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Estudo 2 Fontes de conhecimento percecionadas pelos treinadores de andebol da 1ª divisão de seniores masculinos em Portugal

III. Conclusões gerais

Conclusões gerais

O caminho que os treinadores de andebol percorrem em Portugal na aquisição de conhecimentos, pelas vozes daqueles que são considerados treinadores de sucesso, não é dissemelhante daquele que se encontra na literatura em geral. Cada treinador percorre um trajeto único, resultado das suas caraterísticas e experiências pessoais, adquirindo o conhecimento em resultado da combinação de uma grande variedade de situações de aprendizagem, onde se destacam as fontes de conhecimento diretas.

Face a esta evidência, o caráter prático do processo de construção do conhecimento ganha relevo, impondo-se a necessidade de refletir acerca da estruturação dos programas de formação atuais.

No que concerne às fontes de conhecimento mediadas, estas parecem não assumir um lugar de destaque nas perceções dos treinadores. Estes reconhecem que são fontes que contribuem para a construção do

conhecimento, mas o papel que ocupam parece ser exíguo

comparativamente às fontes de conhecimento diretas.

Reconhecida a importância das fontes de conhecimento diretas, importa também salientar as diferenças encontradas quando a análise contempla o fator temporal. Neste enquadramento, nos diferentes trajetos percorridos pelos treinadores, na sua jornada de aquisições de conhecimentos, emergiram duas faces subsequentes e indissociáveis do próprio processo. Na primeira, desenvolvida durante o percurso como atleta e primeiros anos de treinador, as influências são mais ou menos conscientes e os treinadores percecionam como elementos construtores do conhecimento a experiência como atleta, a influência de mentores e a interação com treinadores. Mais tarde, numa segunda fase, o treinador releva que assume uma posição mais ativa na reconstrução do seu conhecimento, procurando de forma intencional aumentar o seu reportório de ação, através da observação de treinadores, da observação de competições, da experiência como treinador e da pesquisa e investigação.

Face ao exposto, depreende-se que o treinador adquire muito do seu conhecimento numa fase inicial do seu percurso desportivo, designadamente

no papel de atleta e de treinador iniciante. Tal facto, coloca em destaque a importância dos contactos que se estabelecem nesta fase do processo de construção do conhecimento. Nesta fase inicial, muitos treinadores adquirem o seu conhecimento no contacto com os seus antigos treinadores, que acabam por assumir o papel de mentores pela relação de confiança e admiração que se estabelece. Não obstante essa mais-valia, esta admiração também pode revelar-se nefasta, porquanto pode condicionar a capacidade de reflexão acerca dos conhecimentos adquiridos (Cassidy, 2010). As aquisições são tidas como certas, formando-se uma zona de conforto para a atuação do treinador que, por sua vez, dificulta a reflexão e consequentemente a construção de novo conhecimento. É sabido que, enquanto alguns treinadores possuem anos de experiência analisada e refletida, atingindo um patamar de expert, outros, com o mesmo número de anos, a experiência não se reverte em novo conhecimento. Estes limitam-se a reproduzir os mesmos comportamentos vezes sem conta (Lynch e Mallett, 2006).

No sentido de combater a reprodução pouco refletida de comportamentos, importa realçar e transmitir a importância da atuação dos próprios treinadores, no seu contexto de treino, para a formação de novos treinadores. A promoção de boas práticas desportivas permite a aquisição de conhecimentos relevantes nos próprios atletas que poderão auxiliar uma futura atuação enquanto treinadores.

O mesmo se verifica na construção dos cursos de treinadores de níveis mais baixos e cursos académicos voltados para a área do treino. Neste âmbito é fundamental garantir uma formação inicial consistente para que todo o processo de construção do conhecimento seja mais rico e direcionado para o sucesso profissional. Para isso, é necessário construir cursos académicos e de treinadores que sejam capazes de transmitir conhecimentos valorizados pelos treinadores, atendendo às fontes de conhecimento que os treinadores referem como relevantes para a sua formação. Assim, parece ser importante incluir e reforçar a observação de treinadores e de competições e promover interações com treinadores e experiências como treinador, nos diferentes blocos e disciplinas das fontes de conhecimento mediadas.

Fica então subentendido que um dos ingredientes para a melhoria dos processos formativos e consequentemente do desempenho dos treinadores, poderá ser pelo revestir as fontes de conhecimento mediadas de um caráter mais direto.

Outro aspeto que importa sublinhar é a importância que a reflexão assume no processo de (re)construção do conhecimento, temática que carece de investimento ao nível da estrutura dos cursos académicos e de treinadores.

A fonte de conhecimento interna não assumiu o impacto esperado na construção do conhecimento dos treinadores de andebol em Portugal. Facto este que poderá ser um sinal de alerta para o sistema desportivo, no sentido da criação de cursos académicos e de treinadores que contemplem o desenvolvimento de diferentes técnicas de reflexão. Este posicionamento poderá ser uma aposta futura, de modo a dotar os treinadores portugueses de ferramentas que potenciem o desenvolvimento de experts e com isso garantir uma evolução sustentada e estruturada de todo o sistema desportivo: Só assim, será possível responder cabalmente às novas e renovadas exigências colocadas pela comercialização e profissionalização do desporto.

Limitações do estudo e sugestões para trabalhos futuros

A natureza dos dados obtidos coloca limitações que impedem generalizações e extrapolações para outras realidades. Contudo, o que se pretendeu foi detetar as perceções dos treinadores de uma realidade específica e com isso fornecer indicações relevantes para a construção de programas de formação adaptados às exigências que a prática coloca.

Nesse sentido, revela-se fundamental ultrapassar os modelos tradicionais do processo de ensino e aprendizagem para abraçar métodos mais interativos (Nash e Collins, 2006) que privilegiem a construção contextualizada do conhecimento, através da cooperação e debate entre treinadores. Desta forma, a aprendizagem adquire elevado significado para o treinador e favorece o desenvolvimento de técnicas de reflexão.

Paralelamente a esta ideia parece existir uma necessidade em acompanhar os treinadores ao longo do seu percurso profissional para que a aquisição de conhecimentos através da tentativa/erro não seja a única opção.

Importa ainda salientar que o estudo ao se reportar às perceções que os treinadores têm da construção do seu conhecimento não acede à estrutura cognitiva, pelo que não permite compreender como se processou a construção do conhecimento.

Para finalizar, emerge a necessidade de se procurar aprofundar o modo como se processa a construção e reconstrução do conhecimento na ação. Isto é, em contexto de treino e competição.

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