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CONCLUSÕES

No documento NO PROCESO D E FA L ÊNCIA (páginas 67-71)

1. O constituinte de 1988 erigiu o Ministério Público a um elevado status constitucional, dedicando-lhe capítulo especial, desvencilhado dos demais Poderes do Estado e atribuindo-lhe um complexo de garantias e prerrogativas essenciais ao pleno desenvolvimento de suas funções com autonomia e independência. Estabelece o texto legal que o Ministério Público é instituição essencial à função jurisdicional do Estado encarregado da defesa dos interesses precípuos da sociedade, a saber: a ordem jurídica, o regime democrático, os direitos constitucionalmente assegurados, os interesses sociais e individuais indisponíveis, o patrimônio público e social, o meio ambiente, entre outros.

2. A principal função institucional do Ministério Público é tutelar as diferentes formas pelas quais o interesse público se manifesta. Destarte, compete aos seus membros resguardar desde os anseios sociais compartilhados por toda a coletividade até aqueles interesses individuais homogêneos que, embora restritivos, demandam certo clamor social. Relevante para o Parquet é o interesse público primário (o bem comum), o qual não se confunde com a vontade dos órgãos públicos (interesse público secundário).

3. No âmbito do processo civil, o Ministério Público poderá atuar como parte ou como fiscal da lei (custos legis). Como parte, cabem-lhe os mesmos poderes e ônus que competem às partes, ressalvadas a dispensa de recolhimento antecipado das custas processuais e a contagem de prazo em quádruplo para contestar e em dobro para apelar. Na função de custos legis, terá vista dos autos depois das partes, sendo intimado de todos os atos do processo e poderá juntar documentos e certidões, produzir prova em audiência e requerer medidas ou diligências necessárias ao descobrimento da verdade, poderá ainda interpor recurso, mesmo que a parte não o faça. A principal forma de intervenção ministerial na falência é como fiscal da lei, mas, em certas hipóteses, poderá funcionar como autor, a saber: proposição de impugnação de crédito, de ação rescisória de crédito admitido, de ação revocatória, de ação penal pública contra os crimes falimentares e interposição de recursos, entre outras.

4. A falência é uma situação fático-jurídica de insolvência do empresário ou da sociedade empresária que enseja a instauração do juízo concursal, a fim de arrecadar todo o patrimônio do devedor que será,

posteriormente, liquidado para satisfazer os credores, proporcionando tratamento igualitário e justo.

5. A falência é um instituto jurídico de elevado interesse público, ensejando a obrigatória intervenção do Ministério Público na defesa da ordem jurídica e das pretensões coletivas envolvidas. No âmbito do processo de quebra, é interesse de toda a coletividade a proteção dos consumidores e clientes do falido; o amparo aos trabalhadores e a manutenção dos postos de trabalhos gerados pela empresa; a fiscalização do patrimônio do falido; a efetivação da par conditio creditorium; a preservação da atividade empresarial e sua função social; o saneamento do meio empresarial com a eliminação do empresário ou sociedade empresária falida; e a repressão ao devedor desonesto mediante sanções penais.

6. Durante a vigência do Decreto-lei nº 7.661/45, a intervenção do Ministério Público no processo de liquidação era excessiva. Além das hipóteses de atuação obrigatória no âmbito da falência, a legislação também exigia a ingerência ministerial em todas as causas em que figurasse a massa falida. Esse regime jurídico prestava um desserviço ao juízo concursal, pois tornava o processo lento e dispendioso, além de sobrecarregar o promotor de justiça, prejudicando o exercício de suas funções. Ademais, o abuso burocrático e a demora processual embaraçavam o exercício do direito pelas partes e propiciavam a fraude. Esse sistema contrariava o interesse social, tornando impreterível a realização de mudanças.

7. A Lei nº 11.101/05 introduziu significativas mudanças na disciplina jurídica da intervenção ministerial no processo de falência, reduzindo consideravelmente as hipóteses em que é exigida. Essa evolução legislativa deveu- se, principalmente, ao veto presidencial ao art. 4º do Projeto de Lei aprovado pelo Congresso Nacional. No atual regime jurídico, a audiência do promotor de justiça não é necessária em todos os passos do processo, ademais, as causa em que a massa falida for parte prescindem, via de regra, da atividade ministerial. A nova legislação, por conseguinte, suprimiu as deficiências do antigo Decreto-lei nº 7.661/45, respeitando a Constituição Federal e a importância social do Ministério Público.

8. A Nova Lei de Falências impõe um mínimo de intervenção do promotor de justiça no juízo concursal. Para alguns atos, portanto, dada a relevância social que os envolve, o interesse público é presumido, exigindo a

atividade fiscalizatória do Parquet. Assim, assegura-se ao Ministério Público a interposição de impugnação contra a relação de credores, a fim de atacar créditos já satisfeitos, inexistentes, viciados ou excessivos; a propositura de ação rescisória de crédito admitido sempre que for descoberto falsidade, dolo, simulação, fraude, erro essencial ou documentos novos; a intimação sobre o relatório a respeito das causas e circunstâncias que conduziram à situação de falência que apontar a responsabilidade penal de qualquer dos envolvidos; a legitimidade para requerer a substituição do administrador judicial e dos membros do Comitê de Credores sempre que o interesse público assim exigir, seja por motivo de impedimento legal de que tomar ciência, ou por desídia, omissão, ou incompetência no exercício de suas funções, ou mesmo por qualquer atitude atentatória aos princípios consagrados pela legislação falimentar; a intimação da sentença que decretar a quebra, inclusive podendo interpor agravo; a prerrogativa de reclamar do falido informações sobre circunstâncias de interesse da falência e, em caso de instauração de procedimento administrativo, de expedir requisições aos sujeitos da falência; a proposição de ação revocatória contra atos praticados com a intenção de prejudicar credores (ineficácia subjetiva) e a legitimidade para interpelar ao juiz a ineficácia objetiva, a fim de preservar a integridade da massa falida; a intimação da alienação de bens do ativo da massa falida, sob pena de nulidade; a legitimidade para impugnar a alienação dos bens do ativo; a prerrogativa de impugnar as contas apresentadas pelo administrador judicial, apresentando parecer conclusivo aprovando-as ou não; e a titularidade exclusiva para a promoção da ação penal contra os crimes falimentares. Se não houver audiência do Ministério Público nas hipóteses em que a Lei de Falência avalia imprescindível, desde implique prejuízo para a massa, para as partes ou para o interesse social, o ato praticado será nulo, segundo o art. 84 do Código de Processo Civil.

9. Não obstante o veto do art. 4º da Lei de Falências, a atuação ministerial na falência não foi absolutamente suprimida. As normas da lei atual devem ser interpretadas conforme o ordenamento jurídico. Destarte, ao promotor de justiça assegura-se a possibilidade de uma atuação mais incisiva e minuciosa, tanto no juízo concursal como nos processos em que a massa falida figurar, a depender da relevância do interesse público e das circunstâncias que revestem a causa, cujo fundamento encontra respaldo nos princípios constitucionais que regem a instituição e nas regras gerais do Direito Processual Civil,

especialmente a do art. 82, inciso III. Nesses termos, segundo os art. 83, o representante do Ministério Público terá vista dos autos depois das partes, sendo intimado de todos os atos do processo e poderá juntar documentos e certidões, produzir prova em audiência e requerer medidas ou diligências necessárias ao descobrimento da verdade. Ademais, conforme o art. 499, § 2º, assim como nos processos em que é parte, goza de legitimidade para recorrer das decisões, mesmo que não haja recurso da parte, segundo entendimento do Superior Tribunal de Justiça positivado na súmula 99. A exemplo das hipóteses de audiência expressamente determinada por lei, a ausência de intimação do Parquet, enseja a nulidade do ato, uma vez comprovado o prejuízo.

10. Diante da exclusão constitucional da falência da competência da Justiça Federal, a legitimidade para intervir no juízo falimentar é do Ministério Público Estadual. Eventualmente, o Ministério Público do Trabalho e o Ministério Público Federal poderão funcionar, na qualidade de fiscal da lei, em prol do interesse público na falência. Este, na hipótese de recurso dirigido aos Tribunais Superiores; aquele, nas causas submetidas à jurisdição da Justiça do Trabalho.

No documento NO PROCESO D E FA L ÊNCIA (páginas 67-71)

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