• Nenhum resultado encontrado

Esta pesquisa baseou-se em publicações feitas no Reino Unido por Diacon & Ennew (2001) e Diacon (2004), em período marcado por escândalos sobre vendas casadas de produtos e serviços financeiros, tudo sob forte pressão da mídia. Quanto a presente pesquisa, a coleta de dados ocorreu entre os anos de 2015 e 2016, em um ambiente de escândalos de corrupção envolvendo políticos e empresários, com forte descrédito da população no sistema político, desemprego crescente e inflação, desvalorização da moeda, volatilidade e desvalorização dos preços dos ativos reais, que resultaram na retirada do grau de investimento do Brasil pelas agências internacionais de rating e o posterior impeachment da Presidente da República. Os resultados obtidos mostram que não é possível afirmar, indistintamente, que as percepções de risco são maiores entre as mulheres pesquisadas. Percepções de risco, mais pronunciadas junto às mulheres, surgiram somente para os construtos falhas regulatórias entre os médicos e desconfiança entre os CFPs. Com respeito aos seis construtos de risco, o estudo confirma ser elevada a percepção sobre o construto volatilidade para as duas categorias profissionais, embora mais acentuada entre os CFPs, presumivelmente, por se tratar de um conceito ligado às ciências exatas exaustivamente estudado por estes profissionais e objeto de atenção diária no exercício das suas funções. Em comparação com os CFPs, o desconhecimento sobre investimentos parece ser a explicação para os médicos enxergarem menor benefício/retorno para todos os seis produtos na comparação com a Caderneta de Poupança. O mesmo

desconhecimento pode ser a razão para o fato dos médicos perceberem menor risco no CDB que no Tesouro Direto, além de todos os demais produtos pesquisados e, também, pelas percepções bastante diferentes, tanto sobre o risco como sobre o benefício/retorno do PGBL/VGBL na comparação com os CFPs. Com base nisso, especialistas em investimento, instituições financeiras e mesmo o Tesouro Nacional têm a oportunidade de melhor

comunicar as características e uso apropriado destes produtos, atenuando as diferenças de percepção entre investidores e especialistas, contribuindo para a correta decisão de

investimento. O estudo confirmou, ainda, não serem proporcionais e monotônicas as relações dos benefícios/retornos com as sínteses de riscos entre os seis produtos estudados, mais que isso, o estudo sugere haver indício de que tais relações são inversas, indicando que médicos e também CFPs, perceberam não haver prêmio, mas sim penalização, na assunção de riscos. Dentre os resultados encontrados, destaca-se a elevada desconfiança que médicos e CFPs têm

nos consultores de investimento, instituições financeiras e órgãos reguladores, também a alta percepção que ambos têm sobre a fragilidade da regulamentação e o fato dos médicos

acreditarem possuir conhecimento sobre investimentos, maior do que creem os CFPs a respeito deles. Esse conjunto de fatores trabalha contra a eficácia dos investimentos em educação financeira ao ferir a confiança dos investidores nos patrocinadores de tal iniciativa. Remetendo à questão da desconfiança Fischhoff (1995, p. 137, tradução nossa) escreve: “Os danos decorrentes da comunicação de risco podem ser irreversíveis se a relação com o comunicador é abalada. A sombra da dúvida pode ser difícil de apagar”.

Quanto a comunicação envolvendo o risco a literatura sugere focar naquilo de mais

importante que o investidor necessita saber, garantindo que a mensagem seja entendida como desejado e que ela seja de fonte oficial e crível (Fischhoff, 1995, p. 138), mais

especificamente, sugere que a comunicação de riscos seja feita nos moldes a seguir: 1. Ter a informação correta;

2. Informá-la aos investidores;

3. Expressar o julgamento sobre a informação;

4. Mostrar que já se aceitou risco similar no passado (i.e. caso tenha ocorrido); 5. Mostrar que assumir tal risco é um bom negócio;

6. Tratar bem os investidores;

7. Ter os investidores como parceiros na decisão.

Para Fischhoff (1995), mesmo uma mensagem de conteúdo correto pode causar problemas, quando apresentada de forma imprópria, nesse sentido, “tratar bem os investidores” significa valorizá-los e respeitá-los, usando uma linguagem acessível, ajustada à gravidade do assunto e despida de expressões hostis ou vagas. Quando suavizada em demasia, a comunicação de algo grave pode levar a suspeições e/ou descrédito, o mesmo acontecendo com a comunicação não verbal, quando desconectada do conteúdo ou contaminada por estados de humor.

Por fim, os resultados apresentados reforçam a necessidade de que a comunicação, no seu conteúdo e forma, considere os aspectos vistos como relevantes pelos investidores, em especial, no que tange às percepções de risco, contribuindo assim para a melhor decisão de investimento e a construção de relacionamentos comerciais saudáveis e duradouros. Por vezes, os investidores preferem eles próprios tomarem as decisões e precisam apenas de dados numéricos para isso, ou esperam por ajuda para organizarem o pensamento (Morgan,

5.1 Estudos futuros

Tendo em conta os resultados encontrados, alguns deles contrários às hipóteses firmadas e a literatura sobre o tema, o autor entende que merecem ser melhor estudadas as conclusões de que CFPs têm maior percepção sobre os efeitos adversos decorrentes dos investimentos, o que pode ter origem na formação e educação continuada destes profissionais, baseada em

princípios éticos, que enfatiza também o planejamento patrimonial e proteção do investidor. O mesmo vale para a maior percepção de desconfiança entre os CFPs, para saber em que medida isso decorre dos padrões de conduta e práticas definidas pelo IBCPF e/ou o maior

conhecimento que os CFPs têm sobre as práticas condenáveis de mercado. Por fim, as percepções de que os CFPs entendem que as instituições são muitíssimo reguladas, embora isso não resulte em proteção dos investidores, deixa sem resposta o que está por trás dessa ambiguidade, razão que o coloca também como objeto de estudos futuros.

Médicos e CFPs são bastante distintos entre si, mas também o são em relação às demais categorias profissionais, sendo natural imaginar que os resultados encontrados podem não se repetir em estudos semelhantes junto a advogados ou engenheiros, no lugar dos médicos, assim como com profissionais da área de finanças não ligados ao mercado de investimentos no lugar dos CFPs.

Estudos futuros, que tomem por base este material, farão bem em considerar que o

questionário da pesquisa foi respondido, voluntariamente, por médicos e CFPs em condições que não representaram situações reais de tomada de decisão sobre investimentos e que a tradução do questionário do inglês para o português não observou critérios científicos. Por fatores desconhecidos, dentre os quais podem estar diferenças culturais e econômicas ou mesmo o distanciamento no tempo entre a pesquisa atual e o estudo que lhe deu origem, não foram bem-sucedidas as tentativas utilizando AFE, com o propósito de obter agrupamentos consistentes e satisfatórios das vinte e cinco questões de risco aos cinco construtos, levando o autor a assumir o agrupamento encontrado por Diacon & Ennew (2001), lembrando que tal decisão pode comprometer a qualidade dos dados e produzir resultados menos precisos. Também a limitação do número de produtos a seis e o tempo médio estimado de quinze minutos para a resposta do questionário, respectivamente, são fatores que ora restringem a abrangência da análise, ora podem ter gerado fadiga e déficit de atenção em alguns

respondentes, o que pode ser uma das causas das concentrações das respostas nas notas 1 e 7. Embora o questionário da pesquisa não tenha incluído questões que permitissem inferir sobre

o nível de renda dos médicos que responderam a pesquisa, o fato das respostas terem sido colhidas por instituto de pesquisa junto aos profissionais com pelos menos dez anos de

atividade na Grande São Paulo e junto ao corpo clínico do Hospital Sírio Libanês (HSL), uma instituição de referência, faz crer que é elevada a capacidade de investimento dos

respondentes se comparados ao universo dos médicos no Brasil. Por fim, o fato de o

questionário ter sido respondido sem que os respondentes conhecessem os conceitos de ruína e benefício/retorno, pode ter resultado em interpretações errôneas, com possíveis reflexos sobre as conclusões tiradas a partir delas.

Documentos relacionados