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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

7.1 CONCLUSÕES

A partir dos resultados obtidos através do programa experimental realizado e analisados nos capítulos anteriores, foi possível obter as seguintes conclusões, válidas para os materiais e métodos de ensaio utilizados:

a) Quanto à composição dos RCD

- os principais constituintes dos resíduos de construção e demolição utilizados nesta pesquisa foram argamassa, cerâmica vermelha e concreto;

- a coleta 2 apresentou grande percentual de cerâmica e argamassa em sua composição, em torno de 80%;

- as coletas 1 e 3 apresentaram composição semelhante considerando os grupos de materiais mais porosos (cerâmica e argamassa) e menos porosos (concreto e rocha), em torno de 57% e 43%, respectivamente;

b) Quanto à composição dos agregados, após britagem dos RCD

- o AMR da coleta 1 é composto predominantemente por concreto e rochas, apresentando 64% deste materiais, enquanto que na fração graúda maior parte do material, 76%, constitui-se de cerâmica e argamassa;

- os agregados da coleta 2 são predominantemente constituídos de cerâmica e argamassa, em ambas as frações, sendo 77% na fração miúda e 83% na fração graúda;

- na coleta 3, as frações miúda e graúda apresentam a mesma composição, 58% de cerâmica e argamassa e 42% de concreto e rochas;

c) Quanto às características dos agregados

Separação por densidades

- a separação por densidades não se mostrou eficiente para os agregados miúdos reciclados. A absorção praticamente instantânea observada nesses materiais influenciou nos ensaios, uma vez que o material absorve o líquido denso, alterando sua real densidade;

- a separação por densidades dos agregados graúdos reciclados apresentou resultados coerentes com a composição inicial dos resíduos de construção e demolição, para cada coleta;

- as partículas de cerâmica vermelha e argamassa ficaram concentradas nas três faixas de densidades mais baixas, mostrando que os agregados são compostos por materiais de diferentes qualidades;

- as partículas de concreto e rocha concentraram-se majoritariamente na faixa de densidade d>2,4;

Granulometria

- na análise granulométrica verificou-se que a quantidade de agregado miúdo reciclado passante na peneira de malha #0,15 mm foi de 4,8 a 15 vezes maior que do respectivo agregado natural;

- nenhum dos agregados miúdos utilizados, inclusive o natural, enquadrou-se na zona ótima estabelecida pela norma NBR 7211 (ABNT, 2005b). Apenas o agregado miúdo da coleta 2 está fora dos limites da zona utilizável;

- nenhum dos agregados graúdos reciclados se enquadrou nos limites estabelecidos pela norma NBR 7211 (ABNT, 2005b);

Massa específica e massa unitária

- a massa específica dos agregados reciclados foi inferior à dos agregados naturais. Para os agregados miúdos reciclados, a massa específica foi em média 7,5% menor

que a do agregado natural. Para os agregados graúdos reciclados, essa diferença foi maior, entre 9,5 e 15,8%, dependendo da coleta;

- a massa unitária dos agregados miúdos reciclados foi entre 8 e 19% menor que a dos agregados miúdos naturais e a dos agregados graúdos reciclados foi entre 23 e 30% menor que a dos agregados graúdos naturais;

Absorção de água dos agregados

- a Proposta de Norma desenvolvida por Leite (2001) para a determinação da absorção de água dos agregados reciclados não se mostrou eficiente para os agregados miúdos. Dessa forma, foi realizada uma adaptação da norma NBR NM 30 (ABNT, 2001c), conforme foi descrito no item 5.2.3;

- as taxas de absorção dos agregados reciclados variaram entre 4,3% e 11,7%. Para o agregado miúdo reciclado, o material da coleta 3 apresentou a maior taxa de absorção, enquanto que para o agregado graúdo reciclado, a maior taxa de absorção foi verificada para o material da coleta 1;

- as taxas de absorção inicial dos agregados reciclados foram muito altas, superando 80% da absorção total para todos os agregados utilizados. Isso evidencia a necessidade de pré-umedecimento dos agregados. No entanto, foram utilizados pra essa pré-molhagem, valores inferiores a essa absorção inicial, visando evitar excesso de água na mistura;

d) Quanto à relação água/cimento dos concretos

- os concretos contendo agregados com maior quantidade de cerâmica e argamassa demandaram mais água para alcançar a trabalhabilidade estipulada;

- quanto maior o teor de substituição do agregado graúdo reciclado, maior foi a relação a/c, ou seja, o agregado graúdo necessitou de mais água para alcançar a trabalhabilidade estabelecida em 100±20 mm;

- a diferença na composição dos agregados graúdos e miúdos reciclados influenciou no comportamento relatado acima;

e) Quanto à resistência à compressão axial

- os concretos com agregados reciclados seguem a tendência de comportamento da Lei de Abrams, ou seja, quanto maior a relação a/c, menor é a resistência;

- o agregado graúdo reciclado exerce maior influência sobre a resistência à compressão que o agregado miúdo reciclado;

- para relações a/c mais baixas, a relação consumo/resistência foi menor para os traços contendo apenas AMR. No caso de relações a/c mais altas, os traços contendo apenas AGR apresentaram menor relação consumo/resistência;

- todos os traços com agregados reciclados apresentaram valores de resistências inferiores ao do concreto de referência. As combinações contendo apenas 50% de um dos agregados apresentaram os melhores desempenhos entre os concretos com agregados reciclados. A combinação contendo 100% de AMR também apresentou bom desempenho;

- a densidade dos agregados graúdos reciclados não é um parâmetro que permite controlar a resistência dos concretos, uma vez que esta propriedade depende de diversos fatores relacionados com as características dos agregados, como composição, forma e granulometria dos agregados;

f) Quanto à resistência à tração por compressão diametral

- a avaliação da resistência à tração por compressão diametral demonstrou uma tendência de redução da resistência com o aumento da relação a/c;

- o agregado graúdo reciclado exerceu maior influência negativa sobre a resistência à tração que o agregado miúdo reciclado;

- os traços que apresentaram melhor desempenho quanto à resistência à tração foram os mesmos que para a resistência à compressão, os que continham 50% de um dos agregados reciclados. Nenhum deles superou o concreto de referência;

- a separação por densidades e a composição dos RCD não podem ser utilizadas como parâmetros de controle da resistência à tração por compressão diametral dos concretos com agregados reciclados, uma vez que esta propriedade não foi influenciada pela variabilidade dos RCD;

g) Quanto ao módulo de deformação secante

- a redução provocada pelos agregados reciclados no módulo de deformação dos concretos foi praticamente igual para ambas as frações. O aumento da relação a/c

também provocou reduções praticamente da mesma ordem que as ocasionadas pelos agregados;

- os traços contendo 50% de AMR ou 50% de AGR foram os que mais se aproximaram do concreto de referência, apresentando reduções no módulo de deformação que variaram entre 11 e 18%, dependendo da relação a/c;

- a coleta 3, cujos agregados apresentaram maior massa específica e maior densidade, obteve o melhor desempenho quanto ao módulo de deformação;

- a separação dos agregados reciclados por densidades pode ser utilizada como parâmetro de controle do módulo de deformação de concretos com agregados reciclados, uma vez que esta propriedade depende principalmente de características dos agregados, como a densidade e a porosidade;

- não se verificou relação da composição dos RCD com o módulo de deformação dos concretos com estes materiais;

h) Quanto à absorção de água por imersão

- é possível que absorção de concretos com agregados reciclados seja influenciada principalmente pelo agregado graúdo;

- não foi possível determinar o traço com melhor desempenho quanto à absorção, uma vez que o este desempenho variou para cada coleta;

- a composição dos agregados reciclados refletiu na absorção dos concretos de cada coleta, as quais apresentaram comportamentos distintos, dependendo da variável e da interação considerada;

- a absorção dos concretos com agregados reciclados parece ser influenciada pela densidade, composição e granulometria dos agregados. Dessa forma, não é possível considerar a densidade como único condicionante da absorção;

i) Quanto à comparação entre concretos de mesma resistência

- não foi possível determinar qual traço, para cada nível de resistência à compressão, apresenta o melhor desempenho;

j) Quanto à comparação com outros modelos de comportamento

- ainda não foi possível determinar um modelo de comportamento que seja adequado a várias pesquisas. Os modelos de comportamento de Cabral et al. (2006) e Cabral (2007) foram os que apresentaram mais semelhança com os encontrados neste trabalho.

De forma geral, conclui-se que o comportamento do concreto com agregados reciclados não pode ser previsto através da composição ou da densidade dos agregados, uma vez que, dependendo da propriedade considerada, ambos ou até outros aspectos influenciam no comportamento. Das propriedades avaliadas, somente o módulo de deformação apresentou relação apenas com a densidade, as demais foram influenciadas por diversas características dos agregados.

Por fim, é importante salientar que outros estudos devem ser realizados a fim de verificar se a variabilidade de resultados dos concretos com agregados reciclados é realmente significativa. Conforme observado neste trabalho, entre as propriedades avaliadas, apenas a resistência à tração não foi influenciada pelas diferenças na composição dos agregados. Para as demais propriedades, as máximas variações globais médias, relacionadas às alterações nas composições e densidades das diferentes coletas, foram de 6% para a resistência à compressão, 8% para o módulo de deformação e 89% para a absorção de água por imersão. Dessa forma, devem-se confirmar os resultados apresentados nesta pesquisa, além de considerar outras propriedades que não foram abordadas nela.

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