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VAZÕES MÉDIAS MENSAIS CAJURU

9 CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS

Ao longo da presente dissertação pode ser visto que a legislação nacional de recursos hídricos prevê a outorga para os aproveitamentos de potenciais hidráulicos com a finalidade de geração de energia elétrica. As legislações de alguns países, também, retratam a necessidade de instrumento de controle para a utilização deste recurso natural para tal fim.

Neste contexto, a pesquisa aqui desenvolvida propõe uma metodologia para a avaliação de solicitações de outorga para os aproveitamentos hidrelétricos. Esta proposição consiste em uma sistemática de análise de requerimentos para este fim, buscando-se estabelecer critérios quantitativos para subsidiar a tomada de decisão quanto ao deferimento do direito de uso de recursos hídricos para a geração de energia elétrica.

A presente dissertação permite algumas conclusões sobre o assunto apontando, ainda, perspectivas futuras sobre a continuidade de novos trabalhos nesta linha pesquisa. Nos parágrafos seguintes são apresentas as principais conclusões obtidas no desenvolver deste trabalho, bem como as perspectivas para futuras pesquisas.

A obtenção de referências para o desenvolvimento desta pesquisa apresentou grandes dificuldades devido à especificidade da questão, a pouca freqüência de solicitações de outorga para tais empreendimentos e, até mesmo, a escassez de documentos públicos que tratem deste assunto. Conseqüentemente, esta deficiência de informações levou a uma maior dificuldade quanto à proposição da metodologia aqui aplicada.

A geração de energia elétrica a partir dos aproveitamentos de potenciais hidráulicos é uma prática bastante conhecida no mundo. Entretanto, do ponto de vista da gestão de recursos hídricos não se obteve referências específicas quanto à apreciação de requerimentos de outorga para o seu uso. Tal fato pode ser justificado pelo fato de que outros países não terem os empreendimentos hidrelétricos como a sua principal fonte geradora de energia elétrica, como no caso brasileiro.

As aplicações da metodologia proposta para a análise e tomada de decisão dos requerimentos de outorga para os aproveitamentos hidrelétricos demonstraram sua viabilidade. Porém o levantamento da demanda hídrica e, conseqüentemente, do consumo de água na bacia hidrográfica pode ser aprimorado.

Conforme menção no item 7.3 do capítulo anterior, a estimativa do consumo de água verificado para a finalidade de irrigação mostrou-se satisfatória e aplicável, de acordo com a metodologia de levantamento da demanda proposta. Entretanto, podem ser desenvolvidos novos trabalhos nesta área visando, principalmente, a maior confiabilidade dos valores obtidos.

Alternativamente, podem ser utilizados diretamente os dados de áreas irrigadas, caso existentes. Dados de consumos médios de água por hectare irrigado, também, devem ser estimados e aplicados preferencialmente para a bacia hidrográfica em estudo. Desta forma, espera-se que as vazões consumidas obtidas para a irrigação, juntamente com os demais usos na bacia, sejam mais próximas à realidade.

O emprego de séries de vazões sintéticas para a análise feita neste trabalho, mostrou-se também satisfatório, seguindo a tendência geral da metodologia proposta. Entretanto, visto a aleatoriedade da seleção dos 30 (trinta) anos utilizados nas simulações e, ainda, a não coincidência do período crítico identificado (ano 15) com os volumes mínimos de ambos os reservatórios, conclui-se que a retirada desta amostra para a simulação, pode ser efetuada diretamente do universo da série sintética gerada.

A utilização de séries sintéticas de menor extensão ou, simplesmente, o emprego das afluências verificadas no período histórico parecem ser adequadas, de acordo com a metodologia proposta.

A análise de sensibilidade realizada para os dois estudos de caso demonstrou que a metodologia é aplicável a este tipo de finalidade. Esta avaliação permitiu, ainda, a possibilidade de tomada de decisão, por parte do órgão gestor, com respeito a esta demanda, bem como da negociação sobre números de horas de funcionamento e de vazões residuais constantes numa solicitação de outorga.

Os resultados obtidos com o desenvolvimento dos dois estudos de caso propiciaram, além da validação da metodologia proposta, a possibilidade de negociação, por exemplo, de valores de vazões ecológicas e do número de horas de operação dos empreendimentos. Os valores médios mensais de vazões empregadas na geração de energia também permitem certos ajustes.

As perspectivas do presente trabalho mostram-se diversas, desde a melhoria da avaliação das demandas hídricas consuntivas numa bacia hidrográfica, quanto no aprimoramento de métodos para subsidiar a tomada de decisão das solicitações.

A operação do reservatório, no que diz respeito às vazões turbinadas e tempos de funcionamento, deve ser mais bem estudada. Empresas do setor de geração de energia operam, não somente uma usina isolada, mais sim vários empreendimentos interligados onde é necessário garantir certa quantidade de energia ao mercado. Portanto, as regras de operação de empreendimentos hidrelétricos devem ser mais bem conhecidas.

Outro ponto importante diz respeito aos aproveitamentos em cascata. A existência e operação sincronizada de vários empreendimentos numa mesma bacia hidrográfica permitem uma maior eficiência na regularização dos cursos d’água ali presentes e, conseqüentemente, uma maior garantia no fornecimento de energia elétrica ao sistema. A outorga para aproveitamentos deste tipo deve ser concedida com base numa análise global do funcionamento dos mesmos, através da simulação simultânea da operação de seus reservatórios.

Nesta ótica, a metodologia aqui proposta pode ser aplicada, perfeitamente, para a análise de requerimentos de outorga de empreendimentos em cascata. Para os aproveitamentos mais a montante da bacia a metodologia deve ser aplicada diretamente como proposta ao longo deste trabalho. Já para os reservatórios de jusante, dever-se-ia considerar apenas a área incremental da bacia, ou seja, a área de drenagem entre os aproveitamentos. Ressalta-se, contudo, que numa análise de usinas hidrelétricas em cascata deve-se otimizar o funcionamento do conjunto de aproveitamentos e não de um isoladamente.

As vazões ecológicas não se mostraram como um fator decisivo na apreciação do funcionamento dos empreendimentos aqui tratados, principalmente, para o caso da UHE Nova Ponte. Mesmo a PCH Cajuru não apresentou grande sensibilidade à variação da vazão ecológica entre os valores de 10% da QMLT e o valor empregado pela CEMIG. Como se torna

óbvio, a vazão ecológica deve ser criteriosamente empregada principalmente para que sejam atendidas as necessidades a jusante dos aproveitamentos, quando estes não estão gerando energia. Assim, reforça-se a necessidade de maiores estudos nesta matéria.

Salienta-se, aqui mais uma vez, a importância da determinação de um valor de vazão mínima residual a ser mantido a jusante de aproveitamentos hidrelétricos. Para tanto, devem ser

desenvolvidos estudos mais aprofundados e específicos para os respectivos cursos d’água de interesse, visto que a caracterização hidrogeológica de uma determinada bacia hidrográfica é única.

Concluindo, com o desenvolvimento da pesquisa aqui apresentada pôde-se atingir o objetivo geral proposto que foi o de contribuir para o estabelecimento de uma sistemática de análise e de critérios de outorga para a avaliação dos requerimentos de outorga de aproveitamentos hidrelétricos. Espera-se, com isso, que a metodologia aqui proposta possa ser empregada por órgãos gestores de recursos hídricos e até mesmo aprimorada, pois se mostrou um bom subsidio no processo de tomada de decisão quanto às solicitações de outorga para os empreendimentos hidrelétricos.

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