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A MULHER ENQUANTO MULHER

“... a tendência da mulher hoje é crescer cada vez mais, só que ela tem que buscar e ter coragem também ...”

Marlene

Observamos até agora que a mulher se vê voltada a aspectos que a absorve o tempo todo, seja no trabalho, em casa, com filhos e com o seu companheiro. E ela, enquanto mulher, quanto aos cuidados de si mesma, de seu próprio bem-estar, como a mulher está vivendo este aspecto de sua vida?

Perceber e entender a forma como ela se cuida e se vê pode explicar sua forma de lidar e se relacionar com as pessoas e seu modo de encarar as dificuldades com as quais se depara.

Quando observamos o que Marlene fala de si, percebemos que ela se mostra sempre como uma mulher muito decidida naquilo que quer, posicionando-se e questionando sempre seu jeito, o que acontece com ela, mostrando-se sempre muito disponível para agir, para colaborar com os outros.

(...) “sou uma pessoa muito boa. Tudo o que é meu é dos outros, mas não mete comigo não, que hora que eu desço das tamancas ninguém pode ficar ( ..)”

(...) “eu tenho uma personalidade muito forte, eu não me deixo levar pelas pessoas (...)”

(...) “eu sou uma pessoa muito franca nas coisas que eu quero, não tem enrolação comigo não”.

“Acho que isso é muito importante, acho que abraçar a vida sempre e ir embora, não importa de que jeito”.

Essa mulher tão decidida e resolvida, surpreendente e contraditoriamente, apresenta um outro aspecto de si mesma, denotando certo conformismo em sua fala.

“Mas eu não reclamo das coisas, é, tudo pra mim tá bom, entendeu?”

Observamos que ao mesmo tempo, que coloca que tem como filosofia de vida abraçar a vida sempre e ir embora, também mostra um outro lado com o uso dessa expressão de conformismo, tudo pra mim tá bom, demonstrando certa impossibilidade de se permitir querer mais e mais em sua vida.

Com relação à ambivalência, podemos lembrar Freud: “Nas primeiras fases da vida erótica, a ambivalência é evidentemente a regra. Não poucas pessoas retêm esse traço arcaico durante toda sua vida” (1931, v.21, p.243).

Uma expressão de conformismo também pode ser verificada na fala de Glória, que busca sempre na comparação com os outros, uma forma de aceitar e lidar com suas próprias dificuldades.

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“Ah, tem muita gente sofrendo, passando fome, tendo, não tendo onde morar, onde dormir. Eu me conformo sabe, pensando nas pessoas que estão atrás, por trás, né, eu acho que eu tô muito bem. Em vista de outros, eu tô no céu, né”.

Esse conformismo se revela também com relação a si mesma, a partir do momento que começou seu namoro. Ela passou a responder ao que o seu namorado, que posteriormente veio a ser marido, queria, deixando de fazer aquilo que sempre foi importante para si mesma. A sua forma de se vestir, as amizades, o modo de enfrentar a vida, sonhos e expectativas de construção de futuro; enfim, seu modo de vida foi deixado de lado para passar a “ser” e satisfazer o desejo do outro.

“Olha, quando eu era solteira né, a minha vida era muito boa. Sabe, saía, passeava, viajava, ia pra todo lado, sabe, quando eu não tinha namorado. Aí, eu comecei a namorar o R. com18 anos. Aí acabou tudo aquilo pra mim. Então tudo o que eu vivi, acabou, eu não vivi mais, acabou, né. Mas eu falo, o que eu vivi até os meus 18 anos foi maravilhoso, sabe, aproveitei a minha vida, porque depois, era muita cobrança... Muita. É, muito assim, ah, não pode por roupa assim, não pode, sabe. Cobrança com roupa, com modos, sabe, então eu fui relaxando. Eu não passava uma sexta-feira sem fazer uma unha, arrumar o cabelo, hoje acabou, entendeu, eu fui me deixando um pouco de lado, a partir do namoro. Com o casamento foi assim, diminuindo, agora eu não sei falar o motivo disso, porque não sei”.

(...) “aos poucos, eu já não podia fazer mais, tipo, sempre gostei de roupa aberta, decotada, curta, tinha um corpo muito bonito. Acabou. Acabou, sabe, como aquele namoro que fica firme, que, cheio de cobrança, não pode fazer isso, não pode fazer aquilo, pára com isso, pára com aquilo, eu fui me deixando. Acabou”.

Num processo de anulação dos próprios valores e desejos, ela foi permitindo que a ideologia passada pela sociedade fizesse o seu estrago. Dentro do casamento em que acreditava encontrar a segurança e o companheirismo de um marido provedor, Glória, a jovem sonhadora e “moderna” acaba se revelando arcaica já que foi...

(...) “aceitando, aceitando e, o pior de tudo (...) até hoje mesmo, não uso roupa curta, né, isso foi acabando (...) não sei porque a gente deixa, né, as pessoas, ahhhh, como se diz, não mandar, né, mas, como se diz, não é manipular também, mas, ééé, pra não ter briga a gente aceita, entendeu (...) isso, pra não ter briga, coisas assim piores, então eu aceitava. Tudo bem, não vou fazer mais isso, vou parar com isso, tá certo parei (...) aí eu fui me fechando, acho que aquela vida que eu levava, aquela felicidade, aquelas coisas foi acabando, as amigas, né, minha turminha, acabou, aos poucos foi se acabando. Tanto que mesmo hoje, né, depois de casada, assim, não tenho amigos, assim, pessoas, né, (...) pode ser que seja só um, é (...) ter vindo de antes, de antigamente, desde a época de namoro, né. Então pra não ter contato assim com

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pessoas, que ele achava que não era bom, então aos poucos a gente, eu fui deixando as pessoas de lado, os amigos, né, sei lá, não sei por que”.

Vemos o quanto passa a se submeter somente aos desejos/imposições do marido, deixando para trás sua própria identidade, amigos, hábitos, costumes, valores, não levando mais em consideração seus próprios desejos, sempre na tentativa de manter a harmonia em seu relacionamento.

Mas até que ponto isso ocorre somente para agradar ao outro? Nesta fala, existe muito de sua própria necessidade. Quando ela passa a responder somente ao desejo do marido, também deixa de se responsabilizar por aquilo que deseja, tornando-se mais cômodo e tranqüilo para abrir mão de tudo que era e queria, mantendo essa posição projetiva sobre o marido.

Percebe que foi aceitando a situação, e sentindo-se incapaz de mudá-la, pois aceitar e ficar nessa posição dependente e infantil dentro da relação parece ter seus ganhos. Tal relação para se manter, necessitou que a mulher se submetesse ao poder masculino, anulando-se como pessoa, num processo de diminuição progressiva da auto-estima até lhe restar quase nada, pois:

Quando o amor e o desejo da mulher se libertam de seu aprisionamento narcísico e repressivo para corresponder aos do homem, parece que alguma coisa se esvazia no próprio ser da mulher” (KEHL, 1996, 27).

Sendo assim, será que ao chegar a este ponto o homem pode finalmente sentir que tem uma mulher à sua altura?

Segundo Freud, ao discorrer sobre o desenvolvimento sexual da mulher, mostra que a menina: (...) “reconhece o fato de sua castração, e, com ele, também a superioridade do homem e sua própria inferioridade, mas se rebela contra esse estado de coisas indesejável” (1931, v.21, 237).

O que se pode observar é que Glória não consegue se rebelar. Simplesmente coloca-se numa posição de aceitação desse estado, sentindo uma espécie de imposição de onde ela não consegue sair, em que fica impossibilitada de reconhecer suas próprias qualidades. Desta forma mantém-se numa posição de submissão diante da figura masculina, a qual certamente desempenhou em relação a seu próprio pai e, depois, apenas a transferiu para o marido. Passou do jugo de um senhor para o de outro, situação que nos remete a Nora em de Casa de Bonecas: “Quero dizer que das mãos de papai passei para as suas”. (Ibsen, 2000, 94).

Ou seja, ela permaneceu, dentro de seu relacionamento afetivo, respondendo ao que era esperado pelo marido, não se colocando, não se firmando em suas vontades e quereres.

Enquanto observamos o quanto Glória foi deixando de lado o que sempre fez, vemos que Marlene e Fátima caminharam num sentido oposto a este, buscando, através dos recursos que têm, seja no

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trabalho, seja nas dificuldades do relacionamento afetivo, meios para crescerem cada vez mais.

Marlene utiliza-se do trabalho como um fator de mudança positiva e nesse sentido, percebe-se ao tornar-se mais vaidosa e cuidar mais de si. Apesar de se considerar este um aspecto externo, o reflexo das mudanças em aspectos internos de sua personalidade, (ao se cuidar para poder se apresentar bem arrumada no seu trabalho) aumenta a sua auto-estima. Ao sentir-se ser bem e valorizada no ambiente de trabalho, essa satisfação de bem-estar torna-se suficiente para desejar estar igualmente bem noutras ocasiões.

“Quando eu era solteira não tinha muito, assim, eu gostava muito de ficar sempre vestida de camisa, não tinha esse negócio de blusinha. Depois, assim, eu mudei muito, sabe assim, principalmente depois que eu mudei também de profissão, então ele fica também meio, assim, sabe, bravo. Ele fala, você não era assim antes. Eu não tinha essa vaidade que eu tenho hoje, de estar assim, eu tô sempre bem arrumada. Eu não tinha vaidade, de usar perfume bom, hoje eu tenho perfume bom e não admito ficar sem ele (...) eu gosto muito de me arrumar, gosto muito de lingerie. Nossa! Sou apaixonada por lingerie (...) não ia em manicure, não ia em cabeleireira, agora eu vou toda semana”.

Neste caso a vaidade não lhe aparece como pecado, mas pode ser vivido como algo bom, que lhe proporciona bem-estar.

É este cuidado externo que ressalta e acentua a elevação da auto-estima mostrada por Fátima. Ela relata como se sentia em seu casamento e sobre as mudanças que foram acontecendo e do quanto isso foi importante para ela poder sentir-se melhor na vida. Ela retoma a questão de sua dúvida - se era ou não traída pelo marido e como isso se refletia sobre sua pessoa, de como se sentia como mulher.

“É uma dor muito forte que a gente sente aqui dentro, sabe? Em 1º lugar a gente se sente assim, que a gente não tem valor pra eles, assim, que não sei lá, não sei dizer como a gente se sente, que a gente deixa a desejar pra eles como mulher, né. Ou senão, a própria, eu me sinto assim, eu sempre me sentia assim, que ele não gostava de mim, que ele não gostava do meu jeito, da minha pessoa. Isso que eu sentia”.

“Então, eu sentia assim, que eu deixava a desejar, mas eu não sabia aonde que eu deixava a desejar, porque se todo mundo elogiava, falava que eu tinha um corpo bonito, que eu era bonita, que eu não merecia o que que tava passando, e eu me olhava no espelho, não me achava tanto assim, porque talvez ele me deixava pra baixo, porque eu não me sentia assim”.

Observamos que ela enfatiza a presença do corpo bonito, da beleza e da frustração de não conseguir impressionar e seduzir o marido. Coloca o que os outros apontavam para ela e não o que ela realmente sentia, pois não era assim que se via. Construíra uma auto-

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imagem negativa, portanto o que os outros falavam não tinha um sentido para ela.

Ela acabava, por isso, apresentando um movimento projetivo sobre o marido, quando na verdade não conseguia se sentir uma mulher com potencialidades, já que para ele poder ser o “dono” de tanta beleza parecia necessitar que ela não fosse tão bonita e interessante quanto outros lhe diziam ser.

Mesmo sendo através dos aspectos externos, vemos que ela inicia algumas mudanças. Percebe também que possivelmente essas mudanças tenham feito com que o marido também mudasse. Até mesmo estar ganhando melhor, além da ascensão social, passando de empregada doméstica a empregada de uma unidade hospitalar, aparece como item positivo para o seu fortalecimento, possibilitando-lhe segurança.

(...) “eu não sei também se foi o serviço no hospital, porque é assim, ele começou a melhorar também, depois que eu comecei a me arrumar mais. Aí eu já tinha o meu dinheiro, era muito mais do que trabalhar de doméstica, né”.

Inicialmente ela apresenta um movimento de mudança, entrando em confronto com o marido e depois passa a chamar sua atenção, mobilizando a auto-estima do marido que, ao se sentir melhor valoriza-a e possibilita-lhe um crescimento na realização pessoal.

“Eu comecei a me arrumar, comecei a pintar as unhas, ele não gostava que eu pintava as unhas de escuro, nem cortasse muito o cabelo. Eu comecei a fazer tudo o que ele não gostava, tudo, pintar a unha de vermelho. Ele olhou pra mim e falou a 1ª vez: Por que você está pintando essa unha de vermelho? Que coisa feia! Pra que, que você tá reclamando? A biscate (ri), a mulherzinha que me falaram que você tava com ela, pinta o cabelo e pinta as unhas, não é desse tipo de mulher que você gosta? Eu falei isso pra ele, né, eu falei pra ele, não é esse tipo de mulher que você gosta? Por que você tá me enchendo o saco, por que você tá me perguntando? E isso ele já tava até melhorando, melhorando, mas ele não queria sabe, ele tinha assim umas restrições de usar saia curta, essas coisas, ele tinha isso comigo. E eu comecei a ficar moderninha mesmo. Nem brinco eu usava, só usava pequeno, sabe? Eu comecei a comprar brincos grandes, eu só usava assim aquele brinquinho na orelha, assim anéis, tudo, ele começou a notar essa diferença. Então sei lá, eu acho que, será que foi isso que ajudou? Não sei.”

As restrições apontadas pelo marido ao seu aspecto externo apontam para a identificação de um estereótipo de “mulher fácil” e de mulher honesta. A mulher com quem esse marido era casado era honesta, própria para ficar em casa, cuidar das crianças e da casa. A mulher que pintava os cabelos, as unhas, usava brincos grandes e não era discreta apontava para a “biscate” de riso fácil com quem ele havia sido visto.

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Isto nos remete a um modo de pensar muito difundido no século XIX, em que, para se manter a mulher em seu papel de mãe era necessário que o erotismo não estivesse ali presente. Para prazer, era sugerida a figura da prostituta, que correspondia às necessidades do gozo masculino. Pois era necessário:

(...) produzir a figura da mãe pela extração sistemática da feminilidade do corpo da mulher, de forma a torna-la compatível com a função terna da maternidade. Em contrapartida, como decorrência da existência de naturezas femininas rebeldes, que se contrapunham à extração de sua sensualidade e de seu erotismo, impõe-se a construção da personagem prostituta (...) aquela que poderia oferecer ao macho a centelha de paixão e de erotismo que inexistiam no universo doméstico do lar (BIRMAN, 1999, 88).

Ao assumir que podia trabalhar e não ser apenas “doméstica”, que podia se arrumar, pintar o cabelo, as unhas, ser dona do próprio corpo e continuar a ser a mulher dele, a mãe dos filhos dele reivindicar também o papel de amante do marido, ela pôde crescer, tornar-se independente e desvincular o gozo e o prazer da prostituta, sem no entanto se dizer e perceber santa.

Se o confronto com o marido foi o 1º passo de mudança, logo em seguida aparece sua relação com as colegas de trabalho, com as quais ela passa a se espelhar e depois a se identificar, conhecendo novas possibilidades para si mesma, já que pode se sentir mulher, tal como elas.

“Era uma coisa assim, que eu via também minhas colegas do serviço tudo arrumadinha, bonitinha, então eu senti vontade de me

arrumar, né. E eu comecei a me sentir mais bonita, eu comecei a andar mais com a cabeça erguida, nariz empinado, né. Quer dizer, ele pode tá fazendo isso comigo, mas eu sou feliz. Eu pensava assim, eu vou me arrumar, hoje eu vou cuidar de mim, pensava assim comigo e me sentia super bem, tanto é que hoje eu só não me arrumo mais porque eu não posso, porque senão eu me arrumava mais. Muitas vezes eu até me arrumo pra ele, sabe. Ele chega no sábado eu tô arrumada, tiro sombrancelhas, pinto as unhas, tudo. Me arrumo pra ele, pra sentir bem, e pelo jeito parece que homem gosta de ver a gente arrumadinha”.

Ela pode se sentir e ser mulher, correlacionando a idéia da relação entre o se cuidar e sentir-se bem e a importância disso para o relacionamento, já que pode passar a desempenhar um papel mais ativo na relação sexual.

“Ah, eu acho que as mulheres têm que se cuidar, né, pra pode se senti bem, não é? Si mesmo, pra gente se senti bem, olhar, a gente tem que se arrumar, porque a gente se sente bonita (...) eu procuro me arrumar, até procuro fazer um regiminho de vez em quando, porque de vez em quando a gente começa a ganha um pesinho, né, toma uma cervejinha, essas coisas, né. Eu acho que a gente se sente bem, a mulher tem mesmo que se cuidar, não só pra agradar o homem, mas pra se agradar a si mesma, eu acho”.

Depois de poder ser mulher para o seu homem, Fátima pôde vir a ser uma mulher de bem consigo mesma.

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Essa questão do cuidado de si mesma, da preocupação em estar bem arrumada, de arranjar tempo para si, também aparece na fala de Isabel.

(...) “eu tento me cuidar, eu não gosto de me ver mal arrumada, eu quero sempre ta com a unha feita, o cabelo arrumado. Eu não gosto de ficar mal arrumada, sempre um espaço eu arranjo. Gosto de roupa nova, gosto também, gosto de me arrumar também, não gosto também de andar de qualquer jeito, né, e uma que o meu marido fala, 1º é a mulher e os filhos, depois eu, então ele fala, compra roupa pra você, pros filhos e depois pra mim (...) eu sempre gostei de roupa nova, sapato novo, quem é que não gosta, né? Eu não consigo ficar sem fazer a minha unha, eu faço, eu acho um tempinho pra mim, entendeu? Pra eu me arrumar, porque isso faz bem pra gente, né, pro ego da gente, se você anda que nem uma maltrapilha aí, o que é que vão falar? Ó aquele homem lá, deixa a mulher trabalhar que nem uma condenada e anda mal arrumada, daquele jeito, né, mas não é isso, eu acho assim, é pra mim. Porque eu gosto de ficar bem arrumada, os meus filhos bem arrumados e o meu marido também, não deixo ele também de qualquer jeito não, senão vão falar que eu não cuido dele, né?”

Isabel, apesar de buscar uma maior autonomia, ainda se atrela à autorização do marido, ainda é ele que detém o poder, que pode vetar o seu potencial de mulher, ainda é o seu dono. Isabel sente-se

valorizada e mostra a importância que ele lhe dá ao se cuidar, o que não observamos nas outras mulheres entrevistadas.

Observamos que, além da possibilidade de mudança no aspecto externo, a relação com o companheiro faz com que elas possam também desejar mudanças para si.

Este é o caso de Fátima, que reconhece que o contato com as colegas de trabalho lhe proporcionou melhores condições para lidar com as dificuldades no relacionamento com o marido, ou seja, buscou se fortalecer no exemplo que suas colegas falavam ou traziam como relato de suas próprias vidas.

(...) “mesmo com as discussões, eu já tinha outra cabeça, porque eu trabalhava no hospital, conversava muito com o pessoal. Eu já tinha outra cabeça, né. Aí eu não interessava mais, eu não brigava mais, eu já não sofria muito pelo que o marido tava fazendo ou deixava de fazer”.

(...) “as amigas falavam assim, ai Fátima, a vida é assim mesmo. Meu marido também é. Às vezes falavam do marido, que o marido tinha problema assim também como o meu marido, e que homem, a maioria deixa mesmo a desejar pra gente, tem muito marido que não ajuda a cuida dos filhos, né, que era assim (...) eu acho o que contribuiu bastante também é que você desabafava tudo, e nunca, e quando você encontrava nas pessoas também, que as pessoas falavam coisas pra te

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ajudar e não pra te colocar você mais pra baixo, então é onde isso

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