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Este estudo pretendeu trazer alguns contributos relativamente à forma de olhar para a relação possivelmente existente entre o processo RVCC, sua facilidade de execução, duração e apoio individual no estudo. Com efeito, em termos teóricos, foi possível encontrar alguns elementos que pareciam apontar para a existência de uma relação de facilidade de execução do processo RVCC, a localização física dos tempos lectivos, a proximidade do posto de trabalho e horário laboral e, de que modo tudo isso permitiu o desenvolvimento de práticas de cidadania.

De acordo com o suporte teórico deste estudo, a educação enquanto processo de conquista de direitos da cidadania plena deve ser edificada como direito à informação e ao conhecimento e como um processo contínuo, ao “longo de toda a vida”, no qual o aprender a aprender, o aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser, não seja mais um slogan, mas se efective por completo. A educação como direito também precisa de superar as dicotomias crónicas, entre as quais se destacam as relações quantidade versus qualidade e discurso versus prática.

A transversalidade e amplitude do tema deste trabalho criaram algumas dificuldades no que concerne à estruturação dos múltiplos aspectos que poderiam ser tratados. Temos consciência das nossas limitações, não lemos tudo, não ouvimos tudo, não captamos tudo, mas procuramos sempre o equilíbrio entre duas componentes: o maior rigor possível na mobilização da informação científica de que íamos dispondo e a percepção correcta do estudo empírico que nos proponhamos desenvolver.

É consensual a influência da educação sobre o desenvolvimento das pessoas e a sua importância no processo de mudança das sociedades. A educação de adultos é cada vez mais um desafio à promoção destes para a literacia da cidadania participativa.

Efectivamente, em relação aos dados analisados, pode-se afirmar que, para os sujeitos que constituíram a amostra desta investigação, a localização física da sala de aula em meio laboral e em horário de serviço, leva a supor uma relação positiva com a não frequência do ensino regular em regime nocturno.

O nosso sistema educativo organiza-se quase totalmente em redor da função de ensino: ensina-se noções que foram analisadas, demonstradas, reconhecidas; tem uma função de reprodução – mostra-se, repetem-se ideias, atitudes, comportamentos. Estes métodos de formação preconizam os valores de conformidade, de dependência, de

apatia, porque o lugar deixado às iniciativas, às interrogações ou à experimentação é quase nulo.

É no contexto espacial do nosso estudo – um meio hospitalar onde as oportunidades de emprego são pontuais, que se devem ver as nossas conclusões. Neste contexto e no que respeita às 4 áreas de Competências-Chave, o ensino assistido por computador (TIC) é um importante auxiliar de ensino. Apresenta, ainda, outros benefícios, em especial nas áreas afectivo-emocionais e sociais.

Relativamente aos problemas económicos explicitados remetemo-los para a questão da cidadania económica, que compreende a relação intrínseca entre trabalho e coesão social.

Outra constatação é que, estes sujeitos, que têm em comum o facto de terem desistido do ensino regular, e o de considerarem o acompanhamento pela profissional exemplar e mais motivador do que a sala de aula do ensino regular.

Deste modo a nossa abordagem reconhece a valorização do factor humano como a força endógena para o pleno exercício da cidadania. Através do nosso estudo podemos afirmar que, o pleno exercício de cidadania será tanto melhor apropriado e conseguido quanto melhor o sistema de educação e formação ajudar a implementar mecanismos e fornecer meios para que tal aconteça.

Constata-se que a formação facultada a estes adultos e por ter tratado aspectos sobre o desenvolvimento pessoal, a autoconfiança e qualificações de base, ajudou a que descobrissem os seus pontos fortes e as suas capacidades, com vista à transição ou progressão na carreira profissional. Forneceu-lhes alguns instrumentos que provavelmente proporcionarão transformações para o desenvolvimento na resolução dos problemas e permitiu consciencializá-los que possuem especiais competências comunicativas, que podem tornar-se um elemento de vanguarda para a inovação de novas praticas de cidadania.

Segundo a nossa abordagem, numa primeira fase os adultos precisam de formação que lhes permita desenvolver as suas ideias, identificar as suas competências e capacidades e aumentar a sua confiança. A formação tem que ser uma opção realista e exequível, mas também são necessários apoios e incentivos adequados.

Ao procurarmos a coerência entre os discursos encontramos a diversidade. Cada ser humano é único e individual e nessa individualidade realiza-se enquanto pessoa, torna-se autónomo e independente diferente de todos os outros.

Por isso, seria igualmente interessante, a partir da síntese dos dados obtidos e da formulação, a partir deles, de novos tópicos de pesquisa, caracterizar um outro grupo de sujeitos do mesmo local de trabalho (HDF), nomeadamente quanto à variável sexo, no que diz respeito ao desenvolvimento do ego, relacionando esta característica com a motivação para o desempenho profissional, por forma a levantar novas pistas sobre a forma como a melhoria da formação académica se desenvolve nas qualidades em contexto laboral especifico.

Igualmente, teremos ainda interesse e um longo caminho a percorrer até podermos considerar que todos os profissionais elegíveis, adquiriram a certificação da escolaridade mínima obrigatória.

Desta forma, pretender-se-ia compreender e influenciar os processos formativos tendo em conta as necessidades individuais e de desenvolvimento pessoal, tornando o processo RVCC cada vez mais um processo actualizado e adequado às competências adquiridas de cada adulto. Continua a ser, na nossa óptica, uma prioridade, para a construção de uma sociedade com pessoas mais dinâmicas, inteligentes e cordiais em pleno uso de cidadania.

É preciso uma pedagogia de esperança, que permita acreditar que o futuro é possível; que a escola pode ser uma casa de humanidade; que a diferenciação pedagógica pode ser a nova matriz da acção educativa/formativa.

O campo da educação e formação de adultos torna-se um campo bastante favorável para a conquista de uma cidadania democrática se ajudar o empreendedorismo; se fomentar a permeabilidade à inovação, nomeadamente o recurso às tecnologias de informação e comunicação. Se incentivar e apoiar a dinamização e modernização de actividades existentes; se desenvolver o associativismo e o trabalho em rede; se divulgar boas práticas; se desenvolver uma fonte de aprendizagem e uma formação orientada para cidadãos adultos; se promover a aprendizagem ao longo da vida.

As inovações tecnológicas surgem a cada momento, tanto ao nível do acesso e circulação da informação como ao nível da comunicação. À abordagem das novas tecnologias de informação e comunicação em contexto EFA, o seu entendimento sustentado e a criação de uma postura participativa perante as mesmas, contribuirá para vivermos de forma mais envolvente na sociedade

Estamos certos que neste percurso EFA, cada adulto foi levado a construir-se a si próprio e a ser capaz de optar livremente, a pensar e agir por si próprio e, pela riqueza e

pluralidade dos dados recolhidos, podemos afirmar que este percurso proporcionou efectivamente alguma influencia e se essa não se manifesta logo na acção, podemos encontra-la nas ideias, nas convicções e nas fundamentações que cada adulto apresenta no seu discurso.

Acreditamos ser possível o desenvolvimento de práticas de cidadania neste mundo globalizado, para tal é necessário que os sujeitos desenvolvam as suas próprias estruturas individuais, que se consciencializem que são capazes de viver as suas vidas baseadas nos princípios da paz, da harmonia, respeito, tolerância e solidariedade e que saibam identificar quando esses princípios estão a ser violados.

Assim, compreender as contribuições para o desenvolvimento de hoje dos sujeitos, formar competências e saberes necessários à coexistência num mundo em perpetua mudança, será um ambicioso e indispensável atributo da educação e formação de adultos, implicada que está nas respostas educativas para a construção de uma cidadania participativa, podendo este tornar-se o ponto de partida para investigações futuras.

O nosso estudo preliminar e toda a informação fornecida pelos sujeitos de investigação, contribuíram para uma melhor compreensão da problemática do exercício da cidadania com base na educação/formação de adultos.

Esta investigação confirmou-nos a perspectiva da necessidade de realizar outros estudos, que nesta óptica da prestação de serviços em meio hospitalar, se poderiam efectuar para responder a questões centrais do desenvolvimento pessoal e profissional. Assim, seria interessante caracterizar outro grupo, do mesmo hospital, desta vez com sujeitos que não tivessem necessitado de frequentar o RVCC para o atingir do grau de 9ºano.

Constitui, na nossa opinião, uma das “portas abertas” pela investigação que levámos a cabo, sugerindo novos estudos. Pensamos, igualmente, que o aprofundamento do estudo integrado ou pelo menos articulado, das dimensões individuais e sociais da formação e da Cidadania, poderão contribuir para uma melhor compreensão da Pessoa na sua vida comum.

Tal, como Paulo Freire não acreditamos na educação como alavanca única da transformação social, mas sabemos que sem a educação nunca houve (na história) transformação social.