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Conforme Greco Filho (2003, p. 75) “o direito de ação é o direito subjetivo público de pleitear ao Poder Judiciário uma decisão sobre uma pretensão”. E, desde que o Estado proibiu a autotutela para a solução dos conflitos, os cidadãos têm o direito de recorrer aos órgãos estatais para resolvê-los.

Segue comentando (GRECO FILHO, 2003, p. 75):

[...] que o direito de ação não é dirigido contra o réu, mas sim contra o Estado, porque é o direito de obter dele uma decisão sobre determinado pedido. É verdade que com o pedido ao Judiciário, pretende o autor que os efeitos almejados se produzam contra alguém, o réu, mas o direito de agir se exerce perante o Estado- juiz.

Esclarece, ainda, que não há dois tipos de direito de ação, ou seja, uma garantia constitucional e uma processual. Porém, o direito de ação é sempre processual, pois é por meio do processo que ele se exerce. Há garantia constitucional genérica do direito de ação, a fim de que a lei não obstrua o caminho ao Judiciário na correção de lesões de direitos (GRECO FILHO, 2003, p. 76).

Os vínculos existentes entre o direito de ação e a pretensão do autor, formam uma relação de instrumentalidade. E, para o exercício do direito de ação é necessária a presença de três condições: a legitimidade, o interesse de agir e a possibilidade jurídica do pedido (GRECO FILHO, 2003, p. 76).

Para Bueno (2009, p. 362) o Estado-juiz, antes de aplicar o direito à espécie, ou seja, antes de se manifestar sobre a existência da ameaça ou da lesão, cuja afirmação justifica sua provocação para que a função jurisdicional fosse exercitada, necessita verificar a ocorrência das condições da ação. Aquele que quer romper a inércia da jurisdição deve preencher o mínimo de condições necessárias para provocar a atuação do Estado.

Ainda, para o autor supra (BUENO, 2009, p. 364), o direito de ação é condicionado, pois o seu exercício depende da ocorrência de determinadas condições que garantem a regularidade de seu exercício.

Por fim, arremata Bueno (2009, p. 367):

[...] as condições da ação têm como objetivo evitar a propositura de ações totalmente descabidas e infundadas e, durante o processo, evitar a prática de atos desnecessários, claramente incabíveis. Trata-se em última análise, de uma técnica processual apta a assegurar o mínimo de seriedade na provocação inicial do Estado e também do atuar ao longo do processo. Trata-se, portanto, de um técnica apta a concretizar o princípio da economia (da eficiência) processual e, mais amplamente, da atuação do próprio Estado-juiz.

De acordo com Theodoro Júnior (2006, p. 62), na falta de uma condição da ação, o processo será extinto, prematuramente, “sem que o Estado dê uma resposta a pretensão do autor, isto é, sem resolução do mérito, havendo ausência do direito de ação, ou seja, ocorrerá carência de ação”.

Finaliza Arruda Alvim (1975, p. 319 apud THEODORO JÚNIOR, 2006, p. 68) afirmando que as condições da ação:

são requisitos de ordem processual, intrinsecamente instrumentais e existem, em última análise, para se verificar se a ação deverá ser admitida ou não. Não encerram, em si, fim algum; são requisitos-meios para, admitida a ação, ser julgado o mérito (a lide ou o objeto litigioso, respectivamente, na linguagem de Carnelutti e dos alemães).

4.2.1 LEGITIMIDADE DAS PARTES

A legitimidade das partes, ou legitimidade para a causa, “legitimatio ad causam” ou legitimidade para agir, relaciona-se àquele que pode pretender ser o titular do direito deduzido em juízo, seja como autor (legitimidade ativa), seja como réu (legitimidade passiva). Para o preenchimento desta condição da ação, faz-se suficiente que, em tese, a situação conflituosa pertença, ou pareça pertencer, a quem que se afirma que pertence, ou seja, a pretensão deve parecer ser do autor da ação (BUENO, 2009, p. 369).

Dispõe Bueno (2009, p. 369):

A legitimidade para a causa, nada mais é do que a “capacidade jurídica” transportada para juízo, traduzida para o plano do processo. A regra é que somente aquele que pode ser titular de direitos e deveres no âmbito do plano material tem legitimidade para ser parte.

Afirma Greco Filho (2003, p. 77) que, a legitimidade se refere as partes, sendo também denominada de legitimação para agir, pois não é qualquer um que pode propor uma ação, ou seja, “somente pode demandar aqueles que forem sujeitos da relação jurídica de direito material trazida a juízo”.

Continua declarando (GRECO FILHO, 2003, p. 79):

Apesar de a legitimidade ser examinada no processo e ser uma condição do exercício da ação, a regra é a de que as normas definidoras da parte legítima estão no direito material, porque é ele que define as relações jurídicas entre os sujeitos de direito, determinando quais os respectivos titulares. Assim, somente a análise

cuidadosa das relações jurídicas entre os sujeitos, a serem submetidas ao Judiciário, é que determinará a legitimatio ad causam.

No Código de Processo Civil, a legitimidade é expressamente exigida, como condição da ação, no artigo 3º, em que prevê “para propor ou contestar ação é necessário ter interesse e legitimidade”, e ainda no artigo 6º, “ninguém poderá pleitear, em nome próprio, direito alheio, salvo quando autorizado por lei” (GRECO FILHO, 2003, p. 78).

4.2.2 INTERESSE DE AGIR

Refere Bueno (2009, p. 372) que, o interesse de agir tem sua construção derivada do entendimento de que a função jurisdicional tem caráter substitutivo necessário, uma vez que é vedado o direito pelas próprias mãos, e assim, a parte deve procurar o Poder Judiciário para proteger seu direito.

De acordo com Greco Filho (2003, p. 80), o termo interesse pode ser empregado como “sinônimo de pretensão, qualificando-se, então, como interesse substancial ou de direito material, e para definir a relação de necessidade existente entre um pedido e a atuação do Judiciário, chamando-se, neste caso, interesse processual”.

O interesse de agir surge da necessidade de obter através do processo, a proteção ao seu direito. “Entende-se, dessa maneira, que há interesse processual, se a parte sofre um prejuízo, não propondo a demanda, e daí resulta que, para evitar esse prejuízo, necessita exatamente da intervenção dos órgãos jurisdicionais” (THEODORO JÚNIOR, 2006, p. 65).

Esclarece Greco Filho (2003, p. 80) que, o interesse processual é, portanto, a necessidade de se recorrer ao Poder Judiciário para receber um resultado pretendido, que independe de legitimidade ou legalidade da pretensão.

Continua afirmando, que o interesse nasce, em regra, diante da resistência que alguém oferece à satisfação da pretensão de outrem. E esta resistência pode ser formal,

declarado, ou pode surgir simplesmente pela inércia de alguém que deixa de cumprir o que o outro acha que deveria (GRECO FILHO, 2003, p. 81).

O interesse processual deverá traduzir-se em uma relação de necessidade e de adequação da pretensão ajuizada diante do conflito de direito material trazido à solução judicial. Pois, mesmo que a parte esteja na iminência de sofrer uma lesão em seu interesse, não pode-se dizer que exista interesse processual, se aquilo que se reclama não será útil juridicamente para evitar a lesão (THEODORO JÚNIOR, 2006, p. 66).

Nessa esteira, aduz Greco Filho (2003, p. 81), que o interesse processual:

é uma relação de necessidade e uma relação de adequação, porque é inútil a provocação da tutela jurisdicional se ela, em tese, não for apta a produzir a correção da lesão arguida na inicial. Haverá, pois, falta de interesse processual se, descrita determinada situação jurídica, a providência pleiteada não for adequada a essa situação.

4.2.3 POSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO

Por possibilidade jurídica do pedido, depreende-se que o pedido de tutela jurisdicional efetuado pelo autor ao Estado-juiz, não pode ser vedado pelo ordenamento jurídico ou, quando menos, que as razões pelas quais alguém requisita a prestação da tutela jurisdicional ao Estado, não sejam, elas mesmas, vedadas pelo ordenamento jurídico (BUENO, 2009, p. 373).

Para Theodoro Júnior (2006, p. 63), a possibilidade jurídica do pedido indica que deve existir dentro do ordenamento jurídico um tipo de providência, como a que se solicita através da ação. É um requisito que consiste na prévia verificação que faz o juiz, sobre a validade jurídica da pretensão deduzida pela parte em face do direito positivo em vigor.

A possibilidade jurídica do pedido refere-se tanto à proibição do pedido propriamente dito, como também a causa de pedir, ou seja, estes, portanto, não podem ser impossíveis, devem ser possíveis de serem efetivados (BUENO, 2009, p. 374).

O pedido formulado pelo autor ao ajuizar a ação é dúplice, pois primeiro há o pedido imediato, contra o Estado, que refere-se à tutela jurisdicional, e segundo há o pedido mediato, contra o réu, no que se refere à providência de direito material pretendido (THEODORO JÚNIOR, 2006, P. 64).

Comenta Theodoro Júnior (2006, p. 64):

A possibilidade jurídica, então, deve ser localizada no pedido imediato, isto é, na permissão, ou não, do direito positivo a que se instaure a relação processual em torno da pretensão do autor. Assim, um caso de impossibilidade jurídica do pedido poderia ser encontrado no dispositivo legal que não admite a cobrança em juízo de dívida de jogo, embora seja válido o pagamento voluntário feito extrajudicialmente (Código Civil, art. 814).

Por exemplo, o tratamento jurídico para cobrança de dívida de jogo, no plano material e processual é diverso, pois apenas perante a justiça o credor não poderá exercer a pretensão do pagamento do débito oriundo do jogo. A restrição é dirigida ao conteúdo do pedido imediato, ou seja, a instauração do processo. Essa distinção entre a impossibilidade jurídica do pedido imediato e mediato, está expresso no artigo 295, parágrafo único, do Código de Processo Civil (THEODORO JÚNIOR, 2006, p. 64).

4.3 CONSTITUCIONALIDADE DA OBRIGATORIEDADE DA SUBMISSÃO DAS

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