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Durante muito tempo, o ensino de línguas fez-se quase exclusivamente com recurso aos textos literários - colocando o texto jornalístico num compartimento de menor importância e, consequentemente, deixando de explorar todas as suas potencialidades - conforme referimos na introdução deste Relatório/ Dissertação. Esta tendência alterou-se e, atualmente, os textos dos media assumem grande expressão nos Programas de Português e de Espanhol, bem como nos manuais de ambas as disciplinas.

Começámos a introdução deste Relatório sobre o nosso Projeto de Investigação-Ação colocando a seguinte questão: Poderá o tratamento da notícia na sala de aula constituir um elemento motivador da aprendizagem da competência narrativa dos alunos, nos aspetos referentes à coesão e coerência textual? Após todo o trabalho realizado, cabe--nos agora perceber se o mesmo conseguiu dar resposta a esta interrogação.

Identificámos na Diagnose Inicial os problemas mais frequentes de textualização no que se refere à coesão e coerência textual, nomeadamente a repetição frequente de léxico e de marcadores discursivos, os erros de pronominalização e de coesão temporal e ainda de incoerência do discurso. O somatório dessas incorreções identificou os problemas a que tentámos atalhar ao longo de todo um ano letivo. As sequências didáticas foram sempre elaboradas tendo em conta as dificuldades identificadas, utilizando a notícia como base de trabalho. A notícia, como vimos, contém características muito próprias que permitem o desenvolvimento, no aluno, de capacidades linguístico-discursivas.

A abordagem didática implementada – que concedeu especial ênfase a atividades com a notícia - para colmatar as dificuldades discursivas previamente diagnosticadas revelou efeitos positivos concretos, observados na progressiva diminuição de erros de coesão e coerência textual, conforme comprovámos na Diagnose Final, onde se registou um decréscimo significativo de desacertos.

Os resultados dessa Diagnose Final apontaram para uma clara melhoria na construção de enunciados mais coesos e coerentes. No final de todas as Unidades Didáticas lecionadas, os alunos eram já capazes de produzir enunciados menos repetitivos e com léxico mais rico, incluindo no seu vocabulário termos por eles desconhecidos no início do ano, utilizando assim vocábulos variados num campo lexical específico. O mesmo se verificou com os conectores discursivos, parâmetro no qual os alunos evoluíram, passando a empregar articuladores com funções diversas (comparação, concessão, condição, consequência,

89 intencionalidade, etc), o que até então não se verificava. Os discentes cometiam, ainda, menos erros de coesão temporal, passando, por exemplo, a interiorizar que o presente só pode acontecer quando o passado tiver acabado e que existe um passado mais remoto e um mais próximo da situação enunciativa. A nível da estrutura e da coerência do discurso foi também possível verificar progressos. Os alunos de LM e LE apresentavam discursos mais estruturados, ordenando os factos segundo uma lógica temporal ou de importância factual. A notícia resultou, por isso, como mediadora eficaz na competência discursiva dos alunos. Também avaliamos positivamente o cruzamento que efetuámos do conto com a notícia, porque pudemos trazer, com o conto, histórias mais atraentes para os alunos. E aluno motivado é aluno conquistado. Assim, depois de conquistado pelo conto, ficou mais disponível e recetivo a alguns exercícios de manipulação textual a que não corresponderia do mesmo modo sem este contexto.

A eficácia da utilização da notícia no processo de interiorização dos mecanismos que asseguram a coesão e a coerência textuais pode também observar-se nas respostas dos alunos aos questionários realizados, já que a maioria dos discentes confirma ter sentido progressos na expressão escrita e oral, sobretudo nos aspetos relacionados com a Coesão e a Coerência textual, nomeadamente no enriquecimento lexical, na objetividade, na estruturação correta de ideias…

Pelo atrás exposto, acreditamos convictamente que a estrutura da notícia, pela sua brevidade, concisão e completude informativa, é adequada para colmatar as dificuldades dos alunos na construção textual, levantadas na diagnose inicial. Além disso, foi notória ao longo do ano letivo a motivação demonstrada por parte dos alunos sempre que as atividades levadas a cabo na sala de aula tinham como base a notícia.

Claro que há ainda um longo caminho a percorrer. Muitas outras abordagens didáticas podem ainda ser implementadas, como esperamos que venha a acontecer ao longo da nossa carreira docente. O número reduzido e descontinuado de aulas efetivamente lecionadas num estágio pedagógico (dez para cada língua), aliado ao facto de se intervir no âmbito de uma turma que não nos pertence e em que cada um dos outros colegas estagiários também tentará desenvolver o seu projeto de investigação-ação, não permitiu um estudo mais exaustivo da nossa questão. No entanto, o que consideramos que ainda pode e deve ser feito não será esquecido. Tendo conseguido resultados positivos, gostaria de trabalhar noutro patamar de pesquisa, alargando a amostra e/ou utilizando as mesmas estratégias com outro tipo de textos, para além da notícia. Assim, seria possível verificar qual a tipologia mais eficaz para ajudar à construção de textos mais coesos e mais coerentes por parte dos alunos.

90 De facto, há questões que nos assaltam. Se não temos dúvidas de que estes resultados estão natural e diretamente relacionados com as características das turmas com que trabalhámos, perguntamo-nos às vezes qual será a curva de progressão atingida por alunos que trabalham com o texto jornalístico em comparação com a de alunos que trabalham os mesmos problemas com outras tipologias textuais. Estas interrogações e desafios poderão servir como motivação para um trabalho futuro. A formação de um professor não termina no final de um ciclo de estudos. Aprender faz também parte da arte de ensinar.

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