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8 Resultados desta Pesquisa

8.5 Conclusões Gerais

Apresenta-se, a seguir, sob forma de tópicos, as conclusões gerais dessa pesquisa em atendimento aos seus objetivos e em resposta à hipótese inicialmente levantada.

• No período de 1964/1965 até o início da década de 90, houve uma diminuição na utilização direta dos recursos naturais nas áreas das APP’s da BHRM, impulsionada principalmente pelos fatores econômicos. As evidências principais aparecem no setor 1.

• Utilizando-se as informações de Becker (2002) percebe-se que, no período situado entre a década de 90 e 2004, os níveis de utilização mantiveram-se semelhantes, mas com breve aumento da supressão de vegetação nativa arbustiva/arbórea, nas partes mais baixas da BHRM (setores 2 e 3). Provavelmente, não ocorreu redução de vegetação arbustiva/arbórea nativa no Setor 1, nesse período, pois esse setor é o que apresenta os melhores índices de conservação ambiental.

• A principal motivação que influenciou a regeneração da vegetação nativa arbustiva arbórea, nas APP’s da BHRM relacionadas com as áreas declivosas, no período dessa pesquisa, foi os fatores econômicos desfavoráveis aos cultivos de coivara nas encostas (Setor 1). Porém, a partir de meados dos anos 90, percebe-se, complementarmente e com menos força, a influência da legislação ambiental inibindo a ampliação dos usos agropecuários tradicionais (especialmente o manejo de coivara, com uso do fogo) nestas áreas, em função da maior presença da fiscalização e controle ambientais, inclusive com a criação e aparelhamento das policias Ambientais (a PATRAM foi criada em 1993/1994). Dentro das leis mais presentes nas notificações (do acervo da

PATRAM) as leis mais presentes nesses documentos estão relacionadas com a Mata Atlântica (Decreto Federal Nº 750/93), Código Florestal do RS (9.519/92) e Lei de Crimes Ambientais (Lei Federal Nº 9.605/99). Nesse acervo é pouco presente, enquadramentos legais relacionados com APP’s. • Portanto, no Setor 1, foram registradas as maiores alterações nos usos dos

recursos naturais das APP’s no período dessa pesquisa. Houve significativo aumento da vegetação arbustiva arbórea nativa no setor 1, especialmente nas APP’s relacionadas com “áreas declivosas” e demais áreas de difícil acesso. Portanto, a preservação nesse setor é pouco influenciada pela força da lei ou consciência ambiental, e sim pelos limites físicos dos terrenos, e da baixa rentabilidade do cultivos nessas áreas. A maioria (05) dos informantes (83,3%) desse setor manifestou possuir algum conhecimento das leis ambientais, não discernindo porém, os itens relacionados com as APP’s. A REBIO da Serra Geral aparece como desconhecida ou insignificante para a maioria dos entrevistados.

• A Média dos rendimentos líquidos anuais do setor 1 variou entre R$ 1.000,00 e 7.500,00, e, o valor médio do hectare (ha) das propriedades abordadas variou entre R$ 600,00 e 1.200,00. A média de área utilizada (SU) nas propriedades dos informantes desse setor variou de 1,5 a 10 hectares, representando entre 5 e 55% dessas propriedades, com uso médio de 29,3%. • Nos setor 2 e 3, porém, rendimentos líquidos anuais variaram entre R$

19.200,00 e 133.400,00, e o valor médio do hectare (ha) dessas propriedades variou entre R$ 6.000,00 e 22.000,00. A média de área utilizada (SU) nas propriedades dos informantes desses setores, variou de 5 a 65 hectares, representando entre 20 e 100% dessas propriedades, com uso médio de 50,6% no setor 2 e de 93% no setor 3.

• Os setores 2 e 3 registraram grande similaridade de aspectos socioeconômicos incluindo o acesso à assistência técnica, sistema de produção e modos de utilização dos recursos ambientais nas APP’s, percepções sobre legislação ambiental e a pequena influência da legislação ambiental (principalmente relacionada com a inibição do uso do fogo) na utilização dos recursos naturais,bem como a ausência de manejos tradicionais de cultivo.

• Percebe-se no Setor 3, que além de não respeitar as APP’s localizadas ás margens do rio Maquiné (onde a maior parte dessa faixa possui 100 metros de largura, chegando a 200 metros na foz), as propriedades utilizam em média 93% de sua área total, não respeitando os 20% de Reserva Legal (ARL), previstos na legislação ambiental de 1964.

• Nos próprios registros do acervo da PATRAM Litoral Norte, constata-se que a fiscalização é mais presente no Setor 1 do que nos demais setores da BHRM. Esse fato reflete uma forte contradição na interpretação e aplicação da mesma lei, em situações sutilmente diferentes. Em primeiro lugar o fogo é mais “observado” em pequenas propriedades, próximas de atrativos turísticos, onde é mais “fácil identificar e localizar”, do que em grandes propriedades, como os campos do planalto, onde circulam menos visitantes, porém todo ano, na mesma época, ocorrem queimadas sob a incipiente vistoria Policias Ambientais. Embora a legislação ambiental brasileira ofereça suporte normativo suficiente para fiscalizações e autuações relacionadas ao impedimento da regeneração da vegetação nativa em APP’s (artigos: 38, 39 e 40 da Lei de Crimes Ambientais – 9985/98 e DF 3179/99), esta modalidade de infração não foi registrada. Comumente a PATRAM, IBAMA e FEPAM e DEFAP são mais vigilantes frente à implantação de novas áreas com retirada de vegetação (mesmo que dentro de técnicas de manejo), do que frente à manutenção das baixas taxas de vegetação da faixa ciliar dos rios. Na BHRM, o exemplo característico é o avanço gradual na degeneração da faixa ciliar do Setor 3 (foz do rio Maquiné) para os plantios de arroz e manejo do gado, bem como, o permanente impedimento de restauração da vegetação ripária no Setor 2 (médio vale). No entanto, os três casos citados nesse parágrafo são enquadrados no mesmo artigo da Lei de Crimes Ambientais (artigo 38 da Lei 9.605/98), que subsidia essas Instituições a tomar medidas administrativas inibindo essa “irracionalidade da Lei”, evitando a permanência desses danos ambientais.

• Embora os biocidas e fertilizantes utilizados na média e “moderna propriedade” dos setores 2 e 3, não sejam tão visíveis quanto o arcaico uso do fogo da pequena propriedade do Setor 1, seus danos são mais intensos e mais perversos sobre as Áreas de Preservação Permanente da BHRM, e

deveriam ser melhor percebidos pelos órgãos de proteção e controle ambientais. Com bom senso, mas com firmeza.

• Percebe-se que os órgãos governamentais responsáveis pela extensão rural (EMATER/RS) não estão atentos às demandas da agricultura familiar e a difusão de alternativas sustentáveis de manejo agroflorestal, compatíveis com a legislação vigente (especialmente no Setor 1), dedicando maior atenção ao apoio e difusão das tecnologias relacionadas com o sistema de produção moderno presentes nos setores 2 e 3. Constata-se, uma maior “modernização” (GERHARDT et al., 2000-B) do sistema de produção nesses dois setores, com baixíssima presença de cultivos tradicionais. Envolvem equipamentos de irrigação (e grande consumo de água), uso intensivo de mecanização, de defensivos agrícolas (fertilizantes, herbicidas e inseticidas), e exposição do solo (com até três cultivos anuais em algumas áreas).

• Dentro dessa mesma “racionalidade”, percebe-se que os órgãos governamentais relacionados ao licenciamento (SEMA-RS) e controle ambientais (PATRAM, FEPAM e IBAMA) ainda estão desconectados da sociedade civil organizada vinculada à pesquisa agrícola (FEPAGRO’s e Universidades), e Ong´s ambientalistas. Outrossim, registra-se que recentemente os projetos: Samambaia-preta (ANAMA – DESMA), Ecoturismo (ANAMA) e AgroCulturas (ANAMA – DESMA e Parceiros) estão promovendo o inicio desse diálogo institucional, sendo o primeiro pioneiro dessa conjuntura histórica.

• É possível concluir que os fatores econômicos exerceram a principal influência sobre a evolução do uso dos recursos naturais na BHRM, especialmente no Setor 1, e que a legislação ambiental expressou-se como fator secundário nesta conjuntura, inibindo alguns tipos de manejos (uso do fogo, por exemplo) com presença marcante nesse cenário a partir da década de 90.

• No setor 1 ocorreu a maior diferença de usos no período estudado, aumentando (positivamente) os índices de conservação ambiental, pela diminuição dos cultivos, especialmente nas áreas declivosas. Nos setores 2 e 3, não ocorreram alterações significativas, mantendo os altos níveis de ocupação antrópica das APP’s, e baixos índices de conservação ambiental, ocorrendo inclusive, um ligeiro aumento (17,13%) dos usos agropecuários nas

APP’s do Setor 3, representado pelos cultivos de arroz e hortaliças, em substituição parcial dos campos e vegetação nativa. A utilização por pastagens é o uso principal atual (67,72%), porém a rizicultura e a olericultura são os usos que apresentam os crescimentos mais significativos.

• O Uso Social em APP’s apresentou índices gerais de pouca expressividade, porém no Setor 1 aumentou de 0,12 Km2 em 1964/65 para 0,31 Km2 2004, demonstrando incremento de 258,3% no período estudado, provavelmente relacionado com a evasão dos agricultores residentes nos fundos dos vales em busca de moradias mais próximas dos serviços sociais (saúde, educação e transporte). O núcleo urbano que apresentou maior degradação da vegetação nativa em APP, substituindo-a por habitações, foi Barra do Ouro. • Percebe-se também a necessidade de integração entre os órgãos de pesquisa

e extensão rural, e os órgãos de fiscalização e controle ambientais. Um exemplo positivo a ser citado é o caso da samambaia-preta (ANAMA – DESMA), cujo manejo está em fase final de licenciamento ambiental, apoiado em pesquisas cientificas e parceria com o DEFAP/SEMA-RS.

Embora tenhamos analisado alguns aspectos quantitativos e qualitativos do uso dos recursos naturais nas APP’s da BHRM nos dois períodos estudados, cabe aqui um importante discernimento sobre os principais tipos de impactos associados ao modo de produção de cada período.

No período de 1964/65, preliminar à implantação da legislação ambiental brasileira, a tecnologia do pousio e coivara eram dominantes, ou seja, maiores áreas eram utilizadas para usos agropecuários, porém havia o descanso do solo por alguns anos e a consequente regeneração do solo, através do aporte local de insumos endógenos ao Geossistema da BHRM. De fato, as queimadas disponibilizam dióxido de carbono (CO2), e outros gases stufa, elevando os níveis globais de temperatura, bem como, altera temporariamente a estrutura e a fisiologia da camada superficial dos solos locais.

No período sub-atual (2004), após a implantação das leis ambientais, o uso fogo é proibido e suprimir vegetação em APP é ilegal e criminoso (BRASIL, 1998) e percebe-se que as áreas destinadas para os usos agropecuários são menores que

outrora, porém sua utilização é permanente (sem descanso para a regeneração natural do solo) e muito intensa, com altíssimo percentual de insumos exógenos ao sistema natural. Nesse período (2004), o principal tipo de impacto é relacionado com o excesso de insumos (adubo, uréia, fertilizantes e biocidas animais e vegetais) e sua toxidade, que juntamente com o carreamento do solo dessas áreas, diminui de forma quase permanente, a qualidade dos mananciais dessas APP’s, afetando todo Geossistema.

Por fim, registra-se que os setores dessa pesquisa tiveram diferentes evoluções na organização dos usos dos recursos naturais nas APP’s, confirmando parcialmente a Hipótese de Trabalho dessa pesquisa, pois embora os usos desses recursos nos setores 2 e 3 fossem influenciados de forma diferenciada em relação ao setor 1 (Nascentes) pela legislação ambiental, esta não foi o principal aspecto conjuntural que motivou tal diferenciação na utilização desses recursos.

Outrossim, foram os fatores econômicos as principais motivações que originaram tais influências diferenciadas nos setores dessa pesquisa. Durante os anos 70 e 80, ocorreram significativas migrações de moradores das áreas rurais da BHRM, para centros urbanos da região metropolitana de Porto Alegre. Em conseqüência dessa diminuição da oferta de mão-de-obra (familiar), houve significativa diminuição dos cultivos localizados nas áreas declivosas, permanecendo ativos apenas os cultivos situados nas proximidades das residências (em relevo menos acentuado). As principais motivações dessa migração foram: a busca por melhores rendimentos (pois os preços médios praticados pela agricultura no período citado eram relativamente baixos), e, melhores condições de saúde, educação e transporte.

Nesse cenário, a legislação ambiental atuou como fator secundário, auxiliando na manutenção da ocupação espacial estabelecida nos últimos dez anos. Portanto, apesar da conscientização ecológica estar em ascensão nos últimos vinte anos, não é o único fator de transformação da paisagem no sentido da busca de uma sustentabilidade ambiental.

Por, outro lado, entende-se que a criação e aplicação da legislação ambiental, gerando regramentos e limitações ao uso inadequado dos elementos

naturais da paisagem, tende a influenciar o manejo sustentável dessas áreas no médio e longo prazo.

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