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CAPÍTULO 3. O MERCADO RETRO/HERITAGE PORTUGUÊS

3.2 Concorrência

Quando analisamos a presença d’ A Vida Portuguesa no mercado retro/heritage português, é inevitável ter em consideração outras forças que com maior ou menor semelhança se constituem como concorrentes no mesmo mercado. Tenhamos em conta a ideia de autores como Denis Lindon e Jacques Lendrevie acerca dos concorrentes que estão presentes no meio envolvente de qualquer empresa. De acordo com estes e outros autores, no mesmo mercado verifica-se a existência de concorrência a três níveis: “interprodutos”, “intersegmentos”, “genérica” (2010:449). Analisemos, pois, o espaço concorrencial onde se insere A Vida Portuguesa. Num nível mais abrangente, podemos perspectivar a concorrência genérica como o mercado massificado e homogeneizado no geral. Nos centros comerciais e hipermercados, os consumidores poderão obter produtos alternativos, abdicando dos valores enunciados pela marca portuguesa. A própria marca reconhece a grande força que estes concorrentes têm no mercado em geral, sendo imbatíveis nas quatro varáveis do marketing-mix. Invariavelmente, não oferecem os mesmos produtos, valores e gratificações que os produtos A Vida Portuguesa proporcionam.

Num nível intermédio, identificamos uma “concorrência intersegmentos” na qual reconhecemos as lojas e marcas cuja oferta centra-se no segmento retro/heritage. A este nível de concorrência

podemos referir concorrentes indirectos como as marcas A Outra Face da Lua, Viúva Alegre (ambas com lojas na Baixa de Lisboa), a marca Vintage Bazar (cuja loja está situada em Oeiras), a Montra Antiga ou as lojas Louie Louie. A concorrência instala-se em diferentes segmentos e prolonga-se por muito mais marcas e lojas espalhadas pelo país. Considerando o potencial que praticamente todos os produtos e marcas antigas têm para se tornar em peças retro e heritage comercializadas, entendemos as multiplicidades deste mercado. Das marcas referidas, a Viúva Alegre dedica-se ao comércio de vestuário retro. Já A Outra Face da Lua e o Vintage Bazar prolongam a sua oferta ao vestuário vintage, bem como aos artigos de decoração. A Montra Antiga, por sua vez, anuncia uma oferta mais variada que engloba a moda, a decoração e o lazer (através, por exemplo da literatura e da fotografia). A loja Louie Louie dedica-se ao comércio de artigos de música, nomeadamente discos vinil antigos de diferentes géneros musicais. Ainda, existem por todo o país inúmeras lojas e antiquários onde podem ser encontrados objectos de décadas passadas e que facilmente poderão ser classificadas de relíquias. A lista de concorrentes deste segmento é infindável, embora o tipo de oferta e a qualidade sejam variáveis.

Por fim, circunscrevemo-nos à concorrência mais directa da marca A Vida Portuguesa. Trata-se da “concorrência interprodutos” cuja oferta incide sobre as mesmas categorias. Entre as lojas com um tipo de oferta semelhante à d’ A Vida Portuguesa, podemos destacar a loja À Antiga Portuguesa, situada em Cascais. Esta loja chegou, inclusivamente a ser uma das lojas colaboradoras da marca A Vida Portuguesa, no entanto, a colaboração findou. No mesmo género, salientamos a Mercearia da Atalaia, espaço moderno situado no Bairro Alto e cuja oferta combina produtos retro com produtos gourmet. Numa outra perspectiva, mas dentro do mesmo âmbito, referimos a Wine o’Clock, empresa centrada na revenda de vinhos e bebidas e cuja oferta contempla produtos retro/heritage.

Mais uma vez reconhecemos a variedade de lojas que poderão fazer concorrência à A Vida Portuguesa em Portugal, acrescentando ainda as lojas online descentralizadas. Porém, vale a pena referir a posição da marca personificada por Catarina Portas face à concorrência. Tomemos, inclusivamente, como referência o direito a resposta feito a uma das maiores concorrentes directas (e que está publicado no blogue da empresa). Para a marca, a concorrência é bem-vinda, isto porque se o conceito for verdadeiramente o mesmo, é maior a força dada aos fabricantes portugueses e é maior o reconhecimento do valor e importância dos produtos e do artesanato português. A concorrência permite o crescimento do mercado retro e heritage português de produtos genuinamente nacionais e, consequentemente, incentivar a produção nacional e a procura pelos consumidores. Será mais uma ferramenta para trabalhar a imagem de Portugal aos turistas que visitam o nosso país.

Porém, perante toda a concorrência que efectivamente existe, Catarina Portas considera que a marca se destaca pelo trabalho que é desenvolvido e por aquilo que é oferecido ao mercado de consumidores: produtos com valor histórico, com uma elucidação acerca de cada um deles, das origens e dos fins. Ocorre um trabalho de personalização dos produtos e marcas portugueses que dificilmente os consumidores poderão encontrar, assim reconhece a mentora do projecto em

entrevista “o que diferencia A Vida Portuguesa da concorrência é o esforço por investigar, contextualizar e divulgar as histórias por trás das marcas e dos fabricantes, que são uma óptima forma de os ‘vender’ e de fazer a diferença num mercado cada vez mais globalizado”.

Pela análise realizada, percebemos o potencial que o consumo retro e heritage possui no mercado português. Numa sociedade crescente e inevitavelmente globalizada e receptiva aos produtos e marcas internacionais, talvez faça sentido reflectir sobre a qualidade dos produtos nacionais, pois se persistiram no mercado durante anos, talvez tenham efectivamente um considerável valor. O consumo de produtos retro e heritage nacionais, como os das lojas A Vida Portuguesa, reflectem uma procura consciente e proporcionam uma satisfação que é ampliada pelos efeitos de memória e reconhecimento que lhes são inerentes.

O consumo de produtos retro e heritage, no geral, proporciona aos consumidores un regresso às origens, às bases da sociedade em que vivemos. Os conceitos retro e heritage convergem, pois, na ideia de Beck e de Giddens acerca da Sociedade de Risco em que vivemos, e da demanda quase desesperada por elementos do passado que nos sirvam de referência para redefenirmos quem somos. Os produtos retro e heritage comecializados por A Vida Portuguesa são produtos portugueses, que fizeram parte da vida quotidiana de Portugal ao longo de décadas em meados do século XX. Por esse motivo, trata-se de produtos cujo potencial não se esgota na qualidade utilidade dos mesmos. Pelo contrário, o poder e impacto destes produtos prolongam-se às questões identitárias, na medida em que conseguem caractertizar um período da história de um povo, contribuindo para o enriquecimento da sua cultura. Neste sentido, o consumo de produtos retro e heritage possibilita um regresso ao passado, ao que fomos, de forma a definirmos quem somos. Por fim, noutra perspectiva, devemos encarar o consumo de produtos retro e heritage como uma expressão de individualidade. Efectivamente, trata-se de uma manifestação pessoal do consumidor que se afasta da oferta massificada e heterogénea e opta por um consumo fiel aos seus gostos mais pessoais e que corresponde ao consumo pós-moderno.

CAPÍTULO 4. RELAÇÃO ENTRE OS JOVENS PORTUGUESES E O

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