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CONDIÇÕES DA ESCRITURA E DO ESTILO

4 REESCRITA DE HISTÓRIAS E OUTROS ENREDOS

4.3 CONDIÇÕES DA ESCRITURA E DO ESTILO

A principal tarefa da História é o registro dos fenômenos que ocorreram na escalada do tempo, resultando em obras e realizações construídas pela humanidade. A História procura analisar e interpretar esses fenômenos com vistas a oferecer, entre outras, explicações diretamente voltadas para os aspectos relacionados aos planos social, cultural, econômico, político. E, entre esses planos está a arte de fazer Literatura.

Roland Barthes, em O Grau Zero da Escritura (1972), procura examinar de que forma a História pode influenciar em um acontecimento de modo a causar interferências no processo de composição de um texto literário. E, no intuito de situar o escritor no contexto histórico, entre meados do século XIX e os anos 1950, ele atribui à produção literária, deste período uma

escritura única e que nos tempos burgueses [...] a forma não podia ser dilacerada, já que a consciência não o era; e que, pelo contrário, desde o momento em que o escritor deixou de ser uma testemunha universal para tornar-se uma consciência infeliz [...] , seu primeiro gesto foi escolher o engajamento da forma, seja assumindo, seja recusando a escritura de seu passado...(BARTHES, 1972, p.118).

O ano de 1850 demarca o período em que o escritor deixa de ser testemunha universal para tornar-se um escritor de “consciência infeliz”, de acordo com Barthes. A partir de então, toda a sua compreensão é alcançada por tendências, parece que a cada ideia explicitada o escritor poderá encontrar ressonâncias com correspondentes de ideias em experiências aparentes, às vezes imersas na ordem das linguagens, identificadas e rotuladas por meio dos especialistas.

Mas, é na primeira metade do século XX que se observam mudanças no estilo dos escritores na produção de suas obras em relação aos anteriores. No ensaio “O que é escritura?” (p.122-123) localizado na Primeira Parte de O Grau Zero

da Escritura, Roland Barthes, relaciona a língua, apresentada como um sistema de

A língua, portanto, está aquém da Literatura. O estilo está quase além: imagens, um fluxo verbal, um léxico nascem do corpo e do passado do escritor e tornam-se pouco a pouco os próprios automatismos de sua arte. Assim, sob o nome de estilo, forma-se uma linguagem autárquica que só mergulha na mitologia pessoal e secreta do autor [...]

Tomando como ponto de partida essa definição sobre Estilo relacionado, observamos que Barthes faz uso de um vocabulário guarnecido de nomes e expressões, assim como procura mostrar a força das imagens que persistem em atribuir um tom simbólico e secreto à figura do autor.

O que vem a ser o Estilo em uma Escritura para Roland Barthes? Dentre algumas propostas, o autor, na página 122, em Grau Zero da Escritura (1972) se estende longamente sobre a acepção do que seja Estilo, afirmando que:

seja qual for seu refinamento, o estilo sempre tem algo de bruto: é uma forma sem destinação, o produto de um impulso, não de uma intenção, é como uma dimensão vertical e solitária do pensamento. Suas referências estão ao nível de uma biologia ou de um passado, não de uma História: ele é a “coisa” do escritor, seu esplendor e sua prisão, sua solidão. Indiferente e transparente à sociedade, gesto cerrado da pessoa, de modo algum constitui produto de uma escolha, de uma reflexão sobre a Literatura. É a parte privada do ritual; eleva-se a partir das profundezas míticas do escritor e expande-se fora de sua responsabilidade. [...] o estilo é propriamente um fenômeno de ordem germinativa, a transmutação de um Humor [...] mergulha na lembrança fechada da pessoa, compõe sua opacidade a partir de uma certa matéria [...] seu segredo é uma lembrança encerrada no corpo do escritor.

De modo diferente do Estilo, a Escritura pode ser considerada a “relação entre a criação e a sociedade, é a linguagem literária transformada por sua destinação social, é a forma apreendida na sua intenção humana e ligada assim às grandes crises da História”. (BARTHES, 1972, p.124). Nestas propostas definidas por Barthes, encontram-se subtendidas indicações de uma relação entre Estilo e Escritura, que o autor vai tornar claro ao afirmar que “a escritura é uma realidade ambígua, de um lado, nasce incontestavelmente de uma confrontação do escritor com a sociedade; de outro lado, por uma espécie de transferência mágica, ela remete o escritor, dessa finalidade social para as fontes instrumentais de sua criação”. (BARTHES, 1972, p.125).

As questões enunciadas por Barthes levam-nos a pensar quais seriam estas “fontes instrumentais” pertencentes a “criação” do escritor, sabedores que somos das dificuldades encontradas por este no ato de criar o seu estilo, consciente da existência de uma linguagem anterior utilizada por antecessores. Diante de tão complexo questionamento colocado por Barthes, atenta-se para a produção relativa ao período de criação da obra da escritora Tatiana Belinky.

Trazendo esta mesma inquietação para o universo da produção artística de Tatiana Belinky, surge, no contexto intelectual interpelações que nos remetem a também questionar: Como intelectual, qual seria a posição de Tatiana Belinky que a faz escrever com liberdade de expressão? Como esta escritora transmite os fundamentos morais e éticos para os jovens leitores? O que a torna diferente de seus antecessores?

No universo da criação de Tatiana Belinky, observa-se uma escritora que registra em sua diversificada obra um estilo voltado para uma abertura da liberdade de expressão, propondo aos seus leitores, notadamente ao público infanto-juvenil, reflexões com ênfase na natureza humana. De forma bem humorada, a linguagem empregada por Tatiana procura utilizar recursos variados que chamam a atenção para o estilo da sua escrita, sem, no entanto, apelar para moralismos, questões que Tatiana procura não enfatizar principalmente nas histórias infantis.

Para Tatiana, o tratamento a ser dado às crianças e aos jovens deve ser o mais respeitoso possível, por isso, na sua temática, ela procura levá-los sempre a pensar, a assumir atitudes e posturas em que prevaleçam a alegria e o entusiasmo pelos acontecimentos que fazem parte da vida. Trabalhando com profundidade naquilo que se propõe Tatiana cria suas obras de modo a torná-las menos pesadas, sempre externando o zelo e o amor que tem por este público. Tais gestos humanitários foram adquiridos ainda na sua salutar convivência com a família, cujos pais a instruíram tão bem no seu comportamento, assim como no papel político assumido ainda criança que a tornaram uma escritora de consciência universal, ao mesmo tempo, comprometida com o seu papel na História.