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CAPITULO V Discussão e conclusões

2. Conclusões

“A verdade é que nenhum factor isolado torna uma empresa admirável, mas se tivéssemos de escolher aquele que faz maior diferença, escolheríamos a liderança”1

Vivemos hoje numa época de transição profunda e de mudanças radicais. O choque foi “brutal”. A expansão alucinante das novas tecnologias, nomeadamente as tecnologias de informação ao dispor das organizações, a difusão “explosiva” da informação, a emergência de “poderosos” fenómenos, denominados também por factores de erosão (e.g., o terrorismo, a globalização), as decisões tomadas pelos actores do Sistema Politico Internacional (Couto, 1988) que inevitavelmente influenciam o rumo mundial dos acontecimentos, assim como a constante alteração (involuntária ou condicionada pelo mundo actual) do comportamento das pessoas, trazem consigo aos diversos níveis (económico, tecnológico, social, cultural, militar, religioso) incerteza, turbulência e instabilidade no seio de todas as organizações mundiais.

Perante estes factores de desequilíbrio, hoje mais que nunca a capacidade de resposta dos líderes mundiais é colocada à prova. As organizações dependem cada vez mais das decisões que eles tomam. São os líderes das próprias organizações que têm de agir e reagir com uma menor margem de erro do que no passado, para conseguirem chegar primeiro, com maior eficiência e eficácia, ou seja, atingir os objectivos definidos pelas suas organizações e alcançar o sucesso.

A nossa pergunta de partida incidiu fundamentalmente sobre os efeitos que os comportamentos de um líder considerado excepcionalmente eficaz provocam nos seguidores e que traduzam resultados excelentes e uma liderança excepcional.

Neste sentido e ao longo desta dissertação foi efectuada uma abordagem transversal a alguns estudos realizados, assim como uma análise superficial de algumas teorias defendidas por diversos investigadores ao longo das últimas décadas. Após uma breve revisão de conceitos acerca do processo de liderança, desde logo se evidenciou a dificuldade de consenso, pois cada autor que se debruça sobre este fenómeno define a

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liderança à imagem da sua investigação. Deparamo-nos então com a inexistência de uma concepção universal de liderança.

Nos últimos anos, alguns autores têm abordado este fenómeno, segundo várias vertentes (e.g., traços, comportamentos, situação), numa tentativa de encontrar um conjunto de factores, características e comportamentos considerados universais e que possam conduzir a uma definição consensual de liderança excepcional. Por exemplo, Jim Collins (2001) define uma liderança eficaz, denominada por liderança “nível 5” em que os pilares fundamentais deste processo excepcional assentam na tenacidade, preserverança e determinação do líder. Tal como foi analisado neste trabalho, também no projecto GLOBE (Javidan & House, 2001) se verifica uma tentativa por parte do grupo de investigadores que liderou o programa de listarem um conjunto de atributos universalmente aceites como fundamentais e essenciais à condução de uma liderança eficaz.

A presença de comportamentos transformacionais e carismáticos num líder excepcional português indicia uma significativa dominância das lideranças integrativas em Portugal, nomeadamente da liderança transformacional, onde a competência, exigência, planeamento e organização por parte do líder provocam um excelente relacionamento com o líder, assim como reforçam o clima de confiança existente no local de trabalho. A facilidade de adaptação dos líderes portugueses a situações diferentes, a par de uma enorme capacidade de comunicação e geração de relações saudáveis entre líder e seguidor, são consideradas características fundamentais para o sucesso da liderança excepcional em Portugal.

Foi nossa intenção ao longo deste trabalho focalizar a vertente cultural da liderança, face à crescente e constante preocupação neste campo por parte das organizações e empresas, fruto da presença de factores mundiais de erosão, nomeadamente a Globalização, assim como a inevitável pertença a uma aldeia global na qual se movimentam com grande facilidade cidadãos de diferentes sociedades e culturas. Neste sentido foram abordadas duas das maiores investigações efectuadas no campo transcultural, Hofstede e o projecto GLOBE, a partir das quais direccionámos parte da nossa discussão e análise. Esta análise comparativa entre os resultados obtidos no nosso trabalho e os dois estudos transculturais permitiu-nos apurar algumas discrepâncias e aspectos comuns acerca da sociedade portuguesa em geral e dos líderes excepcionalmente eficazes portugueses em particular. De facto, a presença no líder excepcional português de

comportamentos indicadores de competência, planeamento, organização, apoio, consideração, motivação, eficácia bidireccional da comunicação líder-seguidor, traços de personalidade relevantes como é o caso do carisma, da honestidade, sinceridade, integridade e lealdade, surgem principalmente retratadas nas dimensões culturais do projecto GLOBE.

Em Portugal a auto-exigência transforma o líder num exemplo a seguir e moralmente forte para exigir dos seus subordinados. Esta exigência, não é só acatada incondicionalmente pelos seguidores, como provoca um sentimento de admiração e confiança, assim como uma maior motivação no desempenho das tarefas que lhes são cometidas e consequente aumento do esforço, dedicação e empenhamento por parte destes.

Ao longo deste trabalho foi possível identificar e caracterizar o conceito de liderança excepcional em Portugal, ou seja, aquele em que os seguidores conseguiram nitidamente reconhecer comportamentos excepcionalmente eficazes dos seus líderes, capazes de provocar e obter excelentes resultados e contribuir decisivamente para o sucesso e eficácia do grupo ou organização. Destacam-se portanto, algumas características essenciais e fundamentais ao êxito do processo de liderança em Portugal, que podem ser consideradas de extrema relevância para uma liderança excepcional em Portugal nos dias de hoje. Assim, a competência, a exigência, a organização, a empatia, a motivação, a clarificação do papel e das tarefas, a eficácia comunicacional, a determinação, a justiça, a compreensão, a consulta e partilha por parte do líder incentivam os seguidores à prática de um maior esforço, empenhamento, dedicação, motivação, satisfação, rigor, profissionalismo, confiança, respeito, dinamismo e segurança, contribuindo assim de uma forma decisiva para êxito do grupo e da organização.

Este trabalho constituiu um enorme desafio tendo em conta a revolução tecnológica a que assistimos, pois temos consciência que foi reforçada uma vez mais a ideia de que as pessoas constituem o factor diferenciador entre o fracasso e o sucesso das organizações. Será interessante acompanhar este conflito entre a capacidade humana de liderar os grupos, empresas e organizações e uma constante, desenfreada e galopante mudança de paradigmas no mercado mundial, onde cada vez mais não se olha a meios para se atingirem os fins.

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