• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO V. CONCLUSÕES E IMPLICAÇÕES

5.2. Conclusões da investigação

Para responder à questão geral de investigação, segundo a qual se pretendia saber, qual o papel atribuído à supervisão pedagógica na formação inicial de professores de Ciências, em Angola?, foram realizados dois estudos. O primeiro estudo, de natureza qualitativa, visou dar resposta à primeira questão de investigação, qual o papel atribuído pela legislação angolana à supervisão pedagógica na formação de professores de ciências? Neste estudo procedeu-se à recolha de dados através da grelha de análise de conteúdo aplicada aos documentos oficiais que regulam a formação de professores e a supervisão pedagógica. O segundo estudo, também de natureza qualitativa, visou dar resposta à segunda questão de investigação, que relação existe entre o papel atribuído pelos supervisores e pelos estagiários à supervisão pedagógica na formação inicial de futuros professores de ciências? Neste estudo procedeu-se à recolha de dados através da aplicação de um questionário a estagiários e a supervisores de Ciências, afetos ao ISCED angolano.

As conclusões desta investigação estão organizadas tendo em conta as questões específicas de investigação apresentadas no Capítulo I, e têm por base os resultados obtidos após a análise de dados.

Face à questão de investigação, Qual o papel atribuído pela legislação angolana à supervisão pedagógica na formação inicial de professores de ciências?, chegaram-se às seguintes conclusões:

- Relativamente ao papel atribuído pela legislação angolana à supervisão pedagógica na formação inicial professores de Ciências, observou-se que a supervisão pedagógica não está definida na maioria dos documentos oficiais consultados que regulam a formação inicial, incluindo o estágio pedagógico. A supervisão pedagógica vem definida somente na Lei de Bases do Sistema de Educação e Ensino e na Proposta do Regulamento Nacional de Supervisão Pedagógica.

- O conceito de supervisão pedagógica apresentado na Lei de Bases do Sistema de Educação tem subjacente, simultaneamente, o conceito de inspeção e controlo e o conceito atual de supervisão como forma de promover a melhoria da prática docente e o seu desenvolvimento pessoal e profissional. Isso gera conflito na avaliação do estagiário durante o estágio pedagógico, pois a inspeção e o controlo remetem-nos para uma avaliação exclusivamente de carácter sumativo, e, na supervisão pedagógica enquanto contexto de desenvolvimento e aprendizagem a avaliação assume o carácter formativo durante o processo e caráter sumativo no final do processo (por exemplo, Alarcão & Tavares, 2003; Vieira & Moreira, 2011).

- No ISCED angolano, apesar da falta da definição da supervisão pedagógica nos documentos institucionais, a supervisão pedagógica parece estar associada às atividades de orientação e avaliação da prática de ensino do futuro professor por um professor orientador, que é auxiliado pelo professor da turma, durante o estágio pedagógico de um ano letivo, numa escola do ensino secundário público ou privado. - Assentando o nosso olhar nas tarefas do professor orientador plasmadas no

regulamento de estágio, parece-nos que de forma tácita, a supervisão pedagógica é assumida como processo de monitorização das atividades do futuro professor em contexto de estágio pedagógico, ao longo da formação inicial de professores.

Em suma, há uma lacuna sobre o papel da supervisão pedagógica na legislação que orienta e regula a formação inicial de professores de Ciências, incluindo o estágio pedagógico em Angola. Por exemplo, há ausência de relatos sobre as funções, papéis e responsabilidades do estagiário e do professor da turma, bem como falta a clarificação do perfil do supervisor e o modo como a supervisão deve ser concretizada. Estes resultados corroboram com a revisão de literatura realizada por Burns, Jacobs e Yendol-Hoppey (2016) nos vários programas mundiais de formação de professores, nos quais constataram que a definição da supervisão pedagógica não estava especificamente definida nos documentos oficiais de formação de professores incluindo a supervisão da prática pedagógica de professores.

Em relação à segunda questão de investigação, Que relação existe entre o papel atribuído pelos supervisores e pelos estagiários à supervisão pedagógica na formação inicial de futuros professores de ciências?, chegou-se às seguintes conclusões:

- Relativamente à relação entre o papel atribuído pelos supervisores e pelos estagiários à supervisão pedagógica na formação inicial de futuros professores de Ciências, os resultados deste estudo destacaram lacunas nas conceções dos supervisores e dos estagiários de Ciências sobre as práticas supervisivas em contexto de estágio pedagógico, durante a formação inicial de professores de Ciências. Os resultados apresentados mostraram que as conceções da maior parte dos supervisores giraram em torno do entendimento da supervisão pedagógica como o ato de fiscalizar a prática pedagógica do professor na sala de aula e de analisar de atividades pedagógicas para orientar o estagiário no sentido de melhorar as suas práticas. Os estagiários de Ciências associaram o conceito de supervisão pedagógica à atividades de acompanhar o processo de estágio pedagógico e de orientar um candidato a professor no seu desenvolvimento humano e profissional. De facto, esses supervisores e esses estagiários, relataram que a supervisão pedagógica no estágio tem como objetivos: ajudar a melhorar ao conhecimento do conteúdo, inspecionar e monitorar o estágio pedagógico, avaliar o desempenho profissional, bem como desenvolver competências para refletir sobre a prática. Assim, apesar de ligeiras divergências, parece-nos que tanto os supervisores como os estagiários de Ciências, possuem conceções consensuais e consistentes sobre o papel da supervisão pedagógica na formação inicial de professores de Ciências, e mais claras quando se compara com as evidências dos documentos oficiais. Estes resultados estão em alinhamento com outros estudos (por exemplo, Barreto et al., 2015; Malenzua, 2017; Monteiro & Vieira, 2017; Pereira & Fernandes, 2015), bem como com estudiosos na área de supervisão (por exemplo, Alarcão & Tavares, 2003; Vieira, 1993; Stones, 1984).

- No que respeita às representações sobre a supervisão pedagógica no estágio pedagógico, os resultados evidenciam distintas práticas supervisivas no estágio pedagógico, observando-se lacunas entre as conceções e as percepções sobre práticas supervisivas. A maior parte dos inquiridos revelou um desconhecimento parcial sobre os processos supervisivos e os papéis e responsabilidades de estagiários e de supervisores na supervisão pedagógica do estágio.

- Existe uma fase prévia de preparação das aulas pelos estagiários que inclui, na perceção mais frequente dos supervisores, a preparação quinzenal com a coordenação

da disciplina e diariamente com o professor da turma e, na perceção mais frequente dos estagiários uma análise dos documentos estruturantes e uma investigação para fazer uma planificação por objetivos. De acordo com as perceções mais frequentes, os supervisores nesta fase ajudam os estagiários a nível do conhecimento pedagógico do conteúdo, conhecimento do conteúdo a lecionar, conhecimento pedagógico geral, como refletir sobre a prática e a desenvolver a capacidade de ter humildade científica. Mais frequentemente, os estagiários apenas percecionaram a ajuda do supervisor a nível do conhecimento pedagógico do conteúdo, do conhecimento pedagógico geral e do conhecimento do conteúdo a lecionar. A nível das dificuldades dos estagiários nesta fase, quer os supervisores quer os estagiários identificaram mais frequentemente dificuldades em relação ao conhecimento pedagógico do conteúdo, conhecimento do conteúdo a lecionar e conhecimento pedagógico geral. Os supervisores ainda valorizaram os problemas pessoais dos estagiários, e os estagiários valorizaram as dificuldades na elaboração do relatório. Segundo as perceções mais frequentes quer dos supervisores quer dos estagiários, as dificuldades dos estagiários foram ultrapassadas com a ajuda do supervisor, do professor da escola e dos colegas. Os estagiários ainda valorizaram a pesquisa como fonte de resolução das dificuldades encontradas nesta fase.

- Durante as aulas assistidas quer os supervisores quer os estagiários percecionaram mais frequentemente o papel do supervisor na recolha de dados sobre as práticas, na análise e discussão da aula e na identificação de aspetos fortes a manter. Os supervisores ainda valorizaram a identificação de aspetos a melhorar e como o fazer e os estagiários nunca terem tido aulas assistidas. Os dois grupos consideraram que costumavam ser recolhidos dados de observação das aulas pelos supervisores e pelo professor da turma através de grelhas de observação e análise dos documentos produzidos durante o estágio. Os supervisores ainda valorizaram a grelha de avaliação. Quer os supervisores quer os estagiários referiram mais frequentemente como dificuldades dos estagiários nesta fase a falta de domínio do conhecimento do conteúdo da disciplina e o stress. Os supervisores ainda referiram frequentemente a dificuldade na escolha dos métodos e técnicas de ensino e os estagiários dificuldades na gestão do tempo na aula e a ansiedade/ nervosismo.

- Após as aulas assistidas, quer os supervisores quer os estagiários percecionaram mais frequentemente nesta fase a existência de uma reunião de supervisão com o supervisor

a melhorar. Nesta fase, os supervisores ainda valorizaram o papel desta reunião na identificação de aspetos fortes a manter e a avaliação dos estagiários e os estagiários ainda valorizaram nesta reunião a autocrítica do estagiário. Os dois grupos percecionaram mais frequentemente nesta fase pós-observação dificuldades a nível da reflexão sobre a aula realizada na reunião de supervisão, no conhecimento do conteúdo da disciplina e no conhecimento pedagógico do conteúdo. Os supervisores ainda valorizaram as dificuldades provocadas por fatores psicológicos e os estagiários valorizaram as dificuldades em preencher a grelha de avaliação.

- Apesar dos critérios de avaliação do estagiário serem definidos pelos supervisores do ISCED em conjunto, e dessa ser a perceção mais frequente dos supervisores, a perceção mais frequente dos estagiários é que os critérios de avaliação são definidos pelo supervisor com o professor da turma. Quer os supervisores quer os estagiários percepcionaram como áreas de avaliação o conhecimento sobre o conteúdo da disciplina a lecionar, como se planifica, como se gere a sala de aula, como se ensinam os conteúdos de ciências e o conhecimento processual, como se elaboram critérios de avaliação, a capacidade para trabalhar em conjunto com os outros professores e o conhecimento sobre os contextos educativos. Os supervisores ainda valorizaram o conhecimento para elaborar instrumentos de avaliação, refletir sobre as práticas docentes e melhorar as práticas como consequência dessa reflexão. Os dois grupos consideraram que existem instrumentos de avaliação do estágio, que identificaram mais frequentemente como sendo relatórios e grelhas de análise.

- Para a maior parte dos inquiridos, as perspetivas dos supervisores e dos futuros professores de Ciências assentavam na promoção de práticas de formação de professores que, permitissem aos futuros professores dominar os diversos conhecimentos para ensinar Ciências e resolver os problemas do ambiente da sala de aula e da escola, incluindo o acompanhamento eficaz e a colaboração entre colega mais experiente e os colegas estagiários.

Em suma, as perceções de supervisores e de futuros professores de Ciências sobre o papel atribuído à supervisão pedagógica na formação inicial de professores de Ciências privilegiam uma ênfase na monitorização do estágio pedagógico, embora revelem também preocupações reflexivas e humanistas, levantam questões de coerência entre as políticas de formação preconizadas na legislação e as práticas de formação. Esta consideração de supervisão é preconizada por diversos investigadores (por exemplo, Alarcão & Tavares, 2003; Vieira,

1993). No entanto, parece-nos que há uma grande lacuna sobre o papel da supervisão pedagógica na formação inicial de professores de Ciências, uma vez que as perceções de supervisores e de futuros professores de Ciências revelam pouco, senão mesmo falta de conhecimento sobre os processos supervisivos na formação inicial de professores. Este facto exige que os professores formadores, investigadores e fazedores de política da formação de professores em Angola, repensem a formação inicial de professores de Ciências e a legislação que orienta e regula o mesmo processo, bem como promovam ações de formação sobre supervisão pedagógica na formação de professores à luz das perspetivas atuais.

Retomando a questão geral de investigação, os resultados sugerem que, tanto a legislação como as percepções sobre a prática de supervisores e de futuros professores de Ciências atribuem à supervisão pedagógica o papel de monitorização do estágio pedagógico, embora revelem também preocupações reflexivas e humanistas. A prática supervisiva no estágio pedagógico desenvolve-se através de atividades de preparação de aulas, assistência de aulas e de encontros de discussão e análise de prática de ensino. O supervisor assume um carácter mais diretivo do que colaborativo, cujo foco é a orientação da prática pedagógica do estagiário na escola de estágio. O supervisor e o professor cooperante prestam apoio ao futuro professor de Ciências no processo de construção da sua identidade profissional, no desenvolvimento do conhecimento pedagógico do conteúdo, aconselhamento e acompanhamento da prática de ensino na sala de aula, com vista à sua autonomia pessoal.