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Para o estudo da pirólise como tecnologia para redução de emissões de gases de efeito estufa e seqüestro de carbono foi escolhido o tratamento de resíduos de couro do tipo wet-blue. Tais resíduos são biogênicos, mas possuem cromo devido ao curtimento do couro e, por isso, são classificados como Resíduos Classe I – Perigosos e necessitam de destinação ambientalmente adequada. Utilizaram-se para os ensaios resíduos do Curtume Kaparaó, da cidade de Ipatinga/MG. Um forno pirolítico foi montado nas instalações da empresa Engenho 9, em Ribeirão das Neves/MG. Ensaios de materiais voláteis, carbono fixo e cinzas foram realizados no Laboratório de Análises Físicas e Químicas da UFMG. Duas metodologias de MDL foram desenvolvidas para estimar esse potencial: (i) Evitando Produção de Metano pelo decaimento de biomassa através de pirólise controlada, que foi aprovada pela UNFCCC no EB 31 em maio de 2007 e (ii) Estabilização Química e Biológica do carbono de resíduos sólidos para armazenamento permanente através de pirólise controlada. Os principais resultados e as respectivas conclusões são:

1) Para um período de projeto de MDL de 10 anos tratando 100 toneladas de

resíduos por mês, obteve-se a redução de emissões de GEE de 11.947 toneladas de CO2e. O metano evitado é o principal componente, correspondendo a 59% do total contra os 41% do seqüestro de carbono. A razão central dessa preponderância do metano evitado é o fato do potencial de aquecimento global (GWP) do metano ser bem mais alto que o do dióxido de

carbono, ou seja, o GWP do CH4 é 21 vezes maior que o do CO2;

2) O resíduo tratado por pirólise reduz cerca de 80% em massa e 85% em

volume. Existem, então, ganhos logísticos e financeiros nesse processo.

Resíduos com menores massas e volumes necessitam de áreas também menores de disposição, além de menos tempo de aterramento e menos equipamentos. Existe um ganho também no transporte, tanto em termos de custos envolvidos como de emissões de GEE devido ao transporte;

3) O resíduo pirolisado, correspondente a 4.904 toneladas de CO2e em 10 anos,

seria disposto em aterro dedicado para esse fim. A estabilização do cromo no

resíduo pirolisado é uma das grandes vantagens ambientais da utilização dessa tecnologia para tratamento de resíduos de couro wet-blue. Como Esteves

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 85

ambientalmente seguro e que poderia ser aplicado em todas as indústrias do setor. Com o cromo estável, não haveria contaminação do lençol freático, do solo ou de animais por essa substância;

4) O principal risco associado ao projeto refere-se ao armazenamento do

carbono. Como o resíduo pirolisado possui um poder calorífico considerável,

caso aconteça um incêndio no local de estoque, todo o CO2 armazenado seria

lançado na atmosfera. Isso comprometeria todo o projeto em termos de VERs. Para isso, esses resíduos devem ser aterrados em local dedicado para esse fim, bem como aterrados entre camadas de algum material inerte. Assim, elimina-se o risco de perda de todo o estoque de carbono;

5) A dificuldade operacional é, sem dúvida, um fator que dificulta a aplicação

dessa tecnologia. Isso é devido ao fato de ser necessária mão-de-obra

especializada para operação da planta de pirólise e o correto aterramento dos resíduos pirolisados;

6) Caso um projeto de 10 anos utilizando a pirólise, como o analisado, fosse

desenvolvido, ele poderia obter cerca de R$ 290.000,00 em receitas advindas da venda dos créditos de carbono (este valor já está considerando a venda de CERs e VERs, ou seja, a venda de créditos de carbono referentes ao metano evitado no MDL e a venda das reduções de emissões verificadas no mercado voluntário e/ou na Chicago Climate Exchange. Foram considerados os valores de 12,00 euros para o CER e 5,00 euros para o VER). Contudo, isso significa

R$24,52 por tonelada tratada. Tal receita pode ser o diferencial necessário para a implementação dessa tecnologia e para a mitigação dos problemas relacionados com o tratamento de resíduos sólidos. É importante ressaltar que os valores de venda de CERs e VERs variam ao longo do tempo. Assim, um projeto dessa natureza possui um risco atribuído não somente à eficácia do processo de tratamento, mas também um risco mercadológico.

Existem algumas barreiras que dificultam a aplicação da tecnologia de pirólise para tratamento de resíduos como a pouca difusão dessa tecnologia e às poucas pesquisas nessa área. Nesse contexto, seguem algumas sugestões para futuras pesquisas:

a) Ajustar o processo de pirólise para as melhores temperaturas de tratamento; b) Melhorar o isolamento térmico do sistema;

c) Acompanhar o comportamento do local de armazenamento do carbono para provar que este é realmente estável;

d) Uma análise parecida deveria ser feita em termos de resíduos sólidos urbanos onde a pirólise poderia ser utilizada, alinhando os discursos de Klein (2005) e Wilén et at. (2004). Acredita-se que o potencial de redução seria ainda maior, visto a grande disponibilidade desse tipo de resíduo. Esse potencial poderia ser até mesmo maximizado, aplicando técnicas de segregação e reciclagem no processo. Assim, só seriam pirolisados resíduos biogênicos ou caso os resíduos estejam sendo incinerados, a pirólise pode substituir a incineração com

vantagens climáticas, pois evita a formação de CO2 pela queima de resíduos

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