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Diante de uma análise interpretativa histórica, analisando-se detidamente o trâmite dos projetos de lei nº 4.605/2009 e 4.953/2009, que deram origem à Lei 12.441/2011, instituidora em nosso ordenamento jurídico da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada, Eireli, foi possível concluir que, de fato, a real intenção do legislador era permitir que apenas pessoas naturais pudessem constituir uma pessoa jurídica dessa modalidade.

No texto original de ambos os projetos, havia determinações expressas no sentido ora defendido. Ao longo de todo o trâmite legislativo, a referida limitação não sofreu qualquer questionamento, permanecendo incólume até a última alteração realizada pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania da Câmara dos Deputados (CCJC), onde, por meio de um desmembramento do caput do art. 980-A, que seria incluído no Código Civil, retirou-se a expressão natural, deixando apenas a palavra pessoa.

Não seria lógico, entretanto, que todas as mudanças sugeridas e efetuadas pelos deputados que analisaram os projetos de lei tenham sido perfeitamente fundamentadas e uma mudança tão radical, que ampliaria totalmente a abrangência da lei, não fosse sequer comentada.

Conforme resultado da pesquisa apresentada no presente trabalho, não houve qualquer crítica à escolha legislativa de permitir que apenas pessoas físicas fossem titulares de empresas individuais de responsabilidade limitada. Diante de tal fato, empiricamente demonstrado, conclui-se com um elevado grau de certeza que o escopo da lei foi realmente beneficiar apenas às pessoas naturais.

Corroborando com nosso posicionamento, o DNRC proibiu as juntas comerciais de registrarem Eirelis de titularidade de pessoas jurídicas, o que impede, portanto, a sua constituição, uma vez que o registro é elemento indispensável. No mesmo sentido, após um amplo debate, vários estudiosos, reunidos na V Jornada de Direito Civil, organizada pelo Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal elaboraram o enunciado 468, prevendo que a empresa individual de responsabilidade limitada somente poderia ser constituída por pessoa natural.

Em que pese havermos chegado a essa conclusão, não concordamos com a opção do legislador. Demonstrou-se que há muitos anos, em diversos países do mundo, modelos semelhantes, notadamente a sociedade unipessoal, são largamente utilizados, podendo ser constituídos tanto por pessoas naturais como jurídicas, na grande maioria dos casos.

Entretanto, o legislador brasileiro, que já demorou muito tempo para permitir a utilização de um modelo em que, sem necessidade do concurso de sócios, aquele que desejasse desenvolver uma atividade empresária pudesse ter seu risco limitado ao limite do capital investido, quando finalmente o fez, tolheu das pessoas jurídicas a possibilidade de sua utilização.

Acreditamos que isso mantém o Brasil atrasado em relação aos diversos países que permitem livremente a utilização desses modelos tanto por pessoas físicas como por pessoas jurídicas, e que, isto constitui um desestímulo ao empreendedorismo, o que certamente contribui de forma negativa para o desenvolvimento econômico do país.

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