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6. Conclusões

Ao culminar este trabalho, torna-se pertinente mencionar os aspectos que nele sobressaem. Deste modo, serão apresentadas as conclusões que dimanam da análise do discurso dos atletas por nós entrevistados.

Jogador:

 Para alguns dos nossos entrevistados as qualidades individuais são insuficientes para atingir a excelência.

 A fragilidade mental do jogador impõe vários entraves mentais que não deixam o jogador evoluir. Esta fragilidade mental faz, também, com que o jogador tenha grandes dificuldades para ultrapassar os seus problemas.

 Outro factor que prejudica o desenvolvimento pode ser a estagnação da evolução do jogador, isto é, um jogador que se destaca durante a sua formação pode chegar aos seniores e deixar de se destacar. A formação de um jogador é um processo de longo prazo, o que dificulta a previsão do seu futuro.

Família:

 A falta de apoio familiar prejudica a estabilidade emocional do jogador, principalmente nos momentos maus, já que são estes os instantes em que o jogador mais precisa de ser apoiado pelas pessoas que lhe são próximas.

 Quando o praticante não atinge os resultados esperados surge uma descrença familiar (a qual gera uma grande pressão sobre o jogador).

Pares:

 A qualidade exigida pelas equipas e o grande número de praticantes a quererem chegar ao topo fomenta a concorrência desmedida entre jogadores.

 A competição excessiva não é só entre os jogadores da mesma equipa, existindo também uma grande agressividade por parte dos adversários.

Clube:

 Geralmente, quanto melhor for a equipa maior será o grau de exigência, o que pode provocar no praticante um grande desgaste.

 Em muitas das decisões que os clubes têm parece que o valor do praticante não tem muito significado, principalmente quando se estipula uma idade como referência nas escolhas do clube.

 A entrada dos jogadores nos clubes também é limitada pela preferência no jogador estrangeiro. As equipas nacionais apostam pouco nos jogadores portugueses, mesmo que a qualidade do estrangeiro seja questionável.

 Além do mau acompanhamento, existem também as decisões erradas do clube na escolha das bases de formação do jogador. Estas decisões erradas são geradas pela vontade exacerbada do clube em atingir resultados imediatos.

 Outro erro grave e muito comum é a intenção do clube promover rapidamente o jogador. Isto acontece quando as pessoas que gerem uma equipa procuram formar o jogador à pressa.

 A falta de qualidade da equipa também pode pesar no crescimento do praticante. Para um jogador de uma equipa de dimensão reduzida é mais difícil chegar a excelência.

 Às vezes os interesses económicos do clube são colocados à frente do jogador. As pessoas que gerem o clube podem colocar ou retirar um jogador da equipa (conforme a conveniência da instituição).

Treinador:

 Muitos jogadores não têm oportunidades para jogar porque não aparece alguém que aposte neles. Grande parte dos treinadores tem medo de arriscar em jogadores jovens.

 Há ainda um défice de formação de treinadores muito significativo, principalmente na área da psicologia. A falta de formação faz com que os conhecimentos dos treinadores sejam incompletos.

 Uma característica comum nos treinadores com falta de formação é o excesso de rigidez, o que faz com que o treinador se transforme num líder negativo.

 Hoje em dia podemos constatar, através da pressão do treinador no jogador jovem, que cada vez mais cedo o praticante é submetido a uma tensão muito grande para conseguir a vitória imediata.

Dirigente:

 A falta de formação estende-se, ainda em maior grau, aos dirigentes. Isto acontece porque não há formação específica para ser dirigente de futebol. Grande parte dos dirigentes não é profissional (têm outras ocupações laborais), o que diminui o tempo que têm disponível para resolver as questões de que estão incumbidos.

 Outra lacuna neste meio é a falta de conhecimento do dirigente sobre a realidade no futebol. (muitos deles nem praticaram desporto). Este desconhecimento faz com que o dirigente possa ser menos sensível às necessidades do jogador.

Empresário:

 Num meio como o do futebol, onde o acompanhamento é fundamental, a falta de empresário acaba por ser uma lacuna que prejudica a projecção do jogador.

 O jogador também pode ser prejudicado pelo mau acompanhamento do empresário (incompetência), principalmente nos momentos em que precisa de sair de uma situação menos favorável.

Exigências da carreira de jogador:

 As imposições que o jogador jovem tem que cumprir fazem com que este tenha cada vez menos contacto com os pais.

 O querer atingir a excelência leva o praticante a abdicar da juventude. O futebolista vê-se privado de muitas coisas já que deve ter um comportamento muito controlado.

 O abandono escolar é muito comum entre os jogadores de futebol. Isto porque a atenção que o praticante emprega no futebol pode gerar um afastamento da escola.

 Essa aplicação do jogador no futebol, também, pode levar a impossibilidade de praticar outra modalidade durante a formação, isto é, o praticante tem que se focalizar numa só modalidade.

Transição de júnior para sénior:

 O aumento da concorrência entre jogadores na transição de júnior para sénior é um acontecimento inevitável. Isto porque nos seniores não existe uma limitação etária, o que faz aumentar o número de opções para o treinador.

 A qualidade elevada da equipa na transição de júnior para sénior dificulta a entrada de um jogador jovem num clube grande.

 A falta de experiência do jogador na transição de júnior para sénior também é um entrave muito grande na sua afirmação neste novo escalão. O praticante jovem vai estar sempre em desvantagem porque tem menos experiência.

 Esta transição de júnior para sénior é um momento decisivo na afirmação do jogador. Se o jogador não se consegue afirmar nesta fase de transição muito dificilmente irá conseguir atingir a excelência.

 O facto do jogador não se conseguir adaptar a uma nova realidade advém da falta de acompanhamento na transição de júnior para sénior. Nesta fase tão delicada é de extrema importância uma orientação adequada.

Sorte:

 A falta de sorte em decisões pessoais é uma das causas para o jogador não atingir o topo. Principalmente quando este prefere ficar na sua equipa, em vez de ir para um clube melhor.

 Quando um praticante termina a sua carreira sem nunca ter sido detectado por algum responsável do meio futebolístico podemos dizer que teve falta de sorte ao não ser descoberto.

 Para ser escolhido, o jogador tem que ter a sorte do treinador gostar das suas características, e consequentemente encaixar nas suas ideias de jogo.

 Além de não jogar por opção do treinador, o praticante também pode ficar sem competir por alguma limitação física. Isto pode ser considerado como falta de sorte ao contrair uma lesão.

Lesão:

 Foram vários tipos de lesão grave que prejudicaram o desenvolvimento dos nossos entrevistados.

 Devido a grande exigência que existe no futebol, o jogador tem que recuperar o mais rapidamente possível (estar apto para jogar), isto faz com que seja alvo de tratamentos indevidos.

 Uma das consequências da lesão grave é o impedimento de treinar e competir durante muito tempo. Esta paragem prolongada pode impossibilitar o jogador de dar o seu contributo durante vários jogos.

Meios de comunicação:

 Antigamente, os jogadores eram pouco divulgados porque havia falta de visibilidade nos meios de comunicação. Com esta falta de divulgação nos meios de comunicação o mediatismo do jogador era reduzido.

 Uma má prestação desportiva dá origem às críticas dos meios de comunicação. Este tipo de projecção cria uma imagem negativa do praticante.

Árbitro:

 Os erros de arbitragem deixam uma imagem negativa do jogador (indisciplinado e violento). Esta marca negativa pode influenciar as decisões dos árbitros dos jogos em que o praticante participe, e assim os seus comportamentos, em jogo, estarão sempre condicionados pelo medo de ser expulso. O rótulo de jogador violento também pode inviabilizar uma eventual transferência para um clube de top.

Em suma, é de extrema importância salientar que este estudo, de natureza exploratória, não tem a intenção de encerrar um campo, ou simplesmente generalizar as conclusões obtidas. Espera sim, aumentar as dúvidas existentes acerca dos factores inibidores da excelência no futebol.