• Nenhum resultado encontrado

2 RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO (RCD)

2.4 IMPUREZAS NA COMPOSIÇÃO DOS RCD

Um dos problemas inerentes ao uso de agregados reciclados é a possibilidade de existirem contaminantes. Esses materiais podem causar efeitos negativos nas propriedades mecânicas dos concretos reciclados e na sua durabilidade (LEITE, 2001). Lima (1999) define as impurezas ou contaminantes como todos os materiais não inertes, ou materiais que prejudicam a qualidade de concretos e argamassas produzidos com agregados que os contenham.

A seguir, serão apresentadas e discutidas algumas dessas impurezas.

2.4.1 Matéria orgânica ou solos argilosos

Materiais provenientes de demolição são freqüentemente contaminados por matéria orgânica ou solos argilosos. Quando incorporados ao material, são de difícil remoção. Concretos produzidos com agregados contaminados podem ter suas resistências mecânicas reduzidas e não serem resistentes a ciclos de gelo e degelo ou umedecimento e secagem (HANSEN, 1992).

Esse tipo de contaminação pode também ocorrer nos agregados naturais. Hansen (1992) destaca que as normas para agregados naturais podem ser aplicadas também para os agregados reciclados. No entanto, a remoção desses contaminantes não é simples. De acordo com Hansen (1992), pode-se utilizar sprinklers acima das correias transportadoras e peneiras ou, quando necessário, podem ser feitos peneiramentos sucessivos. Quebaud (1996 apud LEITE, 2001) destaca que essas impurezas normalmente estão presentes em maiores quantidades na parte mais fina do material reciclado, portanto o ideal é descartar essa fração do material.

2.4.2 Materiais betuminosos

Conforme resultados obtidos por B.C.S.J (1978), citado por Hansen (1992), a presença de material betuminoso nos agregados reciclados reduz consideravelmente a resistência do concreto. Além disso, o agregado reciclado contaminado por esse material pode contribuir para uma incorporação de ar ao concreto (FERGUS, 1981 apud HANSEN, 1992).

No entanto, conforme Leite (2001), não há uma grande preocupação no Brasil com relação a presença desse material no resíduo de construção e demolição. Contudo, nos locais onde ocorrem demolições de pavimentos asfálticos, é importante que seja feita a remoção e reciclagem seletiva de seus diferentes componentes.

2.4.3 Gesso

O gesso é um material muito nocivo ao concreto, pois forma a etringita secundária, altamente expansiva, que provoca tensões internas que podem causar fissuras no concreto (LEITE, 2001). A etringita é um subproduto da hidratação dos componentes do cimento e sua formação está sempre relacionada à reação expansiva entre o sulfato de cálcio e o aluminato tricálcico, em presença de água, em misturas de cimento Portland (AGUIAR; SELMO, 2004).

Portanto, o gesso deve ser eliminado da composição do resíduo de construção e demolição antes de ser britado, pois ao britar ele se transforma em pequenas partículas que se misturam aos agregados produzidos, especialmente na fração composta por agregados miúdos. Recomenda-se a execução de sucessivos peneiramentos, não excluindo a necessidade de realização de ensaios para determinar a qualidade dos agregados (LEITE, 2001).

2.4.4 Vidro

O vidro pode ser um perigoso contaminante para o concreto, pois pode causar reações álcali-sílica em meios aquosos, mesmo que sejam utilizados cimentos com baixo teor de álcalis (HANSEN, 1992). O autor relata que, como a densidade do vidro é similar à dos concretos ou agregados, a separação é muito difícil.

No entanto, a utilização de resíduos de vidro em blocos de alvenaria tem sido testada como substituto do agregado fino em porcentagens superiores a 20%. Conforme Terro (2006), foi constatado que quanto mais finas as partículas dos agregados de vidro empregados no concreto, menor a expansão causada pela reação álcali-sílica. Em seu estudo, o autor comprovou a

viabilidade do uso de vidro como agregado em concreto, apontando diversas vantagens, como por exemplo, sua impermeabilidade.

De acordo com López et al. (2005), atualmente existem países utilizando vidro como agregado fino em concreto, como por exemplo a Austrália. Assim como Terro (2006), os autores demonstraram a viabilidade técnica da substituição do agregado fino por vidro moído.

Portanto, é provável que no futuro o vidro deixe de ser considerado um contaminante do concreto e passe a ser utilizado como agregado, sem riscos de prejudicá-lo. Para isso, ainda são necessários mais estudos a respeito desta utilização.

2.4.5 Metais

Pequenas quantidades de aço ou pedaços de arame podem causar manchas ou pequenos danos à superfície dos concretos, principalmente em presença de cloretos. Peças de zinco e alumínio, provenientes de calhas, estruturas e cabos de fios elétricos podem causar desprendimento de hidrogênio no concreto fresco, ou fissurações devido a expansões do concreto endurecido (HANSEN, 1992).

Os metais presentes nos resíduos de construção e demolição podem ser removidos por separação magnética ou manualmente, ocorrendo antes de seu beneficiamento (HANSEN, 1992; LEITE, 2001). Hansen (1992) destaca que, sendo os metais materiais dúcteis, provavelmente não fragmentarão, podendo também ser removidos no decorrer do processo de beneficiamento.

2.4.6 Cloretos

A presença de cloretos nos concretos pode provocar graves problemas de corrosão de armaduras. A contaminação por cloretos pode ocorrer através da penetração dos íons nas estruturas, especialmente em áreas marinhas, pontes ou pavimentos expostos a sais de degelo; ou no concreto ainda fresco, através da utilização de aditivos aceleradores de pega, que são produtos à base de cloretos e do uso de agregados retirados de zonas marinhas (HANSEN, 1992).

2.4.7 Substâncias orgânicas

De acordo com Hansen (1992), muitas substâncias orgânicas, como madeira, tecidos têxteis, papéis e materiais polímeros, são instáveis no concreto quando submetidas a ciclos de secagem e

concreto. O autor afirma que devem ser impostos valores limitando a quantidade de contaminantes orgânicos nas normas para agregados reciclados. A NBR 15116 (ABNT, 2004f) limita em 2% o teor máximo de materiais não minerais em relação à massa do agregado reciclado. Observa-se que os RCD apresentam muitos materiais que podem ser prejudiciais ao concreto. Portanto, há a necessidade de retirar essas impurezas, a fim de produzir concretos com melhor qualidade. A Resolução Nº 307 (CONAMA, 2002) exige a separação dos resíduos da construção civil de acordo com as diferentes classes por ela estabelecidas. Caso esse requisito fosse cumprido pelas empresas geradoras, o processo de reciclagem se tornaria mais econômico, além de garantir melhor qualidade aos agregados produzidos.

3 RECICLAGEM DOS RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO

Documentos relacionados