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Os órgãos ambientais do Brasil, incluindo os do Estado de São Paulo, objeto deste trabalho, até o momento, não possuem uma lei específica para áreas contaminadas, como ocorre em outros países do primeiro mundo, a exemplo dos Estados Unidos e outros apresentados na revisão bibliográfica.

A Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, em conformidade com a CETESB, conhecedora dessa situação, já apresentou em 2003 uma proposta de Anteprojeto de Lei para Proteção da Qualidade do Solo e Gerenciamento de Áreas Contaminadas, incluindo a criação de um fundo financeiro. Portanto, é fundamental que o Estado aprove o mais rápido possível o Anteprojeto a fim de disciplinar e regularizar a lacuna existente na legislação e consolidar o Sistema de Gerenciamento de Áreas Contaminadas do Estado de São Paulo.

Na situação atual, as conseqüências da descoberta de novas áreas e sua veiculação são imprevisíveis, como estresse da população afetada, disputas insolúveis entre técnicos e especialistas acerca das relações causa-efeito, controvérsias sobre as soluções técnicas mais adequadas, longos e demorados inquéritos e processos judiciais, desvalorização de capitais, danos à imagem das empresas envolvidas. Para tanto, é de fundamental importância que nas áreas a serem edificadas ou não, bem como naquelas utilizadas na realização de quaisquer atividades industriais, se providencie levantamento de informações como: utilização anterior do local através do registro de dados do órgão de controle, de documentos como o CADRI, do depoimento da vizinhança, do monitoramento da área, de consulta ao Registro de Imóveis, outros.

É imperioso o estabelecimento de um Processo de Responsabilização de forma clara e objetiva para complementar a metodologia de gerenciamento de áreas contaminadas, facilitando e agilizando a atribuição administrativa, legal e financeira, no direcionamento da ação dos órgãos governamentais.

A aplicação de procedimentos de responsabilização pode contribuir no ordenamento das atividades realizadas para a identificação dos responsáveis, na organização das informações levantadas e na avaliação das parcelas de responsabilidade de cada parte, resultando na redução da demanda de tempo, desde a constatação de uma área contaminada até a sua remediação, na identificação dos riscos aos bens a proteger e na atribuição dos custos dos serviços de remediação a serem executados. Para dar suporte ao Processo de Responsabilização proposto e

para o Sistema de Gerenciamento de Áreas Contaminadas é necessário viabilizar para a CETESB o acesso a fundos financeiros de forma ágil e pouco burocrática, dando instrumentos também para a verificação do ônus ao poder público e para a solicitação de ressarcimentos.

Diante dos fatos avaliados são apresentadas as seguintes conclusões:

A inexistência de um fundo financeiro disponível especificamente para o gerenciamento das áreas contaminadas impede agilidade do órgão ambiental, que não dispõe de recursos para implantar as medidas corretivas nas áreas contaminadas, nas quais o processo de responsabilização é complexo e de longa duração;

As legislações atualmente existentes dão bases legais para impor aos responsáveis a obrigação de remediar a área contaminada, mas uma legislação específica identificando os tipos potenciais de responsáveis, a exemplo do artigo 8°, da Resolução CONAMA no 273/00 para postos de combustíveis, facilitaria a ação do órgão ambiental;

Os fundos financeiros existentes não apresentam procedimentos claros para o seu uso e não estão prontamente disponíveis para sua aplicação no gerenciamento das áreas contaminadas;

A implantação de um Processo de Responsabilização, somando-se aos Processos de Identificação e Remediação de Áreas Contaminadas do Sistema de Gerenciamento das Áreas Contaminadas, pode agilizar e padronizar o procedimento de identificação dos responsáveis, assim como de definição da parcela de responsabilidade de cada parte. Este processo de responsabilização inicia-se na fase de Avaliação Preliminar do Processo de Identificação de Áreas Contaminadas e pode ser conduzido em etapas, com um aprofundamento da pesquisa para identificação dos potenciais responsáveis;

É importante a participação de profissionais da área jurídica e contábil para complementar as atividades da área técnica da CETESB. Este Processo de Responsabilização proposto deve ser conduzido por um grupo multidisciplinar, formado por profissionais dos órgãos estaduais e municipais, podendo envolver representantes do Ministério Público, caso necessário, para a organização das atividades a serem realizadas e das informações levantadas. O grupo para o Processo de Responsabilização deve conduzir as atividades de identificação dos responsáveis, definindo etapas e atividades adequadas a cada caso e dando diretrizes para o

levantamento das informações. O grupo de responsabilização deve ter o poder de negociação com os potenciais responsáveis de forma a definir a parcela de responsabilidade e as obrigações de cada parte;

Como sugestão para a melhoria do processo de responsabilização, recomenda-se:

Mobilizar e articular os órgãos e instituições ligadas às questões ambientais para viabilização e a aprovação do Anteprojeto de Lei apresentado pela SMA através de injunções políticas;

Conduzir um estudo mais detalhado para avaliação das formas possíveis de utilização dos fundos financeiros já existentes, definidos nas legislações Fundo Nacional do Meio Ambiente (Decreto Federal nº 3.524/00), Fundo Naval (Decreto Federal nº 20.923/32), Lei do Estado de São Paulo nº 6.536/89 que cria o Fundo Especial de Despesa de Reparação de Interesses Difusos Lesados e Lei Estadual no 7.663/91 sobre o FEHIDRO, enquanto não é aprovado o Anteprojeto de Lei sobre Áreas Contaminadas;

Aproximar o Sistema de Gerenciamento de Áreas Contaminadas com os Comitês de Bacias Hidrográficas - CBHs (unidades regionais gestoras dos recursos hídricos no Estado de São Paulo). Os CBHs têm a participação de representantes do Estado, dos municípios e da sociedade civil, que se responsabilizam por definir estratégias e prioridades de ações para cada Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos (UGRHI). Dessa forma, o Sistema de Gerenciamento de Áreas Contaminadas do Estado de São Paulo poderia se beneficiar por meio da utilização dos CBHs para interagir com a sociedade civil e demais órgãos locais e buscar meios de utilização do FEHIDRO (Fundo Estadual de Recursos Hídricos) para a remediação de áreas contaminadas que apresentem alto risco aos recursos hídricos e à saúde da população;

Divulgar, pelos órgãos de meio ambiente, federação das indústrias, entidades e sindicatos de classe e outros, dos fundos financeiros definidos nas legislações existentes mas que não têm sido utilizado até o momento para o gerenciamento das áreas contaminadas;

Conscientizar os gerentes de empresas, empresários, acionistas, proprietários imobiliários, agentes financeiros, outros, a respeito da responsabilidade civil dos poluidores, implicações legais, dos custos e das conseqüências ambientais por meio da realização de palestras, reuniões e veiculação de materiais;

Estabelecer métodos objetivos de trabalho, nas diferentes etapas dos processos do Sistema de gerenciamento de áreas contaminadas, para fins de atribuição da responsabilidade e utilização dos fundos de financiamento pelos poluidores;

Estruturar adequadamente os órgãos ambientais, por intermédio da contratação de técnicos, de modo a atender a demanda de processos e projetos existente nos órgãos de Governo;

Incrementar o inventário e cadastro de áreas industriais contando com o apoio das empresas por meio de incentivos e orientação de procedimentos ambientalmente corretos a fim de minimizar os passivos ambientais e custos de remediação de maior valor;

Promover maior envolvimento dos municípios no Sistema de Gerenciamento de Áreas Contaminadas para garantir a avaliação da qualidade do solo na aprovação de novos empreendimentos e na reabilitação e reuso das áreas remediadas;

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