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Do ponto de vista metodológico, pode-se concluir que a execução do presente estudo comprovou a viabilidade e a adequação da Geoestatística associada à modelagem matemática com fins previsionais, em escala local, para a avaliação das modificações induzidas na superfície potenciométrica do aqüífero livre após a implantação de reservatórios.

Como anteriormente apresentado, a maioria dos modelos matemáticos usados em hidrogeologia se baseia na teoria clássica do fluxo em meios porosos. Nesta teoria, os parâmetros hidrogeológicos e do meio poroso, tais como porosidade, condutividade hidráulica, transmissividade, coeficiente de armazenamento, nível potenciométrico, dentre outros, são definidos como valores médios em um volume infinitesimal de referência, extrapolado do Volume Elementar Representativo (VER), de forma que suas variações de um ponto a outro possam ser representadas mediante funções contínuas que satisfaçam os princípios da mecânica do contínuo.

Na realidade, os parâmetros hidrogeológicos possuem alta variabilidade e fornecem um conhecimento discretizado da realidade e, dificilmente, poderiam ser representados por funções determinísticas. Pela própria natureza do trabalho, em geociências, utiliza-se de um conjunto amostral que deveria melhor representar a população estudada e que, por suas características, possui uma distribuição espacial, onde não somente importa o seu valor mas a sua posição no espaço.

Uma forma de se considerar a aleatoriedade das variações dos parâmetros hidrogeológicos e as incertezas associadas com informações insuficientes acerca de sua distribuição espacial consiste em adotar uma interpretação probabilística. Desta forma, cada parâmetro se interpreta como uma variável aleatória que pode adotar um conjunto infinito de valores de acordo com uma distribuição de probabilidade. Considerando que o parâmetro é na realidade uma função no espaço, sua interpretação probabilística é a de uma função aleatória. Assim, as flutuações espaciais do parâmetro podem ser concebidas como uma realização desta função aleatória.

A interpretação geoestatística dos parâmetros hidrogeológicos tem a clara vantagem de permitir estudar suas incertezas e, portanto, as incertezas das predições obtidas com base nos mesmos. Uma vez identificada, a partir dos dados disponíveis, a estrutura espacial da variável, as melhores estimativas não enviesadas dos parâmetros hidrogeológicos podem ser realizadas, para qualquer ponto de interesse, utilizando-se da teoria de estimativas lineares não enviesadas, explorando a capacidade de estimar valores a partir do comportamento espacial da variável (krigagem) ou da correlação existente entre variáveis (cokrigagem).

Relativamente ao parâmetro potenciometria, a utilização da Geoestatística resolveu plenamente as limitações associadas à aplicação de modelos matemáticos na previsão de cenários futuros, quais sejam, dificuldades operacionais, de tempo e de custos no levantamento de parâmetros hidrogeológicos.

Dada a alta correlação espacial observada entre a topografia do terreno e a potenciometria, utilizou-se da cokrigagem ordinária para a estimativa da potenciometria a ser utilizada como dados de entrada.

Resulta, da incorporação da geoestatística como ferramenta básica no tratamento dos dados, a geração de informações seguras, melhorando a qualidade e a quantidade de dados potenciométricos de entrada, implementando mais segurança no processo de modelamento e simulação de cenários futuros, auxiliando a tomada de decisões acerca de atividades a serem desenvolvidas em resposta às alterações induzidas pela elevação do nível d’água subterrânea.

A correlação entre a potenciometria e a condutividade hidráulica é resolvida pelo modelo matemático. Assim, a condutividade hidráulica foi calculada para a área em estudo, por meio do recurso denominado de problema inverso, que a partir das condições de

contorno e dados de entrada, calcula, para cada uma das células, o valor da permeabilidade que minimiza os erros residuais entre os valores das potenciometrias calculada e observada, sempre, no entanto, respeitando os limites dos valores de permeabilidade obtidos na área.

A utilização da geoestatística associada à modelagem matemática, como ferramentas no estudo do impacto hidrogeológico, possibilitou a elaboração do mapa potenciométrico, e portanto a visualização das áreas mais suscetíveis ao impacto do reservatório pela elevação generalizada da superfície potenciométrica.

Dentre as vantagens da utilização da modelagem matemática, está a possibilidade de considerar a heterogeneidade do meio físico, que afeta as direções de fluxo da água subterrânea. No entanto, a elaboração de um modelo matemático de boa qualidade depende do entendimento adequado do sistema hidrogeológico da área, que afeta diretamente a construção do modelo conceitual e, conseqüentemente, a confiabilidade da previsão.

A aplicação de modelos matemáticos exige a utilização de grande quantidade de informações a respeito da área; portanto, a solução não será necessariamente única para um dado problema.

Neste momento, a geoestatística, enquanto técnica que permite a melhor estimativa não enviesada de parâmetros hidrogeológicos, representa o diferencial na qualidade do resultado.

O resultado mais importante desta pesquisa é a elaboração, de forma previsional, do mapa potenciométrico das condições do novo equilíbrio, no cenário final, após a implantação do reservatório, mapa este que visa subsidiar o planejamento e a tomada de decisões relativamente ao uso e ocupação do solo no entorno do futuro reservatório, facilitando a identificação dos interesses que serão afetados e contribuindo para a avaliação de riscos no que se refere à delimitação das áreas mais vulneráveis (nível d’água a profundidades menores que 5 m).

A aplicação da metodologia proposta deve ser orientada de acordo com as etapas descritas neste trabalho, que está inserido num contexto mais amplo, o da previsão da elevação do nível freático no processo de avaliação de impacto ambiental de reservatórios e na elaboração de uma proposta de monitoramento específica para o reservatório estudado.

Destaca-se a importância da realização de retroanálise, o que implica na coleta de novos dados de campo para aferir as previsões. Essa etapa (monitoramento e retroanálise) deve ser executada em tempo compatível com a previsão efetuada, para permitir que eventuais mudanças possam ocorrer. O modelo matemático proposto, caso a previsão tenha-se confirmado, pode ser validado, especificamente para essa área.

Deverá ser considerado, também, que os resultados obtidos a partir da metodologia proposta neste estudo apresentarão erros e limitações inerentes a um processo de modelagem desenvolvido em escala local (no caso, 1:10.000). Portanto, a utilização das informações resultantes deverá ser restrita à finalidade proposta neste trabalho, considerando-se a avaliação do erro de cada uma das etapas aqui desenvolvidas.

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