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CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

No documento NÃO FUME! (páginas 170-175)

Os benefícios decorrentes da implantação de um SGA, são muito mais evidentes e fáceis de comprovar no setor empresarial-industrial. Para as empresas prestadoras de serviço, a identificação dos aspectos positivos na adoção de um SGA passa, às vezes, por critérios subjetivos de avaliação que, se não bem interpretados, podem induzir conclusões que acarretem na avaliação da questão ambiental como um complicador para a atividade. Embora exista entre os empresários um sentimento de que um SGA poderá trazer benefícios financeiros e ambientais a longo prazo, a falta de dados concretos que possam comprovar esta suposição desencoraja a maioria a qualquer iniciativa neste sentido.

A rebocagem portuária é uma atividade de prestação de serviço, podendo ser admitido, portanto, que esta condição influi na atuação ambiental das empresas do ramo. Além disso, o desinteresse demonstrado pela maioria das empresas de navegação em ter implantado um sistema de gestão ambiental, tem sido atribuído, à falta de cultura ambiental no setor e ao grande volume de capital necessário. Porém, estas dificuldades não refletem toda a dimensão do problema para o segmento. As empresas de rebocadores têm investido pesadas quantias na construção de unidades mais modernas, algumas vezes com apoio de financiamento governamental. Projetos ambientais podem também receber apoio de entidades como o BNDES, porém não há demanda por parte dos Armadores. Um outro dado interessante, refere-se às embarcações empregadas em atividades para a indústria “offshore” que possuem tripulações treinadas, equipamentos e procedimentos para combate a poluição e, em alguns casos, estas embarcações são de empresas que possuem também embarcações empregadas em atividade portuária, onde a situação é diametralmente oposta. Portanto, a cultura do setor é mais significativa que a alegada falta de recursos. Porém, o que parece ser o mais importante

Na atividade “offshore” o cliente é a PETROBRAS, que incentiva e até mesmo exige que as empresas prestadoras de serviço observem cuidados relativos a meio ambiente e segurança. Já os rebocadores empregados na atividade portuária, por sua vez, atendem empresas de Armadores estrangeiros, cujos navios aqui chegam para operações de carga e descarga dos porões, o que é realizado em poucos dias ou até mesmo em horas sendo que, na maioria das vezes, o fator determinante para escolha de uma empresa de rebocadores é o preço.

Contudo, esta situação pode vir a sofrer alterações profundas em curto espaço de tempo, já que existem alguns detalhes que devem ser considerados. Entre os navios estrangeiros que utilizam serviço de rebocadores no porto do Rio de Janeiro, alguns são de empresas alemãs e japonesas, que, como é sabido, são países onde a sociedade exerce forte influência sobre governos e empresas. Desta forma, é perfeitamente possível que atendendo a pressões de movimentos sociais organizados, da opinião pública e até mesmo de acionistas, estes Armadores ajustem as suas políticas de comércio internacional, passando a dar preferência ou exigir que seus parceiros comerciais no exterior demonstrem práticas ambientais corretas através de um SGA certificado. A mesma situação ocorre com a Petrobrás, que através de sua subsidiária Transpetro é um dos grandes clientes nacionais dos rebocadores portuários, mas que porém, diferentemente, da postura adotada em outros negócios, como a atividade offshore, ainda não exige que seus prestadores de serviço possuam um SGA certificado.

Caso algum Armador estrangeiro e/ou a Petrobrás passem a exigir das empresas que contratam para prestação de serviço de reboque portuário um SGA certificado, certamente terá grande vantagem comercial a que já estiver se utilizando desta ferramenta ou que pelo menos tiver montado um sistema de gestão ambiental nos moldes da ISO 14001, que possa ser fácil e rapidamente certificado.

Por outro lado, o avanço verificado em relação às questões ambientais do sistema portuário deve-se, em boa parte, à legislação, principalmente a Lei 9605/98 (Lei de Crimes Ambientais) e a Lei 9966/00 (Lei do Óleo), que tem obrigado as empresas a empreenderem ações para evitarem as pesadas multas e outras sanções previstas nestes diplomas legais.

Contudo, não há ainda um consenso sobre a interpretação de diversos pontos da legislação, principalmente no que diz respeito a competências e valorações de multas. De qualquer forma, é importante que as empresas estejam atentas ao desenvolvimento da legislação para identificar possíveis não conformidades ou, até mesmo, exigências não cabíveis por parte dos órgãos ambientais.

O acesso ao crédito oficial pelas empresas de rebocagem ainda não se encontra condicionado à adoção de SGA’s. Porém a tendência é que isto venha a ocorrer mais cedo ou mais tarde, já que é prática comum na maioria dos países.

A identificação e redução de riscos ambientais, é também um aspecto não contemplado pelas empresas de reboque portuário, de modo geral. Sobre este assunto um dos exemplos mais esclarecedores é a política de abastecimento para consumo próprio em vigor na maioria delas. Geralmente as embarcações são abastecidas ao máximo de suas capacidades físicas e ao limite das possibilidades financeiras das empresas. Na visão empresarial, isto se constitui num instrumento de defesa que visa resguardar o capital empregado em combustíveis de possíveis majorações. Por outro lado, o risco de um derrame durante a operação de abastecimento fica reduzido, na medida em que o número de abastecimentos é também reduzido, ou seja o risco identificado é o vazamento durante o abastecimento e portanto é considerado preferível abastecer poucas vezes, com muita quantidade, fazendo com que as embarcações fiquem no extremo de suas capacidades, ao invés de repetidos abastecimentos com poucas quantidades.

Ocorre que o cenário de um acidente de grandes proporções com risco de vazamento de uma enorme quantidade de óleo, não foi ainda convenientemente avaliado.

Deve ser levado em conta que, assim como possuir um certificado ISO 9001 não significa obrigatoriamente ter um produto de qualidade e sim um processo produtivo certificado, também uma certificação ISO 14001 não confere à empresa a condição de ambientalmente correta, com possibilidade zero de poluição. Contudo, um SGA eficiente conduz a empresa ao uso racional de energia e recursos naturais em geral, diminuindo os desperdícios e geração de resíduos, acarretando em economia e proporcionando condições de competição comercial mais favorável, com a possibilidade de preços mais competitivos.

Pelo acima exposto, percebe-se que é uma medida gerencial e comercialmente oportuna a sistematização da gestão ambiental para empresas de rebocadores no Rio de Janeiro, pois além de possibilitar uma vantagem competitiva e diminuir a possibilidade de multas e sanções por descumprimento à legislação, pode proporcionar melhores condições de avaliação e redução de riscos ambientais e ainda auxiliar na defesa junto à justiça e órgãos ambientais no caso da ocorrência de um acidente ambiental.

A aceitação da norma ISO 14000 em todo o mundo a torna a mais indicada para normatizar um sistema de gestão que necessite reconhecimento internacional, como é o caso das empresas de reboque do Rio de Janeiro que têm expressiva fatia do faturamento proveniente de trabalhos realizados para armadores estrangeiros.

O grupo Líder é tradicional no ramo de serviços portuários desde a sua criação em 1837. Dentre outros negócios, o grupo administra através da sua Divisão de Rebocadores duas empresas de reboque portuário, com uma frota de 50 rebocadores atuando nos principais portos brasileiros.

No Rio de Janeiro trabalham de 5 a 8 rebocadores, conforme a demanda.

A Divisão de Rebocadores do Grupo Líder possui um sistema de gestão pela qualidade ISO 9001, tendo em sua política da qualidade determinado como um dos objetivos permanentes o respeito ao meio ambiente. Desta forma, para dar conformidade ao que consta da política desta Divisão, foram elaboradas algumas instruções de trabalho e procedimentos operacionais relacionados ao assunto que constituem um SGA. A implantação de um SGA normatizado pela ISO 14001, poderá aproveitar o material existente, desenvolvendo-o e aperfeiçoando-o até para que possa atender satisfatoriamente aos requisitos da norma.

Deve ser ressaltado que o sistema de qualidade possui também algumas instruções e procedimentos relativos à segurança das tripulações. Desta forma, é oportuno que o sistema de gestão proposto seja integrado, contemplando os requisitos e os aspectos relacionados à qualidade, meio ambiente e segurança.

Com relação à segurança cabe comentar que quanto ao trabalhador portuário, a NR-29 tem se mostrado um instrumento de grande valia e os novos desenhos sistêmicos conseqüentes dos processos de privatização dos portos, acarretaram em possibilidades de estruturas mais atuantes e participativas em áreas como treinamento e segurança.

Quanto à segurança do trabalhador aquaviário, existem acordos e normas internacionais das quais o Brasil é signatário mas que, no entanto, foram internalizadas de forma insatisfatória pela nossa legislação. Diversos decretos e leis relativos ao assunto, não possuíam regulamentação, o que vem acarretando problemas de interpretação

e, consequentemente, descumprimento por parte das empresas. Porém a nova NR-30, específica para o ambiente aquaviário, deverá eliminar ou pelo menos minimizar este problema, uma vez que possui direcionamento voltado, exclusivamente, às particularidades do

trabalho a bordo de embarcações.

Desta forma o Sistema Integrado de Gestão proposto para a Divisão de Rebocadores do Grupo Líder deverá ser composto dos procedimentos e instruções do sistema da qualidade existente, com a incorporação de outras relativas ao meio ambiente baseadas na norma ISO 14001 e outras mais relativas à segurança, baseadas na NR-30.

O grupo Líder ocupa uma posição de liderança no segmento de rebocagem portuária. A construção e incorporação à frota de unidades mais modernas foi uma iniciativa pioneira do grupo, seguida posteriormente pelas demais empresas do setor.

Portanto, a implementação de SGAs na Divisão de Rebocadores poderá influenciar outras empresas a adotarem semelhante atitude, bem como poderá também servir de

parâmetro para os órgãos ambientais avaliarem outras empresas do apoio portuário, o que ocorrendo, contribuirá para a melhoria das condições ambientais na Baía de Guanabara.

Em função de limitações de recursos e ocorrências inesperadas não foi possível implementar a proposta de SGA resultante do presente trabalho no Grupo Líder. Assim sendo, a estruturação aqui concebida poderá ser aplicada para verificação da eficácia em futuros trabalhos, inclusive com a tentativa de Certificação.

Em diversos trechos desta dissertação, é citada a navegação de apoio marítimo, responsável pela atividade de apoio nas áreas petrolíferas marítimas, como parâmetro comparativo para a navegação de apoio portuário nas questões de meio ambiente e segurança. Porém, não foram encontrados trabalhos que pudessem comprovar as questões levantadas, como, por exemplo a influência da Petrobras, única contratante da atividade de apoio marítimo, para o desempenho ambiental verificado nas embarcações que operam nas atividade de apoio marítimo.

Como proposta de continuidade, um estudo que envolvesse as duas atividades, apoio marítimo e apoio portuário, poderia ser desenvolvido, com a criação de um modelo sistêmico único capaz de atender às embarcações ambos segmentos, facilitando, principalmente as empresas que possuem os dois tipo de embarcações e que poderiam se beneficiar da estrutura normalmente verificada no apoio marítimo para obtenção resultados ambientais mais satisfatórios na navegação de apoio portuário.

Quando do episódio do naufrágio do Rebocador “DRACO” , detalhadamente comentado no corpo deste trabalho, não houve qualquer ação integrada do porto com o armador da embarcação, embora o acidente pudesse afetar a operação normal do porto. Assim sendo, uma outra proposta de continuidade seria a estruturação de um sistema integrado rebocador-porto, incluindo planos de contingência conjuntos, tendo em vista que o rebocador pode ser considerado uma ferramenta do porto e os recursos empregados por ambos poderiam ser otimizados através do compartilhamento de equipamentos, treinamentos e ações. Alguns operadores portuários possuem sistema de gestão ambiental em vigor e a utilização de rebocadores como parte integrante de seus sistemas certamente traria enormes benefícios para ambos.

No documento NÃO FUME! (páginas 170-175)

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