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Os ciclos pol´ıticos or¸cament´arios e a economia comportamental

comportamental

A Teoria dos Ciclos Pol´ıticos Or¸cament´arios deriva do estudo dos Ciclos Pol´ıticos Econˆomicos, surgidos a partir da d´ecada de 1970, com o intuito de analisar como a eco- nomia ´e influenciada pelas pol´ıticas governamentais. A evolu¸c˜ao da Teoria dos Ciclos Pol´ıticos deu origem aos Modelos Cl´assicos (ou Tradicionais) e aos Modelos Racionais. Os Modelos Cl´assicos consideram que os eleitores agem de acordo com expectativas adap- tativas, de modo que os agentes tˆem vis˜ao backward-looking da forma¸c˜ao das expecta- tivas, tomando decis˜oes segundo os conhecimentos do passado. Por sua vez os Modelos Racionais consideram que os eleitores agem de acordo com expectativas racionais, tendo

conhecimento do ambiente pol´ıtico-econˆomico4 .

Apesar de a Teoria dos Ciclos Pol´ıticos Or¸cament´arios definir que os agentes pol´ıticos podem agir em benef´ıcio pr´oprio, as an´alises tradicionais do tema restringem-se a conhecer se existe esse comportamento, declarando que ele est´a condicionado unicamente `a tentativa de permanecer no poder. Contudo, intuitivamente, outros fatores podem motivar esse comportamento, desde fatores sociais e econˆomicos a fatores institucionais, legislativos, entre outros. Assim, a abordagem da economia comportamental ´e uma opor- tunidade de agregar esses fatores `a Teoria dos Ciclos Pol´ıticos Or¸cament´arios.

No ˆambito do Estado e das Leis, Frey (1997) desenvolve o conceito de efeito crowding-out das virtudes c´ıvicas em que analisa como a constitui¸c˜ao das institui¸c˜oes e seus regimentos podem afetar negativamente a escolha do agente, quando uma rela¸c˜ao pr´evia n˜ao monet´aria ´e transformada em monet´aria, como, por exemplo, a transforma¸c˜ao de penas de pris˜ao e servi¸cos comunit´arios em multas. Considera-se a rela¸c˜ao entre o princ´ıpio psicol´ogico de motiva¸c˜ao intr´ınseca e constitui¸c˜oes projetadas para “patifes”, ou para os cidad˜aos puramente ego´ıstas, como fator de expuls˜ao das virtudes c´ıvicas, em que os cidad˜aos exploram todas as oportunidades legais ao m´aximo.

A Teoria Econˆomica Neocl´assica considera as motiva¸c˜oes extr´ınsecas e intr´ınsecas como ex´ogenas e constantes. Os trabalhos de Frey (1997), Frey (1998), Frey e Jegen (2001) contribuem ao afirmar que mudan¸cas na motiva¸c˜ao intr´ınseca do agente geram impactos na economia, do mesmo modo que a motiva¸c˜ao extr´ınseca pode afetar a motiva¸c˜ao intr´ınseca. Ao considerar as motiva¸c˜oes um fator importante nas decis˜oes, Frey (1997) desen- volve um modelo para escolha do comportamento individual, no qual o agente ajusta sua performance ao avaliar seus benef´ıcios e custos, considerando que sejam influenciados pela interven¸c˜ao externa e que o benef´ıcio apresenta retornos marginais decrescentes, sendo o custo marginalmente crescente. O agente racional maximizaria sua escolha igualando benef´ıcio e custo. Entretanto, dada a interven¸c˜ao externa, a motiva¸c˜ao intr´ınseca pode ser afetada positiva ou negativamente. ´E positiva quando o agente a percebe como um suporte moral, nesse caso os benef´ıcios s˜ao maiores do que os custos e ocorre um efeito crowding-in da motiva¸c˜ao intr´ınseca. ´E negativa quando o agente a percebe como um controle moral, nesse caso os benef´ıcios s˜ao menores do que os custos e ocorre um efeito crowding-out da motiva¸c˜ao intr´ınseca.

Assim, Frey (1997), Frey (1998), Frey e Jegen (2001) assumem o homo economicus, a racionalidade do indiv´ıduo, preconizado pela Teoria Econˆomica Neocl´assica. A partir da d´ecada de 1960, a psicologia come¸cou a mapear como o c´erebro processa as informa¸c˜oes, desenvolvendo o conceito comportamental de que o c´erebro ´e uma m´aquina de impulso- resposta. Apoiada nas descobertas da psicologia, a economia comportamental analisa o

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humano, assumindo a racionalidade condicionada `as intera¸c˜oes estrat´egicas e dinˆamicas. Desse modo, Camerer e Loewenstein (2004) afirmam que a essˆencia da economia compor- tamental ´e a convic¸c˜ao da melhora da an´alise econˆomica por meio do aumento do realismo de bases psicol´ogicas.

Ao se desviar dos princ´ıpios estat´ısticos, o homem utiliza heur´ısticas como m´etodo para encontrar solu¸c˜oes para um problema. Portanto, segundo Camerer e Loewenstein (2004), uma boa heur´ıstica fornece rapidamente, e perto do ´otimo, respostas para o agente quando o tempo ou a capacidade cognitiva s˜ao limitadas, mas pode levar a erros ao violar os princ´ıpios l´ogicos.

A economia comportamental conta com quatro heur´ısticas b´asicas definidas por Tversky e Kahneman (1974): disponibilidade, representatividade, ancoragem e confirma¸c˜ao. A disponibilidade diz que as pessoas avaliam a frequˆencia ou a causa de um evento de acordo com o grau das ocorrˆencias desse evento dispon´ıveis na sua mem´oria. A repre- sentatividade diz que o agente avalia a probabilidade de o evento ocorrer com base em estere´otipos, pela similaridade com um caso t´ıpico. A ancoragem ou ajuste diz que o agente tende a fazer avalia¸c˜oes partindo de um julgamento inicial de modo que tende a ter dificuldades de ajuste `as novas informa¸c˜oes. E a confirma¸c˜ao ´e a tendˆencia de o agente buscar evidˆencias que confirmem sua hip´otese, desconsiderando evidˆencias negativas.

Chetty (2015) pondera que a economia comportamental para pol´ıticas p´ublicas tem trˆes aplica¸c˜oes: oferecer novas ferramentas pol´ıticas, fornecer melhores predi¸c˜oes sobre os efeitos das pol´ıticas existentes e gerar novas implica¸c˜oes sobre o bem-estar. Salienta ainda que a incorpora¸c˜ao do aspecto comportamental dentro dos modelos econˆomicos tem substancial valor pr´atico para responder a quest˜oes pol´ıticas.

Deste modo, a incorpora¸c˜ao da economia comportamental ao oportunismo pol´ıtico- econˆomico oferece perspectivas de an´alise das ferramentas adequadas de mitiga¸c˜ao do oportunismo pol´ıtico-econˆomico, visando a diminuir os efeitos crowding-out das regras fiscais.

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