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No Estado Brasileiro é adotado o Estado Fiscal, que tem como característica a obtenção de recurso para seu funcionamento a arrecadação de tributos, conforme norma da Constituição Federal de 1988, que conferiu a todos os entes federados a competência para instituir impostos, implicando no fato de que o governo dispõe tão somente da tributação para concretizar os seus objetivos.

Percebe-se a dificuldade que tem o governo em recuperar débitos de contribuintes do imposto o que faz com que se acumule uma dívida que cresce ao longo do período analisado. A existência de uma dívida ativa fere alguns princípios de eqüidade, ao dispensar tratamento diferenciado para alguns: o fato de existir a dívida leva a crer que alguns deixaram de cumprir com suas obrigações. Ao acontecer assim, aqueles que cumpriram são penalizados por ter que suportar a carga daqueles que deixaram de arrecadar além de restrições à fatia de mercado, pelo fato de não poderem praticar o mesmo preço que aqueles que deixaram de arrecadar. Essa deficiência pode colocar em xeque a credibilidade nas instituições das quais se falou no tópico referente às escolhas públicas e o prejuízo pode vir em forma de fuga dos agentes privados que tomam suas decisões de investimentos norteadas pela qualidade do ambiente em que se definem as estratégias de regulação operadas pelos agentes públicos.

Numa perspectiva das escolhas dos agentes, em que se analisam as escolhas dos contribuintes e do governo, em cuja análise definem-se os parâmetros e as recompensas por cada decisão do atores, tem-se como resultado desse jogo de interação o que se segue:

O resultado do jogo parece óbvio de que o melhor para o contribuinte é que este recolha no prazo, o que traz também para o governo o melhor resultado: dispor do valor no momento oportuno.

Mais óbvio ainda é o caso em que o governo edita REFIS, e a preferência do contribuinte é de recolher o tributo com o benefício, não postergando ainda mais o pagamento, dado que teria que arcar com os pesados encargos de multas, juros e execução fiscal.

Outra revelação importante é a de que para o governo a melhor estratégia é não editar o REFIS, na ocasião em que é sua a vez de jogar, dado que um maior retorno se observa como resultado dessa estratégia.

A conclusão que se tira sobre o REFIS, no que se refere à decisão do governo, é que este não deva editar o programa. No entanto, verifica-se, de forma periódica a reedição, conforme se tem verificado nos anos 2000, 2003 e 2006 no caso do Governo Federal e nos anos 2000, 2002, 2003, 2004, 2005 e 2006 no Governo do Estado do Ceará, o que leva a crer que os governos agem, movidos pela sua racionalidade, motivado por outros interesses, diferentes daqueles que levam ao bem estar do Estado, ou pelo equívoco de crer em sua eficácia.

Dado que, conforme se demonstrou a Dívida tem um viés de crescimento em todos os períodos analisados e que dentre esses períodos, ou seja, os anos de 2000, 2003 e 2006 o governo federal editou REFIS e que nesses períodos não se percebeu redução do crescimento do estoque da Dívida, este tem se mostrado sem efeito naquilo que o governo persegue que é a recuperação de débitos.

O mesmo se observa com relação à arrecadação da dívida ativa do Estado em que o programa é editado nos anos 2000 e de 2002 a 2006, sem que se possa deduzir qualquer afeito de redução da dívida por força dos referidos programas.

Ainda sobre a existência da dívida esta se revela em uma anomalia que reflete a ineficiência do governo em gerir a máquina, tendo como conseqüência o não cumprimento, em parte, e proporcional ao tamanho dessa dívida, da realização de suas políticas públicas de justiça social e distributiva, deixando assim de cumprir os objetivos que a dimensão democrática lhe impõe.

Sobre o tratamento que o governo dispensa à dívida, sob a ótica do presente trabalho, há o equívoco de oferecer tratamento diferenciado a um determinado grupo, que se reveste em incentivo com o viés de desestimular a eficiência econômica, visto que uma fuga da tributação implica, conforme se demonstrou acima, uma melhor composição de custos e conseqüentemente de preços, ficando a concorrência por um melhor nível de qualidade de produtos e serviços em um plano inferior.

O REFIS pode ainda ter a sua eficiência questionada, pelo fato de ser um paliativo no que se refere à arrecadação e somente a ela, no curto prazo, no entanto potencializando o tamanho da dívida no longo prazo. Isso pode explicar também a motivação do agente público em querer aumentar o seu bem estar no curto prazo dada a sua efêmera passagem pelo poder que é de no máximo oito anos, no caso de uma reeleição.

Considerando ainda os pressupostos básicos da teoria das escolhas públicas, quais sejam o comportamento racional e o interesse próprio e ainda outro elemento fundamental que é o conjunto de regras e instituições políticas, não fica difícil decifrar a motivação que levou à escolha do governo. Quando comparamos o comportamento dos burocratas e políticos com o dos empresários e consumidores, em que tanto uns como outros são atores racionais motivados por interesses próprios, não parece existir mistério em perceber que o governo age em busca do poder e de sua manutenção. Resta assim uma análise sobre o elemento citado acima que é o conjunto de regras e instituições políticas, que permitem que o governante possa dispor em seu portfólio de decisões a edição de Programas de Recuperação Fiscal.

Recorrendo a abordagem normativa da Teoria das Escolhas Públicas, conhecida também como teoria constitucionalista, por recomendar que os limites devam ser votados e inseridos na constituição, sugere-se que os Programas de Recuperação Fiscal, nos moldes dos que são editados pelos governos atualmente sejam vetados através de emenda constitucional. A medida acima teria dois efeitos imediatos: o primeiro seria o de impedir que os governos abusassem de suas

motivações movidas pelo interesse próprio. Para os contribuintes o efeito seria o de anular quaisquer expectativas de futuros programas o que pode ser o fomentador do crescimento da dívida, bem como sedimentar a certeza de que, caso venha a ficar inadimplente, dificilmente terá outra conseqüência que não seja a execução fiscal, o que por certo, o motivaria a permanecer em dias com suas obrigações tributárias. A presente sugestão não seria uma proibição velada aos Programas de Recuperação Fiscal e sim o seu disciplinamento e ordenamento que viessem a impedir que o que deveria ser uma exceção se constitua em regra geral, dada a habitualidade com que vem ocorrendo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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