• Nenhum resultado encontrado

CONCLUSÕES E DISCUSSÕES

Os resultados obtidos nos trabalhos desenvolvidos nesta dissertação de mestrado, contribuem para ampliar o conhecimento sobre o Granito São Domingos, um dos corpos graníticos formadores da Suite Intrusiva Guapé, relacionados à Faixa Móvel Aguapeí, localizada no sudoeste do Cráton Amazônico no estado de Mato Grosso. Essa granitogenese foi gerada durante a Orogênia Sunsás (1.2 a 0.90 Ga), resultando na aglutinação do Supercontinente Rodinia, durante o período mesoproterozóico. O Granito São Domingos faz contato a NW com as rochas metavulcanossedimentares do Grupo Jauru, a S e SW com o Batólito Santa Helena e a Zona de Cisalhamento Indiavaí-Lucialva divide o corpo em duas porções. É um corpo batolítico, de forma semi-circular a elíptica, com aproximadamente 150 Km2 de área exposta, com estrutura isotrópica a levemente foliada, mostra uma grande variação de textura e granulação, apresenta-se fácies pegmatítica e outra porfirítica, preferencialmente fanerítica equi a inequigranular fina a grossa. Seus litotipos variam de holo a leucocráticos, de cor rosa-claro a cinza-rosado, e tem como paragênese essencial quartzo, feldspatos alcalinos e plagioclásios e seus minerais máficos primários são representados principalmente por biotita e muscovita e em menor proporção, granada. A presença das muscovitas primárias associadas a biotitas, caracteriza essas rochas como um “granito a duas micas”.

Quanto aos aspectos litogeoquímicos as rochas que constituem o Granito São Domingos caracterizam padrões de granitos crustais, peraluminosos, de alto K e quimicamente restritos em relação a SiO2, que variam entre 70,24 e 75,62%, caracterizando rochas graníticas altamente diferenciadas.

São classificadas como muscovita biotita monzogranitos a álcali-feldspato granitos e caracterizadas como granitos subsolvus do tipo S ou Muscovite bearing Peraluminous Granitoids

(MPG). Esta última qualificação leva à hipótese de que as rochas estudadas correspondem a típicos produtos de fusão crustal, com pouca ou inexistente contribuição de materiais mantélicos (Barbarin, 1999); enquanto a presença comum de intercrescimento gráfico e granofírico, nesses litotipos, confirma a hipótese de colocação epizonal.

O estudo de elementos terras raras mostram três padrões diferentes para esses litotipos, sugerindo a geração de magmas contemporâneos não cogenéticos, provenientes de fontes crustais distintas, compatíveis com intrusões tardias geradas a partir da fusão de material da crosta, em ambiente pós colisional.

Com base nos dados geológicos e geocronológicos U-Pb Shrimp de 928 ± 5 Ma obtidos neste trabalho e os apresentados por Geraldes et al. (2001) de 936 ±26 Ma e 930 ± 12 Ma e Araújo-Ruiz

60

(2003) de 907 ± 18 Ma, respectivamente para o Granito São Domingos e Sararé, é possível enquadrar o Granito São Domingos como parte da Suíte Intrusiva Guapé e definir um episódio magmático pós-orogênico em torno de 930 Ma na Faixa Aguapeí. Considerando que os valores de 914-903 Ma obtidos pelos métodos K-Ar e Ar-Ar (tabela 1) representem provavelmente idades de resfriamento dos corpos graníticos da Suíte Intrusiva Guapé, se pode sugerir que esses resultados correspondam ao resfriamento regional pós-orogênico.

Em relação às idades modelos TDM, o resultado de 1,58 Ga sugere um episódio de crescimento crustal calimmiano destoante, portanto, das idades modelo paleoproterozoicas e arquenas, apresentadas respectivamente por Geraldes et al. (2001) e Ruiz (2005). Entretanto, vale ressaltar que a idade modelo de 1,58 Ga poderia eventualmente ser consequência de fracionamento do sistema Sm-Nd ligado à presença de monazita e epídotos, inclusive clinozoisita, comuns nesse tipo de granito.

Ao analisar as idades U-Pb em zircões dos granitos associados à Faixa Sunsás, apresentados por Boger et al. (2005) e Vargas-Mattos (2010), nota-se que se trata de um episódio magmático mais antigo, entre 1070 a 1040 Ma, e que deve estar associado à convergência de placas em ambiente similar a arco magmático (Litherland et al., 1986; Ruiz et al,. 2007; Vargas-Mattos, 2010 e Teixeira et al., 2010).

Do ponto de vista de ambiente tectônico, os dados geoquímicos, estruturais e geocronológicos/isotópicos sugerem que o Granito São Domingos foi gerado a partir da fusão crustal expressiva ocorrida após o estágio orogênico da Faixa Móvel Aguapeí, possivelmente associada a processos de colapso orogênico, como preconizam a cinemática normal da Zona de Cisalhamento Indiavaí-Lucialva. Em termos de correlatos tectônicos, admite-se que o Granito São Domingos seja, petrogeneticamente, comparável aos granitoides pós-orogênicos encontrados nos Cinturões Intracontinentais, como Orógeno Alice Springs, na Australia Central e os orógenos Tianshan e Altay no sul da China.

61

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Araújo-Ruiz L.M.B. 2003. Caracterização petrológica, geoquímica e geocronológica do Maciço Sararé (Nova

Lacerda-MT). Rio Claro: Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista-UNESP. Dissertação de Mestrado.

Barbarin B. 1999. A review of the relationships between granitoid types, their origins and their geodynamic environments. Lithos, 46, 605–626.

Barros A.M., Silva, R.H. da, Cardoso, O.R.F.A., Freire, F.A., Souza Junior, J.J. de, Rivetti, M., Luz, D.S. da, Palmeira, R.C., Tassinari, C.C.G. 1982. Geologia. In: Projeto Radam Brasil, Levantamentos de Recursos Naturais, Folha SD.21-Cuiabá. Rio de Janeiro, 26, 25-192.

Boger, S.D., Raetz, M., Giles, D., Etchart, E., Fanning, C.M. 2005. U–Pb age data from the Sunsas region of eastern Bolivia, evidence for the allochtonous origin of the Paragua Block. Precambrian Research, 139, 121– 146.

Boynton W.V. 1984. Cosmochemistry of the rare-earth elements: meteorite studies. In: Henderson, P. (Editor), Rare-Earth Elements Geochemistry. Amsterdam: Elsevier, 63-114.

Cox, K.G., Bell, J.D. & Pankhurst, R.J., 1979 The Interpretation of Igneous Rocks. London, George Allen &

Unwin. 450p.

Darbyshire D.P.F. 2000. The Precambrian of Eastern Bolivian - a Sm-Nd isotope study. In: International Geological Congress, 31, Rio de Janeiro. Abstract volume.., CPRM. 1 CD Rom

De Paulo V.G. 2005. Identificação dos Eventos Termotectônicos através do Método 40Ar/39Ar, nos Terrenos

Jauru, Pontes e Lacerda e Rio Alegre - SW do Cráton Amazônico. Rio de Janeiro. Faculdade de Geologia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Dissertação de Mestrado.

Debon F. &, Le Fort P. 1988. A cationic classification of common plutonic rocks and their magmatic associations: principles, method, applications. Bulletin de Minéralogie, 111: 493-510.

Frost, B.R., Barnes, C.G., Collins, W.J., Arculus, R.J., Elis, D.J., Frost, C.D. 2001. A Geochemical

Classification for Granitic Rocks, Journal of Petrology, 42,2033–2048.

Geraldes M.C. 2000. Geocronologia e geoquímica do plutonismo mesoproterozoico do SW do Estado de Mato

Grosso (SW do Cráton Amazônico). São Paulo. Instituto de Geociências. Universidade de São Paulo. Tese de Doutorado.

Geraldes M.C., Van Schmus W.R., Condie K.C., Bell, S., Teixeira W., Babinski M. 2001. Proterozoic geologic evolution of the SW part of the Amazonian Craton in Mato Grosso state, Brazil. Precambrian Research, 111, 91-128.

62

Hastie A.R., Kerr A.C., Pearce J.A., Mitchell S.F. 2007. Classification of altered volcanic island arc rocks using immobile trace elements: development of the Th-Co discrimination diagram. Journal of Petrology, 48, 2341–2357.

Irvine I.N. & Baragar W.R.A. 1971. A guide to the chemical classification of the common volcanics rocks. Canadian Journal Earth Science, 8, 523-548.

La Roche H. 1980. Granites chemistry through multicationic diagrams. Sciences de la Terre, Série Informatique Géologique, 13, 65-88.

Le Bas M.J., Le Maitre R.W., Streckeisen A., Zanettin, B.A. 1986. Chemical classification of volcanic rocks based on total alkali-silica diagram. Journal of Petrology, v. 27, 745-750.

Litherland M. & Bloomfield K. 1981. The Proterozoic History of Eastern Bolivia. Precambrian Research. Vol.

15,157-179.

Litherland M., Annells R.N., Appleton J.D., Berrangé J.P., Bloomfield K., Burton C.C.J., Darbyshire D.P.F., Fletcher C.J.N., Hawkins M.P., Klinck B.A., Lanos A., Mithcell W.I., O’Connor E.A., Pitfield P.E.J., Power G.E., Webb B.C. 1986. The Geology and Mineral Resources of the Bolivian Precambrian Shield. London, British Geological Survey, Her Majesty’s Stationery Office, Overseas Memoir, 9, 140.

Ludwig K.R. 2001. Isoplot/Ex. rev., 2.49. A Geochronological Toolkit for Microsoft Excel. Berkeley Geochronological Center. 45 p. (Special Publication 1A).

Lugmair G.W.; Marti K.; (1978). Lunar initial 143Nd/144Nd: differential evolution of the lunar crust

and mantle. Earth and Planetary Science Letters, 39: 349-357.

Maniar, P.D. & Piccoli P.M. 1989. Tectonic discrimination of granitoids. Geology Society of American Bulletin, 101, 635-643.

Matos J.B., Silva C.H., Costa A.C.D, Ruiz A.S., Sousa M.Z.A., Batata M.E.F., Costa P.C.C., Paz J.D.S. 2009. Folha SD.21-Y-C-III. Folha Jauru. Cuiabá. Programa de Geologia do Brasil. CPRM-Serviço Geológico do Brasil, Universidade Federal de Mato Grosso, Relatório Final.

Menezes R.G., Silva P.C.S., Silva L.C., Takahashi A.T., Lopes Junior I., Bezerra J.R.I. 1993. Folha SD.21-Y-C-II. Pontes e Lacerda. Brasília: Ministério das Minas e Energia, Departamento Nacional da Produção Mineral, Projeto Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil, Relatório Final, 126 p.

Peccerillo A. & Taylor S.R., 1976. Geochemistry of Eocene calc-alkaline volcanic rocks from the Kastamonu area, northern Turkey. Contrib. Mineral. Petrol. 58, 63–81.

Rollinson H.R. 1993. Using geochemical data: evaluation, presentation, interpretation. London: Longman Scientific & Technical, 352.

63

Ruiz A.S. 2005. Evolução geológica do sudoeste do Cráton Amazônico região limítrofe Brasil-Bolívia – Mato

Grosso. Rio Claro. Instituto de Geociências e Ciências Exatas. Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho. Tese de Doutorado.

Ruiz A.S., Simões L.S.A., Araujo-Ruiz L.M.B., Godoy A.M., Matos J.B., Sousa M.Z.A. 2007. Cinturão Orogênico Aguapeí (1025-900 MA): Um exemplo de Faixa Móvel Intracontinental no SW do Cráton Amazônico. XI Simpósio Nacional de Estudos Tectônicos-SNET, Natal, 116-118.

Ruiz A.S. 2009. Compartimentação Tectônica (Pré-Sunsás) do SW do Cráton Amazônico: ênfase em Mato Grosso – Brasil. In: XVIII Congresso Geológico Boliviano, Potosi, Anais. 159-163.

Ruiz A.S., Matos J.B., Sousa M.Z.A., Lima G.A., Batata M.E.F. 2010. Mapeamento Geológico e Levantamento Revista Brasileira de Geociências, 42, 129 Gabrielle Aparecida de Lima et al. de, Recursos Minerais da Folha Santa Bárbara(SD.21-Y-C-V). Cuiabá, CPRM/UFMT, Relatório Etapa de Mobilização.

Ruiz L.M.B.A; Godoy A.M.; Sousa, M.Z.A.; Ruiz A.S. 2003. Geologia da Porção Noroeste da Folha Rio Pindaituba – MT. SW do Cráton Amazônico. In: Simpósio de Geologia do Centro Oeste, 8.Anais…Cuiabá, SBG, 122 – 123.

Saes G.S. 1999. Evolução tectônica e paleogeográfica do Aulacógeno Aguapeí (1,2-1,0 Ga) e dos terrenos do

seu embasamento na porção sul do Cráton Amazônico. São Paulo. Instituto de Geociênicas. Universidade de São Paulo. Tese de Doutoramento.

Sato K., Basei M.A.S., Siga O.J. 2008. Novas técnicas aplicadas ao método U-Pb no CPGeo-IGc/USP: avanços na digestão química, espectrometria de massa (TIMS) e exemplos de aplicação integrada com SHRIMP. In: Geol. USP, Série Científica, 8, 77-99.

Scabora J.A. & Duarte C.L. 1998. A Jazida de Ouro de São Vicente. Município de Nova Lacerda– MT. A Terra em Revista. 4:32-42.

Sibson R. H. 1977. Fault rocks and fault mechanisms. Journal of the Geological Society, 3, 191-213.

Stern R. A. 1998. High-resolution sims determination of radiogenic trace-isotopic ratios in minerals.

Mineralogical association of Canada. Short Course Series, 27: 241-268.

Taylor S.R. and McLennan S.M. 1995. The geochemical evolution of the continental crust. Reviews of Geophysics, American Geophysical Union, New York, 2, 241-263.

Teixeira W. e Tassinari C.C.G. 1984. Caracterização geocronológica da Província Rondoniana e suas implicações geotectônicas. In: Symposium Amazônico 2, Manaus. Anais, SBG, 87–101.

Teixeira W., Geraldes M.C., Matos R., Ruiz A. S., Saes S.G., Vargas-Mattos G. 2010. A review of the tectonic evolution of the Sunsás belt, SW Amazonian Cráton. Journal of South American Earth Sciences. 29, 47-60.

64

Vargas-Mattos, G.L. (2010). Caracterização Geocronológica e Geoquímica dos Granitos Proterozoicos:

Implicação para a Evolução Crustal da Borda SW do Cráton Amazônico na Bolívia. Rio de Janeiro. Faculdade de Geologia. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Tese de Doutoramento.

Williams I. 1998. U-Th-Pb geochronology by ion microprobe, In: McKibben M.A., Shanks III W.C., Ridley W.I., (eds), Applications of microanalytical techniques to understanding mineralizing

Documentos relacionados