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No atual momento, ouve-se muito a respeito das grandes mudanças que o mundo tem sofrido, na questão tecnológica, econômica e social. Pensando nesse processo de evolução, que se revela constante, este trabalho se faz, quando busca conhecer como a mulher está vivendo, quais as mudanças que ela também tem sofrido diante de todas essas transformações. Retomamos nesse momento esses questionamentos, com o intuito de discutir a respeito dos mesmos.

Penso que conclusões definitivas não cabem neste trabalho, por se tratar de um recorte, a respeito de um assunto tão extenso que é o universo da mulher. Mulher esta, que hoje já não está confinada ao mundo privado de uma casa para cuidar, em companhia de filhos e marido para oferecer atenção e dedicação integral.

Buscou-se, portanto, entrar neste universo feminino com o intuito de conhecer quais os dinamismos psíquicos que estão envolvidos nesse processo de mudanças e como a mulher tem lidado com os mesmos, quando modernas e arcaicas formas de pensar coexistem, muitas vezes confundindo, gerando conflitos e ansiedades.

O que se observa é que a mulher, por estar sua vida atrelada à procriação, levou esta marca também, quando buscou sair do confinamento do lar, somente sendo “permitido” a ela, num primeiro momento atividades consideradas femininas, como parteira, professora,

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enfermeira, enfim, aquelas ligadas ao cuidado do outro, por ser vista como da “natureza da mulher” esta característica.

Mas, enfim, o que pôde ser encontrado quando caminhamos por histórias que foram contadas sob emoções, compartilhadas e vividas com sofrimento e prazer?

Observamos que a maternidade, o trabalho e o relacionamento afetivo são os três pilares que compõem e sustentam a mulher. Trata-se do universo feminino compartilhado por muitas mulheres até hoje, aquilo que as mantém de pé e que as estimula em suas caminhadas.

Quanto ao trabalho, observa-se que este, hoje, representa para algumas mulheres muito mais do que um complemento no orçamento familiar. É uma fonte de possibilidades para o crescimento pessoal, em que se valoriza o contato com outras pessoas e faz com que obtenham prazer, conhecimentos e amadurecimento, tornando-se uma fonte de equilíbrio. Ao encontrarem ressonância naquilo que fazem e do que vivem dentro do âmbito do trabalho, constroem um mundo interno produtivo.

Também pôde ser verificado o quanto a identificação com modelos diferentes de mulheres, no trabalho, faz com que elas possam aproveitar isso e mudarem também, no se cuidar e se perceber mais bonitas. Esse perceber-se mais bonita, entretanto, não se restringe a

questões estéticas somente, mas, à possibilidade de aumento de auto- estima e de valorização própria.

O trabalho, entretanto, também pode ser vivido mais como um meio de refúgio a angústias e dificuldades pessoais do que meio de crescimento. Pode ser entendido como uma forma de aumentar os rendimentos com o objetivo de obter uma melhora no nível social da família.

Em vista disso, podemos reconhecer o quanto o trabalho desempenha na vida da mulher funções importantes. As conquistas são muito maiores para sua vida pessoal e não se restringem a um salário apenas. Possivelmente, isso justifica em parte, a busca das mulheres por uma vida profissional, ou mesmo por um emprego em suas vidas.

Com relação à maternidade, mesmo após a conquista do controle da natalidade, quando a mulher já não se encontra mais sujeita aos acasos de seu sistema biológico, observamos que esta se mantém, para as mulheres com as quais trabalhamos, ainda como um ideal a ser buscado e fonte de realização pessoal. Em alguns casos, ainda se mantém a idéia da presença de um filho, como uma necessidade para um relacionamento, como forma de complementar a união de um casal, ou seja, a maternidade ainda sendo vista como fruto de um relacionamento que a princípio se baseia no amor. Com isso, a preocupação em não poder estar constantemente junto aos filhos, torna-se presente para a maioria delas, e às vezes, sentem-se culpadas por isso. Ao mesmo tempo

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em que se verificou a importância quanto a estar com os filhos, observa- se nelas a necessidade de ser requisitada por esses, de tê-los sempre perto delas como forma de preencher uma necessidade própria.

Constatamos que a capacidade de conter, de cuidar também é fundamental nessas mulheres, embora hoje cada vez mais tragam para si mais e mais funções, ou seja, o cuidado da casa, dos filhos, do trabalho fora e do próprio marido, tornando-se muitas vezes sobrecarregadas pelas mesmas. Este acúmulo de atividades pode estar relacionado com uma necessidade de controle pertinente a elas, mas também se observa que, quando as mulheres fazem esse movimento, possivelmente estão fazendo aquilo que os homens tenham deixado de fazer, ou seja, diante das mudanças que ocorreram, percebe-se que os homens não vieram ao encontro de soluções na mesma proporção que as mulheres – dessa forma restando à elas essa parte.

Mesmo assumindo muito mais funções, pode-se observar certa falta de confiança constante em si mesma. Às vezes, a mulher acaba se mantendo numa posição de submissão diante da figura masculina, por não acreditar que também pode encontrar força e potencialidades dentro de si mesma.

O ser mãe de seus próprios maridos, característica muito presente nas falas dessas mulheres, parece apresentar uma função dentro do relacionamento – o modo de impedir que a sexualidade se efetive. A figura da “mãe” afasta, então, as possibilidades que poderiam

ser vividas, mantendo a ordem e a constância do relacionamento. O cuidar passa a ser visto como forma de manter um relacionamento, mesmo que este não traga satisfação e crescimento pessoal, mas por uma necessidade de acreditar que somente assim poderá encontrar segurança. Tal postura, muitas vezes, acaba então refletindo uma necessidade própria e não do outro. Há necessidade de se manter o relacionamento, uma vez que se observa que a separação aparece como última possibilidade apresentada por essas mulheres como resolução das dificuldades encontradas.

Dessa forma, verificamos que, ao valorizar o relacionamento afetivo, ponto importante na vida dessas mulheres, pelo investimento, manutenção e constância, elas também esperam receber compreensão, companheirismo, carinho, enfim, viver a possibilidade de uma troca, ainda que nem sempre aconteça, mas que lutam e buscam para que isso se torne uma realidade em suas vidas.

Muitas conquistas realmente estão acontecendo no mundo feminino, com a mulher saindo de sua casa para trabalhar, assumindo novos papéis dentro da sociedade, enfim, ocupando um lugar antes e sempre designado ao homem. Constata-se que, mesmo com todas essas conquistas, a maternidade ainda se mantém como um ideal para a mulher, assim como foi um dia o trabalho fora do lar e a questão da posse e controle de sua sexualidade – o que hoje já pode estar ao seu alcance.

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Com isso podemos pensar o quanto a mulher traz em si um poder transformador, que lhe possibilita conquistar novos espaços em sua vida, trazendo para si e em si, a capacidade de um constante vir a ser, ainda que muitas vezes seja através do olhar dos outros que ela busca encontrar uma confirmação para que possa seguir em frente.

Não se pode tirar conclusões definitivas a respeito do universo feminino, mas podemos deixar espaço para uma ampliação de questionamentos, com a possibilidade de novos e importantes conhecimentos.

Esperamos que esta pesquisa possa estimular novos processos de reflexão a respeito de tema tão fascinante: a mulher.

No documento O retrato da mulher hoje: realidade e desejos (páginas 159-165)

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