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O"sistema" político

VI.3 Conclusões,do,capítulo,

Definir a posição ideológica de um partido, tal como de uma pessoa, pode ser um exercício altamente subjectivo, dependente do posicionamento ou opinião do próprio classificador – foi essa subjectividade que tentámos evitar. Com esse objectivo, escolhemos métodos sistemáticos de classificação ideológica dos partidos, optando por analisar e comparar, também, medidas concretas de acção política previstas nos programas eleitorais.

Os objectivos passaram por perceber, em primeiro lugar, a distância ou proximidade ideológica ou programática entre PS e PSD. Até que ponto podem ser considerados partidos muito próximos ou mesmo iguais? Nesse intuito seguimos essencialmente quatro estratégias: revisão da literatura; análise de inquéritos a ‘especialistas’ no fenómeno político; inquéritos aos eleitores; estudo estatístico e leitura dos programas eleitorais.

As citações de Cavaco Silva e José Sócrates que se seguem revelam como são os próprios actores políticos a reclamar para si, várias vezes, o título de partido ideologicamente neutro.

"O nosso projecto é eminentemente nacional e não respeita raciocínios políticos e barreiras ideológicas nacionais" "Direita-Esquerda são palavras para políticos velhos (…) quando nos aproximamos do final do século.”

Cavaco Silva, 1987100

“A verdade é que o impacto da crise será atenuado pela acção e não o contrário. Primeiro ponto é portanto essa ideia de acção, mas uma acção com espírito aberto, não uma acção orientada para a aplicação de cartilhas ideológicas. O que nós precisamos é de soluções com resultados. Pragmatismo, portanto. Mais do que ideologia ou cartilhas ideológicas o que nós precisamos é de soluções pragmáticas que produzam resultados.”

José Sócrates, 2009101

As declarações anteriores, desligadas de um contexto em que os políticos tentam atrair votos junto do chamado eleitorado do centro, ajudariam a confirmar a alegada falta de ideologia dos dois maiores partidos portugueses. Os dados recolhidos neste capítulo não confirmam, contudo, a ideia de igualdade ou neutralidade ideológica: PS e PSD são partidos diferentes que, de forma mais ou menos clara, se inserem no seu tradicional espaço ideológico ao nível da avaliação dos especialistas, eleitores e programas eleitorais.

Os resultados confirmam, também, no entanto, que os dois partidos portugueses que consistentemente receberam mais votos em todas as eleições desde 1975 são mais semelhantes ou estão mais próximos do que acontece em outros países europeus. Confirmam-se assim os inúmeros relatos de académicos ou de cidadãos apresentadas no capítulo II.

Comecemos pela análise das avaliações dos expert surveys que revela que para os especialistas o PS está no grupo dos partidos socialistas mais centristas dos países que até 2004 compunham a

100 Citado em Manalvo, 2001: 128.

101 Encontro de José Sócrates com empresários na preparação da campanha/programa eleitoral das legislativas de 2009, Novas Fronteiras, 23/07/2009, Hotel Altis, Lisboa, presenciado pelo autor.

União Europeia. O PSD também está entre os maiores partidos de direita mais próximos do centro. Os dados revelam ainda que ambos os partidos terão evoluído da esquerda para a direita de 1999 a 2006 e que a proximidade entre PS e PSD acontece mais na área económica do que na dos costumes.

A avaliação dos eleitores voltou a colocar o PS no grupo dos partidos socialistas mais centristas (com uma progressiva deslocação para a direita), mas o mesmo não acontece com o PSD na comparação com outros partidos dominantes do seu lado ideológico nos países europeus analisados. Também neste nível de análise, Portugal está de novo entre os países com os dois principais partidos mais semelhantes. Os números revelam ainda que para os eleitores europeus estes partidos são colocados, em média, em posições ideológicas cada vez mais semelhantes, ou seja, os cidadãos percepcionam-nos, de facto, como assumindo posições menos divergentes.

O capítulo termina com a análise dos programas eleitorais: os dados revelados apontam para uma cada vez maior proximidade entre os dois principais partidos nos países europeus analisados, mas a conclusão não é totalmente clara por existirem oscilações significativas.

Quanto a Portugal, tal como na avaliação dos eleitores e especialistas, também nos manifestos PS e PSD estão no grupo de partidos europeus mais semelhantes ou menos diferentes na escala esquerda-direita. No entanto, nestes programas eleitorais o PS não surge entre os partidos socialistas mais centristas, ao contrário do que acontece na avaliação dos especialistas e eleitores. No outro lado, as percepções dos eleitores são contrariadas: o PSD está entre os principais partidos de direita com programas mais próximos do centro.

Uma análise mais atenta dos manifestos dos dois partidos revela, no entanto, mais diferenças do que se poderia esperar depois do simples posicionamento na escala esquerda-direita, mesmo que seja difícil, muitas vezes, perceber se não estamos apenas perante diferenças essencialmente de estilo na linguagem usada tendo em conta a ambiguidade de muitas propostas.

Esquecendo a evolução dos dois partidos ou as influências conjunturais, fazendo um retracto global, doutrinário, dos princípios de acção enunciados a partir de 1991, podemos dizer que PS e PSD apresentam os mesmos objectivos para Portugal: modernizar o país, fazer crescer a economia, melhorar as condições de vida e aproximar Portugal da média da União Europeia. No entanto, como salientam Newton e van Deth (2005: 242-243), a igualdade de “objectivos políticos” (political goals) não significa igualdade ideológica – as ideologias distinguem-se, frequentemente, pelos meios políticos utilizados (political means), ou seja, pelas fórmulas propostas para alcançar certos resultados.

A análise dos programas eleitorais revela que PS e PSD divergem em muitas das soluções para alcançar esses objectivos, indo de encontro àquilo que se podia esperar tendo em conta a sua família ideológica. É verdade que, como salienta Freire (2004), os manifestos dos dois partidos tendem a ser vagos nas medidas concretas para alcançar os objectivos a que se propõem. Contudo, esse facto não impede que os princípios gerais sejam diferentes numa ideia que tentamos representar de forma simplificada na Figura VI-39.

Figura! VI*39! Principais! objectivos! do! PS! e! PSD! e! meios! preferenciais! propostos! para! os!

alcançar!

Para chegar aos objectivos propostos, a integração europeia é um dos meios prioritários apresentados por ambos os partidos, numa fórmula preferencial comum que motivou mesmo a sua aproximação e colaboração – sobretudo nas décadas de 1980 e 1990.

O desacordo começa quando olhamos para o papel do Estado. Depois dos primeiros anos de alguma indefinição, os socialistas apostam desde meio da década de 1980 numa economia de mercado, mas também num Estado regulador (não mínimo) e que faça estratégias de médio e longo prazo. O PSD revela a sua posição liberal ao vincar a necessidade de reduzir o Estado. Os social-democratas querem, declaradamente, colocar ou deixar espaço à sociedade civil para “liderar” o país, pedindo menos Estado e mais sociedade. Já o PS salienta inúmeras vezes que quer uma espécie de “Estado- catalisador” através, por exemplo, de investimento público e grandes projectos.

PS e PSD defendem uma economia de mercado para atingir os objectivos que têm para Portugal, mas também a esse nível há diferenças no percurso proposto. Os socialistas referem várias vezes medidas de planeamento da economia, como planos para criar empregos. Os social-democratas falam mais em livre empresa e funcionamento livre do mercado. No PSD o ‘motor’ proposto para conseguir as mudanças pretendidas aponta essencialmente para o papel da sociedade; no PS essa tarefa é repartida com o Estado.

As diferenças entre os dois partidos sentem-se de novo no tipo de Estado social pretendido. O PS propõe com insistência a acção directa do Estado no combate às desigualdades. O PSD também dá grande destaque à expansão do Estado social nos programas eleitorais até ao final da década de 1990, mas essa proposta tem características diferentes das intenções do PS, sendo repetidas as insistências na necessidade de ligar a solidariedade ao crescimento da economia dizendo-se, por exemplo, que é preciso existir riqueza para distribuir. A igualdade proposta pelo PSD assenta sobretudo na ideia de “igualdade de oportunidades” e, para além do Estado, o partido salienta nesta tarefa, em vários momentos, o papel das IPSSs e da família. O PSD afirma-se ainda contra o clima de “assistência social” e em eleições mais recentes propõe mesmo um sistema essencialmente supletivo.

Se olharmos para os números do Manifesto Project, depois de um longo período em que os dois partidos quase se igualaram nas referências à expansão do Estado social, a partir de 2002 essas

propostas diminuem de forma significativa no PSD. No PS, pelo contrário, o tema continuou no topo das prioridades, facto que indicia, pelo menos a este nível (fundamental na divisão esquerda-direita), uma maior divergência entre os dois partidos.

Nos costumes, os social-democratas também se diferenciam pelas referências à importância da família tradicional. Os socialistas, por sua vez, falam mais nos direitos de certos grupos demográficos menos privilegiados (entre outros, mulheres ou homossexuais).

A ortodoxia económica, nomeadamente o combate ao défice público, bem como a necessidade de aumentar a produtividade, assumem cada vez mais saliência nos dois partidos, mas, como seria de esperar, é no PSD que surgem mais referências a estas necessidades.

Resumindo, os dados revelados neste capítulo sobre as avaliações dos especialistas, eleitores e programas não confirmam a ideia de igualdade ou neutralidade ideológica: PS e PSD são partidos diferentes que se inserem no seu tradicional espaço ideológico. No entanto, os três tipos de análise também confirmam que estes estão mais próximos, em média, do que acontece com os principais partidos de governo noutros países europeus e basearem com mais frequência as suas propostas políticas em temas de menor conotação ideológica. Não se confirma, contudo, a alegada aproximação dos dois partidos e, por exemplo, ao nível do Estado social a divergência é cada vez mais nítida.

VII.

ALTERNÂNCIA,DE,GOVERNO,,POLÍTICAS,PÚBLICAS,E,

CONVERGÊNCIA?,O,CASO,DO,ESTADO,SOCIAL,

Depois de analisar a convergência ideológica ao nível das avaliações dos especialistas, percepções dos eleitores e programas eleitorais, vamos centrar-nos nas políticas seguidas pelos governos de diferentes partidos.

Este capítulo tem como objectivo perceber, com base numa análise empírica, se a ideologia conta e, mais precisamente, se fez diferença ter um partido de esquerda ou de direita na liderança de um governo em Portugal mas também num conjunto de países da União Europeia. A comparação europeia será útil, também, para compreender se aquilo que aconteceu em Portugal nas últimas duas décadas e meia foi muito ou pouco diferente daquilo que ocorreu noutros países.

Para responder à questão anterior vamos usar um vasto leque de dados relacionados com aquilo a que normalmente se chama Estado social (ver capítulo III). Esses indicadores, que podem ser classificados como outputs do sistema político, dividem-se em dois grandes grupos:

1) Macro%indicadores$relacionados$com$as$contas$públicas$de$vários$Estados$europeus:$$ a) Receitas.$ b) Despesas.$ c) Saldos.$ d) Dívidas.$ $$$ 2) Micro%indicadores$apenas$recolhidos$para$o$caso$português:$ a) Evolução$das$despesas$públicas$por$funções.$$ b) Taxas$de$imposto.$$ c) Actualizações$do$salário$mínimo$nacional.$ d) Actualizações$dos$salários$dos$funcionários$públicos.$$ e) Actualizações$das$pensões$mínimas.$ f) Alterações$na$legislação$laboral.$$

Num meio académico habituado a estudos que por norma se focam num tema específico, a análise que se segue poderá ser acusada de superficialidade – idêntico risco é identificado por Castles (1998: 4) no seu Comparative Public Policy. Não pretendemos ser tão abrangentes como a obra citada, mas de facto também não iremos olhar a fundo para cada um dos temas anteriores numa opção que, estamos conscientes, constitui um risco acrescido na realização de qualquer tese expondo-a, com facilidade, a omissões relevantes nesta ou naquela temática (Eco, 1998: 35-36).

Contudo, estamos convencidos (e as páginas que se seguem irão em grande medida confirmá- lo), que observar apenas um aspecto do Estado social poderia apresentar conclusões pouco claras e até enviesadas. Ou seja, é possível que numa determinada área a alegada convergência ideológica seja forte enquanto noutra se revele fraca. Uma abordagem mais vasta permite conclusões mais ricas e ao observarmos um leque mais alargado de temáticas associadas ao Estado social reforçamos o poder explicativo das conclusões a que pretendemos chegar, nomeadamente porque, como poderemos ver de

seguida, nem todas as políticas públicas são afectadas da mesma forma por factores político- ideológicos.

VII.1 Conjuntura,política,,económica,e,outras,limitações,da,análise,,

O cenário ideal para testar as hipóteses que colocamos passaria por analisar os desempenhos governativos de PS e PSD em duas situações ou conjunturas idênticas ou pelo menos muito similares. Replicaríamos, assim, as condições ceteris paribus, ou seja, em que “tudo o mais é constante” ou em que se mantêm “inalteradas todas as outras coisas”.

Reunir as condições antes descritas seria impossível. PS e PSD lideraram o governo português em épocas diferentes, com conjunturas sociais, económicas, financeiras e políticas inevitavelmente diversas. No entanto, como já vimos (no capítulo V) o método comparado não serve apenas para estudar os casos mais semelhantes, mas também para comparar os “mais diferentes” (Zahariadis, 1997: 18-19; e Landman, 2003). A existência de diferenças não impede as comparações, apenas obriga a ter em consideração outros factores.

Apesar das diferentes conjunturas que rodearam os governos dos dois partidos, há uma série de razões que facilitam a comparação pretendida. A primeira é que, como esquematizamos no quadro seguinte, nos últimos 25 anos, de 1986 a 2010 (os anos observados para Portugal nas análises estatísticas que se seguem), PS e PSD estiveram praticamente o mesmo tempo com responsabilidades governativas divididas por quatro períodos diferentes.

Quadro!VII*1!Partidos!e!governos,!Portugal,!1986*2010!

Anos Partido(s) Nº de anos

1986-1995 PSD 10 1996-2001 PS 6 2003-2004 PSD-CDS 2 2006-2010 PS 5 Total PSD 12 Total PS 11

Legenda: Por razões que explicaremos mais à frente, 2002 e 2005 são classificados como anos de transição, facto que leva a que não atribuamos a responsabilidade governativa a nenhum partido.

A análise estatística que se pretende fazer da evolução do chamado Estado social em Portugal abrange um período de 25 anos em que 12 podem ser associados a dois governos liderados pelo PSD (10 com o primeiro-ministro Cavaco Silva e 2 com Durão Barroso e Santana Lopes) e 11 a dois executivos socialistas (6 com António Guterres e 5 com José Sócrates). As diferenças começam quando se comparam as conjunturas políticas e económicas que acompanharam a actividade destes diferentes governos.

Olhando para o ambiente político: a primeira fase (10 anos de três governos liderados por Cavaco Silva) decorre numa conjuntura inicial de um governo minoritário (1985 a 1987) que passa,

depois das eleições legislativas de 1987, a um executivo com maioria absoluta dos deputados na Assembleia da República (o primeiro da era democrática nacional). A meio da década de 1990 inicia- se um novo ciclo governativo liderado pelo PS mas sem maioria absoluta dos deputados (48,7% dos lugares no parlamento de 1995 a 1999 e 50% de 1999 a 2002). Em 2002 o governo socialista dá lugar a um novo governo liderado pelo PSD que agora, para ter maioria absoluta dos deputados na Assembleia da República, necessita de uma coligação pós-eleitoral com o CDS-PP. Três anos depois, 2005 assiste a nova mudança: desta vez é o PS que passa a governar com maioria absoluta (a primeira da sua história), num cenário que se mantém até 2009, ano em que o segundo governo liderado por José Sócrates passa a ter uma maioria relativa na Assembleia da República (42,2% dos deputados). Sabemos que a dimensão do apoio ao governo na legislatura pode ser um dos factores que mais condiciona a sua acção.

Ainda na conjuntura política, não é de menosprezar (mesmo que seja difícil medi-lo com exactidão) o papel do Presidente da República num regime semi-presidencial, como o português, em que o Chefe de Estado tem um dos mais significativos conjuntos de poderes no contexto dos países da Europa Ocidental (Siaroff, 2003) e com uma legitimidade acrescida face ao que ocorre num regime parlamentar motivada pelo facto de ser eleito directamente pelos cidadãos (para uma definição, entre outras, de semi-presidencialismo, ver Elgie, 1999).

Como salientam Neto e Lobo (2009), o presidente português nunca teve um “papel irrelevante” mesmo depois da revisão constitucional de 1982, num vasto leque de poderes que passam pela nomeação e demissão do governo, a dissolução do parlamento, a influência na escolha dos ministros, a avaliação de diplomas legislativos e o envio de leis para o Tribunal Constitucional; para além dos poderes de veto ou de agenda-setting pela capacidade que tem de influenciar as percepções da opinião pública através de um vasto conjunto de intervenções públicas nos meios de comunicação social102.

Não pode ser ignorado que um executivo que governa numa situação de coabitação com um Chefe de Estado de origem partidária diferente (como aconteceu, sobretudo, com Cavaco Silva, Durão Barroso/Santana Lopes e José Sócrates) tenderá, teoricamente, a ter uma margem de manobra ou de escolha política menor do que aquele que governa com um Presidente da República com origens ideológicas similares. Ainda neste ponto, não será de esquecer os diferentes comportamentos mais ou menos interventivos que os presidentes tendem a assumir, respectivamente, no segundo ou no primeiro mandato (Freire e Pinto, 2005).

102 Tenha-se em atenção não apenas as sucessivas intervenções públicas dos presidentes da república mas também aquilo a que se convencionou chamar “presidências abertas” com Mário Soares e depois Jorge Sampaio, mas também os “Roteiros” de Cavaco Silva. Uma tradição de intervenções públicas, discursos ou iniciativas promovidas e usadas pelos Chefes de Estado para intervir na cena política que terá sido inaugurada por Ramalho Eanes (com as chamadas viagens pela província a partir da tomada de posse dos governos da Aliança Democrática). O próprio admitiu, aliás, que “a acção persuasiva é frequentemente o único instrumento constitucional à disposição do Presidente da República” (sobre Eanes ver Barroso, 1986; sobre as presidências abertas de Sampaio ver http://rtp1.rtp.pt/index.php?article=225665&visual=16; sobre os roteiros de Cavaco ver Cavaco Silva e anúncio de uma iniciativa chamada Roteiro Contra a Exclusão Social:

Depois, tem de se ter em conta a relevante conjuntura económica. Como podemos ver na Figura VII-1, os últimos 30 anos ficaram marcados por épocas com indicadores económicos muito diferentes: anos com um crescimento acelerado da riqueza produzida no país, nomeadamente entre 1986 e 1991 (sempre acima dos 4%103), mas também entre 1995 e 2000 (com valores entre os 3,7% e 5%); e outros em que o país assistiu a recessões (1983, 1984, 1993, 2003 e 2009), bem como uma década de 2001 a 2010 com um crescimento médio da economia próximo do zero (0,7%).

Figura!VII*1!Variação!do!PIB!e!Taxa!de!Desemprego,!Portugal,!1980*2010!

Fonte: Variação do PIB, OCDE (de 1980 a 1994 os dados são estimativas); Desemprego, AMECO.

Legenda: Os tons de cinzento das colunas assinalam os ciclos governativos identificados no Quadro VII-1. A preto estão os anos que identificámos como de transição.

Olhando para outro indicador importante para compreender a evolução económica e social do país, na taxa de desemprego a oscilação também foi grande. Depois de um pico a meio da década de 1980 (9,1% em 1985), esta desceu a um mínimo de 4,1% em 1992. A meio da década de 1990 o desemprego voltou a subir (7,2% em 1995 e 1996), mas não atingiu os valores da primeira metade da década anterior e voltou a uma tendência de descida até à viragem do século. A partir de 2001 a tendência é claramente de subida e apesar da travagem conseguida entre 2005 e 2008, 2009 e 2010 registaram os crescimentos mais significativos dos últimos 30 anos (que se aceleraram ainda mais em 2011 e 2012104).

Os números anteriores reflectem-se, naturalmente, nas circunstâncias que acompanharam os diferentes governos que tomaram posse durante estas três décadas. Os executivos social-democratas de Cavaco Silva e socialistas de António Guterres estiveram em funções com uma conjuntura económica

103 Numa espécie de “mini-idade de ouro” da economia portuguesa (Amaral, 2011: 35-36).

104 A taxa de desemprego em Portugal no primeiro trimestre de 2012 chegou aos 14,9%, depois de ter atingido os 14% no último trimestre de 2011 (Estatísticas do Emprego, 2012, 1º trimestre, Instituto Nacional de Estatística -

INE, Lisboa). %4$ %2$ 0$ 2$ 4$ 6$ 8$ 10$ 12$ 14$ 1980$ 1981$ 1982$ 1983$ 1984$ 1985$ 1986$ 1987$ 1988$ 1989$ 1990$ 1991$ 1992$ 1993$ 1994$ 1995$ 1996$ 1997$ 1998$ 1999$ 2000$ 2001$ 2002$ 2003$ 2004$ 2005$ 2006$ 2007$ 2008$ 2009$ 2010$ %! Taxa$de$desemprego$ Variação$do$PIB$

muito mais positiva do que os governos que se seguiram nos últimos 8 anos. Dos três indicadores