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 Conclusões

Pelo presente estudo, pretende-se analisar o papel do executivo como

cultivador e transmissor de valores numa organização de Economia de Comunhão (EdC). Mais precisamente, quais as características que deverão ser

inerentes a um líder moderno e se estas estão evidenciados na dinâmica do

líder.

Só nos foi possível obter dados empíricos junto da EdC - Faria & Irmão, Lda. e entrevistar um dos seus sócios-gerentes, o Dr. Acácio Faria, o que de alguma forma limita a abrangência das conclusões a retirar deste estudo. Em todo o caso, ao triangular os dados obtidos da entrevista, da observação e dos testemunhos (sob a forma de relato do entrevistado), foi-nos possível recolher evidências de que os líderes da Faria & Irmão cumprem com as características que, através do enquadramento teórico, apurámos ser inerentes a um líder

emocionalmente livre, inspirado e orientado para a solução. Características

que fomentam a motivação e a criatividade, e pressupõem a consciência de um “homem novo” de acordo com o corpo de teoria desenvolvido.

É assim que passamos a referir algumas dessas evidências:

 A forma de olhar para a propriedade, prevalecendo o bem comum  O assumir do risco

 Assertividade na gestão

 Gestão participativa por objectivos  Empoderamento pessoal

 Gestão de conflitos de proximidade

 Abrir espaço para o diálogo, antevendo soluções  Olhar para o colaborador como ser integral

 Promoção de condições de vida para os colaboradores

 Formação do ”homem novo”: inovação técnica, atitude e trabalho de equipa

 Aposta nos bens relacionais, numa política alargada de Stakeholders  Recrutamento e selecção de pessoal de forma inclusiva

 Defesa e preservação do ambiente (reciclagem da matéria-prima)

A nossa apreciação é a de que se pode concluir que os líderes da Faria & Irmão têm uma abordagem holística da vida e da gestão da empresa já que integram completamente os princípios e valores do movimento dos focolares desde a sua adolescência, os praticam na sua vida e, uma vez à frente dos destinos da empresa/grupo os continuam a viver e a aplicar no seu dia-a-dia, sendo simultaneamente transmissores (pelo exemplo) e cultivadores desses valores.

Pelo que, baseados nas diversas evidências encontradas, parece-nos que as características teorizadas por Covey, por Ferreira e por Chopra, como implícitas aos líderes emocionalmente livres, e em que o Ser é tanto ou mais importante que o Fazer, são cruciais para a dinâmica e sucesso de uma EdC como podemos reconhecer no caso dos líderes da Faria & Irmão. Onde a EdC é vivenciada em todas as suas vertentes, fiéis ao princípio da centralidade do homem, proposto por Chiara.

 Inferências e Recomendações

Acreditamos firmemente que a viragem do paradigma económico aponta no sentido da centralidade do homem e na expansão da sua consciência (conseguida através da libertação das memórias, das crenças, de emoções tóxicas), assente numa espiritualidade inerente à essência do ser humano.

Para fazer o ponto de viragem cultural será necessário o nascimento de uma nova consciência humana, de um “homem novo” que conduza quiçá à formulação de uma nova teoria económica, ainda que assente primordialmente nas relações de mercado. Pelo que se elaborou um pequeno exercício de reflexão do que seria reformular a linguagem da economia à luz de uma linguagem mais humanizada, o qual se encontra na Tabela I em anexo.

Para que a EdC possa tornar-se paradigma seria necessário elaborarem-se mais estudos de caso, recolherem-se mais dados e triangularem-se mais informações. Para isso, deixamos a forte recomendação para que mais empresas se disponibilizem para se poder proceder à sua análise e se crie um corpo sistémico de pesquisa de dados que permita uma análise comparativa e agregadora dos mesmos. A nova nomenclatura do INE para as OES poderá vir a constituir uma base importante de dados, para suporte dessa informação.

 Desafio

Com base nas conclusões dos estudos sobre inteligência emocional, o

Observador influencia a realidade que vê, visto que a criou previamente na sua

mente. Pelo que o homem não é mais vítima, mas responsável por tudo o que se passa em si e ao seu redor.

O homem não é mais “um corpo”, mas a consciência que nele habita.

Assim sendo, a noção de abundância e de escassez são conceitos que dependem da nossa atitude/forma de olhar para o mundo e deixam de estar associados apenas às necessidades do corpo138.

Neale Donald Walsch139 explica que quando se partilha a abundância do nosso

ser com todos aqueles cujas vidas se tocam, todas as coisas que sempre se procurou ter vêm ao nosso encontro automaticamente, sem que se tenha sequer tentado possuí-las140.

E que, ao experienciarmos esta realidade, descobrimos uma verdade eterna:

Que o que damos aos outros (partilha) damos a nós próprios.

E que o podemos dar de uma forma e recebê-la de outra. Mas não pode deixar de retornar a nós.

Este princípio entrecruza-se com o pensamento de Chiara e o caso da Faria & Irmão é um exemplo pleno desta máxima, pois os sócios consideram que a empresa, apesar de ser fisicamente sua, verdadeiramente não lhes pertence. 138 Ferreira (2002:119). 139 Walsch (2003b). 140 Walsch (2003b:33).

Pelo que gostaríamos de deixar um último desafio…

Um convite a reflectir sobre a evolução deste modelo EdC numa consciência ainda mais alargada de dar e receber, sendo que, em cultura de abundância e em que somos todos “um”, quem dá é o primeiro recipiente da dádiva (eu dou-me e recebo-me). Isto é, o dilema do Samaritano levado ao desapego da dádiva.

O Amor, essência de tudo o que existe, vive na compulsão de se dar, porque é essa a sua natureza. Dando, recebe e nesse fluxo contínuo, auto-alimenta-se141.

“Dai e vos será dado” (Lc 6,38). Damos, e toda vez que damos retorna.

Aquele que recebe enriquece o que recebe - pois as ideias crescem quando partilhadas – e dá enriquecido àqueles que recebem de si e assim sucessivamente.

Mas posto que quem dá-recebe de si e dá a si, o circuito passa a ser uma espiral e não um círculo142:

 Eu dou – eu recebo de mim

 Tu recebes (enriqueces) e devolves-te a dádiva enriquecida  Tu passa-la aos outros

 Cada um recebe a dádiva enriquecida antes de chegar a si e enriquece-se a si mesmo ao partilhar a dádiva que acrescenta ao que recebeu, com os outros.

E assim o valor da dádiva vai crescendo exponencialmente na medida em que se foi enriquecendo com todas as trocas por onde passou143.

141 Ferreira (2004: 53,54). 142 Ferreira (2002: 151). 143 Ferreira (2002).

Esta espiral é constituída pelo bem interno dos vários mensageiros no processo e pelo bem externo (energia de dinheiro ou valor de troca) até que se consome na forma, mas se transforma em múltiplas oportunidades de dádivas paralelas numa dança contínua de criar, desfrutar, expandir e descobrir o potencial

ilimitado da criação.

Neste modelo de consciência, todos crescem, pois todos participam na cadeia

da comunhão, recebendo SEMPRE, em primeira mão, a mais-valia que

ofereceram à dádiva e a sua contribuição para o fluir do bem comum e pessoal (em simultâneo).

Passando a uma linguagem económica, como a maior parte dos que são

intermediários, também são consumidores finais, a dádiva externa final é

também consumida por todos os intervenientes do processo- bem comum.

A percepção do valor, atribuído ao que é recebido, muda dramaticamente e a noção de perda ou escassez torna-se obsoleta, dá lugar à fruição (desfrute do suficiente em lugar do necessário).

Esta reflexão poderá quanto a nós, não só ser um poderoso sustentáculo para a difusão e prática da EdC mas, no futuro, levar à revisão dos conceitos de economia, onde a “consciência” é o bem mais precioso.

Onde, ao nível da mente, vender e comprar são o mesmo144.

Vender é um acto de dar, estender.

144

E comprar (alguém que vejo como parte de mim, ao nível da mente) é um acto de receber, e devolve o acto de aceitação a quem vende, dando-lhe de volta o seu próprio acto de dar.

Assim, a fórmula do sucesso seria assente numa nova consciência, em que: - Quem vende dá - recebe;

- Quem compra recebe - dá de volta;

- Os relacionamentos são, sobretudo, oportunidades conscientes de autoconhecimento e de aprimoramento pessoal e têm como único propósito

unir - princípio da integração145.

Com esta mudança de consciência será possível construir um mundo mais justo em que prevaleça o bem comum, como temos vindo a procurar demonstrar ao longo de todo o estudo.

O Papa Francisco, na primeira exortação Apostólica Pós-Sinodal146, define os

quatro princípios seguintes para a edificação de uma sociedade que queira beneficiar da paz, da justiça e da fraternidade e que resumem na perfeição, em nossa opinião, numa linguagem evangélica, a mudança no agir a 360º:

 O tempo é superior ao espaço, isto é, trabalhar a longo prazo, sem estar obcecado pelos resultados imediatos;

 A unidade prevalece sobre o conflito, isto é, trabalhar para que as oposições convirjam para uma unidade multiforme que possa gerar uma nova via;

145

Ferreira (2002: 62,63).

 A realidade é mais importante que a ideia, isto é, evitar que a política e a fé se reduzem à retórica;

 O todo é superior às partes, isto é, articular a globalização e a localização.

Chegou o momento de o homem se questionar não sobre: “o que posso eu obter da sociedade”, mas sobre: como posso eu contribuir para esta nova sociedade emergente?147.

147

Referências Bibliográficas