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4 Percursores de saídas de pista

6.1 Conclusões

Em termos de acidentes/incidentes os runway related accidents são um dos grupos de ocorrências que mais preocupam as entidades relacionadas com a segurança aérea, principalmente devido às saídas de pista.

Ao longo das últimas décadas verifica-se uma tendência de estabilização

relativamente ao número de saídas de pista, ainda que os valores não possam ser considerados os mais desejáveis. Mesmo que todos stackholders (controladores de tráfego aéreo, companhias aéreas, indústria aeronáutica e entidades reguladoras da atividade aeronáutica) tenham realizado e continuem a realizar esforços (estudos, ferramentas de apoio à operação, medidas e procedimentos de operação) no sentido de mitigar ou mesmo erradicar estas situações, a taxa deste tipo de ocorrências continua bastante elevada.

Parte integrante dos esforços desenvolvidos pelas diferentes entidades passa pela monitorização de dados de voo, com especial foco nas companhias aéreas, permitindo assim analisar o desempenho das aeronaves na sua operação quotidiana, verificando se este foi o desejado e se os procedimentos de operação vão de encontra o estipulado no SOP. Os dados de voo devem ser utilizados como parte integrante de um sistema SMS de forma a resolver e/ou identificar não conformidades nas operações de voo que poderão eventualmente resultar, entre outras situações, em saídas de pista.

A recolha e análise dos dados de voo irá contribuir ativamente para a melhoria do treino das tripulações, das tecnologias disponíveis e da regulamentação existente, pelo que as informações recolhidas devem ser utilizadas de um modo proactivo, com vista a assegurar ações preventivas que poderão evitar situações e males maiores num futuro, sendo a TAP um exemplo desta recolha e tratamento de dados voos e tendo como exemplo disso a percentagem de dados gravados do total da operação, enquanto o ANAC impõe um limite mínimo de 85% de captura de dados para a operação de uma companhia aérea, para os padrões da TAP o objetivo aceitável de representatividade para a gravação de dados é de 90%. No ano de 2016 a percentagem de dados gravados e analisados na TAP foi de 98.5% do tempo de operação das suas aeronaves, como pode ser verificado bastante acima do legislado.

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Este trabalho permitiu otimizar a utilização da ferramenta de análise de dados de voo, AGS, com integração de eventos relacionada com saídas de pista, através da implementação do conjunto de percursores de eventos explicados neste trabalho, permitindo à companhia ir de encontra às últimas diretivas da EASA no que toca a este assunto das saídas de pista, o que permite aos elementos do gabinete de SSM identificarem situações de desvio do SOP, podendo assim encontrar com base em estudos estatísticos desses desvios, situações que apresentem um risco potencial e assim de um modo atempado e proactivo tomar as devidas medidas.

Desde a implementação destes novos percursores identificaram-se os eventos que maior frequência apresentaram destacando-se principalmente a operação em vento cruzado, nomeadamente nos aeroportos de Lisboa e do Funchal; porém esta situação é de todo alheia à companhia, podendo esta apenas atuar de um modo preventivo, nomeadamente ao reforçar o treino das tripulações para estas situações particulares e principalmente para quando estas situações se encontram conjugadas com outros fatores de risco, nomeadamente a pista molhada. Convém referir que o único acidente com consequências fatais na história da TAP foi o voo TAP425 que sob estas condições particulares, vento cruzado e pista molhada, a aterragem resultou numa saída de pista, mais particularmente uma landing overrun, vitimando um total de 131 pessoas e a perda total da aeronave, no dia 19 de novembro de 1977 no aeroporto do Funchal (antes das obras de extensão da pista).

A metodologia de análise do risco de saídas de pista desenvolvida foi integrada na operação diária da companhia, permitindo, em particular articulação com o método tradicional de análise de desvios no SOP.

Uma das principais vantagens da utilização desta ferramenta, é que enquanto com a utilização do AGS apenas se poderia estimar o risco associado através do número e gravidade de eventos, com esta ferramenta o risco é avaliado de um modo gráfico mais expedito e explicito para o utilizador, podendo-se até encontrar um valor numérico do risco. A obtenção deste valor numérico permite a comparação direta entre diferentes voos, algo que não poderia ser feito com o método tradicional de análise dos desvios do SOP, devido em parte ao grande número de fatores considerados, que com esta ferramenta ficam condensados.

Com a ferramenta de análise geral de voos deverá ser tomada em atenção que os valores apresentados devem ser utilizados a nível estatístico e indicativo, no sentido que como pode ser observado na ferramenta de análise individual de voos, cada aterragem terá uma curva das desacelerações máximas específica, o que não acontece na ferramenta de análise geral de voos onde todas as aterragens são analisadas sob as mesmas curvas, obtidas de valores considerados médios, logo com valores menos específicos.

No que concerne à ferramenta de análise individual de voos esta apresenta-se com um complemento do método tradicional, permitindo validar os desvios do SOP que foram identificados no AGS e ainda quantificar o risco associado a determinada situação, pois até aqui com o AGS apenas se podia estimar que um determinado voo era mais arriscado que outro.

Para além de permitir verificar o risco associado a determinada aterragem, permite ainda simular outras configurações de aterragem e qual a influência destas para minorar o risco associado a determinada manobra.

No geral, conclui-se que a questão dos runway related accidents e em particular do risco e prevenção de saídas de pista, com base nos trabalhos desenvolvidos ao longo da última década poderão vir a apresentar melhorias significativas e que todas as partes com influência nesta temática continuam a apresentar trabalhos, estudos e ferramentas para que o número e a gravidade deste tipo de acidentes/incidentes continuem a baixar. Neste contexto a monitorização dos dados de voo desempenha um papel de extremo revelo, podendo ainda aumentar a sua importância ao longo dos tempos vindouros.

Concluindo, todos os dados teóricos apresentados neste trabalho serviram de suporte para o melhor entendimento das questões sobre saídas de pista, bem como do papel desempenhado pela monitorização dos dados de voo, na redução deste tipo de ocorrências, servindo ainda de base a trabalhos futuros que poderão ser desenvolvidos na TAP para a redução do risco de saídas de pista, alguns dos quais são apresentados na seguinte secção.