora todos sejam valorizados pelos mediadores na sua atuação, com vista a promover nos visitantes diferentes tipos de respostas (desde as mais afetivas às de natureza cognitiva e processual), o grau de contribuição da formação para o desenvolvimento desses saberes não é o mesmo para todos os mediadores. Assim, saber sobre o funcionamento do módulo, saber sobre a natureza das ciências, conhecer as atitudes do “público” sobre assuntos sócio-científicos e mediar intervenções em grupos heterogêneos foram os aspectos em que um maior número de formadores (cerca de 25%) considerou que o contributo da formação foi apenas suficiente. Também o contributo da formação para

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desenvolver o saber acerca da natureza das ciências foi mencionado por cerca de 30% como sendo insuficiente ou apenas suficiente. As atividades de formação mais valorizadas pelos mediadores enquadram-se quer na componente teórica quer na componente de oficina, sendo as mais valorizadas as que se referem às componentes contexto, conteúdos e diálogo. Para além do curso de formação, alguns mediadores consideram que seria importante a formação extender-se ao longo da sua prática, por exemplo, a partir da troca de experiências com outros mediadores.

No que se refere à segunda questão de investigação – “Em que medida o recrutamento dos mediadores atende à necessidade de comunicar ciências a uma diversidade de públicos?” – é possível concluir que o processo de recrutamento inclui várias fases e que em algumas delas há a preocupação em recrutar mediadores com hablidades de comunicar ciências a uma diversidade de públicos. Para tal, no processo de seleção de candidatos a mediadores estes são submetidos a uma entrevista, onde são avaliadas as suas capacidades de expressão oral, como, numa fase posterior, é-lhes pedido para simularem para o júri de seleção um cenário de mediação de um objeto com um dado público. É de notar que embora se avalie em que medida o mediador possui habilidades de comunicação, segundo os coordenadores é apenas no contexto real de trabalho que se constata se este recrutamento atendeu ou não às necessidades de comunicar ciências com diferentes públicos.