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Capítulo II – CONDESTÁVEIS E BOMBARDEIROS NA ÍNDIA

3. Os Condestáveis-mor da Índia

3.5 Condestáveis de Goa

Goa tinha-se tornado, desde a conquista em 1510, um complexo fortificado, enquadrado por um sistema de fortes que controlavam as entradas dos braços de água e os passos aproveitando as condições estratégicas da ilha. Além disso era o centro da construção naval e da preparação de armadas, o que justifica ainda mais a existência de um cargo de

402 Lendas, I, p.780. 403 CAA, V, p.205. 404 CAA, V, p.211. 405 Cf. Anexo IX. 406 CAA, VI, p.171. 407 CAA, VII, p.135.

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condestável-mor específico à cidade, dado o número de condestáveis e bombardeiros seus dependentes, dispersos pelos fortes que defendiam o território ou nas unidades da armada. Este cargo marca uma diferença em relação ao modelo das outras fortalezas, na medida em que se configura como uma posição de hierarquia intermédia e quase de excepção, colocada entre o superior de todos os bombardeiros da Índia e aqueles que eram seus subalternos nas diversas fortalezas do território de Goa. A sua coexistência com o condestável-mor da Índia, dentro de documentos relativos a Goa, demonstra a simultaneidade dos cargos e a sua posição na hierarquia, ao mesmo tempo que afasta quaisquer dúvidas que pudessem surgir relacionadas com a designação comum de condestável-mor.

A fortaleza de Goa tem portanto o seu próprio condestável, cabeça do sistema de artilheiros da cidade, que recebe 31.560 reais408. Também na fortaleza se encontrava o almoxarife do armazém de artilharia, este com 60 mil reais anuais. Se apenas o vencimento servisse para definir uma hierarquia, então o almoxarife seria o responsável máximo pela estrutura, mas aqui terá de ser ponderada uma divisão evidente entre os meios de produção de artilharia e a estrutura militar dos seus operadores. As fortalezas com condestável que defendiam os passos de Goa eram: Benastarim, Pangim, Naroá e o Passo Seco. Em ―terra firme‖ encontravam-se Salcete e Bardez. Os responsáveis pelos artilheiros destas posições recebiam, cada um, mais 1 cruzado anual sobre o seu soldo, que não vem especificado, mas que acredito ser os 12mil reais. Nos orçamentos posteriores o valor que lhes é atribuído é de 19.200 reais de soldo e mantimento409.

3.5.1 Rodrigo Dorta

Dorta ou da Horta é a primeira questão. Nos documentos que constituem a prova do seu serviço como condestável de Goa entre 1512 e 1520, ele surge quase sempre como Rodrigo Dorta, designação que elegemos. Nos índices da Torre do Tombo vem quase sempre como da Horta, formula também adoptada no índice das Cartas de Albuquerque. Com base nisto assumimos que o Rodrigo Dorte, alemão, a quem foi passada Carta de Bombardeiro em 12 de Agosto de 1508 pode provavelmente ser o mesmo indivíduo410. Passaremos em revista as diferentes grafias ao mencionar os respectivos documentos.

O seu cargo de condestável relaciona-o com a casa da pólvora em Goa durante os anos da sua vigência, como o demonstra a informação recolhida. Por aí também se apura que, passado pouco tempo da ocupação da cidade, se deu início à produção, aproveitando

408 Condestável da fortaleza 31.560rs/ano ordenado + 600rs/mês mantimento (total=38.760rs/ano) + quintalada. Tombo, p.66.

409 Cf. Vítor Luís Gaspar Rodrigues, A evolução…, II, passim. 410

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estruturas pré-existentes411. Lembramos que em 1512 João Luís fundia almofarizes para pólvora em Goa412. A sua primeira referência é de Novembro de 1512 e consta de uma mercê do governador Afonso de Albuquerque, de 30 cruzados e um quarto de vinho pela diligência que o ―Condestabre da fortaleza de Goa‖ põe no seu serviço. Aqui é ―Rodrygo dorta‖413

. Um ano depois, vemos ―Rº dorta‖ a receber do feitor de Goa, Francisco Corvinel, a quantidade de 1350 pelouros de bombarda grossa414. Desde 9 de Junho de 1513 até fim de Janeiro de 1514, o condestável de Santa Catarina de Goa, ―Rº Dorta‖, gastou em materiais e gente para o serviço da casa da pólvora. Entre os materiais constam: pipas e barricas, cestas para pesar o carvão, peneiras, sebo para untar as câmaras das bombardas e vinagre. Quanto à gente que servia fica patente que dois bombardeiros que foram com ele cortar lenha venceram 10 ½ reais; gastou meio pardau com os negros da barca onde vem a lenha; os dez bigaris que guardam a barca, a lenha e ―por servirem bem‖, recebem 6 leais por dia cada um, e para o período a que esta carta reporta foram-lhes também dados três fardos e meio de arroz; noutro segmento deste documento referente à ―despesa que faz o condestabre com as mulheres que fazem a pólvora de espingarda‖ ficamos a saber que cada uma delas recebia 6 leais por dia e que seriam nove ao serviço, além de concluirmos que o trabalho de manufactura não é um exclusivo dos bombardeiros415.

Depois de um intervalo na documentação que se estende até 1518, a sua ligação à casa da pólvora continuava activa. De novo o feitor de Francisco Corvinel entrega-lhe, entre outras coisas, um quintal de pedra-uma, limpa da tara ―pera salitre‖416. Em 10 de Fevereiro de 1520, num documento que está erradamente referenciado como referente um Rodrigo de Sá, ―Rodrigo dorta recebe por mandado do Governador Diogo Lopes de Sequeira vinte fardos de arroz e meia dúzia de mãos de manteiga de mercê pela pólvora que fez para a armada417.

3.5.2 Nicolau Franco

Também com cargo em Goa temos Nicolau Franco, que chegou de Portugal em 1508 na nau Santa Maria, na armada de Jorge de Melo418. Segundo se apurou esta armada saíu do reino em Abril de 1507 e nas listas consultadas não surge explicitamente uma nau Santa

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José Manuel Mascarenhas, ―Portuguese overseas gunpowder factories, in particular those of Goa (Índia) and Rio de Janeiro (Brazil)‖, Gunpowder, explosives and the state: a technological history. Editor Brenda J. Buchanan, Ashgate Publishing, Aldershot, 2006, pp.183-205, p.184.

412 CAA, VII, p.39. 413 CAA, V, p.268; CC, pt.II, mç. 35, nº180. 414 Goa, 12/11/1513.CC, pt.II, mç.43, nº40. 415 CC, pt.II, mç.44, nº127. 416 CC, pt.II, mç.78, nº77. 417 CC, pt.II, mç.87, nº122. 418 CC, pt. II, mç.71, nº91.

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Maria. O que surge é uma nau Belém capitaneada pelo mencionado Jorge de Melo Pereira419. Sabe-se a partir da Relação das Naos que em 1511 a nau de D. Garcia de Noronha era a Santa Maria de Belém420. Acreditar que a Santa Maria que surge no documento e a nau Belém da Relação das Naos se tratam da mesma embarcação não parece ser conjectura muito arrojada, além de fazer sentido.

No início de Dezembro de 1511, está no rol dos bombardeiros que vão receber mantimento em Goa. A anotação de que estes homens deverão receber à mesma razão que os da fortaleza indica que é possivelmente o contingente que anda embarcado na armada421. Em 27 de Novembro de 1512 é recompensado com 5 cruzados pelos serviços prestados em Benastarim. O documento é uma lista de trinta e cinco bombardeiros que serviram a partir de terra com a artilharia422. Em Dezembro de 1512, o seu nome consta do rol dos quarenta e sete bombardeiros que estão em Goa423. Em Fevereiro de 1513 o bombardeiro Nicolau Franco, estrangeiro, recebe por ordem do governador, na mesma cidade, 16 mil reais pelo seu casamento424.

Em 1517 é já mencionado como condestável em Divar, Goa, e recebe 10 pardaus de soldo pelo seu tempo de serviço na fortaleza425. Divar, e não Goa, pode sugerir que não era o responsável geral dos artilheiros do território, mas apenas de uma fortificação integrada no sistema de Goa. Divar é uma ilha fronteira a Goa, onde está o forte de Naroá, antiga fortificação moura. Cf. Também as suas referências como condestável sobrepõem-se cronologicamente às de Rodrigo Dorta. A conjugação destas informações confirma que ele era um dos condestáveis subalternos em Goa, com responsabilidade apenas sobre Divar.

Em 1520 um Nicolau Franco recebe 6 pardaus da sua parte de presas, mas não se confirma que fosse o nosso bombardeiro426.

Em 29 de Julho de 1525, é ordenado ao feitor de Goa o pagamento de uma quantia relativa à pólvora que Nicolau Franco, de novo tratado como condestável de Divar, demonstrar ter entregado para o serviço do Rei427. Outro mandado incluso no mesmo documento, datado agora de 13 de Abril de 1526, determina que o pagamento afinal seja feito aos seus herdeiros, não especificados, à razão de oitenta reais o arrátel. Este valor foi obtido por parecer do ―condestabre‖ que não é certamente Nicolau Franco, já falecido, mas que pela data e por se tratar de Goa creio que se será Petís Luís.

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Maldonado, op. cit., p.21; Simão Ferreira Paes, op. cit., p.133. Note-se que Jorge de Melo Pereira foi também capitão-mor da armada de 1512; Maldonado, op. cit., p.27.

420 Idem, ibidem, p.26.

421 CAA, V, pp.170-171; CC, pt.II, mç.29, nº158. 422 CAA, II, p.102; CC, pt.II, mç.35, nº133. 423

CC, pt. II, mç.37, nº41; APO-BP, t.IV, vol.I, pt.I, pp.605-607; CAA, V, pp.408-410. 424 CAA, V, p.419; CC, pt.II, mç.37, nº70.

425 CC, pt. II, mç.71, nº91 426 CC, pt.II, mç.88, nº42. 427

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3.5.3 Petis Luis

Sousa Viterbo chama a este condestável Petit Louis. A passagem onde sucintamente o menciona é a seguinte: ―Da fábrica da pólvora estava encarregado Petilois, de quem não encontramos até agora mais vestígios. Era certamente estrangeiro, porventura francês, devendo-se acaso escrever o seu nome Petit Louis‖428. Esta podia ter a sido a opção fácil e justificada para este trabalho, mas a leitura da documentação que lhe diz respeito levou a outra. As grafias encontradas do seu nome são: Pjtjs Luis, Pytys Luis, Pito Lois, Petis Luis, Petis Lois, Pity Lluis ou Pety Luis, entre algumas das variantes. Dos sinais com que assina alguns dos documentos tira-se Petis Luis ou Petis Lois, mas nunca a forma afrancesada com que Sousa Viterbo o regala. A opção ―mais portuguesa‖ acabou por ser escolhida.

A primeira informação sobre ele é que veio para a Índia em 1508, no navio Garça429, da armada de Jorge de Aguiar430. Em 1514 está entre os oito bombardeiros da guarnição do ―castelo‖ de Cochim, recebendo seis parás e meio de mantimento por mês431

. Em 1516, estando em Goa, recebe por ordem do capitão da cidade 10 pardaus adiantados sobre o seu soldo, por estar em grande necessidade432.

De finais de 1519 a meados de 1520, vem indicado como condestável da fortaleza de Cananor. A documentação consta de uma sequência de mandados do capitão da fortaleza, D. Aires da Gama, para que o feitor António Carvalho pague o mantimento aos oficiais e soldados lá estacionados. Algumas das vezes figura como anónimo, mas o contexto confirma tratar-se dele. Durante o período tem entre quatro e cinco bombardeiros ao seu serviço. Um dos róis apresenta os bombardeiros da fortaleza como item separado; nos restantes os seus nomes, seguidos da designação bombardeiro, aparecem dispersos entre o conjunto dos homens de armas ou dos casados433. Em Junho do mesmo ano, por mandado de Francisco Dias ao contador, é feito rol das pessoas de Cananor que tiveram adiantamento sobre o seu soldo. Petis Luís, condestável de Cananor, está também aí incluído434.

Endereça em 1526, quando já era condestável em Goa, uma carta de serviços a D. João III, em que lhe dá conta do falecimento de D. Henrique de Meneses, governador que lhe fazia muitas mercês, do muito que tem feito pela coroa e de alguns outros factos de vamos

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Francisco Sousa Viterbo, O fabrico da pólvora…, p.26.

429 Quirino da Fonseca afirma que Garça é uma ―forma ortográfica errónea‖ e remete para ―nau Graça ou Nª Sª da Graça‖, no entanto nenhuma das entradas que ai apresenta parece corresponder a este navio. Quirino da Fonseca, op. cit., pp.206, 209-211.

430 Conforme mencionado num mandado de 1516 e num rol de 1520. CC, pt.II, mç.64, nº147 e CC, pt.II, mç.90, nº19.

431 Cf. Anexo IX.

432 CC, pt.II, mç.64, nº147.

433 Cf. Anexo X para as referências documentais e estes dados. 434

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enunciar em seguida435. A sua principal ocupação, segundo diz, é o fabrico da pólvora. Com ela, guarneceu as armadas que saíram para o Estreito, para Malaca, para Ormuz e para Sunda, para onde enviou também um engenho de pólvora, com a finalidade de aí estabelecer uma unidade de produção. Acerca da de Goa diz ao rei: ―Em seu reino me parece nã tẽ vossa alteza casa de poluora tãm grande boa he proveitosa pera seu serviço e quasy digna na cristandade se nã acharã outra tall como de Goa‖. A quantidade que se produzia chegaria, na sua opinião, para abastecer Portugal e Castela, além do Estado da Índia. Elogia as espingardas, que considera as melhores armas que há na Índia, utilizadas por todas as pessoas, desde fidalgos a gente comum.

Fazemos um aparte para introduzir aqui outros elementos que o ligam à manufactura de pólvora de Goa. Em Dezembro de 1526, recebe uma arroba de pimenta para mantimento dos escravos que servem na casa da pólvora; em Maio de 1527, são duas arrobas de pimenta para cento e catorze escravos; em Julho do mesmo ano uma arroba de pimenta para noventa e cinco escravos.436 Já em Abril de 1527 tinha recebido oito pardaus e sete vinténs em leais para escravos que tinham vindo das galés para servir na Casa da Pólvora.437 Ainda no início de Junho desse ano emite o conhecimento de que recebeu vinte e oito pardaus e onze vinténs para o mantimento de trinta e dois escravos da mesma casa438.

Voltando à missiva, queixa-se de, por vezes, ficar sem artilharia e bombardeiros na praça e alerta o monarca para os problemas que isso traz à sua defesa. Lembra que foi na vigência do capitão Francisco Pereira que se perdeu a ―terra firme‖, muito por causa da falta de munições e de pólvora que havia. Diz que não havia em Goa um só arrátel de chumbo que fosse para os espingardeiros da cidade acudirem às pessoas que fugiam de Ponda, nem para salvar as peças de artilharia que lá estavam. No entanto, foi com o que ele recolheu de emergência que se pôde defender a retirada. Louva o serviço do vedor Afonso Mexia, mas o de Pedro Nunes, também vedor, é criticado. Acerca do primeiro, recomenda a extensão do seu serviço em mais três anos, ―porque em tudo ho que cumpre a servico de vosa Alteza tem tãomanho cuidado‖439

; do segundo queixa-se da alteração que introduziu no armazenamento da pólvora pelos almoxarifes. Em Agosto de 1526 havia presenciado a feitura do assento que responsabilizava os condestáveis pelos danos provocados pelos incêndios que deflagravam na casa da pólvora. Pelo mesmo assento o Almoxarife de Goa deve limitar as entregas de matérias inflamáveis ao estritamente necessário para os trabalhos em curso. O condestável devia manter estes materiais e a pólvora feita armazenados fora da casa440; e também da

435 CC, pt.I, mç.35, nº4; anexo VI, doc.4. 436

Estes três recibos estão postos no mesmo documento. CC, pt.I, mç.20, nº134. 437 CC, pt.II, mç.140, nº96.

438 CC, pt.II, mç.141, nº67.

439 CC, pt.I, mç.35, nº4, fl.4; anexo VI, doc.4. 440

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pouca confiança que depositou na sua opinião acerca da quebra havida no chumbo para fundir pelouros. Chegou mesmo a convocar um conselho de condestáveis para aferir esta quebra, que se fixou em uma arroba e 12 arráteis por cada quintal de chumbo.

Outra parte fundamental consiste na recompensa que pede em virtude dos seus serviços. Além do mais, lembra os vinte anos que já serviu na Índia (veio em 1506). Participou nas duas tomadas de Goa em 1510, além de vários outros feitos militares dignos de mercê. Afirma ter sido o primeiro homem a fabricar pólvora para espingarda na Índia, esquecendo-se de mencionar quando e onde; quando aí chegou, existia apenas um engenho inacabado, cujo mestre tinha falecido. Talvez haja algum exagero da sua parte. Tinha pedido ao rei o cargo de Tanadar dos passos de Agacim441 e Dauguim442, para poder casar as suas filhas, mas os cargos vieram providos em vida noutras pessoas. Desistindo deste primeiro intento, propõe então ficar, por conta de um dos casamentos, com o cargo de mocadão dos farazes que é, nas suas palavras, o ―capitão dos negros que cura os cauallos que vẽ de Urmũz‖443

, e pelo segundo casamento, o cargo de Chapa das pessoas que passam para Goa444. Recomenda o seu próprio filho, já com idade suficiente para servir como oficial do rei. Uma destas filhas pode ter sido a que se tornou mulher de Guilherme de Bruges, sendo exactamente na nomeação deste último que surge a informação sobre o parentesco que une os dois oficiais445.

Pelo aluguer de umas casas que servem de armazém para as bombardas e salitre, entre outros materiais, recebe do feitor de Goa dezasseis pardaus em tangas, referentes aos meses de Março a Junho de 1527446. Faleceu neste período, pois o seguinte aluguer já é feito com Guilherme de Bruges. Com efeito, no pagamento das mesmas casas relativo aos meses de Julho, Agosto e Setembro, consta ―Gilerme de Bruges condestabre desta fortaleza e jẽro de Petis Luís que deus aja‖. As duas ―lojas‖ em causa, uma que serve de armazém para materiais de artilharia e a outra onde estão ―hos negros que servẽ a casa da polvora‖, são agora propriedade do próprio e de sua sogra e rendem, como antes, 4 pardaus em tangas ao mês447. Logo no início do mesmo mês Guilherme de Bruges é tratado por condestável num

441 Vem mencionado no Tombo de Simão Botelho: ―Item - Ho paso d'aguaçim tem tenadar, que não tem ordenado por não aver fortaleza n'ele por ser o Rio muito larguo e Ruin desenbarcaçaõ, e tem somente seu soldo e mantimento e percalços‖. Tombo, p.74.

442 Também este cargo vem mencionado por Simão Botelho: ―Item - Ho tenadar do paso de daugim não tem ordenado, por não aver fortaleza n'ele, nem ser neçesaria, por estar detrás do paso de naroá e tem somente seu soldo e mantimento e percalços: E asy tem esprivão, que não tem mais que seu soldo e mantimento e percalços.‖. Tombo, p.74.

443 CC, pt.I, mç.35, nº4, fl.3; anexo VI, doc.4.

444 Deve-se estar a referir ao oficio de porteiro e chapa da alfandega de Goa. Encontrámos referência a três nomeações na Chanc D. João III: André de Aguiar, (liv.16, fl.45); Gaspar Proença (liv.36, fl.61); Nuno Fernandes (liv.42, fl.92). Não foram consultadas. O termo ―chapa‖ designa selo, carimbo, sinete, chancela; Sebastião Rodolfo Dalgado, op. cit., I, pp.259-260.

445 Chanc. D. João III, liv.45, fl.173. 446 CC, pt.II, mç.141, nº170.

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outro recibo relativo ao mantimento dos escravos, o que coloca a data do falecimento do seu sogro nos meses de Julho e Agosto448.

3.5.4 Guilherme de Bruges

Em 1529, este mesmo Guilherme de Bruges, morador em Goa e lá casado, é confirmado pelo rei para o cargo de condestável dos bombardeiros, mediante recomendação feita pela Câmara da cidade de Goa449. Como vimos, já desempenhava o cargo desde 1527, pelo que a carta que dá conhecimento da nomeação ao governador da Índia é para todos os efeitos a sua confirmação no serviço, o que vai na linha do que sucedeu a João Luís, primeiro nomeado pelos governadores e só mais tarde confirmado pelo rei. É explícita nesta carta a menção de que sucedia a seu sogro, Petis Luís. O seu ordenado apenas vem discriminado como sendo o do regimento. Por já se encontrar no Oriente, o juramento que devia prestar na chancelaria em Lisboa será administrado localmente pelo capitão de Goa, dele sendo feito assento certificativo para remeter ao reino. A armada desse ano saiu de Lisboa a 2 de Abril, ainda a tempo de transportar a nomeação, feita a 6 de Março450. A sua chegada a Goa ocorreu em fins de Outubro, altura em que Guilherme de Bruges terá sido provido no cargo451.

Como referência confirmada da sua presença no Oriente antes desta data, temos a sua inclusão no conjunto dos vinte e cinco bombardeiros das naus, estacionados em Cochim no ano de 1514452. Não confirmada, mas possível dentro do contexto, é a sua identificação com outras presenças de um Guilherme, bombardeiro, em Goa no ano de 1513453, e de outro que servia no galeão São Dinis em 1521454.

Voltando ao ano de 1529, recebe de Miguel do Vale, Feitor em Goa, meio quintal de pimenta para noventa e dois escravos da casa da pólvora455.

Incluído nos sumários das cartas que tinham chegado da Índia em 1534, vem esta nota alusiva a uma delas, composta em Goa a 30 de Outubro de 1533: ―Sprevem muyto bem deste Guilherme de Bruges condestabre e que tem muyto servido e serve e he la casado dizem que lhe diseram que Vossa Alteza provia outro deste ofício o qual dizem que he