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CAPÍTULO V – Conclusões e Considerações Finais

5 Conclusões e Considerações Finais

Um dos fenómenos mais marcantes das dinâmicas de povoamento dos tempos modernos é o da expansão e da concentração urbana. O crescimento físico e demográfico das vilas e cidades é uma constante nas últimas décadas em praticamente todos os países do mundo, sendo hoje a população urbana mundial globalmente superior à população rural. Este crescimento tem sido, no entanto, marcado por um conjunto de modelos e processos de “urbanização” que estão na origem de alguns dos problemas mais críticos com que se debatem as urbes modernas, desde a segregação social e até racial até à desertificação residencial e económica dos centros históricos, passando pela urbanização difusa nas periferias ou subúrbios e pela edificação dispersa em áreas cada vez mais afastadas e isoladas.

Nos anos 60 iniciaram-se os primeiros estudos sobre a dispersão urbana sendo os mesmos focalizados na medição da dispersão, assim como na avaliação das formas de ocupação do espaço que poderiam apresentar alterações sociais, económicas e ambientais. Nos últimos anos esses estudos e investigações afins ganharam um novo fôlego, prosseguindo novos objetivos e preocupações científicos, em particular os relacionados com a problemática da redução da pegada de carbono e a melhoria da eficiência no uso dos recursos naturais e da sustentabilidade ambiental.

Os centros urbanos são locais onde se concentram grandes volumes populacionais, sendo necessário que estes reúnam as condições imprescindíveis para garantir padrões adequados e até elevados de qualidade de vida às populações que aí residem e trabalham, nomeadamente as redes de infraestruturas básicas: acessibilidades rodoviárias, energia elétrica, saneamento básico.

As infraestruturas são fundamentais para um bom funcionamento quer dos grandes aglomerados populacionais, quer das zonas de baixa densidade populacional. No entanto, para que as mesmas sejam eficientes e suficientes, existem custos associados quer à construção das infraestruturas, quer à manutenção das mesmas.

Percebe-se também que o fornecimento, manutenção e gestão de infraestruturas em núcleos urbanos de baixa densidade são associados a mais custos às entidades responsáveis pelos

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mesmos. Na atualidade, mais concretamente em Portugal, a construção de habitações para residência e comércio, devidamente infraestruturadas, chegou a uma fase de abrandamento. Perante esta nova realidade, as entidades públicas são obrigadas a uma gestão controlada de recursos, nomeadamente os económicos.

Num contexto de forte contenção económica e numa lógica de sustentabilidade dos sistemas públicos de infraestruturas urbanas, torna-se pertinente avaliar o potencial edificatório que as áreas urbanas definidas nos PDM encerram, assegurando a não expansão das atuais redes de infraestruturas, seguindo uma política que poderá ser considerada como de “neutral

containment” à semelhança dos “urban service districts” utilizados nos Estados Unidos.

O conceito de infraestrutura-zero apresenta-se como a maximização de utilização das redes de infraestruturas já existentes, sendo elas as redes rodoviárias, redes elétricas, redes de abastecimento de águas e redes de saneamento de águas residuais. Faz então todo o sentido avaliar as dotações atuais de infraestruturas básicas para um dado território e, simultaneamente prever as necessidades futuras, procurando assim, numa lógica de racionalização e eficiência, otimizar os recursos e dotações pré-existentes.

Sabendo o estado atual das redes de infraestruturas, colocam-se as seguintes questões:

Faz falta continuar a investir em redes de infraestruturas? Ou, por outro, lado devemos aproveitar a capacidade edificatória existente e desta forma introduzir o conceito da infraestrutura-zero?

Para a execução deste estudo foi efetuado um levantamento das redes de infraestruturas existentes nos aglomerados, rede rodoviária, elétrica, abastecimento de água e saneamento de águas residuais. Após a recolha da informação necessária e disponível, esta foi tratada com recurso às ferramentas dos Sistemas de Informação Geográfica (SIG), as quais permitiram calcular com rigor e detalhe o potencial instalado em cada território e avaliar o grau de resposta para os diferentes cenários de procura estabelecidos para o médio e o longo prazo. O trabalho realizado permitiu, assim, avaliar não só o potencial edificatório mas também as dotações infraestruturais atuais dos aglomerados de Vila Real, Sabrosa, Vila Pouca de Aguiar e Pedras Salgadas, sendo que desde logo foi cumprido o objetivo inicial do estudo.

É notório que os municípios conseguem controlar as áreas de construção pela atribuição de índices de utilização do solo já que pelo seu controlo permitem uma forte construção, quando

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são atribuídos índices elevados, ou uma construção mais controlada, aquando a atribuição de índices baixos.

Os aglomerados em estudo possuem elevadas taxas de infraestruturação superiores a 59,8%, sendo que Sabrosa detém 71,6%, Vila Pouca de Aguiar 68,4%, Pedras Salgadas 63,2% e Vila Real com 59,8%, o que leva a que os municípios gastem recursos económicos e humanos na sua manutenção e gestão. A melhor maneira de os rentabilizar será a sua maximização.

Os valores obtidos demonstram que existem nos quatro aglomerados estudados bastantes infraestruturas que podem e devem ser melhor rentabilizadas pois podem ser construídos mais fogos no cenário de infraestrutura-zero. Os aglomerados devem ter em atenção os índices de utilização do solo que adotam nos PDM para que com a sua utilização não se ultrapasse os valores máximos de áreas a construir.

De acordo com a metodologia proposta prevê-se que o número máximo possível de fogos a construir suportados pelas redes de infraestruturas existentes e localizados nas suas áreas de influência, são os seguintes; Sabrosa apresenta 3863 fogos, Vila Pouca de Aguiar 3446 fogos, Pedras Salgadas 5719 fogos e Vila Real 9393 fogos totalizando 22421 fogos nos quatro aglomerados estudados.

Analisando os vários cenários efetuados, percebe-se que em todas as previsões, (cenário tendencial, pessimista e otimista), os aglomerados de Sabrosa, Vila Real, Vila Pouca de Aguiar e Pedras Salgadas apresentam capacidade suficiente no que se refere às infraestruturas necessárias para garantir as condições adequadas para a construção dos novos fogos habitacionais previstos, o que demonstra que existem infraestruturas suficientes nos aglomerados estudados.

Percebe-se também que todos os aglomerados possuem mais infraestruturas do que realmente necessitam, o que consequentemente aumenta os seus custos na respetiva manutenção.

Os aglomerados efetuaram uma construção de redes de infraestruturas sem controlo das reais necessidades dos seus perímetros urbanos, resultando assim a existência de capacidades instaladas de redes de infraestruturas muito superiores da realidade construtiva existente e espectada até 2021 nos aglomerados estudados.

O potencial edificatório nos aglomerados estudados existe, sendo que as áreas disponíveis para construção e infraestruturadas devem ser áreas com politicas de incentivo de forma a

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fomentar procura por parte de futuros residentes ou construtores. Será da responsabilidade dos municípios construir estratégias para cativar a decisão de dinamizar as zonas infraestruturadas.

Os incentivos fiscais são uma maneira de fácil implementação para os municípios e que têm em geral bastante aceitação por parte dos interessados. Assim sendo, poderá ser adotado um aumento significativo das taxas para todo o tipo de construção fora das zonas infraestruturadas e uma redução para as construções que estejam dentro das zonas infraestruturadas.

Finalmente, importa reconhecer que uma das principais limitações deste trabalho é o reduzido número de casos que serviram de objeto à análise efetuada. As conclusões devem, pois, ser lidas com alguma cautela e todas as extrapolações e generalizações são, por isso mesmo, abusivas. Para compensar esta limitação importa alargar e multiplicar os estudos de caso de forma a dar maior abrangência e consistência aos resultados e às conclusões que daí seja possível retirar. Seria de extrema importância trabalhar no âmbito nacional para que o conceito de infraestrutura-zero possa ser aplicado a todo o país. Será interessante em futuros trabalhos começar a organizar os dados para que estes possam ser facultados às entidades responsáveis pelos aglomerados e que estas de forma simples tenham em seu poder todo o cadastro existencial das infraestruturas existentes.

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