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5. DISCUSSÃO

5.10 Sorte

Ao longo da sua carreira, o jogador de futebol tem que fazer muitas escolhas, umas mais acertadas do que outras. O pior disto é que essas más escolhas contribuem para o fracasso do jogador

Alguns jogadores (principalmente aqueles que se destacam mais) vão tendo, com o decorrer do tempo, várias propostas para mudar para um clube melhor. Mas nos momentos de tomar esse tipo de decisões, o jogador não tem sorte naquilo que decide. Porque em vez de decidir mudar para um clube melhor, onde terá oportunidade para melhorar a sua carreira, ele prefere ficar

no mesmo clube.

Segundo o E8: ―Depois também tive uma ou duas oportunidades para ir para um clube melhor, mas acabaram por não suceder, por uma razão ou outra. Talvez foi nessa decisão que faltou a sorte, se tivesse ido já tinha sorte, como não fui não tive sorte‖.

Para ser descoberto o jogador tem que ter a sorte de estar lugar certo e no momento certo. Só desta maneira se consegue conciliar um bom jogo com a observação da pessoa certa. Porque um jogador pode fazer inúmeros jogos de qualidade, mas se nesses jogos não estiver a pessoa certa para observar o jogador, este não conseguirá melhorar a sua carreira. Esta situação também pode ser colocada ao contrário, um observador pode ir ver inúmeros jogos de um praticante, mas se esse praticante não conseguir fazer um bom jogo na presença do observador (sendo que o pode fazer antes ou depois do observador o ver) também não conseguirá melhorar a sua carreira.

Na perspectiva de E5: ―A sorte, a visibilidade no tal jogo‖.

Neste sentido, o E2 também indica que: ―É como em tudo na vida, em todas as profissões, há que ter aquela pontinha de sorte também, o momento certo, a altura certa‖.

Além de se conjugarem estes dois factores, também é importante que o jogador tenha a sorte de que esse observador aposte nele. Porque de nada serve ser visto, num bom jogo, por um observador se este não decidir apostar do praticante.

Tal facto é evidente nas palavras de E1: ―Eu posso ter muitas qualidades, mas tinha que ter sorte naquele momento, naquela determinada altura alguém ter olhado para mim e ter dito és tu quem eu escolho‖.

Neste sentido, o E8 também diz que: ―Quando falo em sorte refiro-me ao facto de num jogo qualquer estar na hora certa, na altura certa alguém que estivesse a ver o jogo e que gostasse, que apostasse‖.

Assim, qualidade só não chega. A sorte pode alterar o rumo de dois jogadores com a mesma qualidade. Por um lado, o jogador que tiver a sorte de ser observado no jogo certo tem grande probabilidade de melhorar a sua

carreira. Por outro lado, o jogador que não tiver essa sorte dificilmente o conseguirá.

Como conta o E4: ―Se calhar não tive a sorte que outros jogadores tiveram, ou seja, no jogo x ou y fazer um grande jogo e estarem as pessoas certas a ver o jogo‖.

Não basta ter o observador certo a ver o jogo. É fundamental que o praticante tenha a sorte de se destacar nesse jogo. Porque fazer um mau jogo quando a pessoa certa está a observar faz com que essa pessoa perca o interesse e não aposte em nós.

Segundo o E1: ―Joguei com muitos jogadores que têm tanta ou mais qualidade do que eu, mas se calhar naquele dia em que o seleccionador foi ver um jogo para fazer uma convocatória não lhes corria bem o jogo e a mim correu‖.

Esta falta de sorte ao ser observado num mau jogo pode fazer com que jogadores com muita qualidade vejam colegas ou simples conhecidos com menos qualidade, do que eles, a chegarem ao topo, enquanto eles não conseguem sair da mediocridade.

Além da sorte na altura certa para ser descoberto, o jogador também precisa de sorte para ter o treinador certo na altura certa. De nada vale ser descoberto se depois o jogador não tem a sorte do treinador apostar nele.

Na perspectiva de E5: ―Se calhar não apanhei o treinador certo, no momento certo‖.

O praticante tem que ter a sorte de que o treinador se enquadre com o seu momento, isto é, se enquadre com aquilo que ele precisa num determinado momento para atingir a excelência.

Há situações em que o praticante tem qualidade para jogar, mas por falta de sorte não é escolhido pelo treinador.

Tal facto é evidente nas palavras de E1: ―Não acho que seja difícil. Acho sim que se calhar há aqueles jogadores que poderiam ter um bocadinho mais de sorte nas escolhas do treinador‖.

Às vezes há jogadores que têm tudo para se afirmar numa equipa, mas só porque o treinador não gosta deles ou porque embirra com eles, não se conseguem afirmar.

Para ser escolhido pelo treinador, o jogador tem que ter a sorte das suas características se encaixarem naquilo que o treinador pretende para a equipa.

Como expõe o E5: ―Eu penso que é uma pessoa ter a sorte de encontrar a pessoa certa que veja qualidades onde elas existem, que nossas características encaixem no modelo de jogo desse treinador‖.

Em algumas situações há jogadores com muitas potencialidades para chegar ao topo, mas por não terem as características que o treinador deseja ou por terem as características que o treinador não quer não fazem parte das escolhas.

Também é muito importante ter a sorte de não sofrer uma lesão. Há jogadores que sofrem entradas violentíssimas dos adversários e não ficam lesionados, e depois há aqueles com menos sorte que com uma simples entrada de um adversário ficam logo lesionados.

Segundo o E1: ―Se tivesse tido a sorte de não me lesionar poderia ter tido outro percurso. Se não tivesse acontecido aquilo se calhar poderia ter atingido um patamar de excelência‖.

A falta de sorte ao contrair uma lesão pode alterar por completo o percurso do praticante.