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Tendo reconhecido a forma atual da racionalidade Horkheimer e Adorno mostram a partir de sua crítica desmistificadora que esta racionalidade representa precisamente o contrário daquilo que se imaginara das realizações do esclarecimento. O diálogo com Kant e sua resposta à pergunta “o que é esclarecimento?” não poderia ser mais claro. Para este filósofo o esclarecimento deveria ser a saída de uma condição de menoridade, ou seja, da incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outrem. Entretanto, é precisamente a vitória da menoridade que Horkheimer e Adorno testemunham no mundo administrado – mostrando que é ironicamente na descrição desta menoridade que o texto kantiano efetivamente acerta:

É difícil, portanto, para um homem em particular desvencilhar-se da menoridade que para ele se tornou quase uma natureza. Chegou mesmo a criar amor a ela, sendo por ora realmente incapaz de utilizar seu próprio entendimento, porque nunca o deixaram fazer a tentativa de assim proceder. Preceitos e fórmulas, estes instrumentos mecânicos do uso racional, ou, antes, do abuso de seus dons naturais, são os grilhões de uma perpétua menoridade.99

Esta descrição kantiana da menoridade é análoga à condição do indivíduo no mundo administrado. O mundo esclarecido seria aquele em que impera a menoridade, portanto, ou então, é preciso que o sentido de menoridade seja revisto para que se faça jus ao esclarecimento, como fazem Horkheimer e Adorno: “A menoridade revela-se como a incapacidade de conservar a si mesmo”.100

99 KANT, Resposta à Pergunta: O que é “Esclarecimento”? 100 ADORNO; HORKHEIMER, Dialética do Esclarecimento.

Se a história da humanidade pode ser descrita como a mudança das formas de se buscar a adaptação com vistas à autopreservação, para compreender de maneira mais adequada esta condição de menoridade que descreve a vida dos indivíduos no mundo administrado é preciso perguntar então o que significa adaptar-se a este mundo e garantir a

autopreservação. É isto o que está em questão para que Horkheimer e Adorno mostrem a

realização contraditória do princípio da autopreservação e identifiquem assim a tendência patológica que define as sociedades ocidentais daquele tempo: a tendência à integração total. Isto quer dizer que integrar-se torna-se apenas e tão somente um processo de adaptação em que o sujeito é completamente sobredeterminado em seus pensamentos e ações, sendo incapaz de estabelecer de maneira autônoma seus fins. A vida no mundo administrado é um processo unívoco de subordinação e adaptação à ordem existente, o qual se torna a única forma possível de autorrealização dos indivíduos. Entretanto, se esta “integração total” é mencionada como tendência, ou seja, como um processo em curso ainda não realizado e do qual algo escapa é precisamente porque a própria capacidade de exercício da crítica - esta tentativa de desmistificar a razão a partir dela mesma – ainda resiste à integração. Deste modo, seria pouco rigoroso considerar que esta integração total encontra-se plenamente realizada. Preferirei então chamar a condição de vida dos indivíduos descrita pelos teóricos críticos como aquela da vida administrada. Compreendo que é na apresentação do que consiste esta vida administrada que Horkheimer e Adorno são capazes de oferecer uma leitura do momento presente voltada para aspectos empíricos da realidade social.

Esta condição da vida administrada é produto da contradição do princípio da autopreservação. Ela representa aquilo que Horkheimer denomina de declínio do indivíduo no momento presente, ou seja, o declínio da possibilidade de uma existência individual que não seja pautada pela necessidade de adaptação à ordem existente. Como ele afirma: “O tema desta época é a autopreservação, enquanto não há mais um ‘auto’ para se preservar”.101 Trata- se então de compreender quais os aspectos deste declínio do indivíduo que constituem a vida administrada.

101 HORKHEIMER, Eclipse of Reason, p. 128. A tradução desta passagem acaba por limitar o jogo que Horkheimer faz com o termo “self”. O termo “auto” pelo qual optei pode ser substituído por “eu”, como na tradução brasileira de Sebastião Uchôa Leite. No original temos: “The theme of this time is self-preservation, while there is no self to preserve”.

O primeiro aspecto diz respeito à adaptação dos indivíduos à natureza externa. No mundo administrado isto quer dizer que as formas de vida possíveis encontram-se determinadas por instâncias externas ao indivíduo. Cabe a este apenas adaptar-se e buscar os meios já disponíveis para alcançar as finalidades já inscritas na ordem social. Conforme diz Horkheimer:

Assim como hoje toda a vida tende exponencialmente a estar sujeita a racionalização e ao planejamento, também a vida do indivíduo - incluindo seus impulsos mais ocultos, os quais anteriormente constituíam seu domínio privado - deve agora levar em conta as demandas da racionalização e do planejamento: a autopreservação do indivíduo pressupõe seu ajuste às requisições para a preservação do sistema. Ele não tem mais espaço para escapar do sistema. E tal como o processo de racionalização não é mais resultado de forças anônimas do mercado, mas é decidido pela consciência de uma minoria que faz o planejamento, assim a massa de sujeitos deve deliberadamente se ajustar: o sujeito deve, por assim dizer, dirigir todas as suas energias para “estar no e ser parte do movimento das coisas”.102

O segundo aspecto diz respeito à adaptação de cada indivíduo ao conjunto de relações sociais já existentes. Os diversos processos de sociabilidade pelos quais os indivíduos passam também demandam a adaptação a formas de comportamento e interação já estabelecidas. Ocorre que no mundo administrado a socialização restringe-se à adaptação. Numa época de coletivização forçada pelo autoritarismo de regimes nazifascistas não chega a espantar a suspeita de Horkheimer e Adorno com relação à sociedade de massas. Porém, esta crítica da socialização não se restringe à Europa marcada pelo autoritarismo. Esta é só uma das faces do mundo administrado, pois afinal é a expansão da racionalidade calculadora como princípio organizador de todos os domínios da ordem existente que o define. Esta racionalidade subjaz tanto a sociedade de massas alemã como a estadunidense. O que resta aos indivíduos é então a imitação do outro:

Desde o dia de seu nascimento faz-se com que o indivíduo sinta que só há uma maneira de lidar bem com este mundo, que é desistir da esperança de completa autorrealização. Isso ele só pode alcançar pela imitação. Ele responde continuamente responde àquilo que percebe sobre si mesmo, não apenas conscientemente, mas com todo seu ser, emulando as formas de tratamento e as atitudes representadas por todas as coletividades nas quais está enredado. [...] Ao ecoar, repetir, imitar aquilo que o rodeia, ao adaptar-se aos grupos todo-poderosos aos quais eventualmente pertença, ao transformar-se de ser humano em membro de organizações, ao sacrificar suas potencialidades em prol da prontidão e da habilidade de conformar-se para ganhar influência em tais organizações ele consegue sobreviver. É a sobrevivência alcançada pelo mais antigo dos meios biológicos, a mímica.103

102 Ibid., p. 95–96.

O terceiro aspecto, enfim, diz respeito ao bloqueio de uma relação autônoma dos indivíduos consigo mesmos. O que está em causa aqui é a administração de seus desejos e pulsões por instâncias que lhe são externas. Desejos que ameacem ou que não sejam direcionados a possibilidade de adaptação devem ser reprimidos ou não encontrarão um caminho para satisfação, uma vez que os indivíduos desconhecerão os meios para tal.

Ainda que, sob a pressão da realidade pragmática de hoje, a autopreservação do homem tenha se tornado idêntica com sua função no sistema vigente, ainda que ele desesperadamente reprima qualquer outro impulso em si mesmo tal como nos outros, a fúria que o toma quando ele se dá conta de algum desejo não integrado que não se encaixe em algum padrão existente é um sinal de seu ressentimento latente. Este ressentimento, se a repressão fosse abolida, iria se voltar contra toda a ordem social, a qual possui uma tendência intrínseca a impedir seus membros de perceberem os mecanismos de sua própria repressão.104

Estes três aspectos da vida administrada são bem ilustrados por Horkheimer quando este discute o uso de automóveis, aspecto comum e cotidiano da vida nas sociedades industriais modernas. Símbolo do progresso técnico-científico e da capacidade criativa do engenho humano o automóvel sugere a conquista de maior liberdade de ir e vir. Como diz Horkheimer “pode parecer que o homem dos dias atuais tem escolhas muito mais livres do que seus ancestrais tiveram, e num certo sentido ele de fato tem. Sua liberdade aumentou tremendamente com o aumento das potencialidades produtivas”105

. A facilidade com o automóvel possibilita o deslocamento, a agilidade, o conforto e a praticidade em seu manuseio não encontram igual em meios tradicionais de transporte. Mas igualmente inovador é o conjunto de regras às quais é necessário submeter-se para que se possa utilizá-lo:

Diferentes graus de liberdade estão envolvidos em andar a cavalo e dirigir um automóvel moderno. Além de o automóvel estar disponível para uma porcentagem muito maior da população em relação ao que a carruagem fora ele é mais rápido e mais eficiente, requer menos cuidado e é provavelmente mais manipulável. No entanto, o acréscimo de liberdade trouxe consigo uma mudança no caráter da liberdade. É como se as inumeráveis leis, regulações e direções às quais devemos estar de acordo estivessem guiando o carro, e não nós. Há limites de velocidade, avisos para se dirigir devagar, para parar, para estar entre certas linhas e até mesmo diagramas mostrando a forma da curva a frente. Devemos manter nossos olhos na estrada e estar prontos a cada instante para reagir com o movimento correto. Nossa espontaneidade foi substituída por um estado mental que nos impele a descartar toda

104 Ibid., p. 143–144.

emoção ou ideia que possa atrapalhar nosso estado de alerta em relação às demandas impessoais que nos assolam.106

A liberdade de se usar o carro não pode ser dissociada de uma complexa operação de adaptação. Temos de nos adaptar às leis do trânsito, ao mecanismo de funcionamento do automóvel, à estrutura das vias; é preciso também levar em conta todos os demais indivíduos que partilham este espaço e atividade, dos quais se espera que se ajustem tanto quanto nós; e temos também que internalizar uma disciplina corporal e mental para a realização desta atividade. O automóvel é, portanto, em todo o conjunto de ações relacionadas à sua existência, sua produção e seu uso, representativo do processo de adaptação ao qual os indivíduos devem, a todo momento, se submeter.

Como dito anteriormente, o mundo administrado e a condição da vida administrada são o resultado da contradição do princípio da autopreservação. Isto não quer dizer, porém, que o problema está no conceito de autopreservação ele mesmo. Assim como a crítica desmistificadora da razão não pretende destruir a concepção de razão, mas mostrar e denunciar a forma que esta assumiu, Horkheimer nos lembra que “não é a tecnologia ou o motivo da autopreservação que em si mesmo responde pelo declínio do indivíduo; não é a produção per se, mas as formas nas quais ela se coloca no lugar das relações entre os seres humanos no quadro específico do industrialismo”.107

O diagnóstico de época de Adorno e Horkheimer, ao apontar para as realizações destrutivas da racionalidade e para a contradição da autopreservação, deve ao menos permitir que possamos conceber em que condições os sujeitos sociais poderiam efetivamente se desenvolver como sujeitos autônomos. Conforme se diz em Eclipse da Razão

O indivíduo plenamente desenvolvido é a consumação de uma sociedade plenamente desenvolvida. A emancipação do indivíduo não é uma emancipação em relação a sociedade, mas a salvação da sociedade em relação a atomização, uma atomização que pode encontrar seu ápice em períodos de coletivização e cultura de massa.108

A relação entre sociedade e indivíduo deve ser aquela em que cada indivíduo seja capaz de efetivamente integrar-se à sociedade sem que este processo seja um mero adaptar-se. Assim, a crítica ao mundo administrado pode ser compreendida também como uma denúncia da falsa realização da integração. 106 Ibid., p. 98. 107 Ibid., p. 153. 108 Ibid., p. 135.

Neste sentido, Horkheimer e Adorno também estão preocupados em mostrar como o mundo administrado é aquele em que a diferença, a inadaptação e o dissenso são impossibilitados. A completa aceitação da realidade social significa a conformidade e resignação não apenas em relação a sua própria condição no mundo; trata-se também da resignação quanto à condição de todos os outros. A adaptação irrestrita em relação à realidade é a construção da indiferença. A verdadeira integração social, ao contrário, seria aquela em que se garante a todos os indivíduos um lugar na sociedade sem a destruição de sua individualidade; esta seria uma sociedade em que há a possibilidade da inadaptação, uma sociedade a qual a diferença e a singularidade pertencem e onde elas mesmas são preservadas. Em suma, uma sociedade verdadeiramente integrada é aquela em que a autopreservação de todos se harmoniza com a de cada um.

A investigação sobre os mecanismos de construção da integração no mundo administrado avança em Horkheimer e Adorno com sua análise do papel dos meios de comunicação e entretenimento na sociedade de seu tempo, o que farão a partir do conceito de indústria cultural. Enquanto forma de preenchimento do “tempo livre”, os bens culturais não escapam ao quadro do mundo administrado: eles também servem, segundo Horkheimer e Adorno a promoção da completa adaptação. Ao voltar-me para este aspecto de seus escritos a primeira tarefa será mostrar de que modo a teoria da indústria cultural, enquanto parte do diagnóstico do mundo administrado, serve à promoção da integração total na medida em que promove a conformidade em relação à ordem existente. No entanto, este diagnóstico fornece uma interpretação sobre o fenômeno da indústria cultural que não precisa ser a única. Interessa-me, portanto, resgatar quais são os elementos que compõe a linguagem da indústria cultural e avaliar de que modo é possível conceber este fenômeno para além de uma interpretação que se ocupe apenas com a função adaptativa dos bens culturais.

IV - A INDÚSTRIA CULTURAL COMO MEIO PARA A

INTEGRAÇÃO.

Eu quero que esse filme exista porque para mim aquela época parecia tão boa.

Hans-Peter Kochenrath

A frase acima fecha o documentário alemão Hitlers Hitparade de 2005 e serve de homenagem a Hans-Peter Kochenrath, alemão que trabalhou como produtor de filmes e faleceu em 1999. O filme consiste numa sequência de imagens de arquivo da Alemanha nazista em que peças de propaganda do regime, cenas cotidianas do povo, pessoas praticando esportes, artistas, cantoras e cantores celebrando o país em canções são intercaladas com aparições variadas de Hitler e com cenas dos campos de concentração, inclusive nos momentos de remoção de pilhas de cadáveres pelas tropas aliadas. Dispensando qualquer narrativa verbal, o documentário é embalado por canções populares da época, buscando aproximar o espectador da própria experiência midiática vivida pelos alemães.

A frase casual de Kochenrath, um dentre tantos alemães que vivenciaram aquele período, ilumina a proposta do filme e revela a grande dificuldade deste empreendimento: trazer à luz a maneira pela qual os meios de comunicação e propaganda no regime nazifascista serviram à construção de uma concepção de vida feliz para os alemães. Para aqueles a quem o regime julgava verdadeiros representantes do povo alemão a vida sob o regime nazifascista poderia ser entendida como uma boa vida. Se estes não sofreram a violência última do extermínio por enquadrarem-se nos critérios de humanidade estabelecidos pelo regime, perceberiam a violência do autoritarismo ao qual estavam ainda assim submetidos? Como poderiam, diante desta forma de vida, considerarem que viviam uma vida feliz?

Esta questão nos lança ao notável papel da cultura de massa, da propaganda e dos meios de comunicação como elementos de promoção da integração social. O filólogo Viktor Klemperer, intelectual judeu perseguido pelo regime nazista, notou bem como este complexo de produção e distribuição de informação, simbologias e também de entretenimento e lazer viria a constituir uma verdadeira Linguagem do Terceiro Reich, ou uma Lingua Tertii Imperii como ele irá preferirá chamá-la - cujo exaustivo registro em seus diários lhe serviu inclusive como uma vara de equilibrista, um meio de sustentar seu equilíbrio emocional numa época de

perseguição. Klemperer mostraria a existência desta linguagem não apenas como uma apropriação do significado de palavras na língua alemã que se tornavam veículos da ideologia nazista, mas também como um processo simbólico mais amplo de estetização que estaria presente por toda a parte: do formato dos prédios à roupa dos soldados; dos discursos de Hitler às palavras cotidianas; do padrão dos corpos à estilização das letras que compunham logotipos, como o das tropas SS. Em suas minuciosas observações, Klemperer quer compreender afinal como esta LTI promove a constituição de uma mentalidade, de uma visão de mundo em acordo com o regime que, consequentemente, suprime a consciência individual dos sujeitos alimentando o surgimento de uma massa fanatizada.

Seria também enganoso se eu dissesse que, em todos os setores, a LTI dirige-se exclusivamente à vontade. Pois quem apela para a vontade apela sempre para o indivíduo, mesmo que se dirija a uma coletividade, a um público. A LTI pretendia privar cada pessoa da sua individualidade, anestesiando as personalidades, fazendo do indivíduo peça de um rebanho conduzido em determinada direção, sem vontade e sem ideias próprias, tornando-o um átomo de uma enorme pedra rolante. A LTI é a linguagem do fanatismo de massas. Dirige-se ao indivíduo – não somente à sua vontade, mas também ao seu pensamento -, é doutrina, ensina os meios de fanatizar e as técnicas de sugestionar as massas.109

Os efeitos que Viktor Klemperer observa na linguagem do terceiro Reich são, de certo modo, similares àqueles que Horkheimer e Adorno irão atribuir a chamada indústria cultural como um todo: esta apela à vontade e a desejos insatisfeitos do público, interfere nas formas de agir e pensar apresentando modelos de comportamento a serem seguidos e tem como efeito geral a homogeneização de consciência dos sujeitos sociais. Este papel integrador de uma cultura produzida para as massas encontra nas produções intelectuais ligadas à Teoria Crítica da sociedade análises que viriam a se tornar - tal como as obras dos próprios propagandistas do nazismo - pedras de toque no campo da sociologia da cultura e nos estudos de mídia e comunicação. Assim como as preocupações expressadas por Kochenrath ou Klemperer para os teóricos críticos os campos da cultura e da comunicação devem ser pensados como partes indissociáveis do todo social, possuindo neste uma função e sendo influenciados pelas condições econômicas e políticas vigentes. Neste quadro mais amplo, será possível pensar a produção de bens culturais, o papel dos meios de comunicação e mídia e a produção e circulação de informação como elementos que podem servir ao controle social e à produção de relações de dominação, seja no contexto de regimes totalitários seja no de

regimes democráticos.110 Como notam Horkheimer e Adorno os indivíduos no mundo administrado agem contra seus próprios interesses e reproduzem uma vida social em que se encontram falsamente integrados não simplesmente porque isto lhes é imposto, mas porque isto se torna uma espécie de desejo inescapável. É este papel que a chamada indústria cultural é capaz de cumprir e que é preciso compreender. Helmut Dubiel nos auxilia a compreender o sentido desta investigação

Uma teoria crítica orientada na direção de uma teoria da dominação está primeiramente interessada nos mecanismos pelos quais os indivíduos reproduzem sua condição de submissão. Isto resulta numa peculiar seletividade empírica. Tal teoria crítica está interessada, por exemplo, nos mecanismos direcionadores que levam os indivíduos a manter uma estrutura de ação que está para além de seu auto interesse racional. Ela analisa ideologias que ocultam a natureza particular de uma forma aplicada de dominação, assim como forças que manipulam e homogeneízam a consciência coletiva para que esta se adeque àquela forma de dominação por trás do véu de pretensos interesses universais.111

De modo geral, por indústria cultural Horkheimer e Adorno compreendem o