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O objetivo desta pesquisa foi buscar a visão das operadoras de telefonia fixa estabelecidas no Brasil em relação à reconfiguração na indústria, motivada pelo surgimento de novas tecnologias, entrada de novos players no mercado e aumento no nível de exigência dos clientes. Esta visão foi obtida através das opiniões coletados dos executivos da área entrevistados.

Os resultados obtidos foram satisfatórios no sentido de obter respostas para as perguntas da pesquisa, fornecendo um panorama do posicionamento das operadoras de telefonia fixa em relação aos movimentos de posicionamento da indústria. A exceção é feita ao entendimento dos modelos de negócio que venham a ser adotados para adaptar-se à nova configuração da indústria.

Esta análise representa uma fotografia deste momento e deve-se ter em mente que se trata de um ambiente dinâmico e, portanto, as mudanças acontecem constantemente.

Derivada da pergunta principal da pesquisa, o primeiro questionamento é em relação à adaptação das empresas às mudanças provocadas pela reconfiguração do mercado. Neste sentido, diversos movimentos de mercado levaram a aquisições de participações acionárias, mudando o cenário competitivo da indústria. Apesar de que muitos destes movimentos já aconteceram, o futuro próximo, segundo a opinião dos entrevistados, ainda reserva mudanças no sentido da consolidação da indústria em 3 ou 4 grupos, provavelmente multinacionais, que irão dominar o mercado.

78 Ainda em relação às mudanças no mercado, observa-se que a competição ainda não tem a dimensão desejada pelo consumidor. Na verdade, as operadoras de telefonia fixa limitam-se às suas regiões de concessão para oferecer seus serviços. Como as operadoras espelho não vingaram, as alternativas para competição são pequenas. Algumas destas alternativas começam a surgir, valendo-se de tecnologias que permitem, por exemplo, a utilização da infra-estrutura de TV a cabo para fornecer serviços de voz. A partir desta tecnologia, a Empresa C que, como já foi dito, possui no seu grupo econômico uma operadora de TV a cabo, começa a oferecer pacotes de serviço que podem vir a ameaçar a hegemonia das outras

incumbents. Além destes, os movimentos de “invasão” de outras regiões são feitos visando,

principalmente, o mercado corporativo. A partir da entrada no mercado corporativo, as operadoras se valem de tecnologias sem fio para oferecer serviços fora de sua região.

Fechando esta questão de mudanças no mercado, a observação foi que, em relação ao modelo sugerido por Hax & Wilde (1999) e os conceitos de liderança de plataforma de Gawer & Cusumano (2002), não se tem nesta indústria a tendência a que uma empresa obtenha uma dominância de mercado que possa ser classificada como um System Lock in ou como um líder de plataforma.

A “vaca leiteira” ainda é voz, segundo os entrevistados. É a partir desta base, herdada na privatização e ampliada enormemente nos anos que se seguiram, que as operadoras têm a receita que mantém a operação. Por conta, mais uma vez, da falta de concorrência, as operadoras não tiveram muita pressão para redução de preços, o que manteve de alguma forma sua rentabilidade.

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Em relação à convergência tecnológica, as operadoras de telefonia fixa encontram-se em uma situação dividida. Por um lado têm enormes redes instaladas e precisam utilizar ao máximo esta capacidade. A visão dos entrevistados é de que esta plataforma ainda será útil por muito tempo. Entretanto, para fazer face às necessidades de serviços derivados da convergência, as operadoras precisam fazer investimentos em tecnologia para se adaptarem às necessidades dos clientes. Segundo os entrevistados, ainda, a configuração de uma indústria convergente terá como infra-estrutura uma rede multiserviços, para tráfego de voz, vídeo e dados. Os usuários deverão acessar aos serviços por eles contratados de qualquer lugar, a qualquer hora e por diversos devices diferentes. Para este usuário a tecnologia será transparente e os serviços serão adaptados às limitações do device utilizado.

Uma tendência que foi observada nas entrevistas foi a migração de fixo para celular. Na opinião dos entrevistados, este fenômeno preocupa mais neste momento do que propriamente a migração de fixo para alternativas do tipo VoIP. Em um primeiro momento, a migração se deu por conta de uma demanda reprimida do setor de telecomunicações como um todo. Mas mesmo mais recentemente se observa a continuidade desta migração.

Sobre as ofertas de produtos e serviços, as operadoras já começam a oferecer bundles que envolvem diversos serviços de telefonia. Três exemplos:

• A Empresa A oferece um pacote com dois celulares, uma linha telefônica fixa, sem limite de pulsos, banda larga, 200 minutos compartilhados entre os celulares, ligações do fixo para celular, ligações para fixo local ilimitadas (incluindo a assinatura básica) e interurbanos pelo seu CSP.

80 • A Empresa C já oferece vantagens a quem tiver mais serviços, dentro de um conjunto que pode envolver telefonia fixa, TV a cabo, banda larga e longa distância.

• A Empresa D oferece um leque de possibilidades que envolvem telefonia fixa, telefonia móvel, longa distância e banda larga. A empresa tem como produto, também, um telefone que em casa ou no escritório funciona (e é tarifado) como fixo e na rua comporta-se como um celular. São dois números de telefone, mas um único aparelho.

Ainda em relação a oferta, os serviços de valor adicionado têm uma característica bem diferenciada na fixa em relação à móvel. Na móvel existe uma grande variedade de serviços voltados, em sua maioria, para o mercado residencial, serviços de entretenimento de uma forma geral. Na fixa o foco dos serviços de valor adicionado é no mercado corporativo. De qualquer forma, os serviços de valor adicionado são, no entender das operadoras, uma forma de aumento de receita e uma forma de fidelização de clientes.

Em relação à regulamentação, as operadoras analisadas demonstraram a tentativa de que a regulamentação seja utilizada a seu favor. Por um lado, as incumbents tentam fazer valer o fato de que adquiriram uma licença e que, portanto, devem defender este investimento utilizando as próprias regulamentações que estabeleceram sua concessão. Vale ressaltar que, da forma como são hoje, estas licenças se limitam ao tráfego de voz, tendo as metas de universalização limitação a este tipo de serviço. É errado imaginar que se possa impor metas de universalização envolvendo banda larga para escolas em localidades distantes, por exemplo, quando a licença está limitada a tráfego de voz. Na Europa estão surgindo novos tipos de licença que envolvem diferentes serviços do escopo de telecomunicações que possibilitarão a expansão das metas de universalização para outros serviços.

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Uma outra questão levantada, relativa a regulamentação, foi o fato de que é difícil para o órgão regulador pré-regular, isto é, criar as regras básicas para a utilização de novos serviços e de novas tecnologias antes destas entrarem em serviço. Novamente há duas vertentes. A primeira, segundo os entrevistados, dá conta de que, em muitas situações, as operadoras lançam seus novos produtos e serviços, demonstram sua viabilidade comercial e técnica e o órgão regulador se aproveita da experiência concreta e cria a condição legal para aquele produto ou serviço. Entretanto, uma segunda vertente leva a que diversas empresas detentoras de autorizações que geralmente não permitem determinadas incursões por produtos e serviços protegidos pelas licenças das incumbents, venham a fornecer estes por conta de brechas regulatórias.

Os planos de futuro das operadoras de telefonia fixa têm um horizonte pequeno, em torno de 3 anos por conta da já citada dinâmica do setor. As operadoras têm uma estratégia definida, mas que não seguem de forma linear as estratégias tradicionais. Para clientes de maior valor as operadoras utilizam uma estratégia de diferenciação e para clientes de menor valor a estratégia é diferenciação por custo.

Está claro que ainda há muita incerteza neste mercado e que as operadoras de telefonia fixa estão fazendo os movimentos no sentido de se adaptarem às novas condições impostas pela reconfiguração do mercado.

O interessante é que, cada vez menos, se pode falar de operadoras de telefonia fixa ou operadoras de telefonia móvel ou carrier ou operadora de longa distância. As operadoras entrevistadas demonstraram que os grupos econômicos a elas associados estão se

82 consolidando e, em alguns casos, já não é mais possível falar em uma empresa de telefonia fixa e uma empresa de telefonia móvel, por exemplo. Partindo deste entendimento básico é que as empresas encaram a convergência tecnológica, fazendo a sua própria convergência de negócios.

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