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Esse artigo estimou os efeitos dos ciclos pol´ıticos or¸cament´arios na situa¸c˜ao fis- cal dos munic´ıpios brasileiros, comparando as diferen¸cas nos indicadores fiscais em anos eleitorais e n˜ao eleitorais, assim como o alinhamento partid´ario. Para tal, avaliou os indi- cadores de situa¸c˜ao fiscal e dados eleitorais de 5562 munic´ıpios brasileiros para o per´ıodo de 2006 a 2015, utilizando dados em painel espacial dinˆamico. A utiliza¸c˜ao da aborda- gem espacial mostrou-se pertinente enquanto controle da dependˆencia espacial existente e possibilitou o detalhamento das intera¸c˜oes entre os munic´ıpios em efeitos diretos e indi- retos. Os resultados da pesquisa apontam evidˆencias de diferen¸cas na situa¸c˜ao fiscal dos munic´ıpios em per´ıodos eleitorais, do mesmo modo que existe um efeito de persistˆencia da situa¸c˜ao fiscal ao longo do tempo das vari´aveis.

Em rela¸c˜ao `a Teoria dos ciclos pol´ıticos or¸cament´arios, ´e poss´ıvel inferir que os resultados s˜ao coerentes na condi¸c˜ao de sinalizadores de ciclos eleitorais, mas divergentes na tendˆencia dos ciclos, o que se pˆode observar foi uma melhora nos indicadores fiscais nos anos eleitorais, sugerindo um movimento contrac´ıclico. Essa descoberta evidencia que os ciclos eleitorais est˜ao acompanhando as regras estabelecidas pela Lei de Responsabilidade Fiscal, mas que a mesma n˜ao conseguiu eliminar os ciclos pol´ıticos.

No que tange ao alinhamento partid´ario, ressaltam-se os benef´ıcios fiscais de se manter alinhado com os governos estadual e federal. Entretanto, diante do sistema pol´ıtico de coaliz˜oes e dos ind´ıcios de que o alinhamento partid´ario no caso brasileiro ´e basicamente um mecanismo eleitoral dos ciclos eleitorais, demandam-se mais estudos acerca do tema visando a identificar os impactos econˆomicos e sociais da utiliza¸c˜ao desse mecanismo.

Deste modo, pondera-se a necessidade futura de trabalhos sobre a rela¸c˜ao entre regras, transparˆencia fiscal e ciclos pol´ıticos, considerando que deficiˆencias no processo de

transparˆencia podem dar margem `a contabilidade criativa em detrimento de um verda- deiro ajuste fiscal dos munic´ıpios. Diante disso, questiona-se a dificuldade das prefeituras em manter a qualidade de gest˜ao fiscal em per´ıodos n˜ao eleitorais. Fazem-se necess´arios o debate sobre a eficiˆencia da Lei de Responsabilidade Fiscal como diretriz de finan¸cas p´ublicas e a falta de um dispositivo normativo acerca da elabora¸c˜ao do Plano Plurianual como forma de melhorar o processo de planejamento e controle de recursos.

O trabalho contribuiu para ampliar a discuss˜ao dos ciclos pol´ıticos or¸cament´arios no Brasil, apontando que os mesmos tem impacto sobre a situa¸c˜ao fiscal dos munic´ıpios. A utiliza¸c˜ao da metodologia de dados em painel dinˆamico com defasagem espacial mostrou- se relevante dada a presen¸ca de autocorrela¸c˜ao espacial encontrada.

Como limita¸c˜ao do trabalho, aponta-se o breve per´ıodo de an´alise, dez anos, que abrange somente duas elei¸c˜oes municipais. Sugere-se para trabalhos futuros a amplia¸c˜ao deste per´ıodo.

A Metodologia Firjan

A Lei de Responsabilidade Fiscal (2000) estabeleceu que os munic´ıpios devem en- caminhar as contas da execu¸c˜ao fiscal anualmente para a Secretaria do Tesouro Nacional. Os dados consolidados s˜ao a maior fonte de dados de finan¸cas p´ublicas municipais no Brasil.

O Firjan utiliza este banco de dados para construir o ´ındice Firjan de Gest˜ao Fiscal (IFGF), que ´e composto por quatro indicadores com peso 22,5%, a saber: receita pr´opria, gastos com pessoal, investimento, liquidez e um indicador com peso de 10%, o custo da d´ıvida. O peso menor para o custo da d´ıvida decorre da incapacidade dos munic´ıpios em contrair d´ıvidas Firjan (2016). O IFGF varia de 0 a 1, sendo que quanto mais pr´oximo de 1, melhor ´e a situa¸c˜ao fiscal do munic´ıpio analisado.

A Tabela A.1 resume o c´alculo e a forma de avalia¸c˜ao de cada indicador.O indicador de receita pr´opria verifica o grau de autonomia das receitas do munic´ıpio, sendo calculado pela divis˜ao da receita pr´opria pela receita corrente l´ıquida. Se a fra¸c˜ao for maior que 50%, o ´ındice ´e considerado excelente.

O indicador gasto com pessoal avalia o comprometimento das receitas com os gastos com pessoal, sendo calculado por um menos a divis˜ao do gasto com pessoal pela receita corrente l´ıquida.Se a fra¸c˜ao for menor que 30%, o ´ındice ´e considerado excelente. E se for maior que 60%, o ´ındice ´e considerado cr´ıtico.

O indicador investimento mede a parcela do investimento nos or¸camento munici- pais, dada sua importˆancia para o crescimento econˆomico, sendo calculado pela divis˜ao

Tabela 2.4: Resumo do c´alculo do ´Indice Firjan

Avalia Forma de C´alculo

Receita Pr´opria Capacidade de arrecada¸c˜ao receita pr´opria / receita corrente l´ıquida Investimentos Capacidade de fazer investimentos investimento/ receita corrente l´ıquida Gasto com Pessoal Grau de rigidez do or¸camento gasto com pessoal / receita corrente l´ıquida Liquidez Suficiˆencia de caixa (caixa-restos a pagar)/ receita corrente l´ıquida Custo da D´ıvida Custo da d´ıvida de longo prazo juros e amortiza¸c˜oes/ receita,l´ıquida real Fonte:Firjan (2016).

dos investimentos pela receita corrente l´ıquida. Se a fra¸c˜ao for maior que 20%, o ´ındice ´e considerado excelente.

O indicador de liquidez tem como objetivo verificar a gest˜ao dos recursos financeiros para despesas futuras, sendo calculado por um menos a divis˜ao dos restos a pagar pelo ativo financeiro. Se a fra¸c˜ao for igual a zero, o ´ındice ´e considerado excelente. Por fim, o indicador custo da d´ıvida objetiva analisar o peso dos encargos da d´ıvida em rela¸c˜ao `as receitas l´ıquidas. Se a fra¸c˜ao for igual `a zero, o ´ındice ´e considerado excelente. E se for maior que 13%, o ´ındice ´e considerado cr´ıtico.

B Estat´ıticas Descritivas

Tabela 2.5: Estat´ıticas Descritivas

M´edia Desvio Padr˜ao

IFGF 0.4915 0.1428

Gasto com pessoal 0.5864 0.2120

Investimento 0.5346 0.2814 Jovens 0.2509 0.05123 Eleitores 0.7016 8.2461 Idosos 0.3731 0.1836 Densidade demogr´afica 109.1177 576.2156 Observa¸c˜oes 55620

3. Ciclos pol´ıticos or¸cament´arios e

decis˜oes individuais: um

experimento de economia

comportamental

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