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Este estudo teve como objetivo conhecer e descrever o processo de composição coreográfica de Jomar Mesquita. Para atingi-lo apresentou-se a formação do coreógrafo Jomar Mesquita e dos bailarinos na MCD, delineando seus papéis no processo. Explicitaram-se as estratégias especificas ao processo de composição coreográfica em Jomar Mesquita. Além disso, buscou-se relacionar a obra desse coreógrafo com o panorama da dança no Brasil.

A formação do coreógrafo, assim como a dos bailarinos, tem grande influência no processo de composição coreográfica de Jomar Mesquita, assim como em sua caracterização. O coreógrafo iniciou sua formação fazendo aulas de Dança de Salão com seus pais, que fundaram a Mimulus. Ele aprofundou seus conhecimentos relativos à essa dança por meio de professores de outros lugares do Brasil e do exterior, tanto quando esses eram convidados a dar aulas na Mimulus, como através de viagens feitas por Jomar Mesquita. O coreógrafo complementou sua formação com aulas de teatro, ballet clássico, dança moderna, técnicas circenses, entre outras.

Sua formação heterogênea foi importante para muni-lo de ferramentas que o permitissem pesquisar e incorporar formas expressivas e comunicativas, possibilitando atingir seu objetivo de inovar em relação às apresentações de Dança de Salão. Com o mesmo objetivo demandou-se dos bailarinos da MCD uma formação diversificada também.

A formação dos bailarinos da MCD é heterogênea, necessariamente com ênfase em Dança de Salão. Eles exercem funções como criar sequências de movimentos, participar em decisões relativas ao tema do espetáculo e auxiliar uns aos outros e ao coreógrafo no que se refere aos ensaios da companhia. Atualmente, novos bailarinos são sempre provenientes do Grupo Experimental da Mimulus, que tem o objetivo de aproximá-los da linguagem da MCD e possibilita a formação diversificada que a companhia precisa. Além de bailarino, Jomar

Mesquita exerce a função de coreógrafo, ocupando-se principalmente da visão do todo em relação ao espetáculo, dando liberdade e autonomia aos bailarinos.

Como estratégias para o processo de composição coreográfica em Jomar Mesquita podemos apontar a desconstrução dos movimentos da Dança de Salão através de mudanças intencionais nas qualidades dinâmicas desses movimentos; por meio do uso de músicas que não se referem ao gênero de dança cujos movimentos estão sendo explorados; assim como a partir da experimentação deliberada de movimentos que se diferenciem do padrão da Dança de Salão, mas que envolvam o contato e a condução.

O processo de composição coreográfica em Jomar Mesquita caracteriza-se principalmente pelas desconstruções dos passos e figuras padronizados da Dança de Salão, assim como das representações e conceitos incutidos nessa dança. Caracteriza-se ainda pela participação dos bailarinos tanto nos processos vivenciados pela MCD, quanto nos processos vivenciados em outras companhias de dança.

É possível concluir que o processo de composição coreográfica em Jomar Mesquita caracteriza-se principalmente pelas desconstruções dos passos e figuras padronizados da Dança de Salão, assim como das representações e conceitos incutidos nessa dança, resultando em um espetáculo que extrapola o baile e o salão e abre expasso para o desenvolvimento de temáticas atuais.

Relacionando os resultados com as questões de investigação apresentadas neste estudo, salienta-se:

Questão: O que caracteriza a Dança de Salão em relação às outras formas de dança existentes?

A Dança de Salão pode ser caracterizada como uma dança social a dois em que os dançarinos estão sempre conectados de alguma forma. Uma das pessoas conduz a dança e a outra aceita e segue a condução. Busca-se a harmonia entre o par e a música. Existem

movimentos pré-estabelecidos, assim como há improvisação de passos. Cada par é independente dos outros.

Questão: Por ser originalmente uma dança social, feita para ser executada nos salões de baile, a Dança de Salão descaracteriza-se ao ser executada em um espaço cênico?

Quando executada em um contexto cênico, a Dança de Salão perde uma de suas características fundamentais: a socialização, passando a ter objetivo teatral. Além de não se apresentar em seu ambiente genuíno, que dá nome à dança, o salão de baile. Em cena, a Dança de Salão também perde algumas de suas características no que se refere à forma e movimento, porém não impreterivelmente. A transposição da Dança de Salão para a cena comumente mantém o contato e a condução como características presentes no salão de baile e no contexto cênico.

Questão: A transposição da Dança de Salão para o palco deve, necesssariamente, resultar em espetáculos que representem os ambientes originais dessa dança?

A transposição da Dança de Salão para o palco pode consistir num simulacro da mesma, em que ambiente, roupas, atitudes e movimentos prórpios do salão são reproduzidos em contexto cênico. Essa representação pode acontecer de forma integral ou estilizada; podem ser reproduzidos todos os elementos do salão, acima mencionados, ou só alguns deles. Quando a representação é estilizada e mantém-se apenas um ou alguns desses elementos característicos, é possível que se resulte num espetáculo em que os movimentos da Dança de Salão são desconstruídos e articulados a temas atuais, cujo conteúdo não se remete, necessariamente, à Dança de Salão.

Questão: Quando Jomar Mesquita transpõe a Dança de Salão para o palco, o produto apresentado pode ser chamado de Dança de Salão também?

Por ser uma desconstrução, entende-se que a composição coreográfica em Jomar Mesquita, apresentada pela MCD não resulta em uma Dança de Salão,pois não mantém

todas as características fundamentais dessa dança, apesar de ser construída a partir dela. “Dança contemporânea” mostrou-se como a forma mais pertinente de identificar a linguagem dessa companhia.

Questão: Que contributos a transposição da Dança de Salão para o palco proposta por Jomar Mesquita traz para o panorama brasileiro atual da Dança de Salão?

Os espetáculos apresentados pela MCD são criados a partir da desconstrução da Dança de Salão, e assim abrangem o paradigma da dança contemporânea, diminuindo a distância entre as duas formas de dança. Essa linguagem própria abre portas para novos caminhos no que diz respeito a Dança de Salão e composição coreográfica, demonstrando que uma coreografia criada a partir da Dança de Salão não precisa ser uma representação da mesma. Dessa forma, a proposta de Mesquita estimula o estudo e aprofundamento por parte dos profissionais da Dança de Salão, além de incentivar discussões que englobem a composição coreográfica relacionada à Dança de Salão.

Para investigações futuras sugere-se:

 A realização do mesmo estudo durante um processo de composição coreográfica na MCD, a fim de acompanhá-lo desde o início até o final do processo.

 A continuação do estudo na mesma área, em outros grupos de Dança de Salão a fim de perceber semelhanças e diferenças entre distintos processos de composição coreográfica que envolvam essa dança.

 A participação do investigador como bailarino na MCD ou em outro grupo de Dança de Salão, possibilitando maior contato com o tema e com os participantes.

 A participação do investigador como coreógrafo, a fim de vivenciar a Dança de Salão em seu próprio processo de composição coreográfica.

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ANEXOS

Anexo 1 – Modelo do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido assinado pelos