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III. Especificação do modelo no pacote OpenMx (Neal et al., 2016)

5.3. Conclusões

O R dispõe de uma grande panóplia de ferramentas ao serviço da SEM. No presente capítulo, exploramos apenas as ferramentas diretamente relacionadas com especificação e o ajustamento do modelo. Muito mais pode ser feito com recurso ao R, nomeadamente a exploração e caracterização dos dados, como ilustrado, em parte, no capítulo 4 com a verificação de pressupostos, em particular a existência de dados omissos e respetivos padrões, a normalidade multivariada e a homogeneidade de variâncias e com as diferentes formas de implementar a metodologia na presença de dados omissos.

O tema da SEM é de tal forma abrangente e as ferramentas disponíveis são de tal forma completas que é impossível, num trabalho deste âmbito, explorar devidamente todos os aspetos. Muitos ficam por explorar e por exemplificar para além dos enunciados. Refira-se em especial os pacotes adequados para estudos de simulação como o simsem, que tem imensas potencialidades e o lavaan.survey que possibilita o desenvolvimento de estudos em projetos com planeamentos amostrais complexos, nomeadamente na área da Educação.

CAPÍTULO 6

CONSIDERAÇÕES FINAIS E PERSPETIVAS DE INVESTIGAÇÃO

FUTURA

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C

ONSIDERAÇÕES FINAIS E PERSPETIVAS DE INVESTIGAÇÃO FUTURA

Desde a introdução do método de análise de trajetórias por Wright (1918) que a SEM, como abordagem estatística, ganhou impulso e progrediu de forma constante nos últimos anos.

Nas últimas décadas, o poder computacional e estatístico cresceu e vários programas de

software foram desenvolvidos e provaram que a abordagem SEM é uma opção viável para

a investigação de redes complexas de relacionamentos, mas também para representar conceitos teóricos usando variáveis latentes, além de permitir lidar com um elevado volume de dados.

O desenvolvimento da SEM iniciou-se, no princípio do século XX, por duas vias. Uma, pela via da biometria, com a Análise de Caminhos (Path Analysis) e a modelação gráfica para implementar a análise causal de sistemas biológicos e que posteriormente se aplicou à Econometria e às Ciências Sociais, e outra através da Análise Fatorial que surgiu no âmbito da Psicologia e da Psicometria. Jöreskog (1973), entre outros, combinou estas duas vias, a análise fatorial e a modelação de equações simultâneas, numa abordagem analítica coerente – o modelo LISREL. Como referido a SEM tem-se desenvolvido numa abordagem que integra a tradução da teoria (Grace et al., 2010), a inferência causal (Pearl, 2012) e a especificação estatística (Lee, 2007) num único processo de modelação, levando a que, segundo Grace et a.l (2012), a prática da SEM englobe uma metodologia científica mais completa.

O desenvolvimento computacional impulsionou a conceção de métodos estatísticos para melhorar a qualidade da produção científica e a automatização da recolha e armazenamento de dados, potenciando um aumento dramático da complexidade dos modelos e dos métodos. A SEM não foi exceção. Beneficiou, por um lado, com o desenvolvimento de diversos softwares para a análise SEM, uns comerciais e outros livres, destes últimos a maioria disponível no software R e capazes de rivalizar com os comerciais. Por outro lado, por ser adequada para lidar com grandes volumes de dados, a metodologia foi objeto de desenvolvimentos e aplicações com complexidade crescente e numa vasta gama de domínios do conhecimento.

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No presente trabalho dá-se conta de uma grande diversidade de aplicações da metodologia SEM, com especial ênfase nas Ciências Naturais e Ciências da Vida, tendo como objetivo ilustrar a importância que a metodologia readquiriu na biometria, área que esteve na sua génese, após ter passado por um longo período em que os desenvolvimentos metodológicos e as aplicações tiveram o foco principal nas Ciências Sociais e Humanas e na Psicometria.

Os desenvolvimentos metodológicos da SEM foram impulsionados quer pela diversidade de áreas de aplicação quer pelo desenvolvimento da capacidade computacional. A diversidade de áreas de aplicação, por um lado coloca desafios para a especificação adequada de ideias teóricas em modelos de equações estruturais, e por outro potencia a pesquisa de ferramentas estatísticas e de modelos capazes de lidar com diversos tipos de dados amostrais e diversos tipos de planeamentos experimentais. Computadores eficientes no armazenamento e processamento de grandes conjuntos de informações disponíveis hoje pelas mais diversas vias, grande profusão de programas de análise de dados e bibliografia disponível, seja com aspetos teóricos e metodológicos da SEM, seja com estratégias e aplicações específicas ou ainda com descrição de softwares para aplicação da SEM, tornaram a SEM acessível a um maior número de investigadores e a uma maior diversidade de áreas de investigação.

A metodologia SEM tem tal vastidão que se estende a um nível de flexibilidade maior que o dos Modelos Lineares Generalizados (Kline, 2011), que se apresenta como um caso particular da SEM, e contempla ainda modelos não lineares, modelos hierárquicos (multinível) e abordagem Bayesiana, para além de outras especificidades dependentes da área de aplicação.

Não é possível entender a aplicação da SEM em abordagens mais avançadas, sem conhecer os conceitos chave e a formulação básica da metodologia, bem como os detalhes técnicos sobre a análise de dados, interpretação e relatórios. Assim, foi feita uma revisão da SEM clássica, a SEM baseada na estrutura de covariâncias, que se tentou fosse o mais completa possível, tendo em conta as limitações deste tipo de trabalho e a dificuldade em sintetizar todos os detalhes, os cuidados e as questões práticas que há que ter na implementação da metodologia.

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Os dados reais dificilmente são completos. Por um ou outro motivo há dados omissos no conjunto de dados em análise. Uma das questões aqui tratada com mais cuidado foi a omissão de dados e a forma como o software lida com essa situação.

Considerando que a implementação da metodologia depende da utilização de software, uma vez que requer grandes amostras, esta é uma questão incontornável. Durante muito tempo, o software LISREL foi o único disponível para implementar a SEM. Entretanto, deu-se a proliferação de softwares de implementação mais simples e que não exigem quase conhecimentos técnicos sobre a metodologia. No entanto, com exceção dos softwares em ambiente R, do Onyx e do JASP, todos os restantes são comerciais.

Dada a flexibilidade do ambiente R que permite o desenvolvimento integrado de cálculos estatísticos e gráficos e a enorme diversidade de ferramentas disponíveis para diferentes etapas da SEM, neste trabalho apresentou-se uma resenha dos pacotes que, de alguma forma, permitem implementar a SEM nas suas diferentes abordagens, de acordo com diferentes contextos, bem como implementar tarefas associadas, nomeadamente a verificação de pressupostos, as representações gráficas e o tratamento de dados omissos.

A SEM foi implementada com alguns exemplos e com diferentes pacotes.

Os resultados do programa PISA revelaram recentemente que em Portugal se tem feito um caminho muito positivo, nomeadamente nos resultados em Matemática. Para aprofundar o exemplo usado no capítulo 4, no tratamento de dados omissos, uma possível exploração futura consistirá na realização de estudos comparativos neste âmbito entre os resultados de 2003, 2012 e 2015, com recurso à metodologia SEM multinível e num estudo longitudinal. Poderá ser uma tarefa muito complexa, dada a também complexa estrutura das bases de dados, mas será certamente uma tarefa muito desafiante.

No âmbito dos processos de autoavaliação das escolas, a SEM oferece um sem número de possibilidades, seja no que se refere à avaliação da satisfação com serviços (administrativos e educativos), seja no que se refere ao sucesso escolar. Esta será também uma área de exploração futura.

O software R constituir-se-á num auxiliar precioso numa tarefa desta natureza.

A exploração da metodologia e do software R em áreas da saúde é um objetivo futuro, tendo em vista o desenvolvimento de competências noutras áreas para além da Educação, em conformidade com o percurso formativo que vem sendo desenvolvido.

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